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Gosto de escrever e aqui partilho um pouco de mim... mas não só. Gosto de factos históricos, políticos e de escrever sobre a sociedade em geral. O mundo tem de ser visto com olhar crítico e sem tabús!
Hoje fiz uma publicação no blogue Caderno de leitura onde apresento uma iniciativa portuguesa que leva a que hoje, milhares de crianças tenham ido de pijaminha para a escola! A Missão Pijama, é uma iniciativa da "Mundos de Vida". Esta é essencialmente uma iniciativa de sensibilização da sociedade portuguesa para a promoção do "direito de uma criança crescer numa família" e não é por coincidência que calha exatamente no dia em que se assinala a Convenção Internacional dos Direitos da Criança. Apesar de estar mais direcionada para a consciencialização do direito que toda e qualquer criança deveria ter a viver numa casa, a ser aceite pelos seus e a ter uma família, a verdade é que neste dia não nos podemos esquecer de todas as outras. Aquelas que hoje não tem um pijama para vestir e que adormecerem sobre a terra dura sem nada com que se tapar.
E é cada vez mais importante falarmos disto!
A Convenção sobre os Direitos da Criança foi adotada pela Assembleia Geral da ONU em 20 de novembro de 1989. Entrou em vigor em 2 de setembro de 1990 e foi ratificado por 196 países, Portugal incluído. Os Estados Unidos não ratificaram a Convenção. Esta Convenção apoia-se ainda na Declaração de Genebra dos Direitos da Criança, de 1924, e na Declaração dos Direitos da Criança adotada pela Assembleia Geral a 20 de novembro de 1959.
Presentemente, continuam as crianças a ser as principais vítimas, diretas e indiretas, dos conflitos.
Na Faixa de Gaza, as crianças têm sido as principais vítimas do conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas, perfazendo cerca de 40% do total de mortos no território. Segundo informações do ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas, desde o início dos bombardeios de retaliação de Israel após os ataques brutais perpetrados pelo Hamas em 7 de outubro, cerca de 3000 crianças perderam a vida e mais de 5,3 mil ficaram feridas na Faixa de Gaza. Nem será preciso referir que a situação vivida nos hospitais é desumana. Nem todos os recém-nascidos que estavam nas incubadoras conseguiram sobreviver aos cortes de energia e nem todos os que foram levados para o Egito, lá conseguiram chegar com vida.
Em Israel, mais de 30 crianças foram mortas pelo Hamas desde o início da atual guerra, e dezenas permanecem em cativeiro na Faixa de Gaza, longe dos pais e dos irmãos.
Apesar de os dados já não estarem atualizados, por causa da constante dificuldade em recolher dados nas zonas ocupadas pelas forças russas, desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022, quase 500 crianças foram mortas e mais de 1000 ficaram feridas.
Não se fala tanto do Sudão, mas a guerra civil em que o país está mergulhado desde abril, para além das habituais condições de pobreza extrema, faz com que aí se viva atualmente um dos períodos mais trágicos. A luta entre o exército do Sudão e o grupo paramilitar RSF dura há quase seis meses, tendo já provocado milhares de refugiados e uma verdadeira crise humanitária, que, reforço não tem sido devidamente acompanhada. De acordo com a agência da ONU, mais de 1200 crianças com menos de 5 anos (refugiadas da Etiópia e do Sudão do Sul) morreram de sarampo e de malnutrição em nove campos de refugiados no Estado do Nilo Branco entre 15 de maio e 14 de setembro. A guerra tem levado milhares de pessoas a fugirem para os países vizinhos, sobretudo para o Egito e para o Chade, onde quase um milhão de mulheres e crianças vivem em campos de refugiados. A fome e as doenças associadas à malnutrição são a principal causa de morte entre os mais novos.
Na Nigéria e na Somália, juntam-se as catástrofes naturais que têm levado à fuga de centenas de milhares de pessoas. A Nigéria foi o país da África sub-sariana onde se registaram mais deslocados internos, devido às inundações no estado de Borno e noutras partes do país, em 2022. No final do ano passado, pelo menos 854000 pessoas continuavam longe de casa entre elas, estima-se que 427000 eram crianças.
No Paquistão, mais de um ano depois das cheias que afetaram o território, estima-se que ainda existam oito milhões de pessoas, metade das quais crianças, que vivem sem acesso a água potável, nas zonas mais afetadas. A subnutrição atingiu níveis dramáticos.
