O Partido Comunista Português (PCP) "é um partido político de caráter comunista e marxista-leninista," fundado em 1921 e sendo "definido como sendo de esquerda a extrema-esquerda. Hoje iremos novamente recuar ao início do século XX para percebermos o contexto histórico em que se estabelece um dos mais antigos partidos políticos de esquerda.
Depois da morte de Sidónio Pais em 1917 e com o "fracasso da greve geral decretada pela anarquista União Operária Nacional, precisamente em novembro de 1918 e a repressão trabalhista que se seguiu" é apressado "o fim da ditadura sidonista."
Em setembro de 1919, dois anos depois da revolução de outubro que "levou à criação da República Socialista Federativa Soviética da Rússia", é fundada, por "sindicalistas revolucionários dos setores mais radicais do movimento operário, a Federação Maximalista Portuguesa", tendo sido criada a "CGT - Confederação Geral do Trabalho", potenciada pelo agravamento das condições de vida, inspirada pela "revolução bolchevique." De salientar que, de forma diferente do que tinha acontecido "na generalidade dos países europeus, o Partido Comunista Português não se formou a partir de uma cisão no Partido Socialista, mas ergueu-se, essencialmente, com militantes saídos das fileiras do sindicalismo revolucionário e do anarco-sindicalismo, que representavam o que havia de mais vivo, combativo e revolucionário no movimento operário português."
Em 1920, o seu principal animador, Manuel Ribeiro, foi preso depois de publicações feitas no jornal maximalista "Bandeira Vermelha", sobre o comportamento governamental na greve dos ferroviários, e a "Federação Maximalista" foi proibida. No entanto, apenas três meses depois, "viria a fundar-se o Partido Comunista Português, dando seguimento ao conjunto de pessoas que no processo de desarticulação da Federação Maximalista aviltravam a necessidade de um congresso comunista," na sede da "Associação dos Empregados de Escritório, em Lisboa, realiza-se a Assembleia que elege a direcção do PCP."
Pouco depois da fundação do Partido, "criou-se também a Juventude Comunista (JC), que estabeleceu imediatamente contatos com a Internacional Comunista Juvenil." Em 1922, o PCP "estabeleceu contatos com a Internacional Comunista, tornando-se em 1923 a secção Portuguesa do Comintern," que depois de vários problemas no seio do partido e com a intervenção do suíço Jules Humbert Droz, assiste nesse ano às primeiras eleições nas quais, "Carlos Rates" se torna o 1º Secretário Geral do PCP." A JC é então dissolvida.
Em 1924, "Carlos Rates desloca-se a Moscovo para participar no V Congresso da Internacional Comunista (IC)." No ano seguinte, propõe fazer uma aliança com o PSP para as eleições legislativas, mas esta é recusada. Forma-se então "o bloco ED/PCP, onde nenhum dos oito candidatos do PCP, que participaram nas respetivas listas," foi eleito.
Tal como aconteceu com outros partidos, o regime ditatorial conduz à sua ilegalização, fragilizando a sua estrutura que, apesar de tudo, se manteve ativa. Em 1929, Bento Gonçalves é eleito como secretário- geral e no ano seguinte, começam a ser criadas "as bases para o relançamento da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas." Segundo se sabe, em 1931, "já não restava ninguém em liberdade do Comité Central Executivo eleito na Conferência de abril, com a exceção de José de Sousa, tendo este uma intensa atividade como responsável sindical do PCP."
Em 1942, Bento Gonçalves, secretário-geral do PCP morre "no campo de concentração do Tarrafal," para onde eram levados os presos políticos e até 1961 o partido esteve sem secretário-geral. Álvaro Cunhal, que tinha sido recrutado em 1934 a partir da atividade da JC, e que em 1936 integrara pela primeira vez o "Comité Central," é preso em julho de 1937, tal como muitos dos membros desse comité. A sentença de Álvaro Cunhal acaba "em julho de 1938, quando os problemas internos na direção do PCP já estão avançados." Álvaro Cunhal, prossegue então "os estudos, e não volta de imediato à clandestinidade, mas também não se priva da atividade política."
