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O que se está a passar na Guiné-Bissau?

por Elsa Filipe, em 04.12.23

A Guiné-Bissau é uma área geográfica ainda em vias de desenvolvimento que necessita prioritariamente que a paz social seja uma realidade. O presidente, Umaro Sissoco Embaló, reuniu hoje com o Conselho de Estado depois do Ministro das Finanças, Suleimane Seide, e do Secretário de Estado do Tesouro, António Monteirodo, terem sido libertados por ação do comandante da Guarda Nacional, que os levou para o quartel dessa força policial. Os dois estavam tinham sido detidos preventivamente pela polícia judiciária na passada quinta-feira, por ordem do Ministério Público que os investiga no âmbito de um processo de pagamento de dívidas a 11 empresas. O confronto entre a Polícia Militar e a Guarda Nacional, acabou em confrontos dos quais resultaram a detenção do comandante da Guarda e duas vítimas mortais.

No sábado, o presidente do parlamento guineense, Domingos Simões Pereira, informou que a sua residência tinha sido atacada por homens armados com armas de guerra na madrugada de sexta-feira. Simões Pereira, condenou, também, a atuação da Guarda Nacional e distanciou-se de qualquer apelo à violência. Apelou também ao povo guineense para se manter calmo e vigilante, mas exigiu que se esclareça toda a verdade em relação aos pagamentos efetuados aos empresários e os contornos que levaram aos tiroteios ocorridos na sexta-feira.

Sissoco Embaló considerou tratar-se de um golpe de Estado, resolvendo dissolver o parlamento esta manhã. Imediatamente depois do anúncio do Presidente da República, observou-se em Bissau, uma forte presença militar nas ruas. O primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Geraldo Martins, continua em funções com “plenos poderes” e acumula a pasta das Finanças, por decisão do Presidente da República. Depois do anúncio da dissolução, vários militares invadiram os estúdios da televisão e da rádio estatais tendo os funcionários sido expulsos das instalações.

Fontes:

https://www.publico.pt/2023/12/04/mundo/not

icia/presidente-guinebissau-dissolve-parlamento-alegando-tentativa-golpe-estado-2072465

https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/televisao-e-radio-estatais-ocupadas-por-militares-armados-na-guine-bissau?utm_source=SAPO_HP&utm_medium=web&utm_campaign=destaques

https://sicnoticias.pt/mundo/2023-12-03-Presidente-da-Guine-Bissau-considera-confrontos-armados-tentativa-de-golpe-de-Estado-8e76002f

https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/guine-bissau-lider-do-parlamento-denuncia-ataques-a-sua-residencia-por-homens-armados

https://www.tsf.pt/mundo/televisao-e-radio-estatais-ocupadas-por-militares-armados-na-guine-bissau-17447272.html

 

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publicado às 20:13

A história do dia que mudou Portugal

por Elsa Filipe, em 25.04.22

Feriado comemorativo do 25 de Abril.

A 24 de abril de 1974, o Movimento dos Capitães - ou Movimento das Forças Armadas (MFA), grandemente composto por capitães que tinham tido participação na Guerra Colonial e apoiados por muitos outros soldados milicianos reuniram-se para pôr em andamento o controlo de vários pontos estratégicos. Os seus objetivos eram claros: acabar com a guerra colonial, libertar os presos políticos, restaurar a liberdade e a democracia em Portugal.

Mas esta revolução teve a sua origem alguns anos antes...  A primeira reunião de capitães terá sido em África, em Bissau na Guiné, e a segunda no Monte do Sobral, nas Alcáçovas, concelho de Viana do Alentejo, a 9 de novembro de 1973, após se terem encontrado no Templo romano, em Évora. A última e definitiva reunião antes da revolução, ocorreu a 24 de março de 1974.

Na noite de 24 de abril, o Major Otelo Saraiva de Carvalho, considerado o estratega do movimento que derrubou o regime de Marcello Caetano, instalou um posto de comando secreto no quartel da Pontinha, em Lisboa. Escondidos dos olhares de todos, coordenaram os movimentos das tropas e a ocupação das suas posições.

