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Ana Faria

por Elsa Filipe, em 18.08.24

Hoje recordo as músicas da minha infância e, na altura, mal eu sabia que devia a esta senhora as criações e adaptações que eu ouvia e cantarolava. Ana Faria, deixou-nos ontem, mas as suas músicas irão sempre fazer parte das minhas lembranças e, de certeza, das vossas também. Tinha 74 anos.

Foi no programa Zip Zip, transmitido no final da década de 1960, que Ana Faria se tornou conhecida (nessa altura eu ainda não era nascida) interpretando a "Canção de Embalar", de José Afonso, e "Avé Maria do Povo", popularizada por Simone de Oliveira. Em 1982, publica o disco "Brincando aos Clássicos", em que "interpretava sinfonias clássicas de compositores como Beethoven ou Mozart."

Em conjunto com o marido, Heduíno Gomes, que era responsável pela produção, "criaram os grupos Queijinhos Frescos, Jovens Cantores de Lisboa, seguindo-se os Onda Choc, com mais de um milhão de discos vendidos." Foram também responsáveis pela criação dos Popeline.

"A maioria das músicas destas bandas eram sucessos de versões internacionais com uma letra nova em português," que todos decorávamos de tanto rodar as cassetes! Era um mimo, que a minha mãe me comprava, ainda antes de termos leitor de cd's e, algumas dessas cassetes ainda resistiram e estão cá em casa. Momentos felizes.

Os "Quijinhos Frescos" era formado "pelos três filhos de Heduíno Gomes e Ana Faria, nomeadamente: João Faria Gomes, o mais velho; Nuno Faria Gomes, o irmão "do meio"; e Pedro Faria Gomes, o mais novo." Ainda gravaram alguns discos "para a editora CBS" tendo obtido bastante sucesso "na década de 1980."

Em 1984 sai o álbum "Ana Faria e os Queijinhos Frescos", ao qual se seguiu o álbum discográfico "Batem Corações." Segue-se o lançamento do "single com o tema do programa Jornalinho da RTP." Em 1986, é então "editada a compilação "O Melhor dos Queijinhos Frescos." Aparece então um novo grupo infantil: Onda Choc.

Os Onda Choc era um grupo "constituído por rapazes e raparigas entre os 10 e os 15 anos de idade. Os elementos eram recrutados através de casting e ou através do coro juvenil dos Jovens Cantores de Lisboa. Os ensaios das canções e das coreografias decorriam num pavilhão do Clube Futebol Benfica (também conhecido como Fófó), e as produções discográficas ficaram a cargo de Heduíno Gomes, o marido da cantora Ana Faria."

Em 1992 surgiram as "Popeline", um grupo feminino de música infantil. Recordo as roupas coloridas e os chapéus!

Ana Faria dedicou-se mais tarde à pintura e aos retratos, bem como à escrita para crianças.

Fontes:

https://www.cmjornal.pt/cultura/detalhe/morreu-ana-faria-cantora-de-musica-infantil-que-criou-o-grupo-queijinhos-frescos

https://observador.pt/2016/01/20/ministars-onda-choc-outros-miudos-cantam/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Onda_Choc

https://pt.wikipedia.org/wiki/Queijinhos_Frescos

 

 

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publicado às 18:48

Fausto

por Elsa Filipe, em 01.07.24

Hoje Portugal perdeu um dos grandes compositores dos últimos tempos. Um dos grandes músicos que traduziram "para as canções de intervenção o sentimento do povo português," sendo por isso inevitável associar o nome de Fausto aos nomes maiores da música portuguesa, como "José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire, José Mário Branco," Sérgio Godinho ou Luís Cília. Além de um grande defensor da liberdade, Fausto era único na sua forma de compor e de cantar.

"Carlos Fausto Bordalo Gomes Dias nasceu a bordo do navio Pátria, durante uma viagem entre Portugal e Angola. Seria registado a 26 de novembro de 1948 em Vila Franca das Naves, Trancoso." Foi ainda em Angola, de onde regressaria anos mais tarde, que formou a sua primeira banda, Os Rebeldes.

