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25 anos - O maior desfile de palhaços

por Elsa Filipe, em 12.02.24

As minhas memórias de juventude passam pelo Carnaval de Sesimbra e pela participação nos desfiles de palhaços à segunda-feira. Lembro-me quando foi a primeira vez e só agora percebi que já lá vão 25 anos. Tanto tempo que já passou, milhares e milhares de palhaços que calcorrearam aquela calçada, aquelas ruas, aquela praia! Este ano, estive a trabalhar e por isso não consegui estar presente nesta grande festa! Mas ao longo desta minha postagem, vão espreitando algumas imagens de anos anteriores! Venham recordar comigo alguns momentos das tardes fantásticas das "Segundas dos Palhaços."

Bem, então voltando atrás no tempo, estávamos em 1999 quando esta brincadeira começou. Os pioneiros, primeiros foliões a achar que seria engraçado mascararem-se de palhaços e juntarem-se para fazer umas brincadeiras na tarde de segunda-feira (numa época e região que, devemos lembrar, quase ninguém trabalhava nestes dias e em que não havia escola) foram Carlos Silva, Paulo Soromenho, Pedro Canana, Raúl Custódio, Henrique Amigo, entre outros. 

O primeiro desfile chamou-se "Simpatia é Quase Amor," mas os organizadores não faziam "ideia do sucesso que este acontecimento iria alcançar." Poucos meses antes, a TVI tinha estreado o programa "Batatoon." Não levou muito tempo até que este se tornasse "um dos grandes momentos do Carnaval de Sesimbra, mas também no maior desfile do género que se realiza em Portugal e no mundo, juntando todos os anos milhares de pessoas vindas de vários pontos do país." Os números são espetaculares - falamos num cortejo que já chegou a levar "perto de 4 mil mascarados de todas as idades" - tal como é a imagem do mar de cores que invade a marginal de Sesimbra. Até mesmo os animais de companhia são levados a participar! A animação e a música - onde não faltam as tradicionais marchinhas de carnaval - acompanham todo o desfile! 

A participação é livre e basta vir vestido de palhaço. Alguns foliões trazem consigo vários apetrechos, como por exemplo "veículos de todos os feitios, desde barcos com rodas, naves espaciais, triciclos com asas," entre outras coisas! E vocês? Que memórias têm destes 25 anos?

Fontes:

https://www.sesimbra.pt/noticia-72/carnaval-cortejo-de-fantasias-de-palhaco

https://www.sesimbra.pt/noticia-72/cortejo-de-fantasias-de-palhaco-62

 

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publicado às 18:30

História do Carnaval de Sesimbra

por Elsa Filipe, em 09.02.24

Cada vez mais, as escolas e grupos começam a ter uma outra importância na vila, em especial no seu associativsmo. Os anos 90 não terminam sem o aparecimento do grupo de Axé Tripa Cagueira.

Com um espírito jovem e irreverente, um grupo de rapazes de Sesimbra, juntaram-se e fizeram o seu primeiro desfile em 1997, usando latas em vez de instrumentos. Quem viu não esqueceu essa primeira atuação e desde aí nunca mais pararam. Aparecia assim o primeiro grupo de Axé de Sesimbra, a Tripa Cagueira, onde até hoje só desfilam elementos do sexo masculino. Em 2000 apresenta um dos enredos mais conhecidos: "Estado da Nação."

A 17 de maio de 1999 aparece em Sesimbra o segundo grupo de Axé, a Associação Recreativa Bigodes de Rato, que trazem a novidade de qualquer pessoa poder acompanhar o próprio desfile ao integrar o “Bloco dos Bigodes de Rato”. Em 2001, apresentam-se com a música "Preto no Branco."

