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Gosto de escrever e aqui partilho um pouco de mim... mas não só. Gosto de factos históricos, políticos e de escrever sobre a sociedade em geral. O mundo tem de ser visto com olhar crítico e sem tabús!
O encenador e ator Carlos Avilez, encenador, ator e fundador do Teatro Experimental de Cascais, faleceu esta quarta-feira, vítima de paragem cardio-respiratória, no Hospital de Cascais.
Pesquisei a biografia de Carlos Vitor Machado e em três sites descobri três datas de nascimento (1935, 1937 e 1939) o que desde logo é estranho e errado. Sabemos que se estreou profissionalmente como ator em 1956, na Companhia Amélia Rey Colaço - Robles Monteiro, onde permaneceu até 1963. A conselho de Amélia Rey Colaço, outra grande senhora do teatro português, orientou a sua vida para a encenação. Assim, ainda em 1963, levou ao palco a peça "A Castro", de António Ferreira, numa arrojada encenação que depressa lhe valeu o estatuto de “enfant terrible” do teatro português.
A história do teatro não poderá mais ser contada sem se falar deste nome. Em 1964, dirigiu o Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC), trabalhou com o ator Raúl Solnado no Teatro Villaret, em Lisboa, e em 1970 foi diretor artístico e responsável pelo dia consagrado a Portugal na Expo'70 em Osaka, no Japão. Em 1979 foi nomeado, juntamente com Amélia Rey Colaço, diretor da Companhia Nacional de Teatro I - Teatro Popular, então sediada no Teatro São Luiz, em Lisboa. Ao longo de décadas, levou várias produções suas além-fronteiras: Espanha, França, Brasil, EUA, Japão, Angola e Moçambique foram alguns dos países onde apresentou espetáculos. No plano internacional, trabalhou com nomes como Peter Brook e Jerzi Grotowski, através de uma bolsa concedida pelo Instituto da Alta Cultura.
Recebeu a Ordem do Infante D. Henrique em 1995 e as Medalhas de Mérito Municipal da Câmara Municipal de Cascais, de Mérito Cultural da Secretaria de Estado da Cultura e da Associação 25 de Abril. Para além do teatro encenou, também, várias óperas entre as quais se destacam "Carmen", "Contos de Hoffmann", "Kiu", "As Variedades de Proteu," "Ida e Volta," "O Capote," "Inês de Castro", "O Barbeiro de Sevilha" e "Madame Butterfly". Dedicou toda a sua vida ao teatro, tendo sido presidente do Instituto de Artes Cénicas, diretor do Teatro Nacional S. João, no Porto, e diretor do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.
A sua mais recente produção, "Eletra" tinha estreado no último sábado, no Teatro Experimental de Cascais, contando no elenco com Carla Maciel, Miguel Loureiro, Bárbara Branco e David Esteves.
Fontes:
https://www.cascais.pt/pessoa/carlos-avilez
https://observador.pt/2023/11/22/teatro-morreu-o-ator-e-encenador-carlos-avillez-aos-84-anos/
A 1 de julho de 1922, o Teatro Maria Vitória, aquele que é o mais antigo do Parque Mayer, e que ficou conhecido como a "Catedral da Revista", fez a sua primeira estreia com a peça "Lua Nova," da autoria de Ernesto Rodrigues, Félix Bermudes e João Bastos. A peça do género teatro de revista, fazia uma retrospetiva, "em jeito de piada, dos principais acontecimentos do ano anterior."
Na fachada do novo Teatro de Lisboa, o nome "Maria Vitória" imortaliza a jovem fadista e atriz de apenas 26 anos que com a sua voz forte já era um sucesso na capital e no país. A jovem, conhecida, entre outros com o "fado do 31", tornou-se uma lenda e ainda hoje é lembrada.
"O Parque Mayer surge como uma tentativa de revitalizar as tradicionais feiras itinerantes que, no início do século XX, eram pontos de entretenimento para os lisboetas - desde a conhecida Feira de Agosto, no parque Eduardo VII, à Feira de Santos, que foi proibida em 1919 devido à instabilidade noturna."
Mas no palco do Maria Vitória não passou só revista. Ali também era "possível assistir a comédias musicadas, operetas - como “Quebra-Bilhas” (1930) e as “Lavadeiras” (1933) - ou à proclamação de poemas." Algumas das revistas com mais destaque da sua história, foram "as revistas Foot-ball e Rataplan. Nesta, contava-se a "história de Artur Alves dos Reis, um burlão que falsificava notas de 500 escudos quase impercetíveis aos olhos dos especialistas de contrafação."
Foram muitos os nomes que se estrearam ou que passaram pelas tábuas do Maria Vitória, entre eles, Amália Rodrigues, que também ali se estreou em 1940, na revista “Ora Vai Tu." E ali conheceu "o compositor Frederico Valério." Também aqui se estreou Io Appolloni, em 1965, na revista “Sopa de Mel." Marina Mota, Carlos Cunha e Fernando Mendes também ali se lançaram.