A primeira senha passou às 22 horas e 55 minutos: a música E depois do adeus”, escrita por José Calvário e cantada por Paulo de Carvalho no Festival da Canção de 1974, tocou na Emissora Nacional e marcou os preparativos das forças revolucionárias, tendo muitas partido rumo à capital, na esperança de um Portugal livre e democrático.

Às 00 horas e 20 minutos, a Rádio Renascença, passa no programa “Limite” uma transmissão gravada com a primeira estrofe de “Grândola Vila Morena”, a canção que Zeca Afonso escreveu para homenagear o cante alentejano e que tinha sido banida pelo lápis azul da censura. A música tocou logo de seguida e foi o segundo sinal. O seu significado: “tropas em movimento”. Agora não havia volta a dar. 

Soldados de Santarém, Estremoz, Figueira da Foz, Lamego, Lisboa, Mafra, Tomar, Vendas Novas, Viseu, e outros pontos do país dirigiam-se para Lisboa.

Pelas 3 horas, as tropas revoltosas, quase em sintonia, iniciavam a ocupação – sem grande resistência - de pontos fulcrais para o sucesso da revolta: o Aeroporto de Lisboa, o Rádio Clube Português, a Emissora Nacional, a RTP e a Rádio Marconi.

O regime só reagiu pelas 4 horas e 15 minutos, quando foi ordenado que as forças sedeadas em Braga avançassem sobre o Porto para recuperar o Quartel-General, no entanto, também estas forças tinham aderido ao MFA e ignoraram as ordens do regime.

Poucos minutos depois - pela voz do jornalista Joaquim Furtado, no Rádio Clube Português - surge o primeiro comunicado do MFA. A participação dos locutores - que acabaram por dar apoio aos revoltosos - foi fundamental para a revolução.

Seguiu-se o Hino Nacional, “A Portuguesa” e a marcha militar "A Life on the Ocean Wavesde Henry Russell e que viria ser o hino do MFA. As forças revolucionárias da Escola Prática de Infantaria de Mafra já estavam a controlar o aeroporto de Lisboa quando às 04 horas e 45 minutos, o MFA lê o segundo comunicado no Rádio Clube Português. 

Com o aeródromo de Tires também ocupado e com a Escola Prática de Cavalaria a ocupar o Terreiro do Paço, surge um terceiro comunicado do MFA: “(...) Informa-se a população de que, no sentido de evitar todo e qualquer incidente ainda que involuntário, deverá recolher a suas casas, mantendo absoluta calma. A todos os elementos das forças militarizadas, nomeadamente às forças da G.N.R. e P.S.P. e ainda às Forças da Direcção-Geral de Segurança e Legião Portuguesa, que abusivamente foram recrutadas, lembra-se o seu dever cívico de contribuírem para a manutenção da ordem pública, o que, na presente situação, só poderá ser alcançado se não for oposta qualquer reação às Forças Armadas. (...)"

Às 6 horas 30 minutos, um pelotão do Regimento de Cavalaria 7, comandado pelo Alferes Miliciano David e Silva, fiel ao Governo, chega ao Terreiro do Paço. Ao nascer do dia, o confronto está iminente, mas, após conversações, estes acabam por se colocar às ordens do MFA.Quando surge o quarto comunicado, já o MFA sabe que Marcelo Caetano, o Presidente do Conselho de Ministros, a cabeça do regime, está no Quartel do Carmo e, enquanto uma força do Regimento de Lanceiros 2, contrária ao MFA, tomava posição na Ribeira das Naus, é transmitido o quinto comunicado. A população vai assim estando a par do que se está a passar. Àquela hora, no Terreiro do Paço, Salgueiro Maia prendia o Tenente-Coronel Ferrand de Almeida.

No Tejo, a fragata "Gago Coutinho" toma posição frente ao Terreiro do Paço e tem ordens para disparar sobre as tropas de Salgueiro Maia. Neste momento, os revoltosos já não vão voltar atrás. Na fragata que poderia ter aberto fogo sobre Lisboa e atingido as forças instaladas no Terreiro do Paço, dá-se uma revolta a bordo e acaba por desviar para o Mar da Palha.