E poderia continuar a enumerar, mas números são apenas isso, números. Faltam ações concretas dos governos, porque isto assim não pode continuar!
Fontes:
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c517zvr11n1o
https://pt.euronews.com/2023/08/13/cerca-de-500-criancas-mortas-desde-o-inicio-da-guerra-na-ucrania
Quando falamos num conflito como o que afeta o Sudão, a última coisa de que nos vamos lembrar é de arte. Será? Hoje senti um pequeno aperto ao ler esta notícia do Observador, em que o dono da Downtown Gallery, afirma (em declarações prestadas à Agência Lusa), que não era da guerra que pensava que ia falar quando esta exposição começou a ser preparada com a Brotéria, em Lisboa, há mais de um ano. As obras de arte, que entretanto vieram para Portugal, acabaram por ser as poucas que escaparam ao conflito que afeta o país.
Rahiem Shadad, sudanês e um dos curadores da exposição, fala da violência nas ruas e refere que as três dezenas de obras, de nove artistas sudaneses que entretanto fugiram para o Egito, para Espanha, ou para regiões do Sudão mais afastadas das zonas de combate, são, nalguns casos, as poucas que restaram do trabalho que estes desenvolveram nos últimos anos. A destruição não poupa museus, galerias de arte, ateliers ou escolas.
Rahiem Shadad, dono de uma galeria no bairro que reunia a maior parte delas e dos ateliers de artistas em Cartum, foi uma das muitas pessoas que não conseguiu ainda regressar à sua terra. Rahiem, saiu do Sudão com a família no final de março para o que, pensava serem apenas duas semanas de férias no Egito, mas a guerra começou e não puderam voltar, permanecendo até agora no Cairo.
Depois de Lisboa, estas obras que escaparam à guerra no Sudão vão estar em Berlim, em novembro, e o objetivo para já é que passem também pelo menos por Madrid e Paris.
Falando aqui de outros conflitos (poderia ir muito mais atrás à Primeira ou à Segunda Guerras Mundiais) a realidade, seja qual for a zona do mundo, é a mesma. Não é a arte a primeira a ser protegida (como é óbvio, o foco está na vida humana e nos bens essenciais), e por isso muito se tem perdido pelo mundo pela destruição deliberada ou "acidental" de museus e galerias. Logo dois dias depois do início da invasão da Ucrânia, foi divulgada a destruição do Museu Ivankiv, situado na região metropolitana de Kiev. Aqui terão sido destruídas 25 obras de uma das principais artistas ucranianas, Maria Prymachenko. As suas obras, exuberantes nas cores e formas, retratavam a história e o quotidiano do país e do folclore, em pinturas, desenhos, cerâmicas e bordados.
Entretanto, os bombardeamentos russos já destruíram, total ou parcialmente, outros locais de elevada importância cultural, como o Museu de Arte em Kharkiv, com mais de 25.000 obras de arte. Ocorreram também já bombardeamentos próximos do memorial do Holocausto Babi Yar, em Kiev, local onde, em 1941, mais de 34 mil judeus foram fuzilados pelos nazis em apenas dois dias. O que se pode fazer para preservar a história de um país representado pela sua herança cultural e pelos seus artistas?
Efetivamente, o património cultural material do mundo é uma herança comum que marca a identidade e constitui uma inspiração para toda a humanidade, tendo o poder de nos unir e de promover a paz.
Infelizmente, as guerras procuram apagar a identidade, a consciência coletiva e a memória cultural de um povo através da destruição de obras de arte. Procurando evitar que isso aconteça na Ucrânia, os funcionários do Museu Nacional Andrey Sheptytsky, o maior museu de arte deste país, localizado em Lviv, próximo da fronteira com a Polónia, embrulharam e retiraram já obras deste museu, para protegê-las.
Em 1954, depois da Segunda Guerra Mundial, foi criada na Convenção de Haia o “Escudo Azul” que procurava a proteção de bens culturais em situações de guerra. No artigo 53º da Convenção de Haia para a Proteção da Propriedade Cultural no Caso de Conflito Armado está explicito que são proibidos “quaisquer atos de hostilidade dirigidos contra monumentos históricos, obras de arte ou locais de culto que constituam património cultural ou espiritual dos povos”, sob pena de serem considerados crimes de guerra.
Infelizmente, isso parece nunca ser cumprido.