Em 2004, formou-se o primeiro grupo de Axé apenas com elementos do sexo feminino, a Tripa Mijona, fazendo parte da Associação Tripa. No primeiro ano desfilaram apenas com batucada, mas no segundo, levaram o tema "Sonho Real." Desfilam desde aí no sábado de Carnaval, primando sempre pela originalidade e alegria. Entre outros, em 2010, apresentaram-se como bruxas e em 2017 trouxeram "O circo da Vida" para animar a Avenida.

Mas a verdade é que Sesimbra não é apenas Santiago e Castelo e a 11 de julho de 2008, surge a primeira Escola de Samba, sediada na freguesia da Quinta do Conde. O crescimento demográfico desta freguesia, datada de 1985 e, depois, a passagem a vila desta povoação em 1995, fez com que as associações começassem também a surgir, sendo hoje mais de quarenta. O Grupo Recreativo Escola de Samba Batuque do Conde, além de desfilar no domingo e terça em Sesimbra, desfila atualmente no sábado de Carnaval na Quinta do Conde. Aqui ficam as memórias dos desfiles de 2010, de 2011 e  2014.

Este ano apresentar-se-ão com o enredo "Vamos com Fé."

A 21 de junho de 2011, surge também na freguesia da Quinta do Conde o GRES Corvo de Prata. Em 2015, trazem o tema " Sesimbra é peixe - Maravilhas de uma Vila."

A diversidade de cada Escola e de cada grupo, a sua individualidade e, cada vez mais a partilha de conhecimentos que vem enriquecendo os seus elementos, têm feito do Carnaval de Sesimbra um dos mais belos do país. Nascido ainda antes da liberdade, nunca deixou de crescer e apesar de todas as vicissitudes por que tem passado, ainda é um marco na tradição e cultura das nossas gentes. Nele desfilam novos e velhos, casados, solteiros e divorciados! Desfilam pexitos e camponeses! Desfila quem nasceu cá, quem nunca cá viveu e até quem não sabe dançar. Desfila quem ama o samba, seja qual for a sua origem.

Só tem uma obrigação: Respeitar!

Fontes:

https://gresbatuquedoconde.webnode.pt/sobre-nos/

https://www.rtp.pt/noticias/mundo/carnaval-de-sesimbra-folia-comeca-com-as-raparigas-da-tripa-mijona_n105736

https://bigodesderato.pt/sobre/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Quinta_do_Conde

 

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publicado às 11:00

Pela história de uma vila que dança Samba!

por Elsa Filipe, em 08.02.24

Nos finais da década de 70, surgiram outras escolas, atualmente já extintas mas de onde saíram alguns dos elementos que ainda hoje compõem os GRES atuais. São elas o GRCES Juventude na Baía e os GRES Sambinhas do Horizonte. Ambas lutavam na época por se destacar e por fazer melhor que a "adversária" em cada desfile. 

(imagem: https://sesimbra.blogspot.com/2010/01/sambinhas-do-horizonte-1979.html)

Em 1996 os Sambinhas desfilaram com o tema: "Nesta Avenida, hoje Sou o Rei," enquanto a Juventude se apresentou com o tema "A magia dos Deuses."

Em 1984, surge então uma nova escola, inicialmente de cariz familiar, com o nome Pérolas do Samba. Em 1997, a sua direção passou para a professora de música Teresa Cláudio e a Escola sofreu várias mudanças. Em 2000, muda a sua designação para GRES Dá que Falar. Em 2009, trazem para a Avenida o tema "25 anos" somando os anos que já tinham de Pérolas com os de Dá que Falar e podemos ver aqui um pouquinho do seu defile em 2010.

Em 2005, durante um ato eleitoral no GRES Bota no Rego, um grupo de pessoas que constituía uma das listas a concurso, perde e depara-se "com uma serie de irregularidades, mas como não se conseguiu provar nada e como o ambiente na escola não era o melhor" acabam por sair da Escola e decidem formar o GRES Unidos de Vila Zimbra. A sua fundação data de 24 de abril de 2005 e desde aí não tem parado de crescer, mostrando em cada atividade a experiência dos seus fundadores.

viila-zimbra(Imagem: https://www.sesimbra.pt/pages/2025)

Mas não me fico por aqui! O nosso Carnaval é de uma imensa riqueza e ainda há muito mais a dizer!