Os ministros da Defesa, da Informação e Turismo, do Exército e da Marinha, o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, o Governador Militar de Lisboa, o subsecretário de Estado do Exército e o Almirante Henrique Tenreiro que estavam cercados no Terreiro do Paço, conseguem fugir do Ministério do Exército abrindo um buraco na parede. 

Na Ribeira das Naus, o Alferes Miliciano Fernando Sottomayor não obedece às ordens do Brigadeiro Junqueira dos Reis para disparar sobre Salgueiro Maia e as suas tropas. Sottomayor recebe ordem de prisão e a ordem para disparar sobre os soldados revolucionários volta a ser dada. Ninguém a cumpriu e Junqueira dos Reis dispara dois tiros para o ar, abandonando em seguida o local.

Momentos depois, na Rua do Arsenal, o Brigadeiro Junqueira dos Reis dá ordem de fogo sobre o Tenente Alfredo Assunção - enviado por Salgueiro Maia para negociar com as forças de Junqueira dos Reis. A ordem também desobedecida e dizem que o Brigadeiro Junqueira dá três murros no Tenente Assunção.

Com o MFA a controlar as operações pelo país, a coluna militar comandada por Salgueiro Maia, cerca o Largo do Carmo e tem ordens para abrir fogo sobre o Posto de Comando e provocar a rendição de Marcelo Caetano.

Entretanto, a população distribuía comida, leite e cigarros pelos militares presentes no Largo do Carmo, mas forças da GNR – comandadas pelo Brigadeiro Junqueira dos Reis - tomavam posição na retaguarda das tropas de Salgueiro Maia, em defesa do regime.

Às 14 horas já decorriam conversações entre o General Spínola e Marcelo Caetano, para a obtenção da rendição do Presidente do Conselho, e meia hora depois surge o décimo comunicado do MFA e que dava conta da ocupação dos principais objetivos e de ter o esquadrão do RC 3, comandado pelo Capitão Ferreira, a cercar as tropas do Brigadeiro Junqueira dos Reis.

No Carmo, Salgueiro Maia, ao megafone, faz um ultimato à GNR para que se renda e ameaça rebentar com os portões do Quartel do Carmo, abrindo fogo sobre a fachada do Quartel. Entretanto Pedro Feytor-Pinto e Nuno Távora, da Secretaria de Estado da Informação e Turismo - portadores de uma mensagem do General Spínola para Marcelo Caetano - entram no Quartel e avisam Marcelo Caetano de que Salgueiro Maia está a falar a sério e que os próximos disparos não serão para o ar.

Salgueiro Maia segue-os cerca de meia hora depois para receber a rendição, mas Marcelo Caetano informa que só se renderá a um Oficial-General para que o poder não caísse na rua. Acabou por ser o General Spínola a ir receber a rendição de Marcelo Caetano.

Às 18 horas e 30 minutos, a Chaimite Bula entra no Quartel do Carmo para transportar Marcelo Caetano à Pontinha e, momentos depois, Fialho Gouveia transmite na RTP uma declaração do MFA.

No mesmo dia, a PIDE/DGS, a Legião e a Mocidade Portuguesa foram extintas e os dirigentes fascistas foram destituídos. Registaram-se 6 mortos e cerca de 45 feridos.4 deles eram civis que foram alvejados junto da sede da DGS, um outro era soldado da 1.ª Companhia Disciplinar, em Penamacor, que se encontrava de férias na capital e que seria o único militar a morrer durante a revolução. O sexto foi um funcionário da PIDE.

Por estes homens e mulheres de armas, se mostrou um país farto da situação em que vivia e lutou por um Portugal melhor. Não obstante, os anos que se seguiram não foram fáceis, mas se hoje vivemos em liberdade a eles lho devemos.

 

Fontes:

https://www.tribunaalentejo.pt/artigos/25-de-abril-revolucao-passo-passo (2021)

https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$otelo-saraiva-de-carvalho

 

 

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publicado às 14:48

Quando se fala na revolução de abril, lembram-se os cravos distribuídos, os tanques que percorreram Lisboa, fala-se dos abraços entre militares e populares, fala-se de um dia belo. Esquecem-se - apenas por alguns momentos - as dores de tantos anos de ditadura, as marcas na carne dos que sofreram às mãos da PIDE... e quase que se conseguem esquecer as colónias e os que lá morreram antes e depois da revolução... e os portugueses que lá lutaram e foram mortos, estropiados no corpo e no pensamento.