Fontes:
https://observador.pt/2023/06/29/sudao-ha-arte-que-escapou-a-guerra-e-pode-ser-vista-em-lisboa/
JESUS, Saúl Neves - https://postal.pt/edicaopapel/como-sao-tratadas-as-obras-de-arte-durante-a-guerra/
Cerca de dois meses depois do início da guerra no Sudão estima-se que mais de 1,65 milhões de pessoas tenham fugido para zonas mais seguras no interior do Sudão ou atravessado as suas fronteiras para os países vizinhos. O Egito tem sido um dos destinos. Outras permanecem encurraladas nas suas casas, incapazes de escapar, à medida que as reservas de alimentos e de água diminuem. Os confrontos também perturbaram o trabalho dos grupos humanitários.
Mais de 13,6 milhões de crianças necessitam urgentemente de ajuda. A ONU, insta os países vizinhos a manterem as suas fronteiras abertas para os que fogem da violência e instou todos os Estados a permitirem aos civis que fogem do Sudão acesso não discriminatório aos seus territórios e a suspenderem retornos forçados ao Sudão, inclusive de pessoas que já tiveram pedidos de asilo rejeitados.
A ONU tem vindo ainda a alertar para o agravamento da subnutrição no Sudão, especialmente em zonas como o Darfur Ocidental, Cordofão Ocidental, Nilo Azul, Mar Vermelho e Darfur do Norte. É no Darfur, região ocidental do Sudão, que a situação é considerada mais dramática, sobretudo porque que já tinha sido martirizada por anteriores conflitos e onde foram já foram pilhados vários comboios de ajuda humanitária.
Num orfanato localizado no Sudão, cerca de 60 crianças perderam a vida, a maioria por falta de comida e com febre. Só no fim de semana passado 26 perderam a vida, ao mesmo tempo que continuam os combates no exterior.
Num vídeo, onde se vêem corpos enrolados em panos brancos, os trabalhadores do orfanato, apelaram a uma deslocação rápida para fora da capital, por causa da guerra.
A dimensão do sofrimento das crianças foi revelada através de entrevistas com mais de 12 médicos, voluntários, funcionários do setor da saúde e trabalhadores do orfanato Al-Mayqoma. A agência de notícias britânica Associated Press também analisou dezenas de documentos, imagens e vídeos que mostram a deterioração das condições nas instalações.
De acordo com as certidões de óbito, entre os mortos encontram-se bebés com apenas 3 meses, situação que gerou alarme e indignação nas redes sociais. Uma instituição de caridade local conseguiu entregar alimentos, medicamentos e leite em pó para bebés ao orfanato no domingo, com a ajuda da agência das Nações Unidas para a infância, a Unicef, e do Comité Internacional da Cruz Vermelha.
Fontes:
De manhã, tenho por hábito acender a televisão enquanto me despacho para ir ouvindo as notícias. Hábito que ganhei desde menina e que continuou quando, nas noites em que estava de turno, a televisão e, em especial, os canais de noticiários eram a minha companhia. Destas incursões matinais por aquilo que se passa pelo mundo fora, ficam muitas vezes guardadas em mim imagens e frases que depois ao longo do dia se vão continuando a repetir na minha mente. Escrever sobre elas acaba por ser um escape de emoções.
Hoje tenho andado atormentada pelas imagens da guerra no Sudão. Sim, o mundo "todo" parece estar em guerra há muito, muito tempo, tempo. Mas parece que nos últimos dias, se voltou a "acordar" para esta zona do globo, falando-se mais do conflito de ocorre na zona de Darfur (ou conflito do Sudão). Para tentar (um pouco ingloriamente) compreender o que se passa, decidi então fazer algumas pesquisas.
O Sudão tem uma história de conflitos entre o sul e o norte do país, que resultaram na primeira (1955-1972) e na segunda (1983-2005) guerras civis sudanesas (embora, para alguns, a primeira nunca tenha realmente acabado, apenas tenha havido um período de uma certa "paz" entre as partes). A segunda guerra civil, ocorreu quando o governo muçulmano do norte tentou impor a Charia em todo o país, inclusive no sul, onde a maioria da população é cristã e animista. Os conflitos deram-se maioritariamente na zona mais a sul do Sudão e foi uma das guerras mais longas e mais mortíferas do final do século XX, sendo o númro de mortos um dos mais altos do que qualquer guerra desde a Segunda Guerra Mundial.
Esta guerra termina após quase três anos de negociações, com a assinatura do Tratado de Naivasha a 9 de janeiro de 2005. Da assinatura deste tratado surgiu a região autónoma do Sudão do Sul.