Com 20 anos, Fausto concluiu "a licenciatura em Ciências Políticas e Sociais no Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina", em Lisboa. "É nessa época que grava Chora, amigo chora, que em 1969 lhe deu o Prémio Revelação do antigo programa de rádio Página Um, transmitido pela Rádio Renascença."

Depois da revolução do 25 de abril de 1974, "ajudou a fundar o GAC" (Grupo de Ação Cultural — Vozes na Luta), juntamente com José Mário Branco, Afonso Dias e Tino Flores." Dos seus trabalhos podemos destacar Pró que Der e Vier (1974) e Beco sem Saída (1975), Madrugada dos Trapeiros (1977) ou Histórias de Viajeiros (1979). Em 1989, venceu o Prémio José Afonso, com "Para Além das Cordilheiras." 

"Um dos seus concertos mais marcantes ocorreu em julho de 1997, em Belém, nas celebrações dos 500 anos da partida de Vasco da Gama para a Índia."

Gravou ao todo 12 álbuns entre 1970 e 2011. O último a ser lançado, foi Em busca das montanhas azuis, em 2011.

O músico tinha 75 anos e morreu durante a última noite, vítima de doença prolongada.

Fontes:

https://www.rtp.pt/noticias/cultura/morreu-fausto-bordalo-dias-criador-de-por-este-rio-acima_n1582941

https://observador.pt/2024/07/01/morreu-o-cantor-e-compositor-fausto-bordalo-dias/

 

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publicado às 18:54

Eurovisão 2024

por Elsa Filipe, em 12.05.24

A vitória este ano foi para a canção da Suiça, "The Code", interpretada por Nemo. "O tema, entre o rap, rock e a ópera, explora o processo de descoberta do artista como uma pessoa não-binária."
Portugal, ficou em 10º com a canção "Grito", que foi interpretada por Iolanda.

Mas o que mais marcou o festival deste ano, foram os protestos contra a participação de Israel. 

A cantora israelita, Eden Golan, de apenas 20 anos, conseguiu o seu lugar na final com a canção "Hurricane." No entanto, desde logo, a versão inicial foi criticada e "teve de ser modificada por se considerar que fazia alusão ao ataque do Hamas em Israel, a 7 de outubro." Na Finlândia, vários ativistas invadiram a sede da televisão nacional, exibindo frases como "Boicote a Eurovisão" ou "Parem o genocídio". Estes manifestantes afirmaram que "Israel está a usar a Eurovisão como plataforma para branquear a sua imagem com a participação da cantora Eden Golan." 

Entre as vozes contra, manifestaram-se também vários intérpretes, incluindo da própria representante portuguesa, que mostrou nas unhas, cores e simbolos ligados à Palestina, e no final da sua atuação fez um apelo à paz. No início, logo no desfile de apresentação, a cantora portuguesa apostou num "vestido de uma marca de um designer de origem palestiniana, com o padrão do lenço keffiyeh, um lenço associado à causa palestiniana."

Apesar de terem sido permitidos apelos à paz na Ucrânia e o uso das cores da bandeira (que ainda ontem pudemos ver representada no simbolo da Eurovisão), a situação da Palestina não teve ontem o mesmo tratamento. Podemos falar este ano em censura? Um exemplo disso, foi o facto do vídeo da atuação portuguesa, não ter sido logo publicado no site oficial, depois da atuação de Iolanda. "A União Europeia de Radiodifusáo (EBU), organizadora do festival, optou por publicar o vídeo da semi-final em que a cantora portuguesa tinha apenas as unhas brancas, sem símbolos da Palestina." Só quase uma hora depois da atuação e com os protestos da RTP, o vídeo foi colocado no site.

Poucos minutos antes do festival começar, registaram-se "várias detenções em Malmö, na Suécia, num protesto que decorria junto ao edifício onde decorria o evento. A polícia recorreu a gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes."

Além dos apelos para que fosse vetada a participação de Israel, o Festival Eurovisão da Canção deste ano ficou "também marcado pela expulsão do representante dos Países Baixos, Joost Klein, anunciada horas antes da final deste sábado. De acordo com a EBU, o artista está a ser investigado pela polícia sueca na sequência de uma denúncia feita por uma mulher da equipa de produção," devido a um "incidente" ocorrido durante a semifinal do concurso.