O que fez do teatro de revista um género não só do povo, mas também de todas as classes sociais, foi desde sempre a forma como retratava a verdade do país. E também por isso, sofreu as agruras da ditadura. "Quando, a 28 de maio de 1926, o golpe de Estado liderado pelo general Gomes da Costa proclama o início da segunda República Portuguesa - mais conhecida como Estado Novo -, a revista Ás de Espadas cantou o movimento militar. A população estava habituada a revoluções constantes desde a implantação da República, em 1910, e desvalorizou a importância de mais um movimento militar."
Já calada com a "Lei da rolha" que sentiu durante a monarquia, a Revista vem então a sentir os cortes da Censura, nos seus textos. Mesmo assim, é com muita arte, que se continua a fintar muitos dos cortes do "lápis azul."
Na revista “O Banzé”, em 1939, tem disso um bom exemplo. Posta em cena logo depois da "declaração de guerra à Alemanha que daria início à II Guerra Mundial, tinha um quadro onde a “Taberna Inglesa”, o “Hotel França” e a “Casa Alemã” disputavam entre si a "anexação de um armazém." Nunca chegou a subir ao palco devido aos cortes efetuados pela censura.
Era preciso ter um selo branco que aprovasse cada uma das páginas do guião, o que tornava o "processo de produção de uma revista" já de si complexo, ainda mais difícil e demorado. A Comissão da Censura "analisava a escrita e cortava palavras, falas ou até mesmo números inteiros. Os empresários iam buscar os guiões, apresentavam aditamentos e correções, num vai e vem que não tinha fim à vista."
Mas também tinham vários truques para escapar aos censores. Um deles eram os "trocadilhos" que faziam parte dos textos, que com muita imaginação e inteligência, conseguiam "ludibriar os censores." Além dos truques para enganar a PIDE, no Maria Vitória havia um camarote - o cinco - que "estava sempre reservado para receber os censores ou outros representantes do Estado Novo que, para o ocuparem," precisavam de mostrar na entrada o respetivo cartão ao fiscal. Assim, se esse camarote estivesse ocupado, os atores já sabiam que a PIDE lá estava e, claro, reprimiam um pouco mais algumas piadas. Foi no teatro que se denunciou a "independência da Guiné." A revista, afinal de contas, era "uma forma de cultura expressiva, já completamente entrosada no país desde meados do século XIX" e, por isso, não era proibida.
Na madrugada de 25 de abril, o Maria Vitória era o único palco com espetáculo a decorrer no Parque. Enquanto na Rádio Renascença, a música "Grândola, Vila Morena”, de Zeca Afonso, tocava, via-se ainda no Maria Vitória a revista “Ver, Ouvir e Calar”, que tinha sido "escrita por Aníbal Nazaré, Henrique Santana e Henrique Parreirão" e que depois se passou a chamar "Ver, Ouvir e Falar" fazendo jus ao espírito revolucionário. A revista “Até Parece Mentira” foi a primeira revista criada para o palco do "Maria Vitória em tempo de liberdade."
No dia 10 de maio de 1986, um incêndio deflagrou no Maria Vitória e destruiu o teatro. A companhia do Maria Vitória continuou o seu trabalho, mas durante esse período fê-lo no teatro Maria Matos e "só regressou a casa em 1990" quando as obras terminaram e foi permida a estreia da "revista Vitória! Vitória!."
Atualmente, Hélder Freire Costa, nascido "nas Janelas Verdes," em 1941 é "o último a resistir", contando já com 55 anos no Maria Vitória. Reclama que aquela casa, está a precisar de obras, mas que já não lhe caberá a ele fazê-las.
Fontes:
https://sdistribution.impresa.pt/data/content/binaries/5e5/409/e112e0b6-7282-49bd-ad89-a46d94681ead/
Quem diria que hoje ainda estaria de pé! Inaugurado a 15 de junho de 1922, o Parque Mayer assistiu "de camarote" à chegada da ditadura, sofreu as agruras que se viveu no país e quase que viu os seus teatros deitados abaixo, enquanto outros pelo seu abandono iam sendo incendiados. Mas hoje, apesar de tudo, está de pé e comemora o seu primeiro centenário.
A sua história acompanha não só a da cidade de Lisboa como a de Portugal. "O Parque Mayer foi ocupar um espaço junto à Avenida da Liberdade, que pertenceu antes aos jardins e espaços adjacentes do Palácio Mayer e foi construído em 1901 por Nicola Bigaglia e pertença de Adolfo de Lima Mayer."
Funcionou ali entre 1918 e 1920 "o Club Mayer, um clube noturno de recreio e jogo." Em 1920, Artur Brandão, adquiriu o terreno e tornou-se o primeiro "promotor do espaço" mas, no ano seguinte, vendeu-o a Luís Galhardo, depois de trágico acontecimento: "a morte por afogamento de um neto do proprietário no lago que ali existia."