Fontes:

https://issuu.com/osesimbrense/docs/o_sesimbrense_-_edi____o_1183_-_fev_ce931dac55df9d

https://daquefalar.webnode.pt/carnavais-/

https://escolas-de-samba55.webnode.pt/escolas-de-samba-em-sesimbra/

 

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publicado às 11:15

Quando falamos em Sesimbra temos de falar em carnaval. O carnaval nasceu muitos anos antes das primeiras escolas de samba, tendo as suas origens nos bailes e nas noites de folia em que os grupos de mascarados tentavam ser cada vez mais arrojados e marcar a diferença. As noites de carnaval eram um espaço de alguma liberdade numa época em que essa liberdade estava vedada à maior parte dos portugueses.

Foram os grupos, de rapazes e raparigas, que se reuniam para brincar ao Carnaval que depois vieram dar origem aos GRES de agora. Entre eles, não nos podemos esquecer das "Malvadas", dos "Turumbamba", dos "Papuas" e, dos grupos "MariSamba" ou dos "Cheirinhos da Fossa," entre outros. De facto, o Carnaval de Sesimbra vem de grupos como os "Caga no Rego", do "Grupo de Carnaval" e de todos os outros grupos de foliões e mascarados que se reuniam nos bailes na Praça Velha, no Refugo, no Grémio, na Sociedade Musical Sesimbrense, no Hotel Espadarte, no salão dos Bombeiros e no Ginásio.

Um dos primeiros grupos e que vem depois dar origem ao atual GRES Bota no Rego "foi fundado por um grupo de foliões" que apenas se queriam "divertir no Carnaval noturno em Sesimbra. Maria Cândida Covas, mais conhecida por "Marquinhas," juntou-se com os amigos do colégio e "pensaram em levar para as ruas de Sesimbra as ideias originais que chegavam do outro lado do Atlântico" e que viam nas "revistas brasileiras de Carnaval que havia na casa da avó." Estavamos em 1974. As primeiras fantasias começaram a tomar forma: "primeiro a de palhaço sem mascarilha, depois os malmequeres e jardineiros a cantar o Vira dos Malmequeres, da Tonicha, por fim os verdadeiros sons dos instrumentos e até um pequeno carro de rolamentos." 

A pedido dos habitantes da Vila de Sesimbra, que acharam as fantasias muito bonitas, começaram a desfilar na terça-feira de Carnaval durante o dia." A fundação da Escola é a 5 de março de 1976. Nos dois primeiros anos, o nome era "Caga no Rego" mas como era um nome pouco consensual, em 1978 mudou para Bota no Rego.

Em 1977, desfilaram além do grupo "Caga no Rego", os "Cheirinhos da Fossa" e o "Ginga no Pandeiro." Nos primeiros tempos, o apoio não era muito e, claro, havia pouca experiência na elaboração dos fatos e dos carros alegóricos. E foi através dos bombeiros que conseguiram pela primeira vez levar uma "bateria" para a rua, muito diferente das que hoje vemos desfilar.

Os temas foram-se sucedendo, "Cleópatras",  "Astérix e os Romanos", "Atlântida", "Os planetas e as Estrelas" e "O Futuro", foram alguns dos temas trabalhados nos primeiros anos. "Em 1988, o Bota no Rego leva para a Avenida um enredo representativo dos Quatro elementos, já mostrando uma conceção mais elaborada, fruto das tentativas e aprendizagens conseguidas ao longo da sua primeira década de vida.