É triste que um espetáculo tão bonito, esteja a ser cada vez mais afetado por motivos políticos e que não seja apenas um espaço de união. A música é essencial na vida dos povos, e tem sido ao longo dos anos um implusionador de mensagens políticas, mas não pode ser um fator de exclusão, na medida em que um artista não deveria ser conotado com o seu governo, mas sim e apenas com a sua música. É pena que ontem, se tenha assistido a extermos de ambos os lados e que os organizadores do concurso se tenham deixado afetar. Isso tirou a beleza à competição.

Fontes:

https://www.rtp.pt/noticias/cultura/suica-vence-o-festival-eurovisao-da-cancao_n1570884

https://sicnoticias.pt/cultura/2024-05-11-manifestantes-invadem-televisao-publica-finlandesa-para-exigir-boicote-a-eurovisao-ee32240d

 

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publicado às 16:42

Nos últimos dias tenho lido muitos relatos de antigos combatentes, sejam feitos pelos próprios, sejam pelos seus familiares, e muitas vezes tenho dado por mim a chorar com vários destes testemunhos e a pensar "Como é que foi possível?" e depois penso... muitos nunca foram devidamente ressarcidos daquilo que sofreram, daquilo que perderam...

A Guerra Colonial começou em 1961, onde a União dos Povos Africanos (UPA), subsidiada pelo então governo dos Estados Unidos torna Angola no "palco da primeira resistência armada ao colonialismo português." Em 1963, a ação estende-se à Guiné-Bissau e no ano seguinte, a Moçambique.

A NATO, a que Portugal tinha aderido, era também contra a existência de Colónias (e a solução encontrada por Salazar foi mudar-lhes a denominação para Províncias Ultramarinas). "Simultaneamente os Estados Unidos continuavam a pressionar na frente diplomática ao ponto de no dia 15 de março de 1961 nas Nações Unidas, ao lado da URSS, condenarem a repressão que se seguiu ao ataque às prisões de Luanda na madrugada de 4 de fevereiro por parte de nacionalistas angolanos." Salazar, que teria sido avisado "pela CIA de um ataque da UPA no norte de Angola  a coincidir com o debate sobre Angola nas Nações Unidas," não confiou na veracidade da informação. O gatilho desta guerra, que duraria 13 longos anos "começou norte de Angola, distrito de Malange, na Baixa do Cassange, motivado pelas condições de trabalho a que os agricultores estavam sujeitos," que os fazia viver na "miséria," e pela revolta que sentiam contra os maus tratos a que eram sujeitos pelos "funcionários da Cotonang." Este não foi episódio único e já a PIDE estava no local a realizar interrogatórios. "Os acontecimentos na Baixa do Cassange prolongam-se até março mas logo a 6 de fevereiro um loockeed PV-2 Harpoon bombardeia a região com napalm. O número de mortos não é certo, variando entre as dezenas e os milhares." (Na exposição que está no quartel do Carmo, podemos ver as máscaras de proteção utilizadas).

Mas o MPLA atribui o início das hostilidades ao momento do ataque às prisões de Luanda ocorridas a 4 de fevereiro desse ano, depois do navio Santa Maria (desviado pelo capitão Henrique Galvão), ter atracado em Luanda.

"No dia 15 de março, tal como a CIA tinha dito e tinha feito chegar a informação a Salazar, a UPA ataca dezenas de fazendas de café no norte de Angola são atacadas em simultâneo. Os ataques provocam 800 mortos portugueses e africanos," o que terá "sido determinante para o governo português perceber que a revolta estava em curso." Estes acontecimentos no norte de Angola, "lançaram o pânico entre os colonos portugueses. No espaço de uma semana, mais de 3 mil colonos foram evacuados desta região para Luanda." A situação complicava-se cada vez mais, com a demora da chegada dos reforços vindos da capital (chamada "metrópole") e com a formação de guerrilhas. "No dia 7 de maio, o governo do distrito de Carmona, ameaçado pelo assassinato de centenas de trabalhadores indígenas das suas fazendas, pedia ao governo-geral que enviasse urgentemente reforços militares." Várias operações vão tendo lugar, entre elas, a Operação Viriado, ou a Esmeralda, mas de ambos os lados os mortos e feridos são demasiados! 

