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Gosto de escrever e aqui partilho um pouco de mim... mas não só. Gosto de factos históricos, políticos e de escrever sobre a sociedade em geral. O mundo tem de ser visto com olhar crítico e sem tabús!
Há 500 anos, o navegador português Fernão de Magalhães, partiu de Sevilha com "uma esquadra de cinco navios e 234 homens decidido a provar que era possível circum-navegar o globo."
Foi a 20 de setembro que a armada armada de "Fernão de Magalhães, composta por cinco navios: Trinidad, Concepción, Victoria, Santiago e San Antonio" partiu para o mar a partir de Sanlucar de Barrameda, em Espanha. A viagem foi organizada com o financiamento dos reis da Espanha, e apesar de ter sido iniciada sob comando do navegador português, foi Juan Sebastián Elcano, que a terminou, após a morte de Magalhães.
Apesar de ser português, Fernão estava ao serviço de Espanha e tinha como missão "provar que as Ilhas das Especiarias, conhecidas pelo valioso cravo, se situavam no domínio espanhol."
Durante a viagem, foram descobertos "terras e mares desconhecidos, desde o rio da Prata até às Filipinas, incluindo toda a extensão do vastíssimo oceano Pacífico." Além disso, esta viagem vem "alterar definitivamente o paradigma geográfico da época: confirmava-se que a terra não era plana." Abrem-se novos horizontes com "a descoberta de novas passagens marítimas e de novas rotas comerciais."
Desenvolvem-se várias áreas do saber - "cultura, história, teologia, linguística, botânica e zoologia", mas o que se destaca é o "reconhecimento do valor científico dos astrónomos, cartográficos e geográficos."
A "Santiago" afunda-se a 3 de maio de 1520 e a 8 de novembro, antes de iniciarem a passagem do Pacífico, a nau "Santo António", revolta-se e regressa a Espanha. A 13 de fevereiro de 1521 as restantes três naus passam o Equador. Ao chegarem às ilhas Filipinas, Fernão de Magalhães percebe que os seus cálculos estão errados e isso acaba por ser trágico. O erro que terá cometido, terá sido o de avaliar de forma errada a localização das ilhas Molucas em relação à Indonésia, uma vez que estas se localizam um pouco mais a leste e não a norte como ele tinha primeiramente ponderado. Se tivesse reconhecido "o seu erro, punha-se mal com Espanha." Ao não o reconhecer, acaba por entrar num drama interior contra si mesmo, o que o leva a fazer algo considerado irracional. Perante este dilema, "em vez de ir para as Molucas, que eram o seu objetivo, anda a passear pelas Filipinas, de ilha em ilha, a imiscuir-se em lutas tribais onde encontrou a morte”, pelo que é descrito "a 27 de Abril de 1521, na ilha de Mactan, às mãos do chefe tribal Lapu-Lapu, coroado herói nas Filipinas." No dia 1 de maio, na ilha de Cebu, "vinte e seis tripulantes" desaparecem e pensasse que tivessem sido assassinados. Devido à falta de tripulantes, no dia seguinte, a "nau Concepción é abandonada."
Fernão de Magalhães não chega assim a atingir o seu objetivo, mas não deixa de ter a sua importância para a nossa história, uma vez que é graças aos seus conhecimentos que esta primeira circum-navegação é conseguida. De facto, esta viagem resulta do "mérito científico daquele fidalgo do Porto que foi fruto dos conhecimentos e formação que adquiriu em Portugal e nas áreas da sua expansão desde 1505 até ir para Espanha em 1517," na altura com cerca de 37 anos. O projeto tinha sido feito em Lisboa "entre 1516 e 1517," e a aceitação de ser um português fazê-la só terá acontecido pelos conhecimentos demonstrados.
No regresso, a nau" Trinidad" acaba por ficar para trás e não consegue concluir a circum-navegação, mas a "Victoria", acaba por regressar pelas "águas do sul do Índico", chegando a Sanlúcar de Barrameda a 6 de setembro de 1522 "com apenas 18 sobreviventes da primeira volta ao mundo feita de seguida." A viagem de regresso teve como perigo maior "o receio de poder ser interceptada pelas embarcações portuguesas," navegando numa zona do mundo que estava "sob soberania portuguesa definida pelo Tratado de Tordesilhas."
Esta viagem teve um forte impacto para o conhecimento do mundo e para o processo da globalização, dando a conhecer, entre outros locais, as Ilhas de Cabo Verde que se tornariam depois um pilar de apoio crucial aos navegadores portugueses e às diversas rotas marítimas, na criação de ligações entre o continente africano, americano e europeu e no comércio com África.