1990, foi um ano complicado para todas as escolas que faziam o carnaval de Sesimbra. Um dos casos foi o da Escola Marisamba. Não foi por isso, um mero acaso, que a Escola Marisamba e o Bota no Rego, se tenham na altura reunido e decidido juntar esforços e criar uma escola única. Na época, isso levou ao crescimento e à melhoria do carnaval de Sesimbra. Em 1995 não houve desfiles, devido à morte dos pescadores do barco "Menino Deus", uma das maiores tragédias que atingiu a nossa vila. Nesse ano, não havia condições nem vontade de festejar o Carnaval.

Ao longo dos anos, o Bota no Rego foi crescendo e a evolução para novas valências não tardou, com o aparecimento do seu próprio "Grupo de Teatro, uma Academia de Música e uma Orquestra designada por Bota Big Band regida pelo seu próprio maestro." Em 2011 iniciou o projeto MegaSamba," que já é uma referência do verão sesimbrense. Em 2019, altera a sua denominação para G.R.E.S. Bota.

Um outro grupo era o de Arménio Sousa, que se inspirava nas Revistas que eram produzidas para "os palcos do Maria Vitória e do Variedades." Este grupo era bastante conhecido à época. Eram "os reis do Carnaval de Sesimbra, ou não tivesse o próprio Arménio sido o único Rei Momo da vila, que, montado num burro, pregou um divertido e sarcástico discurso." Foram o primeiro grupo da vila em que todos os membros se mascaravam de mulher, "imitando umas esbeltas e provocantes misses."

Mas havia também um grupo só de mulheres: "As Malvadas", fantasiadas de "escravas cor-de-rosa" ou de "mulheres-pássaro de fato de lamê" que ainda são recordadas "pelo enorme sucesso que tiveram." Em 1988, desfilavam na Avenida da Liberdade, de fatos negros e dourados.

Em 1978, surge o Trepa no Coqueiro, "com fantasias confecionadas gratuitamente por algumas mães de desfilantes, assim como alguns dos instrumentos de percussão construídos por elementos da escola." É no Hotel do Mar que são realizadas "as primeiras reuniões e ensaios" a pedido de "António Paixão," um dos funcionários deste Hotel, que "conta com o apoio do seu Director-Geral Óscar da Silva." No ano seguinte, o Trepa no Coqueiro apresenta-se pela primeira vez na rua. Podemos vê-los aqui, representando Sesimbra, numa apresentação na RTP, num programa apresentado por Júlio Isidro.

No início da década de 80, um outro grupo surgiu e, mesmo tendo durado apenas dois anos, marcou a história do Carnaval, "pelos trajes fora do comum, pinturas elaboradas e fatos masculinos mais ornamentados. O primeiro ano ficou assinalado pelos tons laranja a lembrar habitantes do espaço, e o segundo pelas brilhantes e esverdeadas cobras, pintadas com enorme precisão."

Para o grupo "Turumbamba," a confeção dos fatos deixou recordações bem divertidas aos seus participantes que passavam horas na sede a conviver enquanto faziam as fantasias, antes de saírem pelas ruas "a pregar partidas". Na primeira vez foram "fantasiados de romanos, com lençóis brancos e papéis metalizados. Depois seguiu-se o fato de rock and roll, Ali Babá, Branca de Neve e uma fantasia com máscaras de gesso, que fez esgotar o stock de vaselina e de gesso da farmácia."

Em 1983, participa "pela primeira vez no desfile carnavalesco em Sesimbra com 12 elementos," a Escola de Samba Saltaricos do Castelo, com o tema "O Capuchinho." Só em 1985 é que "saiu pela primeira vez com bateria, contando com cerca de 100 elementos, dos quais 30 faziam parte da bateria." É apenas onze anos depois da sua fundação, em 1994, que se "apresenta pela primeira vez" com um "samba enredo cantado," com o tema "A travessia do Atlâ”. Aqui podemos vê-los no desfile de 1996, a descer a Avenida.