Em 1939 começa a Segunda Guerra Mundial, e é dada a Cunhal "a tarefa de clarificar a posição do Partido" e nos anos 40 o partido começa a reorganizar-se. Durante a década de 40, apesar de proibidas, começam a suceder-se as greves e os "movimentos rurais," devido à "deterioração dos salários já por si muito baixos, assim como outras medidas claramente impopulares, como a renumeração de horas extraordinárias apenas a 50%" - dos quais embora não tendo contribuído diretamente - se aproveita o partido para a promoção "da agitação e propaganda através de panfletos" e da publicação do "Avante!" A 26 de julho de 1943, o PCP já mostra o seu lado interventivo e nas primeiras greves, nos corticeiros de Almada, chega-se a 3 500 operários em greve. "Dois dias depois, o PCP já fala em 50 mil operários grevistas," chegando mesmo a ser declarado estado de sítio no Barreiro.
Ainda em 1943, e pouco antes do início das greves, "o Partido Comunista propõs a criação da plataforma MUNAF, Movimento de Unidade Nacional Antifascista, às restantes forças políticas de oposição, dado a conjuntura da segunda guerra mundial, que favorecia os Aliados." Nos seus objetivos estavam, "fundamentalmente, derrubar Salazar, substituí-lo por um governo de Unidade Nacional que tomasse medidas contra o "Eixo", liquidar as suas instituições como a Legião Portuguesa e a União Nacional, liquidar as instituições corporativas, extinguir o Tarrafal e libertar os presos políticos." Em 1944, a aprovação do "programa de emergência do MUNAF," vem a coincidir com o "início da derrota do Nazifascismo, com a batalha da Normandia e o ofensiva soviética no Leste europeu", acreditando que Salazar poderia cair devido à "derrota dos nazis."
Em 1945, o MUNAF é ultrapassado "na sequência da formação de uma plataforma de entendimento comum das oposições ao Estado Novo" denominado de MUD - Movimento de Unidade Democrática. "Ainda sem a direção do PCP, o novo movimento político gera elevado entusiasmo junto dos setores mais liberais do país e massiva adesão." No entanto, no final de 1945 o MUD acaba por ter ordem de suspensão pelo Regime. No "verão de 1946," Salazar apresenta "a candidatura de Portugal à ONU", a qual foi apoiada pelos Estados Unidos e por Inglaterra e "vetada pela União Soviética e a Polónia."
"Em abril de 1947, o PCP declara formalmente greve no contexto do aumento de horas extraordinárias e da ausência de resposta às suas reivindicações, alcançando 20 mil grevistas," apesar das deportações e prisões que se seguiram, numa "implacável vaga repressiva sobre o PCP, com dezenas de prisões" que levaram ao conhecido "processo dos 108."
Álvaro Cunhal viajou entretanto "até à Jugoslávia, com a ajuda de Bento de Jesus Caraça, com o intuito de melhorar as relações com o Bloco Socialista. Em 1948, viajou até à União Soviética para falar com Mikhail Suslov, após as ligações entre o PCP e o Movimento Internacional Comunista terem sido restabelecidas." Cunhal acaba preso pela PIDE, quando regressa da União Soviética." No panorama da Guerra Fria, em "abril de 1949, com o apoio de Ruy Luís Gomes, Virgínia Moura e Maximiano da Silva às Comissões de Freguesia do Porto, é constituído o Movimento Nacional Democrático (MND), cuja primeira comissão central inclui Maria Lamas, José Morgado, Albertino Macedo, António Areosa Feio, Pinto Gonçalves e João Saias." Através de ações públicas, este movimento manifesta-se "contra o envio de tropas para Macau" e protesta "contra a adesão de Portugal à NATO."