Quando se lembra abril lembram-se as canções. Os compositores, músicos e cantores que, de uma forma  diferente, emprestaram as suas letras à revolução e que assim também lutaram ao lado dos militares revoltosos que conseguiram derrubar o Regime. Lembram-se os radialistas que transmitiram as senhas, os jornalistas, que a medo mas com uma grande vontade, deram a sua voz à leitura dos comunicados do MFA. 

As canções de abril não foram escritas para a Revolução. Foram feitas, anos antes, mas são ainda hoje um grito! Conseguiram ser em alguns casos uma forma de ludibriar o famigerado "lápis azul" da censura e trouxeram mensagens de revolta e de esperança.

Em Portugal, desde o final dos anos 60, houve um movimento de artistas populares e empenhados, quase todos de esquerda, que quiseram contribuir para o desenvolvimento de uma consciência política através da canção.

Na noite de 24 para 25 de abril de 1974, soou às 22h55m "E Depois do Adeus", de Paulo de Carvalho, transmitida pelo radialista João Paulo Diniz da Emissora Nacional. A canção não tinha uma letra perigosa, e ganhara o Festival RTP da Canção de 1974, sendo apresentada no Festival Eurovisão da Canção de 1974. De lembrar, que o Festival da Canção teve o seu início em 1958 (na altura conhecido por "Festival da Canção Portuguesa" e promovido pelo Centro de Preparação de Artistas de Rádio) e em 1964 daria lugar ao "Festival RTP da Canção" (Maria Helena Fialho Gouveia e Henrique Mendes foram os apresentadores desse festival, que foi ganho por António Calvário com a canção "Oração").

Cerca de 30 minutos depois, dá-se vez na Rádio Renascença, emissora católica portuguesa, à transmição da canção de José Afonso, "Grândola, Vila Morena", que foi a segunda senha para o avanço das tropas sobre os seus objetivos. Numa primeira instância, foi escolhida a canção "Venham mais cinco" de José Afonso, no entanto, quando já se acabara o período de preparação, descobriu-se que a canção estava incluída na lista de músicas banidas da Rádio Renascença, emissora católica, e estava barrada de passar no programa Limite da estação de rádio, como estava a ser planeado.

Sobre "Grândola, Vila Morena", José Afonso (carinhosamente, Zeca) escreveu este poema em 1964 aquando de uma visita a Grândola, em homenagem à Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense. A letra, só se tornou canção em 1971, quando foi gravada em França, à revelia, tornando-se em 1974, o hino da Revolução. O álbum, "Cantigas do Maio", onde consta esta letra, contou com os arranjos e a direção musical de José Mário Branco,  

Zeca Afonso, passou vários anos nas prisões políticas do Estado Novo, e, após o fim da sua sentença, escreveu, cantou, e deu concertos, assim como fez discos que eram clandestinos ou intensamente censurados. O seu nome era proibido nos jornais, pelo que, para evadir a censura, o seu nome era escrito ao contrário, "Esoj Osnofa" - o que me leva a crer que os próprios censuradores não eram assim tão inteligentes.

Um mês antes do 25 de Abril de 1974, realizou-se no Coliseu dos Recreios, a 29 de março de 1974, o I Encontro da Canção Portuguesa, de protesto e de denúncia da ditadura do Estado Novo. Foi muito difícil de realizar, devido à censura que proibiu a maioria das canções, mas apesar de tudo, o Coliseu ficou sem nenhum lugar livre e na rua juntou-se uma multidão. 30 canções e poemas foram proibidos, mas não conseguiram proibir o encontro devido ao grande número de populares ali concentrados. Se calhar, ali foi o sinal de que a população só estava à espera do momento certo, do sinal certo, para sair à rua. A Polícia de Segurança Pública (PSP) e a Guarda Nacional Republicana (GNR), prontas para dispersar a multidão pela força, acabaram por não receber essa ordem e decidiram ser melhor deixar o espetáculo avançar.