Luís Galhardo era já uma "personalidade ligada ao meio teatral, que sonhava criar um espaço dedicado ao divertimento" e com alguns sócios, criou a "Sociedade Avenida Parque. Lda," em 1921. Esta Sociedade "projetou nos espaços adjacentes ao edifício do Club Mayer, um espaço de diversão noturna e um polo de atração teatral, especializado no teatro de revista." Nascia assim a génese do Parque Mayer!
Mas em plena ditadura, no ano de 1930 Luís Galhardo acaba por vender "o Club Mayer para a instalação do Consulado Geral de Espanha em Lisboa."
Apesar do que se passava no país, foram as "décadas de 30 e de 70 do séc. XX" as que mais marcaram o "apogeu do Parque Mayer, um sítio carismático de diversão", onde se podiam encontrar barraquinhas, o "circo El Dorado", combates de boxe, carrocéis, entre outros divertimentos. "O percurso político, social e cultural do país, no início dos anos 70, levou a uma renovação de autores, artistas e da própria revista à portuguesa." Esta mudança não seria possívfel sem nomes como "José Viana, Aníbal Nazaré, Francisco Nicholson e Gonçalves Preto que ousaram abordar assuntos até aí interditos."
Foi aqui que nasceram também os desfiles das marchas populares. "Em 1932, por sugestão de Leitão de Barros, realizou-se no Parque Mayer o primeiro desfile de grupos representantes dos bairros lisboetas."
Construíram-se vários teatros neste espaço. O primeiro foi" o Teatro Maria Vitória" inaugurado em 1922, e cujo nome foi uma homenagem à "atriz e fadista Maria Vitória, cuja morte (poucos anos antes) criara alguma consternação." Estreou-se naquele palco, ainda em instalações de madeira provisórias, a 1 de julho desse ano a revista “Lua nova”. Esta sala é a única que ainda continua em atividade como teatro, muito pelo caráter resiliente" do empresário Helder Freire Costa. Um grave incêndio a "10 de Maio de 1986" quase destruiu por completo este teatro e manteve-o "fechado até 1990." Nessa altura, passados quatro anos, reabriu com a peça "Vitória, Vitória", título que se referia a todo o "esforço feito para recuperar a sala de espetáculos. Já então tinham sido gastos 90 mil contos na renovação daquele espaço." A falta de subsídios, que haviam sido prometidos "por várias entidades," tardaram e dificultaram o reerguer do Maria Vitória.
A 20 de agosto de 2003, este espaço sofreu danos graves devido a um outro incêndio que consumiu muito do recheio que estava armazenado. Além do fogo em si, também a água utilizada causou avultados danos, atingindo "o palco, o fosso da orquestra, a sala de estar do público, o salão grande e escadas."
"A 8 de julho de 1926" é inaugurado o Teatro Variedades, onde estreou a revista “Pó de arroz”. Seguiram-se o Capitólio, em 1931. Em 1937, apareceu uma outra casa de espetáculo, o Teatro Recreio, "que foi edificado por iniciativa do empresário Giuseppe Bastos e esteve apenas três anos em funcionamento." E, por último, já em 1956, o novo Teatro ABC, no espaço que já tinha sido do “Alhambra” e parte do “Pavilhão Português”, estreando a revista “Haja saúde”.
Apesar de durante a época do Salazarismo, muitos quadros de revista terem sido "interditados" pela censura, a verdade é que foi nas décadas de 1960 e 1970, que se viveram os tempos mais "áureos da revista à portuguesa. Os quatro teatros do Parque Mayer rebentavam pelas costuras, com espetáculos diários, a que assistiam ilustres figuras da vida pública, ao lado do povo anónimo." Durante as "primeiras décadas, outros espetáculos chamavam multidões, como o fado, o boxe e os combates de luta livre." Estes combates muitas vezes eram ensaiados!
Em agosto de 1990, o ABC sofreu um grave incêndio, já depois de ter sofrido obras de remodelação. Na época tinha em cena a peça "Ai Cavaquinho." Encerraria definitivamente em 1997.
"Em 1999, os terrenos do Parque Mayer foram comprados pela Bragaparques por 13 milhões de euros. Em julho de 2005, a empresa permutou os terrenos por parte dos lotes municipais de Entrecampos, onde se situava a Feira Popular." Só em março de 2021, depois de uma grande batalha jurídica, "a Câmara Municipal de Lisboa vence o processo legal que a opunha à Bragaparques, resultado da disputa referente aos terrenos do Parque Mayer, e que obrigava ao pagamento de 138 milhões de euros pela autarquia à empresa."
Fontes:
https://informacoeseservicos.lisboa.pt/contactos/diretorio-da-cidade/parque-mayer
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/incendio-no-teatro-abc/
https://www.noticiasmagazine.pt/2022/viagem-aos-100-anos-do-parque-mayer/historias/276677/
http://cvc.instituto-camoes.pt/teatro-em-portugal-espacos/parque-mayer.html
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