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Fausto

por Elsa Filipe, em 01.07.24

Hoje Portugal perdeu um dos grandes compositores dos últimos tempos. Um dos grandes músicos que traduziram "para as canções de intervenção o sentimento do povo português," sendo por isso inevitável associar o nome de Fausto aos nomes maiores da música portuguesa, como "José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire, José Mário Branco," Sérgio Godinho ou Luís Cília. Além de um grande defensor da liberdade, Fausto era único na sua forma de compor e de cantar.

"Carlos Fausto Bordalo Gomes Dias nasceu a bordo do navio Pátria, durante uma viagem entre Portugal e Angola. Seria registado a 26 de novembro de 1948 em Vila Franca das Naves, Trancoso." Foi ainda em Angola, de onde regressaria anos mais tarde, que formou a sua primeira banda, Os Rebeldes.

Com 20 anos, Fausto concluiu "a licenciatura em Ciências Políticas e Sociais no Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina", em Lisboa. "É nessa época que grava Chora, amigo chora, que em 1969 lhe deu o Prémio Revelação do antigo programa de rádio Página Um, transmitido pela Rádio Renascença."

Depois da revolução do 25 de abril de 1974, "ajudou a fundar o GAC" (Grupo de Ação Cultural — Vozes na Luta), juntamente com José Mário Branco, Afonso Dias e Tino Flores." Dos seus trabalhos podemos destacar Pró que Der e Vier (1974) e Beco sem Saída (1975), Madrugada dos Trapeiros (1977) ou Histórias de Viajeiros (1979). Em 1989, venceu o Prémio José Afonso, com "Para Além das Cordilheiras." 

"Um dos seus concertos mais marcantes ocorreu em julho de 1997, em Belém, nas celebrações dos 500 anos da partida de Vasco da Gama para a Índia."

Gravou ao todo 12 álbuns entre 1970 e 2011. O último a ser lançado, foi Em busca das montanhas azuis, em 2011.

O músico tinha 75 anos e morreu durante a última noite, vítima de doença prolongada.

Fontes:

https://www.rtp.pt/noticias/cultura/morreu-fausto-bordalo-dias-criador-de-por-este-rio-acima_n1582941

https://observador.pt/2024/07/01/morreu-o-cantor-e-compositor-fausto-bordalo-dias/

 

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publicado às 18:54

Faz 20 anos que morreu Amália Rodrigues

por Elsa Filipe, em 06.10.19

Antes de saber o que era o fado, ouvia já a voz de Amália e de outras fadistas. Sempre gostei mais das vozes femininas no fado. E gostava de as ouvir no rádio e nos discos, embora poucos, que havia lá por casa.

Quando Amália morreu eu era ainda uma miúda, com os meus 16 anos e pouco sabia sobre a sua história e sobre a sua vida. Para mim, naquela época, tanto mediatismo não me fez sentido. Hoje, 20 anos passados, teria certamente outra visão sobre a sua morte. Amália é uma das grandes personalidades da nossa história, tendo representado Portugal em todo o mundo, de Lisboa ao Rio de Janeiro, de Nova Iorque a Roma, de Tóquio à União Soviética, do México a Londres, de Madrid a Paris (onde atuou tantas vezes no prestigiadíssimo Olympia). Propagou a cultura portuguesa, a língua portuguesa e o fado. A sua vida foi cheia de grandes encontros, embora fosse uma pessoa simples, vinda de uma família humilde.

Registado o seu nascimento a  23 de julho de 1920, pesquisas recentes concluíram que Amália da Piedade Rodrigues, nasceu no Fundão em 1 de Julho de 1915, mas por falta de dinheiro para pagar os emolumentos do registo, elevados para gente de fracos recursos, apenas foi registada em 1920 em Lisboa, com data declarada obrigatoriamente dentro do prazo de sete dias após o nascimento, para evitar fortíssimas penalizações. Para todos os efeitos a data válida é a oficial. Filha de um músico sapateiro que, para sustentar os quatro filhos e a mulher, tentou a sua sorte em Lisboa. Catorze meses depois, o pai, não tendo arranjado trabalho, volta com a família para o Fundão e Amália fica com os avós na capital.

Amália era muito timida, mas começa a cantar para o avô e os vizinhos, que lhe pediam. Na infância e juventude, cantarolava tangos de Carlos Gardel e canções populares que ouvia e lhe pediam para cantar. Aos 9 anos, a avó, analfabeta, manda Amália para a escola, que tanto gostava de frequentar. Contudo, aos 12 anos tem que interromper a sua escolaridade como era frequente em casas pobres. Escolhe então o ofício de bordadeira, mas depressa muda para ir embrulhar bolos. Aos 14 anos decide ir viver com os pais, que entretanto regressam a Lisboa. Mas a vida não é tão boa como em casa do avós.

Aos 15 anos vai vender fruta para a zona do Cais da Rocha, e torna-se notada devido ao especialíssimo timbre de voz. Integra a Marcha Popular de Alcântara de 1936. O ensaiador da Marcha insiste para que Amália se inscreva numa prova de descoberta de talentos, chamada Concurso da Primavera, em que se disputava o título de Rainha do Fado. Amália acabaria por não participar, pois todas as outras concorrentes se recusavam a competir com ela.