Os artistas decidiram atuar por respeito pelo público, apesar das péssimas condições de som. Após a primeira apresentação, que não conseguiu compensar a fervura do público, as pessoas ali presentes começaram num coro disperso a canção "Canta, canta amigo," de António Macedo, que era conhecida nos meios de oposição, e que teve de ser terminado bruscamente pelos músicos. Depois da atuação de Carlos Alberto Moniz e de Maria do Amparo e da atuação de Carlos Paredes, com a sua guitarra, o público acalmou.

Atuaram nomes grandes como José Carlos Ary dos Santos, que rendeu o público, com a sua poderosa arte declamatória, Fernando Tordo, Tonicha, Manuel Freire, José Barata Moura,  Intróito, Adriano Correia de Oliveira e, claro,  José Afonso. As duas horas e meia do memorável espetáculo foram gravadas pela equipa do programa "Limite" da Rádio Renascença 

Na plateia do I Encontro da Canção Portuguesa, estariam presentes vários dos capitães que tiveram um papel no 25 de Abril, que já estava numa avançada fase preparatória. Nessa altura, já se tinha determinado que o sinal para começar as operações seriam duas canções emitidas através da rádio. A Rádio Renascença foi escolhida pois os meios de comunicação dos militares não tinham cobertura pelo país inteiro, pelo menos não de forma fiável e audível.

A 30 de abril de de 1974, José Afonso foi até ao aeroporto de Lisboa receber companheiros anteriormente exilados, principalmente José Mário Branco e Luís Cília, que produziam desde 1960 os discos dos que em Portugal não o conseguiam fazer. 

Fontes:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Gr%C3%A2ndola,_Vila_Morena

https://www.youtube.com/watch?v=XBq3JV1U4UQ

https://www.rtp.pt/programa/radio/p1994/e20140424

https://pt.wikipedia.org/wiki/Festival_da_Can%C3%A7%C3%A3o_Portuguesa_1958

https://youtu.be/avK0zW4LRwg

https://pt.wikipedia.org/wiki/Festival_RTP_da_Can%C3%A7%C3%A3o_1964

https://youtu.be/iLiCZCYon68

https://youtu.be/cWopJ3ptGyE

 

 

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publicado às 19:35

Madalena Iglésias

por Elsa Filipe, em 17.01.18

Hoje, publico sobre a morte de Madalena Iglésias que nos deixou ontem. Madalena foi considerada por muitos uma das grandes vozes do panorama musical português e uma figura importante para a nossa cultura musical de quem eu não poderia deixar de falar. Tinha 78 anos e faleceu numa clínica de Barcelona em Espanha.

Madalena Iglésias nasceu em Lisboa, no bairro de Santa Catarina, no dia 24 de outubro de 1939. Terá estudado no Conservatório e na Escola do Canto e, com apenas 15 anos, entrou para o Centro de Preparação de Artistas da Rádio da Emissora Nacional, sob a direcção de Motta Pereira.

Em 1954, estreia-se em simultâneo na televisão e na Emissora Nacional. Rapidamente, a sua carreira se torna internacional, com a oportunidade de atuar em 1959 na televisão espanhola.

Em 1960, recebe os títulos de Rainha da Rádio e da Televisão, no mesmo ano em que se estreia no cinema, ao lado de António Calvário, em "Uma Hora de Amor", de Augusto Fraga. Participou também no filme "Canção da Saudade", de Henrique Campos.

Em 1962 e por intermédio da Emissora Nacional, representou Portugal no Festival de Benidorm. Esta participação acabou por lhe abrir definitivamente as portas do mercado internacional. Realizou digressões por Espanha e pela América do Sul, gravou para a discográfica Belter e concorreu a diferentes festivais internacionais, como o Palma de Maiorca e o de Aranda del Duero, do qual foi vencedora em 1964.