Na Guiné, a situação já precária e sob a influência do que se passava noutras "províncias", leva a que a revolta começa em 1963, com guerrilhas do PAIGC a penetrar no território. "A fim de destruírem as bases de apoio às forças rebeldes, aviões portugueses largaram bombas e napalm sobre várias aldeias guineenses, situação que viria a ser denunciada pela Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas desse ano." A 25 de setembro de 1964, "tinham lugar os primeiros ataques da FRELIMO, em Cobué, no distrito do Niassa." Estava instalada a guerra em três frentes.

Em maio de 1968, o regime por temer a perda de controlo da situaçã na Guiné, "substitui os comandantes na altura, pelo Brigadeiro António Spínola" que era "filho de uma família abastada," tendo o seu pai sido "inspetor-geral de Finanças e chefe de gabinete de Salazar no Ministério das Finanças." António Ribeiro de Spínola é nomeado "governador e comandante-chefe da província." Spínola tinha estado em Angola entre 1961 e 1963 e conhecia já bem a especificidade dos movimentos de guerrilha. Mas, apesar do aparente sucesso da operação secreta, Mar verde, o "agravamento da situação na Guiné-Bissau" levou a que Spínola começasse "a duvidar cada vez mais da solução militar para este território. Em maio de 1972, o general encontrou-se no Senegal com o presidente Leopold Senghor a fim de preparar negociações de cessar-fogo com o PAIGC e de encontrar uma solução política para a guerra. Esta solução seria, no entanto, rejeitada por Marcello Caetano." Em janeiro de 1973, Amílcar Cabral foi "assassinado, em Kaloum," e segundo algumas versões, "a PIDE ou o próprio Spínola teriam estado envolvidos na organização e aprovação do atentado," o que foi negado pelo "o governo português." Em março desse ano, o PAIGC começou "também a utilizar misseis soviéticos terra-ar, acabando assim com a supremacia aérea portuguesa, essencial à contra-guerrilha."

Em Novembro de 1973, Spínola "é convidado por Marcello Caetano," que tinha substituído Salazar, "para ocupar a pasta de ministro do Ultramar, cargo que não aceita." 

A 17 de Janeiro de 1974, Spínola é ainda "nomeado para vice-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, por sugestão de Costa Gomes, cargo de que é demitido em Março, por se ter recusado a participar na manifestação de apoio ao Governo e à sua política." Acabaria, numa reviravolta que se pode dizer histórica e inusitada, por ser ela a aceitar, no Quartel do Carmo, a rendição do Governo, ou seja, a aceitar o poder em nome do Movimento das Forças Armadas, embora depois disso, nem sempre tenha estado do lado dos mesmos.

Destes conflitos, ou - se quisermos juntar "tudo" - da Guerra Colonial, chegaram muitos estropiados, outros tantos mortos! O que eu acho que se tem de trazer, ainda, para as mesas de debate, são a falta de cuidados que foram prestados às vítimas reais e com nome deste conflito! Depois da Revolução, não foram respeitados os direitos destes homens que, saindo do país (muitos deles obrigados), deixaram cá mulher, namorada, filhos, pais, avós... uma casa e um trabalho a que muitos não conseguiram regressar. Regressaram eles homens diferentes! Com outros medos e terrores e, também, alguns deles, com outros valores!

Um dos testemunhos que estive há pouco a ler foi o de uma filha. A filha de um homem que ela carateriza como trabalhador e lutador, apesar de ter sofrido graves ferimentos que o tornaram num dos muitos estropiados de guerra. Ela descreve que, na convivência com o seu pai, se foi apercebendo das graves consequências de uma guerra maldita - que muito além de físicas - são também psicológicas. Se lerem a totalidade deste relato talvez sintam, como eu, um murro no estômago. Desse relato são os seguintes excertos:

Creio que nunca fez as pazes consigo próprio por isso. Ou, pelo menos, nunca conseguiu apaziguar-se. Por ter marchado para o matadouro. Por se ter tornado carne para canhão. Por ter matado, visto morrer. Pelos horrores que fez, os horrores que viu fazer. “Tu não imaginas o que eu fiz”, dizia-me.

