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Gosto de escrever e aqui partilho um pouco de mim... mas não só. Gosto de factos históricos, políticos e de escrever sobre a sociedade em geral. O mundo tem de ser visto com olhar crítico e sem tabús!
Falo-vos hoje da abertura do Túmulo de um rei, que na minha opinião podia ter sido um desastre mas que acabou por ser um marco na nossa história e na construção e desenvolvimento do nosso país. Aqui vos deixo apenas um cheirinho, mas se pesquisarem descobrirão a novela que era a corte portuguesa. Vejam os links que deixo em baixo e que são apenas alguns dos que pesquisei para dsenvolver este pequeno texto.
D. Dinis de Portugal, "O Lavrador" de cognome, nasceu em Lisboa, a 9 de outubro de 1261. Foi Rei de Portugal e do Algarve de 1279 até à sua morte, em Santarém, a 7 de janeiro de 1325. Era o filho mais velho do rei Afonso III e sua segunda esposa Beatriz de Castela. Pertenceu, pelo lado paterno, à Casa Real Portuguesa, descendente direta da Casa Ducal da Borgonha. Pelo lado materno, descendia de importantes personalidades como Afonso X de Leão e Castela, Henrique II de Inglaterra ou Filipe da Suábia.
Como herdeiro da coroa, Dinis desde cedo foi envolvido nos aspectos de governação pelo seu pai, Afonso III, que, a 16 de fevereiro de 1279, deixa um reino com uma acentuada estabilidade interna, resultante de uma autoridade régia incontestada, em contraste com o estado geral em que se encontrava o reino de Castela, onde imperava um acentuado clima de ingovernabilidade e de permanentes conflitos sociais. Foi confiado, embora já fosse maior de idade (contava com 17 anos na altura da sua ascensão ao trono), a um conselho de regência presidido por sua mãe, Beatriz, que provavelmente tentaria liderar o reino chefiando um conselho esse no qual tomava parte o mordomo-mor do seu pai, João Peres de Aboim. No entanto, apesar de muito jovem, o rei afasta a mãe de qualquer participação na governação e este conflito acaba por levar mesmo à intervenção do avô, Afonso X, que terá tentado encontrar-se com o neto em Badajoz, encontro que o próprio Dinis rejeitou.
O Rei Lavrador foi um grande amante das artes e letras e trovador talentoso. Terá sido o primeiro monarca português verdadeiramente alfabetizado, tendo assinado sempre com o nome completo.
Em 1282, com 20 anos, casa-se com Isabel de Aragão, que tinha apenas 11 e era filha de Pedro III. Mais tarde, Isabel foi considerada a Rainha Santa. Mas o casamento não refreou os ímpetos do rei, que gerou pelo menos meia dúzia de bastardos de diferentes amantes. O especial carinho por um deles, Afonso Sanches, provocou ciúmes ao herdeiro legítimo, o futuro D. Afonso IV, que por causa disso pegou em armas contra o pai e o meio-irmão. O que se terá passado, foi que o infante Afonso revolta-se, com tropas no Norte do País, exercendo violências sobre quem era fiel ao seu pai. Afonso dirige-se então a Coimbra, e depois toma Leiria. Dinis segue para Leiria, mas o filho, tentando evitar o encontro, desloca-se a Santarém. Reúne-se depois em Coimbra com os seus apoiantes, e daí volta a partir para Norte, exaltado perante o ânimo da sua conquista. Acaba por conseguir tomar Montemor-o-Velho, Santa Maria da Feira, Vila Nova de Gaia, Porto, e é em Guimarães, no final de 1321 onde encontra a primeira resistência.