Existem três etnias predominantes na região: os furis (que emprestam o nome à região), os massalites e os zagauas, em geral muçulmanos da localidade ou seguidores de outras religiões.
Numa zona desértica da África Sub-Saariana, a combinação de décadas de secas, desertificação e superpopulação estão entre as causas do conflito do Darfur, onde os nómadas árabes bagaras, ao deslocarem-se em busca de água, levam os seus rebanhos de animais para o sul, onde estão terras ocupadas maioritariamente por comunidades agrárias.
A guerra entre fações arrasta-se desde 2003 e ainda ocorre nos dias atuais, com um saldo de milhares de mortos e milhões de refugiados, embora os números alarmantes não gerem tanta atenção e debate no âmbito político internacional.
Segundo a Organização das Nações Unidas, já morreram mais de 300.000 pessoas e 2,7 milhões tiveram de abandonar as suas terras e fugir para outras regiões, principalmente para o Chade, país vizinho localizado a oeste.
Depois da queda do presidente Omar Al-Bashir, em 2019, esperava-se uma transição para um regime menos dependente da influência militar e por isso os atuais combates apanharam de surpresa os habitantes de Cartum.
Em pouco mais de uma semana de guerra, terão morrido mais 400 civis. A vida desapareceu das ruas de Cartum e escondeu-se dentro das casas, cada vez mais permeáveis à violência dos combates e onde começam a escassear bens essenciais.
Os constantes conflitos, travados entre as forças regulares do exército sudanês e os combatentes da milícia paramilitar, refletem a oposição entre os dois generais mais poderosos do Sudão, que parecem ainda muito longe da mesa de negociações. No meio deste conflito, estão agora mais de cinco milhões de habitantes da capital sudanesa. Há falta do mais essencial para sobreviver: comida, água potável e eletricidade. Os habitantes de Cartum lutam já pela sobrevivência sob temperaturas próximas dos 40 graus e começaram a matar a sede com água retirada do rio Nilo.
Sem terem qualçquer expectativa de tréguas duradouras e com os combates a alastrar a outras regiões do Sudão, quem consegue, começa a abandonar o país, o terceiro maior do continente africano, temendo-se mais uma vaga de refugiados. O secretário-geral da ONU, António Guterres, garante que as Nações Unidas vão permanecer no país.
Segundo um comunicado do governo feito este domingo, o Ministério da Defesa juntou-se ao Ministério dos Negócios Estrangeiros nos esforços para a retirada dos portugueses retidos no Sudão, tendo a diplomacia portuguesa contactado "todos os cidadãos nacionais conhecidos".
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Conflito_de_Darfur
https://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_Civil_Sudanesa
https://brasilescola.uol.com.br/geografia/conflito-darfur.htm
Há meninos que vão à escola. Há meninos que fazem birras porque não querem comer a sopa. Há meninos que brincam com carrinhos, constroem puzzles e pintam desenhos coloridos.
Há meninos que são levados em tenra idade e que são sujeitos às maiores atrocidades. Há meninos que em vez de desenhos animados assistem a execuções. Há meninos que são recrutas em ”campos infantis” por toda a Síria e pelo Iraque e fazem parte do Daesh.
Assinala-se hoje o Dia Internacional contra o Uso de Crianças-soldado. Segundo o mais recente levantamento feito pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, 56 das atuais 57 entidades em guerra têm utilizado crianças nos seus exércitos. Em 2014, foram identificadas oito nações onde as crianças são recrutadas pelas forças de segurança: Afeganistão, Chade, Mianmar, Somália, Sudão do Sul, Sudão e Iêmen. Em países como Iraque e Síria, crianças permanecem vulneráveis ao recrutamento por conta da proliferação de entidades armadas e avanços do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL). No Sudão do Sul, os conflitos internos ainda afectam jovens e, no Iêmen, a participação e o uso de crianças pelas partes em conflito tornaram-se amplamente disseminados desde a escalada das tensões, em Março de 2015.
Há meninos que brincam ao faz-de-conta com armas feitas de pau e cantam "rei, capitão, soldado, ladrão..." e há meninos que gritam antes de dispararem armas verdadeiras, numa idade em que ainda não deveriam saber que a morte é irreversível. Estas crianças são usadas como bombistas suicidas ou para ”transportar armas e material médico nos confrontos”. Enquanto as meninas são vendidas ou entregues aos soldados do Daesh como presentes, os rapazes são sujeitos a treino religioso e militar, onde aprendem a disparar armas e são obrigados a assistir a vídeos de decapitações.