Em 1985, os "Papuas" saíram com fantasias feitas de "ráfia, folhas de palmeira e eucalipto e penachos de canas," representando as "tribos africanas." Um dos 40 elementos dos Papua, João Casaca, lembra que a ideia era utilizar materiais diferentes e interagir bastante com o público. "Pediram sacas às mercearias e às lojas de pesca para conseguir a ráfia, passaram horas num aviário a arranjar penas e até mesmo a distribuição de fotografias do grupo serviu para angariar verbas."

As "Bijucas", um grupo formado apenas por raparigas, "cativou tudo e todas com as suas roupas reduzidas e a irreverência caraterística da juventude." De forma a "financiar os seus fatos," lembraram-se "de começar a vender bolos porta a porta," como conta um dos seus elementos, Ana Maria Sousa.

E ainda falta falar aqui de vários outros grupos e escolas. Ficará para amanhã! Entretanto, se quiserem, mandem-me as vossas memórias e ajudem-me a construir esta pequena e singela lembrança da nossa Vila.

Fontes:

https://escolas-de-samba55.webnode.pt/escolas-de-samba-em-sesimbra/

https://www.sesimbra.pt/pages/1405

https://pt.wikipedia.org/wiki/GRES_Bota

 

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publicado às 12:26

Quando o cansaço se torna em exaustão...

por Elsa Filipe, em 28.01.24

Fazendo aqui uma pausa nas minhas publicações viradas à política, venho hoje desabafar aqui um pouco, depois dos últimos dias que foram física, mental e emocionalmente muito cansativos.

Na sexta de manhã fui fazer a eletromiografia (sim, aquela que estava planeada desde novembro, daquela consulta que eu já estava à espera desde janeiro passado) e não vim de lá mais satisfeita. É que durante os últimos meses, meti na cabeça que ia ser operada e que as dores nas minhas articulações e a dormência que tenho constantemente nos dedos eram do túnel cárpico, mas afinal, parece que o problema não está aí. E não foi por descobrir que o túnel que poderia estar inflamado não está assim tão mau que fiquei descansada. É que as dores que tenho nos dedos têm aumentado muito nos últimos meses, os tremores (o meu sismógrafo pessoal, como lhe costumo chamar) voltaram e acho que têm estado piores do que estavam e às vezes tenho retrações dos tendões que são extremamente dolorosas e incapacitantes.

Associado a estes sintomas e que nada ligam com as mãos, tenho cãibras frequentes, bem como parestesias em determinadas zonas dos pés, do nariz e de outras zonas do corpo. E há aquela sensação de que tenho bichos a passar pela pele, que "mordem, picam" a noite inteira! Coço-me tanto que às vezes a pele começa a escamar e chego a fazer feridas. O cansaço tem vindo a aumentar mas sinto que isso pode estar relacionado com a perda de massa muscular, uma vez que devido às dores na articulação da anca e do ombro, passo todo o tempo que posso na cama... Pelos entretantos, levanto-me para ir trabalhar (ou apenas me sento quando o trabalho é online) e só subir a rua (uns longos 500 metros...) é um esforço demasiado pesado para os músculos cada vez mais fracos. Quando me encosto no muro da secundária, a meio da subida, não é para mais do que para descansar um pouco antes de continuar a subir.

Acabei por desistir do desfile deste ano, quando percebi que poderia dar-se o caso de não ser capaz de fazer a avenida, mas também porque tenho episódios de desiquilibrio e de tonturas quando estou em pé. E nem todos entendem que no ensaio eu devia estar sentada para me conseguir concentrar porque em pé, não são apenas as dores que pioram: são também os espasmos e as parestesias que me distraem do que estou a tentar fazer, E não, ninguém é obrigado a entender aquilo que às vezes nem eu sei explicar. E os meus colegas estão sempre a perguntar se estou melhor, se já consigo ensaiar ou o porquê de afinal eu não ir desfilar e eu, na maioria das vezes, já nem sei que lhes responder. Só que tenho dores e estou farta e cansada de ter dores! E quando regresso a casa depois de assistir aos ensaios, venho para casa e choro.