Assim, no "início de 1952 há um protesto contra a realização da Cimeira da NATO em Lisboa" em que o "PCP fez várias ações contra a Cimeira, o que leva a direção do PCP, numa reunião", a proclamar que esta era a sua "primeira grande luta do nosso povo contra a guerra." Um outro acontecimento importante, foi a expulsão de vários membros devido ao "receio da inflitração de agentes da PIDE, espiões do MI6, e espiões da CIA no Partido."
Com a conclusão da "Segunda Guerra Mundial, nascem vários movimentos anticoloniais, sendo um deles a Casa dos Estudantes do Império, onde a maior parte se encontrava no MUD Juvenil e alguns no PCP." Pelo MUD Juvenil, passam entã nomes como "Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Lúcio Lara, Alda Espírito Santo, Noémia de Sousa, Luís Cabral, Marcelino dos Santos, Vasco Cabral, Mário de Andrade."
Muitos destes acabaram presos e as alianças do PCP, "nomeadamente o MUDJ e o MND, iam caindo com a repressão impiedosa da polícia."
É só em 1955 que "o Partido começa a beneficiar de fundos soviéticos." Em 1960, "um grupo de dez membros do PCP conseguiram fugir da prisão de alta-segurança de Peniche," naquela que ficou conhecida como a "Fuga de Peniche, entre elas Álvaro Cunhal, que seria eleito no ano seguinte o primeiro Secretário-geral em dezanove anos." Entre os fugitivos, estava também "Jaime Serra, que iria organizar secretamente o grupo de Ação Revolucionária Armada" (ARA) que era "um grupo armado do PCP" que viria a "ser responsável por alguns golpes militares contra o regime ditatorial nos anos" 70.
Não nos podemos esquecer que em "1961 começou a Guerra Colonial em África, primeiro em Angola, depois em Moçambique e Guiné-Bissau" que durou 13 anos, e que forçou inevitavelmente "milhares de Portugueses a deixar o país, tanto para procurar melhores condições de vida em países como a França, Alemanha e Suíça, como para fugir à guerra." O PCP opõe-se fortemente à guerra nas colónias mostrando o seu "apoio aos movimentos anticoloniais. A guerra, criando grande instabilidade na sociedade Portuguesa, ajudou ao declínio do regime de Salazar."
Depois da revolução de abril,que marca o "fim da ditadura", o PCP torna-se numa das principais forças políticas "do novo regime democrático". Logo depois da revolução, começam a ser progressivamente "restabelecidos" os "direitos básicos de democracia em Portugal."
A 27 de abril de 74, os "prisioneiros políticos foram libertados." Álvaro Cunhal regressa a Lisboa, no dia 30 de abril "onde foi recebido por milhares de pessoas. O dia 1 de Maio foi comemorado pela primeira vez em 48 anos, e aproximadamente meio milhão de pessoas juntaram-se no Estádio 1.º de Maio em Lisboa para ouvir os discursos do líder comunista Álvaro Cunhal e do socialista Mário Soares. No dia 17 de Maio, o jornal do Partido, Avante!, lançou a sua primeira edição legal."
Em 1992, Carlos Carvalhas substitui Álvaro Cunhal "e em 2004 é Jerónimo de Sousa o escolhido pelo Comité Central para Secretário-Geral do PCP." Já em 2022, "é eleito Paulo Raimundo para o cargo."
Em Portugal, o PCP é mais popular "nas áreas rurais do Alentejo e Ribatejo" e em alguma áreas industrializadas da zona de "Lisboa e Setúbal, onde" nos últimos anos, tem vindo a liderar "vários municípios."
Fontes:
https://www.pcp.pt/como-nasceu-partido-comunista-portugues
https://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Comunista_Portugu%C3%AAs
https://www.esquerda.net/artigo/o-pcp-foi-fundado-ha-100-anos/73136