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Gosto de escrever e aqui partilho um pouco de mim... mas não só. Gosto de factos históricos, políticos e de escrever sobre a sociedade em geral. O mundo tem de ser visto com olhar crítico e sem tabús!
Este foi um ano com vários casos de violência doméstica que resultaram na morte de, ao que se sabe, 30 pessoas: 26 mulheres, 1 criança e 7 homens. O crime de violência doméstica é muitas vezes o ponto de partida para crimes de homícídio na forma tentada e consumada. Esta é uma temática que me deixa sempre bastante preocupada. Muitas vezes acontece mesmo ao nosso lado e não nos apercebemos ou desvalorizamos aquilo que se "escuta". Nos noticiários, há diariamente alertas. Nos programas diários contam-se relatos de superação mas, infelizmente, também se relatam muitos casos de homicídio em contexto de violência doméstica.
Um dos casos mais mediáticos foi o que vitimou a pequena Lara e a sua avó, Helena, no dia 5 de fevereiro. A avó foi esfaqueada à porta de casa e a menina, levada para parte incerta pelo pai. No dia seguinte, o corpo da menina aparece dentro do porta bagagens do carro do progenitor, que ainda avisou onde tinha deixado o carro antes de se suicidar. Nesta data, já eram 10 as vítimas de violência doméstica. O caso aconteceu aqui perto, o que me fez sentir uma certa revolta, por pensar como é que "ninguém" deu conta, ninguém o travou! Não teria havido forma de evitar a morte da avó e da menina?
Mas ao longo do ano, o número de casos foi-se acumulando! Em Torres Vedras, a 7 de abril, uma menina de 14 anos, encontrou o corpo da mãe, vítima de estrangulamento deixada dentro da banheira. A vítima tinha 44 anos e o crime terá sido cometido pelo ex-namorado da vítima. A menina de apenas 14 anos, estaria fora de casa a trabalhar como babysitter. Depois do crime, o suspeito conseguiu fugir, mas acabou por ser detido mais tarde pela GNR para ser presente a um juiz.
Na passada sexta-feira, uma mulher foi morta em Leiria pelo companheiro. O homem, de 35 anos, degolou a mulher de 34 anos com um x-ato. Na mesma casa estavam presentes os filhos da vítima, de dois e seis anos, que estão atualmente sob a responsabilidade da Comissão da Proteção de Crianças e Jovens. Fonte policial revelou à agência Lusa que a PSP tinha sido alertada para discussões entre o casal, “mas nada previa este desfecho”.
Em Cascais, um homem de 43 esfaqueou mortalmente a ex-companheira este sábado à noite, à porta do prédio da vítima. O suspeito, entretanto detido pelas autoridades, terá ficado à espera da mulher no prédio onde esta habitava com o filho e o novo namorado. Esfaqueou-a duas vezes e depois pôs-se em fuga. A mulher acabou por morrer.
Estes são apenas alguns dos casos que marcaram as notícias deste ano e que nos fazem pensar. Sendo a violência doméstica um crime público e, sabendo nós que, em alguns destes casos, já haveria medidas de afastamento, o que falta ainda fazer para diminuir este número elevado de mortes?
De que forma é que é possível manter as vítimas em segurança? É que em muitos casos, as mortes ocorrem depois dos agressores saberem que tinham sido denunciados. E quando as autoridades nem as queixas aceitam? Se uma mulher ou um homem, se desloca a uma esquadra ou a um posto para pedir ajuda, como é que ainda existem elementos da autoridade que desvalorizam estas queixas? No final de 2018, cerca de 63% dos postos e esquadras de competência territorial possuía uma Salas de Atendimento à Vítima (SAV), refere o MAI. O objetivo é que "todas as novas infraestruturas da PSP e da GNR - a construir de raiz ou a serem recuperadas" já tenham ou venham a ter uma destas salas.
Eu própria já vi vários casos de violência doméstica, em que o mais extremo foi o de uma jovem mãe assassinada com dezenas de facadas e com um filho pequenino na mesma casa. Não foi este ano, mas por muitos anos que viva nunca vou esquecer aquela imagem. Nunca mais me esquecerei do cenário, nem penso que algum me sairá da cabeça a sensação de perceber que aquela mulher deu luta por toda a casa e que havia salpicos de sangue no chão, nas paredes, no sofá, no teto... e muito, muito, nas mãos e roupinha da criança que estava a tentar "acordar" a mãe.
Muitos outros casos não resultaram em morte, mas em agressões muito graves e com danos físicos e psicológicos graves. E quando as vítimas ganham a coragem para se queixar, são muitas vezes "detidas" com palavras que desvalorizam o que estão a passar e em alguns casos com incentivos à reconcilização do casal. Isto transmite à vítima que ela não é importante o suficiente para que se importem com ela, fortalecendo o poder que o agressor investe sobre a vítima.
Fontes:
https://tvi.iol.pt/noticias/sociedade/mortos/os-crimes-de-violencia-domestica-que-marcaram-2019
https://sol.sapo.pt/artigo/652831/viol-ncia-domestica-mortes-voltam-a-subir
https://www.esquerda.net/artigo/violencia-domestica-matou-30-mulheres-em-portugal-so-em-2019/65152
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