Quando tomavam consciência de que a nossa História, a história do colonialismo português, que não teve nada de brando, a história da Guerra Colonial, eram permanentemente branqueadas, e que eles próprios se tornavam num estorvo difícil de gerir. E a sua perplexidade quando, ainda hoje, a Guerra Colonial é nomeada de guerra do ultramar, quando as ex-colónias são chamadas de províncias ultramarinas.

Muitos dos que vinham feridos com gravidade, eram "descarregados" durante a noite para que o país não os visse e tivesse noção da realidade. Diz-se que "noventa por cento da população jovem masculina do país foi mobilizada para a Guerra do Ultramar." E diz-se também que esta Guerra "causou cerca de 10 mil mortos e 20 mil inválidos entre os soldados e mais de 100 mil vítimas entre os civis que viviam nas colónias."

Vejam este pequeno filme da RTP Ensina e oiçam também esta canção de Paco Bandeira, que retrata as dificuldades dos tempos da Guerra Colonial. 

Num outro testemunho, publicado no CM, um ex-combatente (da Cavalaria 2, Moçambique) explica como foi a sua passagem pela Guerra Colonial.

Passados seis meses em Lourenço Marques calhou-me a parte difícil. Estive 18 meses em Mueda, o coração da guerra. Havia picadas, minas, escoltas a viaturas para abastecer, capturas é que não fazíamos. As picadas eram as estradas sem alcatrão, com muitas minas anti-carros e anti-pessoais. Feridos e mortos eram muitos, e botas ainda com o pé, separadas do corpo, era o que se via mais. Ainda me custa falar disso; as cenas voltam à memória quando se fala delas.

Nas colunas, havia um grupo que ia à frente com arame grosso, e esses é que sofriam. Quando detectavam alguma coisa eu tinha o papel ingrato de decidir o que fazer. Éramos obrigados a levantar minas, pois o Salazar queria exibir isso como troféu junto das Nações Unidas, mas nós fazíamos o rebentamento, pois era menos arriscado. Ainda assim, houve muitos feridos e estávamos dependentes da sorte. 

E os traumas... os traumas não eram só físicos. Leiam o depoimento desta mulher, de nome Diana, que fala da situação que viveu ao longo da sua infância e juventude com o pai (ex-combatente). Fica aqui apenas um pequeno excerto, o resto é o retrato de tantas outras casas e famílias portuguesas.

"Não me lembro de o meu pai me dar carinho, sou a mais velha de sete filhos e não me lembro de andar ao colo. Quando ele chegava do trabalho, a minha mãe fazia questão de eu já estar a dormir porque pela mais pequena coisa havia logo um estalo... Às vezes olhava para outras crianças na escola e fazia comparações, via os pais a passar a mão pela cabeça dos filhos e pensava que gostava que o meu pai me fizesse o mesmo."

No mesmo artigo, existem outros testemunhos, bastante dolorosos. O de Sandra é um pouco diferente, mas retrata também um pai sempre em alerta.

"A minha mãe contava que, quando se casaram, o meu pai se escondia debaixo da cama por causa dos foguetes, não podia ouvir barulhos, era um pouco agressivo com os animais. Mas nunca foi agressivo para a minha mãe, nem para nós."

Em ambos os casos, a ajuda extende-se aos filhos e às mulheres destes ex-combatentes, que sofrem de stress pós-traumático secundário, por conviverem ao longo de vários anos com as ações e reações dos seus familiares. Infelizmente, a ajuda é pouca. "Existe uma Rede Nacional de Apoio (RNA) para acompanhar os militares com perturbação psicológica crónica resultante da exposição a fatores traumáticos de stress durante a vida militar."

A RNA, tem como principais objetivos: "informar, identificar e encaminhar os casos de PTSD adquiridos em contexto de guerra, e prestar serviços de apoio médico, psicológico e social aos utentes da RNA, em articulação com o Serviço Nacional de Saúde (SNS)."

Segundo dados de 2019, do "Ministério da Defesa, há 2073 utentes da rede inscritos nas cinco associações protocoladas: Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra (APVG), Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress de Guerra (APOIAR), Associação de Combatentes do Ultramar Português (ACUP) e Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar (ANCU). Das pessoas que recebem apoio desta rede, 139 são mulheres e 85 são filhos."