Ainda tenho a árvore de natal para acabar de arrumar. Não consigo fechar os ramos e enfiá-la na caixa. Já me deu vontade de a pôr no lixo... tirei as placas que protegem a parte de baixo dos móveis da cozinha e não consigo pô-los de volta porque isso implica baixar-me para os voltar a encaixar. E não consigo. Então, estão ali, a um canto...

De manhã, costumo levantar-me com o objetivo de ir fazer uma caminhada - mesmo que pequena - mas fico cansada nas pequenas tarefas, como tomar duche, vestir-me ou deixar o quarto minimamente arrumado que na maior parte das vezes acabo por desistir. Se faço a cama, já não arrumo a loiça que está na máquina... é tudo uma coisa de cada vez. Que inveja que eu tenho das pessoas que têm forças para manter tudo limpinho, tudo arrumado e organizado!

Nos últimos dias, tenho boicotado as tarefas da casa de manhã e obrigo-me a ir à rua, conduzir um pouco ou ir a pé, para ver gente ou, às vezes, só ficar dentro do carro a ler umas páginas de um livro. Quando está sol. Se está nevoeiro ou chuva, só me consigo levantar porque me obrigo a ir trabalhar. É mais do que uma sensação de cansaço. É acordar já exausta.

Escrever... ai, era tudo o que eu queria... tenho tanta coisa para pôr no papel e não consigo! No teclado, é por enqunto muito mais fácil e lá vou conseguindo fazer alguns textos, preparar as minhas formações, com algumas pausas pelo meio mas... e pegar numa caneta, como sempre gostei? Tenho um romance a meio, mas não consigo avançar no teclado do computador. Falta-me a ligação entre o cérebro e a mão, que é mais natural e mais verdadeira que o ecrã. Às vezes, escrevo nas fichas dos meus alunos e depois percebo que o que escrevi não está tão percetível como eu desejava, a minha letra está diferente. Eu que estou sempre a defender a escrita "à mão" e que defendo o seu uso como forma preferencial por dezenas de razões, às vezes, nem eu percebo o que escrevi... e se isso vos pode parecer que não é nada de mais, enganam-se! Para mim, é tudo, porque sempre amei a escrita, porque em tudo o que faço e para onde vou, tenho canetas e papel a acompanhar-me!

E sim, por tudo isto, às vezes fico acordada noite dentro sem saber o que a vida me reserva... acabando às vezes por ter de me levantar para ir trocar a fronha da almofada, molhada pela tristeza que me assoma pelas longas noites.

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publicado às 20:00

As madrugadas

por Elsa Filipe, em 22.07.22

Acordo. A madrugada ainda não deu lugar ao calor que se adivinha mas o meu corpo já não quer estar mais no aconchego dos lençois. Que se lixe. Tenho umas séries para ver, umas coisas para escrever e, se calhar, um café ajudava a começar a manhã. Faço o café, arrumo a loiça que deixei na máquina, ligo a tv. Volto para cima da cama. Tv ligada e o pc preparado para pôr em prática mais um exercício de escrita. É mais fácil escrever de madrugada. Antes dos outros problemas do dia começarem a chegar em rajadas e a deturpar-me as ideias e a vontade.

Ontem o dia não começou bem. Andei à procura da marcação para a consulta na Unidade da Dor, que estava marcada desde abril. Pensava que era às 11h. Encontro o papel, no meio de umas outras papeladas perdidas, são 9h43m. "Vou já sair e aproveito para ir beber café", olho para o papel que tenho na mão.