A mãe, Isabel, dirige-se também a Norte, para se encontrar com o filho e tenta convencê-lo da sua rebeldia inútil, mas sem sucesso. Dinis dirige-se a Coimbra com um exército, e o mesmo faz o seu filho, encontrando-se pela primeira vez, frente-a-frente, ambos os exércitos. Isabel, juntamente com um enteado, o Conde Pedro de Barcelos, tentam convencer pai e filho a desistirem da ideia de se enfrentarem um ao outro, dirigindo-se a cada um dos acampamentos. Tudo o que Isabel e Pedro conseguiram obter foi um armistício, mas não conseguiram evitar um combate sangrento numa ponte sobre o rio Mondego.
Com a (aparente) paz estabelecida em maio de 1322, a situação pareceu acalmar, mas alguma da aristocracia e vários maus conselhos dados por pessoas influentes, voltam uma vez mais o filho contra o pai, situação que acabou favorecida com o regresso de Afonso Sanches, que durante este conflito se encontrava em Castela. Afonso tenta surpreender o meio-irmão em Lisboa, mas Dinis protege o seu bastardo, proibindo Afonso de avançar sobre a cidade. A desobediência deste levou a que pai e filho se defrontassem uma vez mais, na Batalha de Alvalade, que não teve um pior desfecho porque a rainha Isabel resolveu intervir diretamente na batalha, interpondo-se entre as hostes inimigas já postas em ordem de combate.
Nesse ano, D. Dinis sofre aquilo que pode ter sido um acidente vascular cerebral e que o faz ficar numa situação crítica e até dependente, acabando por fazer as pazes com o filho em 1324. Mas esta situação fez também com que Afonso pedisse ao pai para abdicar a seu favor, algo que o monarca recusou.
D. Dinis foi o sexto rei de Portugal, um homem que, durante quase meio século de governo, consolidou as fronteiras, revolucionou a agricultura (daí o cognome O Lavrador), revitalizou a exploração mineira e impulsionou o comércio. Foi o responsável pela criação da primeira Universidade portuguesa, inicialmente instalada em Lisboa e depois para Coimbra. Travou uma guerra civil (1319-1324) e ainda teve tempo para escrever poesia (é autor de dezenas de cantigas de amor e de amigo, referência das letras trovadorescas em Portugal e fora dele). Os forais que deu a muitas localidades estimularam a fixação das populações, beneficiando vastas áreas até então incultas, designadamente na Beira Alta e em Trás-os-Montes. A sua política centralizadora foi articulada com importantes acções de fomento económico - como a criação de inúmeros concelhos e feiras.
Ao assinar com Fernando IV de Leão e Castela o Tratado de Alcanizes, em 1297, D. Dinis fez da fronteira portuguesa “o mais antigo limite político da Europa.” Este Tratado vem da devolução das vilas de Moura e Serpa, dos castelos de Mourão e Noudar, e ainda dos castelos e das vilas de Arronches e de Aracena, entregues a Aragão aquando do seu casamento com Isabel. Neste tratado ficaram combinados os casamentos dos infantes Constança e Afonso, filhos de Dinis, com o rei Fernando IV de Castela e a infanta Beatriz de Castela, respetivamente, um duplo casamento para reforçar a aliança e a garantia de paz de Castela com Portugal. É fantástico aquilo que não vem nos manuais mas que torna a História em algo tão completo, não acham?
Em 1308 assinou o primeiro acordo comercial português com a Inglaterra. Em 1312 fundou a marinha Portuguesa, nomeando 1º Almirante de Portugal, o genovês Manuel Pessanha, e ordenando a construção de várias docas.
É durante o seu reinado, que os documentos oficiais passam a ser escritos em português. D. Dinis “nacionalizou” as ordens religiosas-militares e, ao criar a Ordem de Cristo (1315), salvou os templários portugueses da perseguição movida pelo rei de França Filipe IV, o Belo, e pelo papa Clemente V.
No primeiro dos testamentos que deixou, o de 1318, D. Dinis determinou que o Mosteiro de Odivelas, cuja construção começou em 1295, deveria receber o seu túmulo e o da mulher, D. Isabel. Mas, num segundo documento, quatro anos mais tarde, muda de ideias. Para essa deriva de opinião terá contribuído a questão da guerra civil que opôs D. Dinis ao filho Afonso.