Fontes:
GARCIA, José Manuel, https://www.publico.pt/2019/09/12/culturaipsilon/noticia/fernao-magalhaes-genio-cometeu-erro-matou-1886323
GARCIA, José Manuel, https://www.publico.pt/2019/03/29/culturaipsilon/opiniao/sete-erros-factuais-informacao-viagem-fernao-magalhaes-emitida-academia-historia-espanhola-1867192
Apesar de só na viagem de Pedro Álvares Cabral, ter sido feita a documentação da existência de uma terra a que chamaram Brasil - a verdade é que o território já tinha sido avistado "ou tocada por navios portugueses, em anos anteriores. Embora não tendo havido na época registos oficiais, em dezembro de 1498, a frota de Duarte Pacheco Pereira chegou ao Brasil. Sabe-se também que quando os termos do Tratado de Tordesilhas foram definidos em 1494, "o rei D. João II exigiu que fosse traçada mais para oeste do que tinha sido inicialmente proposto pelos castelhanos," facto que pode indiciar que o monarca já conhecia ou suspeitava "da existência de terra naquelas paragens." Em 1498, D. Manuel I, encarrega então Duarte Pacheco Pereira, cosmógrafo da sua confiança, "de uma expedição relacionada com a demarcação da linha estabelecida pelo mesmo tratado" e dois anos depois, Pacheco Pereira acompanha também Pedro Álvares Cabral na sua viagem.
Quando Cabral, em viagem para a Índia, acaba por chegar ao Brasil, foi de tal maneira apanhado de surpresa "que o capitão mandou um dos navios de regresso a Lisboa, para informar o rei do achado da nova terra." Mas porquê, se Pacheco Pereira já conhecia a existência daquelas terras?
Em 1892, é revelado “Esmeraldo de Situ Orbis”, escrito pelo próprio Duarte Pacheco Pereira (documento que foi iniciado em 1505 mas que só seria publicado 400 anos mais tarde) onde desvenda a sua chegada ao Brasil. Nestes escritos, perpassa a "emergência de uma nova época, uma nova Idade onde se enfrentam os antigos e os modernos saberes," mas têm de ser postos em confronto com um mapa de 1519 para realmente mostrarem como seria a concepção geográfica de Duarte Pacheco Pereira e o alcance que a sua viagem tinha tido. Para compreendermos, temos de olhar para a questão perante os conhecimentos da época. Camões chegou mesmo a chamá-le de "Aquiles lusitano."
"Uma das duas concepções do mundo dominantes na época," inferia que a terra rodeava todos os oceanos. Nos textos deixados por Pacheco Pereira, o que ele está "verdadeiramente a discutir quando fala desta viagem é qual a proporção entre terra e água. Ele conclui que a terra ocupa a maior parte do espaço e que a água se situa no centro. É, em termos gerais, a concepção ptolomaica do mundo."
Nesta abordagem, Duarte Pacheco pensa então que atingiu a margem dessa "terra que tudo envolve." Embora realmente ele possa lá ter chegado, a descoberta não foi documentada como tal e, só se considera como registo da primeira viagem de descobrimento do Brasil, a "carta de Pêro Vaz de Caminha a D. Manuel I," no ano de 1500, a par também "das cartas de Mestre João e do chamado Piloto Anónimo." Na época, Portugal estava mais virado para a exploração das rotas do Oriente e o Brasil não era a sua prioridade, mas sim "um destino secundário para as navegações portuguesas."
Em 1508, Pacheco Pereira "interrompe a redacção da sua obra," quando lhe é incumbida a tarefa de "vigiar a costa portuguesa" e "o estreito de Gibraltar."
Em 1519, chega mesmo a ser "nomeado capitão da fortaleza da Mina," mas acaba por vir preso para o reino, por motivos desconhecidos.
Fontes:
https://ensina.rtp.pt/artigo/a-partida-de-pedro-alvares-cabral-para-descobrir-o-brasil/
https://www.infopedia.pt/artigos/$duarte-pacheco-pereira
CARVALHO, Frederico CarvalhoFrederico Carvalho, entrevista, in: https://www.publico.pt/2012/10/14/jornal/o-caso-pacheco-pereira-25408499
VALENTIM, Carlos Manuel, in: http://cvc.instituto-camoes.pt/navegaport/g24.html
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