Em 2016, pensa-se que terão sido 89 as crianças entre os oito e os 18 anos que morreram nas fileiras do Daesh durante um ano. O autoproclamado Estado Islâmico chama-lhes "as crias do califado". São meninos e meninas, provenientes na sua maioria da Síria mas que acabam por morrer em solo iraquiano: 60% dos jovens terá entre 12 a 16 anos, enquanto apenas 6% estão entre os oito e os 12 anos. São tratados como qualquer outro soldado. Estudos apontam para que 39% das crianças que faleceram em nome do Daesh iam a conduzir um veículo armadilhado, enquanto 33% foram mortas como peões no campo de batalha. Os números são ainda mais aterradores quando se descobre que 18% dos rapazes não tinham sequer quaisquer planos de sobreviver, sendo parte de inghimasis, ataques onde os jiadistas mergulham para lá das linhas do inimigo com a intenção de causar o maior número de baixas até eles próprios serem mortos.
Em 2017, no programa Grande Reportagem (SIC) com o título "Crianças no Daesh" de Henrique Cymerman, filmada na zona de Mosul no Iraque, podemos ver (se bem que não serei nunca capaz de compreender) o drama de milhares de meninos raptados pelo Estado Islâmico e transformados em terroristas suicidas e soldados, logo a partir dos três anos. Este excelente trabalho de reportagem mostra como uma equipa de resgate tenta libertar das mãos do ISIS crianças e meninas dos 3 aos 15 anos. São crianças e adolescentes que passaram longos períodos nas mãos do Daesh, movimento que chegou a controlar metade da Síria e metade do Iraque. Um dos meninos era Akram, com apenas 10 anos, que mostra aos repórteres como os homens do Estado Islâmico o ensinaram a matar e a cortar o pescoço de seres humanos, começando os "treinos" com bonecas, depois com gatos, cães, e por fim, com pessoas. Akram diz acerto ponto: "Se continuarem a falar em inglês vou ter de os matar."
Segundo uma denúncia das Nações Unidas, em 2022, as autoridades iraquianas mantinham detidas mais de um milhar de crianças (1091), algumas delas com apenas nove anos, acusadas de serem uma ameaça à segurança do Estado e de pertencerem ao Daesh. De facto, a esperança dos líderes do autoproclamado Estado Islâmico é que, mesmo se a organização eventualmente for derrotada, a “missão” pode continuar através de uma nova geração de jiadistas, através dos milhares de crianças que já foram doutrinadas com os seus ensinamentos.
Está tudo errado.
Estas crianças, são vítimas de guerra. Nunca pediram para estar ali... nunca pediram para que lhes fosse posta uma arma nas mãos... não puderam ser crianças, não puderam brincar, sorrir, cantar, sonhar...
Fontes:
https://visao.pt/atualidade/mundo/2016-01-10-as-criancas-sao-o-futuro-ate-no-daesh/
https://expressodasilhas.cv/mundo/2016/02/27/uma-infancia-a-combater/47798
https://sicnoticias.pt/programas/reportagemsic/2017-07-14-Criancas-no-Daesh-uma-infancia-roubada
A emoção desponta quando começo a tentar escrever sobre a participação das crianças na guerra. Podia estar apenas a falar sobre mais um ataque à bomba, o que infelizmente só por si já seria muito mau, mas ainda o ano vai no princípio e já quase que se está a tornar banal verem-se imagens de pessoas mortas no chão e outras a correr no meio do pó e da destruição.
Mas dá-se um nó, um aprto no peito enquanto as lágrimas tentam ganhar caminho... são as imagens de crianças que aprendem a usar armas que me estão a colocar um nó dentro do peito. É revoltante aquilo que se está a fazer com todos aqueles rapazes, que deviam estar a brincar com carrinhos, a correr atrás de uma bola e não a usar armas de fogo! Mas os factos estão diante dos nossos olhos, todos os dias, na televisão ou na internet.
Começo por falar do Afeganistão, onde os meninos aprendem as "leis" do Estado Islâmico. Praticamente derrotado na Síria e no Iraque (ou pelo menos assim nos querem fazer crer), o auto-denominado grupo terrorista "Estado Islâmico" segue firme no Afeganistão, onde uma série de atentados ao longo dos últimos 18 meses deixou centenas de mortos.