Ainda em 1964, participou no Grande Prémio TV da Canção Portuguesa (que se realizou nos Estúdios do Lumiar, a então sede da RTP desde 1957), apresentando-se em palco com duas canções: a "Balada Das Palavras Perdidas", com a qual consegue um 5º lugar, e "Na tua Carta", que lhe dá o 10º lugar. Neste registo disponível nos Arquivos da RTP, podemos ver e ouvir a interpretação de Madalena Iglésias (entre os 11 e os 15 minutos) com a canção "Na tua Carta".

Em 1965, com a canção "Silêncio Entre Nós", fica em 3º lugar no Grande Prémio da TV da Canção. Grava também uma versão de "Sol de Inverno" (popularizado por Simone de Oliveira, mas também interpretado por outros artistas). 1965 é também o ano de "Poema de Nós Dois", tema do filme "Passagem de Nível" de Américo Leite Rosa. No mesmo ano, é coroada "Rainha" (tal como Simone de Oliveira) no concurso "Reis da Rádio e Televisão", promovido pela revista "Flama". Já nessa época, as revistas escrutinavam o que podiam da vida das figuras públicas e estas duas grandes mulheres não foram diferentes. Assim, ainda hoje se fala na rivalidade entre Simone e Madalena que terá dado na altura uma verdadeira "novela". Na data da morte de Madalena, a cantora Simone de Oliveira declarou à revista "Flash" que a relação entre as duas "umas vezes foi muito boa, outras vezes menos boa", considerando nas suas palavras que o grupo de fãs da Madalena era "muito agressivo".

No ano seguinte, leva três temas a votação. Interpreta "Rebeldia" com o qual consegue o terceiro lugar e ainda o tema "Ele e Ela" com o qual vence o Festival RTP da Canção de 1966, um tema da autoria de Carlos Canelhas e que ficou para sempre na memória dos portugueses. E que tal espreitar aqui novamente os Arquivos RTP, com mais este precioso registo?

Em 1968, Madalena Iglésias representou Portugal na primeira edição das Olimpíadas da Canção da Grécia onde atuaram 32 participantes oriundos de 17 países. 

Participa no Festival RTP da Canção de 1969 no teatro S. Luíz, em Lisboa, com "Canção Para um Poeta", escrita por Maria Amália Ortiz da Fonseca e musicada por Carlos Canelhas. Nesse ano é editado pela Belter um EP com os temas "Canção Que Alguém Me Cantou", "É Você, "Oração Na Neve" e "De Longe, Longe, Longe…".

Casou em 1972 altura em que abandonou a carreira artística e foi viver para a Venezuela. Grávida de oito meses, ainda fez um programa no Canal 4 da televisão venezuelana, mas deixou de atuar até os seus filhos terem cinco anos de idade. Depois, voltou a atuar esporadicamente na televisão venezuelana.

Em 1987, mudou-se para Barcelona, onde viveu até agora. 

Em 2008, em declarações à Lusa, a propósito da publicação da sua fotobiografia “Meu nome é Madalena Iglésias”, de autoria de Maria de Lourdes de Carvalho, a intérprete afirmou que sempre se sentiu perseguida pelo complexo da beleza, apesar de reconhecer que "estava à frente" do seu tempo.

No texto de abertura da sua fotobiografia, a cantora referiu-se à sua carreira, que ultrapassou as fronteiras nacionais, como “um caminho percorrido com entusiasmo, alegria, êxitos e algumas nuvens”, e onde garantia: “Tenho um pouco do que vibrei!”.

 

Fontes:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Madalena_Igl%C3%A9sias

https://youtu.be/mkk4DI-Qwn0

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/grande-premio-tv-da-cancao-portuguesa-parte-i/

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/grande-premio-tv-da-cancao-portuguesa-1966/

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/coroacao-das-rainhas-da-radio-e-da-televisao/

https://observador.pt/2018/01/16/morreu-a-cantora-madalena-iglesias-aos-78-anos/

https://mag.sapo.pt/showbiz/artigos/morreu-a-cantora-madalena-iglesias

https://www.flash.pt/celebridades/nacional/detalhe/simone-de-oliveira-triste-com-morte-de-madalena-iglesias-faz-parte-da-minha-vida

 

 

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publicado às 22:32


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