Fontes:

https://www.esquerda.net/dossier/estilhacos-de-uma-guerra-maldita/63480

https://media.rtp.pt/descolonizacaoportuguesa/pecas/a-guerra-instala-se-em-tres-frentes/

https://www.rtp.pt/programa/tv/p32446/e26

https://www.presidencia.pt/presidente-da-republica/a-presidencia/antigos-presidentes/antonio-de-spinola/

https://www.dn.pt/edicao-do-dia/09-mar-2019/interior/guerra-colonial-os-traumas-herdados-pelos-filhos-dos-ex-combatentes-10480419.html/

https://www.cmjornal.pt/domingo/detalhe/nao-houve-dia-sem-mortos-e-estropiados

 

 

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publicado às 16:29

25 anos - O maior desfile de palhaços

por Elsa Filipe, em 12.02.24

As minhas memórias de juventude passam pelo Carnaval de Sesimbra e pela participação nos desfiles de palhaços à segunda-feira. Lembro-me quando foi a primeira vez e só agora percebi que já lá vão 25 anos. Tanto tempo que já passou, milhares e milhares de palhaços que calcorrearam aquela calçada, aquelas ruas, aquela praia! Este ano, estive a trabalhar e por isso não consegui estar presente nesta grande festa! Mas ao longo desta minha postagem, vão espreitando algumas imagens de anos anteriores! Venham recordar comigo alguns momentos das tardes fantásticas das "Segundas dos Palhaços."

Bem, então voltando atrás no tempo, estávamos em 1999 quando esta brincadeira começou. Os pioneiros, primeiros foliões a achar que seria engraçado mascararem-se de palhaços e juntarem-se para fazer umas brincadeiras na tarde de segunda-feira (numa época e região que, devemos lembrar, quase ninguém trabalhava nestes dias e em que não havia escola) foram Carlos Silva, Paulo Soromenho, Pedro Canana, Raúl Custódio, Henrique Amigo, entre outros. 

O primeiro desfile chamou-se "Simpatia é Quase Amor," mas os organizadores não faziam "ideia do sucesso que este acontecimento iria alcançar." Poucos meses antes, a TVI tinha estreado o programa "Batatoon." Não levou muito tempo até que este se tornasse "um dos grandes momentos do Carnaval de Sesimbra, mas também no maior desfile do género que se realiza em Portugal e no mundo, juntando todos os anos milhares de pessoas vindas de vários pontos do país." Os números são espetaculares - falamos num cortejo que já chegou a levar "perto de 4 mil mascarados de todas as idades" - tal como é a imagem do mar de cores que invade a marginal de Sesimbra. Até mesmo os animais de companhia são levados a participar! A animação e a música - onde não faltam as tradicionais marchinhas de carnaval - acompanham todo o desfile! 

A participação é livre e basta vir vestido de palhaço. Alguns foliões trazem consigo vários apetrechos, como por exemplo "veículos de todos os feitios, desde barcos com rodas, naves espaciais, triciclos com asas," entre outras coisas! E vocês? Que memórias têm destes 25 anos?

Fontes:

https://www.sesimbra.pt/noticia-72/carnaval-cortejo-de-fantasias-de-palhaco

https://www.sesimbra.pt/noticia-72/cortejo-de-fantasias-de-palhaco-62

 

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publicado às 18:30

Sara Tavares

por Elsa Filipe, em 19.11.23

Lembro-me de a ver no Festival da Canção. Foram dezenas de vezes talvez que ouvi a musica e que a cantei. Eu que ainda era uma menina, admirava aquela jovem apenas cinco anos mais velha do que eu e com uma voz fabulosa. A sua participação no "Chuva de Estrelas" fica também marcada na nossa memória. A sua carreira passou depois por outros estilos musicais. A cantora, de ascendência Cabo-verdiana, fez uma pausa na carreira em 2009, na sequência do diagnóstico de um tumor cerebral, mas acabou por voltar e, em 2018, chegou a ser nomeada para um Grammy Latino.

A cantora Sara Tavares morreu este domingo, vítima de tumor cerebral, avançou a SIC Notícias e confirmou a CNN Portugal. Tinha 45 anos. Sara Tavares estava internada na Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital da Luz, em Lisboa. Apesar de ela já estar internada, não vemos a sua morte sem surpresa, por ser tão nova e ter ainda uma luz tão forte. É uma referência na nossa música mas também na música africana.