Conhece nessa altura o seu futuro marido, Francisco da Cruz, um guitarrista amador, com quem casa em 1940, no mesmo ano em que se estreia no teatro de revista em 1940, como atração da peça Ora Vai Tu, no Teatro Maria Vitória. No meio teatral encontra Frederico Valério, compositor de muitos dos seus fados. Em 1943 divorcia-se a seu pedido. Torna-se então independente. Neste mesmo ano atua pela primeira vez fora de Portugal - em Madrid - a convite do embaixador Pedro Teotónio Pereira.

Em 1944 consegue um papel proeminente, ao lado de Hermínia Silva, na opereta Rosa Cantadeira. Em Setembro, chega ao Rio de Janeiro acompanhada pelo maestro Fernando de Freitas para atuar no Casino Copacabana. Aos 24 anos, Amália tem já um espectáculo concebido em exclusivo para ela. A recepção é de tal forma entusiástica que o seu contrato inicial de 4 semanas se prolongará por 4 meses. Em 1947 estreia-se no cinema com o filme Capas Negras, o filme mais visto em Portugal até então, ficando 22 semanas em exibição. Um segundo filme, do mesmo ano, é Fado, História de uma Cantadeira.

A internacionalização de Amália aumenta com a participação, em 1950, nos espectáculos do Plano Marshall, o plano de "apoio" dos EUA à Europa do pós-guerra, em que participam os mais importantes artistas de cada país. Em Setembro de 1952 a sua estreia em Nova Iorque fez-se no palco do La Vie en Rose, onde ficou 14 semanas em cartaz.

Ainda nos Estados Unidos, em 1953 canta pela primeira vez na televisão (na NBC), no programa do Eddie Fisher patrocinado pela Coca-Cola, que teve que beber e de que não gostara nada. Grava discos de fado e de flamenco.

Amália apareceu em vários programas de televisão pelo mundo, onde cantava fados e outras músicas de tradição popular portuguesa, canções contemporâneas (iniciando o chamado fado-canção) e até alguma música de origem francesa, americana, espanhola, italiana, mexicana e brasileira. O álbum 'Com Que Voz', que gravou em 1969  - e saiu em 1970 -, com o compositor Alain Oulman, e já depois de uma carreira firmado nacional e internacionalmente, é o maior exemplo dessa viragem no seu percurso, e no próprio fado. 

Em 1961, casa-se com o seu segundo marido, o engenheiro brasileiro César Seabra, com quém fica até à morte deste, em 1997. Em 1966, volta aos Estados Unidos, actuando no Lincoln Center, em Nova Iorque, com o maestro Andre Kostelanetz frente a uma orquestra. Em 1971, encontra finalmente Manuel Alegre, exilado em Paris. Em 1974 grava o álbum Encontro - Amália e Don Byas com o saxofonista Dob Byas.

Na chegada da democracia são-lhe prestadas grandes homenagens. É condecorada com o grau de oficial da Ordem do Infante D. Henrique pelo então presidente da República, Mário Soares.

Cantou poemas de grandes autores portugueses consagrados, depois de musicados, de que é exemplo a lírica de Luís de Camões ou as cantigas e trovas de D. Dinis. Teve ainda ao serviço da sua voz a pena de alguns dos maiores poetas e letristas seus contemporâneos, como David Mourão FerreiraPedro Homem de MelloJosé Carlos Ary dos SantosAlexandre O'Neill ou Manuel Alegre. Amália Rodrigues falava e cantava em castelhanogalegofrancêsitaliano e inglês.

Na década de 1970, embora estivesse no auge da sua fama internacional, sua imagem em Portugal foi afetada por falsos rumores de que Amália tinha ligações com o regime do Estado Novo, de António de Oliveira Salazar. Na verdade, o antigo regime censurou muitos de seus fados. Amália reconquistou a popularidade com o povo português, cantou o hino da Revolução dos Cravos, a canção "Grândola, Vila Morena" e deu clandestinamente dinheiro ao Partido Comunista Português.

A 6 de Outubro de 1999, Amália Rodrigues morre, em sua casa, repentinamente, ao início da manhã, com 79 anos, poucas horas depois de regressar da sua casa de férias, no litoral alentejano. Imediatamente, o então primeiro-ministro, António Guterres, decreta Luto nacional por três dias. No seu funeral, centenas de milhares de lisboetas descem à rua para lhe prestar uma última homenagem. Foi sepultada no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.

Dois anos depois, a 8 de Julho de 2001, o seu corpo foi trasladado para o Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa (após pressão dos seus admiradores e uma modificação da lei que exigia um mínimo de quatro anos antes da trasladação), e onde repousam personalidades consideradas expoentes máximos da nacionalidade. Duas décadas depois da sua morte, a herança que deixou afirma-se e renova-se a cada e dia, em boa parte graças a sucessivas geração de cantores, fadistas e não só, que reinterpretam e atualizam a sua obra. 

Fontes:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A1lia_Rodrigues

https://www.latina.lu/pt/latina/am-lia-morreu-h-20-anos-e-o-mundo-continua-a-celebrar-a-sua-voz-5d986b9dda2cc1784e34cfd6

https://www.letras.com.br/amalia-rodrigues/biografia

 

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