Quando em 2014, as tropas da NATO começaram a deixar o Afeganistão, o Estado Islâmico levantou sobre a população a sua mão pesada, fazendo-se sentir através de ações do grupo EI-K (como se autodenomina o grupo local). Em meados de 2015, a ONU alertou que este grupo já estava presente em 25 das 34 províncias. E as crianças, que deveriam estar a ser protegidas, são as que mais sofrem neste conflito.
Em julho de 2016, o grupo El-K chegou a Cabul. O primeiro ataque na capital afegã foi um dos mais mortais já executados na cidade. Duas explosões atingiram membros do grupo étnico xiita hazara, matando cerca de 85 pessoas e ferindo mais de 400. E sabiam que só no Afeganistão, quase 700 crianças foram mortas nos primeiros 9 meses do ano passado?
Mas infelizmente, não acontece apenas no Afeganistão. Em zonas de conflito por todo o mundo, as crianças tornaram-se alvos de primeira linha. São usadas como escudos humanos, mortas, mutiladas ou recrutadas para combater. Violações, casamentos forçados, raptos e escravatura tornaram-se tácticas recorrentes em todos estes conflitos, desde o Iraque ao Sudão do Sul, passando pela Síria, Iémen, Nigéria ou Myanmar.
Em alguns contextos, as crianças raptadas por grupos extremistas são abusadas e quando libertadas são novamente detidas por forças de segurança. Milhões de crianças estão a pagar o preço destes conflitos: sofrem de má nutrição, de doenças e ficam para sempre com traumas graves. Os serviços básicos são-lhes negados – incluindo o acesso a comida, água, saneamento e serviços de saúde – danificados ou destruídos pelos confrontos.
Segundo dados divulgados pela UNICEF, pelo menos 5000 crianças foram mortas ou ficaram feridas no Iémen, durante os cerca de 1000 dias de confrontos. No entanto, estima-se que os números reais sejam muito mais elevados! No total, cerca de 1,8 milhões de crianças sofrem de má nutrição – das quais 385000 estão gravemente malnutridas e em risco de morrer se não forem tratadas com urgência.
No Iraque e na Síria, crianças têm sido usadas como escudos humanos. Ficam presas em zonas cercadas e acabam por ser alvo de atiradores furtivos, além de serem atingidas por bombardeamentos intensos. A violência está presente e é visível na forma como interagem socialmente umas com as outras - não aprendem a brincar, aprendem a sobreviver e isso implica lutar e, nalguns casos, até matar.
Na região do Kasai da República Democrática do Congo, a violência obrigou 850000 crianças a abandonarem as suas casas, numa região onde mais de 200 unidades de saúde e 400 escolas foram atacadas e destruídas. Um total estimado de 350000 crianças são vítimas de má nutrição aguda severa.
Em Myanmar, as crianças Rohingya sofrerem e testemunharam casos chocantes de violência generalizada, sendo atacadas e obrigadas a abandonar as suas casas no estado de Rakhine, enquanto outras crianças em zonas fronteiriças remotas dos estados de Kachin, Shan e Kayin continuam a sofrer as consequências das tensões entre as forças armadas do Myanmar e vários grupos étnicos armados.
No nordeste da Nigéria e nos Camarões, o Boko Haramterá recorrido a pelo menos 135 crianças como bombistas suicídas - quase cinco vezes mais do que em 2016. Na República Central Africana, depois de meses de novos confrontos, registou-se um aumento dramático dos níveis de violência com crianças a serem mortas, violadas, raptadas e recrutadas por grupos armados.
Na Somália, foram reportados 1740 casos de recrutamento de crianças nos primeiros dez meses de 2017 - estes são aqueles dos quais se sabem. No Sudão do Sul, onde o conflito e a economia em colapso levaram à declaração de fome em algumas partes do país, mais de 19000 crianças terão sido recrutadas por forças e grupos armados e mais de 2300 crianças acabaram mortas ou gravemente feridas desde o início do conflito em dezembro de 2013.
A UNICEF apela a todas as partes envolvidas em conflitos que cumpram com as suas obrigações decorrentes da legislação internacional para que cessem imediatamente todo e qualquer tipo de violação contra as crianças, assim como os ataques contra infra-estruturas civis, incluindo escolas e hospitais.
Fontes:
https://www.dw.com/pt-br/estado-isl%C3%A2mico-sobrevive-no-afeganist%C3%A3o/a-42117855
https://www.plataformaongd.pt/noticias/numero-de-criancas-sob-ataque-nunca-foi-tao-elevado
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