Dom Dinis faleceu a 7 de Janeiro de 1325, com sessenta e três anos, sendo aclamado seu filho Afonso IV rei de Portugal.
Em 1755, o túmulo ficou seriamente danificado pelo terramoto, quando a abóbada da igreja se abateu sobre ele.
Em 2016, especulava-se sobre como seria o túmulo antes do terramoto e, "se alguns defendem que lhe falta nas mãos a espada que era comum nas jacentes dos reis europeus da Idade Média, outros há que levantam a hipótese de ela nunca ter existido." O túmulo foi preparado antes da sua morte e feito ao seu gosto, no local por si escolhido.
Em Julho de 2017, num despacho publicado em Diário da República, o Governo já tinha aprovado a cedência de utilização do mosteiro pelo município de Odivelas, com vista à sua requalificação e adaptação para instalação de serviços municipais e outros de utilidade pública. Infelizmente, a transferência, oficializada com a assinatura de um acordo de cedência entre o município de Odivelas e o Ministério da Defesa, o proprietário, ocorre duas semanas após ter sido noticiado o furto de cerca de 170 azulejos do séc. XVII daquele monumento nacional desocupado desde 2015, quando o Instituto de Odivelas – escola tutelada pelo Exército e destinada a jovens do sexo feminino – se mudou para o Colégio Militar.
Cerca de dois anos depois, em 2019, o túmulo começou a ser restaurado. A espada do rei D.Dinis de Portugal, descoberta em 2020 durante os trabalhos de restauro do seu túmulo, no Mosteiro de São Dinis e São Bernardo, em Odivelas, foi hoje exumada da arca tumular. A espada encontrava-se do lado direito do rei, e “estava de alguma forma escondida pelos panejamentos”. Feita de ferro, com um punho de prata com aplicações de esmalte de várias cores e uma bainha de madeira que poderá estar revestida com couro, este artefacto será agora alvo de conservação e estudo por parte de uma equipa especializada.
A arqueóloga responsável pelo projeto, Maria Antónia Amaral afirmou que não sabiam que iam "encontrar esta espada“ e que a sua descoberta "é de uma importância imensa". O túmulo já tinha sido anteriormente aberto, em 1938, mas na altura a espada manteve-se escondida dos olhos dos investigadores e permaneceu por descobrir. “São raríssimas as espadas régias. Há pouquíssimas no contexto europeu e no contexto português, sobretudo encontradas in situ“.
“Há algumas espadas que estão associadas a reis, como a de D. João I, mas não temos a certeza absoluta. Aqui temos“, acrescenta a arquóloga. D. Dinis, foi o primeiro de um monarca português a receber autorização do próprio Papa para ser colocado dentro de uma igreja e não num espaço anexo, como era hábito. O rei repousa assim há 700 anos em Odivelas, numa magnífica sepultura, sob arcadas góticas, rodeado de monges cistercienses e monjas em pose, mas a sua espada, com a qual teria sido enterrado, há muito tinha desaparecido.
A datação da espada, que é “uma peça valiosíssima" e porque "é a espada do rei, símbolo máximo do poder militar“.
Fontes:
Imagem: https://zap.aeiou.pt/espada-desaparecida-de-d-dinis-desenterrada-tumulo-504591
https://www.mundoportugues.pt/2019/12/25/os-grandes-reis-de-portugal-d-dinis/
https://monarquiaportuguesa.blogs.sapo.pt/espada-do-rei-d-dinis-retirada-do-1059900
https://www.cm-odivelas.pt/autarquia/noticias/noticia/espada-de-d-dinis-retirada-do-tumulo
https://anodomdinis.blogs.sapo.pt/dom-dinis-morreu-ha-691-anos-1234
https://monarquiaportuguesa.blogs.sapo.pt/reis-de-portugal-dinis-i-de-portugal-408425
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