A consulta é às 10h. Estou atrasada. Saio de casa e pelo caminho vou mais uma vez pensando que tenho de ter calma, ouvir o que me vai ser dito, respirar e sair dali com calma, "vai ser só mais uma consulta". Minutos depois de entrar no gabinete, já estou a chorar. Perco de vez a calma e "que se lixe" hoje vou pôr tudo cá fora. Afinal, não tenho mais ninguém a quem me queixar! A médica volta a falar da minha postura e eu disparo que assim tenho menos dores, que ela me está a avaliar em dois minutos ali e que nas restantes horas e dias da minha vida sou apenas Eu sozinha a lidar com a dor, com a incapacidade, com o julgamento dos outros. Se é para me julgar também então não vim ali fazer nada. Ela pede autorização para me encaminhar para a psicóloga. Até que enfim, penso. É um direito que eu tenho, já tive consultas mas tive de as pagar do meu bolso.

Avançamos mais um pouco hoje. Depois de me ouvir, lá me avalia os pontos de dor e descobre os gatilhos. O toque dela parecem facas a perfurar-me a carne, uma facada de cada vez. Torço-me e as lágrimas caem em silêncio. Tento responder quando me faz perguntas mas as palavras estão turvas na minha mente. A dor ultrapassa já a vontade de falar. Só quero que ela me deixe sair dali.

Lá resolve fazer uma eco para me ver o ombro - surpresa, há ali qualquer coisa algures na acromioclavicular - informo que já sabia, que já esteve pior do que está agora. Já passaram alguns anos desde que fiz fisioterapia. Agora as dores estão piores porque me torceram o braço esta semana, tento explicar. Saio da consulta com mais uns comprimidos para tomar à noite que "ajudarão nas dores e a descansar", com indicação para não desistir da hidroginástica (que não faço) e para aguardar a chamada para o raio-x e para ir pedir à médica de família que me passe fisioterapia. Voltamos ao jogo do empurra e das burocracias. Pior se quero um relatório: iam ser duas páginas a explicar o processo e acho que quase será mais fácil ir doutorar-me em medicina primeiro - deve ser mais rápido.

Depois do almoço vou trabalhar. Enquanto estou sentada a preencher a folha de ponto, um dos meninos chega por trás de mim. Ele é autista, não sabe medir a força do aperto. Agarra-me a cabeça e o pescoço entre os seus braços e sufoca-me, aperta-me. Tento manter a calma, enquanto a minha colega tenta que ele afrouxe o aperto.

Os outros miúdos aproximam-se e tentam ajudar. Acho que tanta gente de volta dele só o faz apertar mais. Sei que só passaram uns segundos. Estou bem.

Não, não estou bem.

As dores disparam e o ombro, o braço, o pescoço parecem a escaldar. Foi o gatilho mais do que a força que ele colocou no aperto. Não entendi e enquanto tento voltar a respirar, chamam-no e levam-no para os pais que entretanto o vieram buscar. Hoje vão sair daqui sem saber o que ele me fez. Não tenho forças para lhes ir contar e a minha colega que o vai entregar não teve tempo de saber o que se passou. Ele não tem culpa. Eu tenho culpa de ter baixado a guarda e estar distraída a preencher um papel. Nem me apercebi da presença dele atrás de mim, ou se o vi, não o senti como uma ameaça. Ele não é ameaçador. Eu não tenho medo dele. Mas sentir-me agarrada e apertada faz despoletar em mim uma sensação de pânico. Passaram-se sete anos e ainda sinto que me estão a agarrar. Por momentos, aquela criança passou de ser apenas um rapaz, autista, para ser aquele outro que me agrediu naquela tarde e que nunca vou esquecer.

Tenho de respirar. O dia continua. As pessoas à minha volta continuam nas suas rotinas e não sabem o que se passou. Respondo sem pensar a algo que me perguntam e acusam-me de estar a "fazer aquele olhar", a "responder torto"... nem me lembro o que me perguntaram, não sei que olhar é que fiz. Por momentos, só me apetece sair dali. Deixem-me ir para casa por favor, é só o que estou a pensar naquele momento.

A tarde passa, aos poucos as coisas vão voltando ao normal. Saio do trabalho. Tenho várias coisas ainda para fazer e o meu filho lembra-me que tinhamos combinado ir ao Batuque. Quero ir. Deixei de ir porque tinha de recuperar. Já entendi que nunca vou estar completamente bem, então... que se lixe! Se amanhã não me mexer será porque estive a fazer algo prazeroso e não a chorar enroscada num canto. A dor esteve sempre ali, presente, como um ferro a escaldar encostado no ombro ou uma faca que de vez em quando me penetrada no braço, mas assim que a música arrancou eu fazia parte daquela bateria. Deixei-me ir, sem pensar num enredo que nunca tocara mas que segui durante mais de uma hora como se tivesse ensaiado dezenas de vezes.

Sete anos, desapareceram como se tivesse ensaiado na semana anterior. E o meu filho tentou estar ali, mostrou vontade de aprender, quis saber os nomes dos instrumentos e como se tocam. Diz que vai desfilar e então iremos os dois como fizemos antes. Criar memórias. Um dia ele vai lembrar-se de mim e de como eu e ele desfilavamos. Um dia ele vai saber que estivemos juntos e  que ultrapassei muita coisa.

Hoje será igual, posso ter um dia bom ou mau. Posso ter dores ou não.

A dor crónica é a malvada que nos destrói sonhos. Mas eu vou pisá-la mais do que ela me vai pisar a mim.

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publicado às 06:00

Este ano, vou aqui contar um pouco do que é uma das maiores tradições de Sesimbra. É que o nosso Carnaval não está apenas nos desfiles grandiosos, que a (quase) todos contagiam! É muito mais do que isso. Quando falamos do Carnaval de Sesimbra não podemos apenas falar nas Escolas de Samba e nos grupos de Axé que desfilam. Há todo um "mar" de gente, inserida em coletividades e grupos que preparam grandes momentos do mais tradicional Carnaval.

Sesimbra é um dos poucos locais do país que ainda mantém viva a tradição das Cegadas e das Cavalhadas, um costume da nossa zona rural, com mais de cem anos. Podemos ver aqui um ensaio do grupo de Cegantes de Alfarim.

Podemos aqui ver também uma das atuações do grupo, no Zambujal. As cegadas, "com mais de cem anos" são a voz do povo, que a brincar com as palavras fazem uma crítica social, à boa maneira popular, com malícia mas sem maldade. São uma espécie de teatro popular satírico originário das zonas mais rurais do concelho. "Em verso, e acompanhados à guitarra, o grupo" apresenta, "ao estilo das antigas canções de escárnio e maldizer, alguns dos acontecimentos mais marcantes da sociedade portuguesa." Podem criticar o país, ou o senhor do talho da aldeia, um presidente de um clube, o presidente da república ou o chefe dos correios. Todos podem ser visados e é nas entrelinhas dos textos que escrevem e que depois nos põem a rir, que vão deixando a sua marca e a sua alfinetada!

Já nas Cavalhadas, "um costume típico das zonas rurais e no concelho de Sesimbra" e que "têm acompanhado várias gerações", as habilidades são outras. Demonstrando a sua perícia, um grupo de homens, a cavalo, de bicicleta ou de mota, vão recriando hábitos medievais.

Na noite de quarta-feira, há também tradição de se fazer o Enterro do Bacalhau. O Um "cortejo, que encerra os festejos carnavalescos no concelho" e que "conta a história de um defunto que teve uma vida muito preenchida e animada. A acompanhar o "Bacalhau" (o morto) pelas ruas da vila, vai a "viúva", as recém conhecidas "amantes", o "padre", e os "amigos" que o vão chorando! É uma galhofada.

Fontes:

https://www.coolture.pt/event/carnaval-de-sesimbra-2018-programa-geral/

https://www.sesimbra.pt/noticia-72/enterro-do-bacalhau-marca-fim-dos-festejos-de-carnaval-em-sesimbra

 

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publicado às 20:30


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