O primeiro álbum da cantora e compositora, "Sara Tavares & Shout!" foi editado em 1996, dois anos depois de vencer o Festival da Canção da RTP com o tema "Chamar a Música" e que representou Portugal na Eurovisão, tendo ficado em oitavo lugar. E nas duas décadas seguintes, editou vários álbuns que a aproximaram das raízes cabo-verdianas, com destaque para "Balancê" (2005), que lhe valeu um disco de platina e uma nomeação como "Artista Revelação" para o prémio BBC Radio 3 World Music. Em 2011, recebeu o Prémio de "Melhor Voz Feminina" nos Cabo Verde Music Awards e no ano seguinte deu continuidade à digressão internacional "Xinti", título do álbum editado em 2009, que lhe valeu o Prémio Carreira do "África Festival" na Alemanha.

Fontes:

https://cnnportugal.iol.pt/sara-tavares/morreu-a-cantora-sara-tavares/20231119/655a7708d34e65afa2f7bc92

https://www.dn.pt/cultura/morreu-a-cantora-portuguesa-sara-tavares-17366594.html

 

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publicado às 22:00

Cantar Abril - o poder das canções

por Elsa Filipe, em 24.04.23

Este ano não vou sair de casa para ir ver um concerto, uma vez que aqui onde moro não me agrada particularmente (nem canda Abril). Sou uma pessoa de hábitos e há aqueles dias em que a música que me faz sentido é aquela que lhe associo.

Nestes dias, faz-me sentido ouvir as grandes cantigas portuguesas, boa música, poemas escritos por Ary dos Santos ou por José Niza, com os orquestramentos próprios dos grandes Festivais de então, ou aquelas músicas que se ligaram a este momento para sempre, como "Grândola, Vila Morena", de José Afonso e direcção musical de José Mário Branco.

Esta música foi utilizada como segunda senha da revolução e é, ainda hoje, a música que mais se identifica com o que aconteceu nesta data.

“Grândola, vila morena” foi anunciada aos 25 minutos do dia 25 abril de 1974 por Leite de Vasconcelos, no programa “Limite” da Rádio Renascença, confirmando aos muitos militares que esperavam atentos, que a Revolução estava na rua e que iriam de facto avançar na mobilização de forças para tomar pontos estratégicos especialmente na capital. Uma hora e meia antes, tinha sido emitida a primeira senha, nos Emissores Associados de Lisboa, “E depois do Adeus”, um tema interpretado por Paulo de Carvalho.

Fontes:

https://ensina.rtp.pt/artigo/grandola-a-musica-da-revolucao/

https://www.timeout.pt/porto/pt/musica/cantar-abril-uma-duzia-de-cancoes-revolucionarias

 

 

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publicado às 10:06

Mimi vence Festival

por Elsa Filipe, em 12.03.23

Mimicat é a vencedora deste ano do Festival RTP da Canção, com "Ai coração", uma música alegre, divertida, com sonoridades da música tradicional portuguesa misturadas, misturadas com ritmos latinos e pop music.

Performer, intérprete e compositora desde muito jovem, Mimicat, o alter ego de Marisa Isabel Lopes Mena, nascida há 38 anos em Coimbra, surgiu em 2014, depois de uma muito aguardada revelação de uma cantora que gravou o primeiro disco aos 9 anos. Com uma voz quente e forte, característica da soul-pop anglo-saxónica, edita em 2014 o seu primeiro álbum como Mimicat, intitulado For You, que teve como primeiro single o tema Tell Me Why. De 2015 a 2016 passou por alguns dos maiores palcos portugueses (Festa do Avante, Sol da Caparica, Edp Cool Jazz, Meo Marés Vivas, Culturgest, entre outros) e fez a sua estreia internacional com concertos no Brasil. Num registo pop sem nunca perder a força e o carisma que a caracterizam, lançou em 2017 o álbum Back in Town.

Em 2019, Mimicat lança a sua primeira canção em português, Até ao Fim, uma homenagem aos 50 anos de amor dos seus pais, e que surgiu durante a sua gravidez. Depois da paragem para o primeiro filho, regressou em 2021 com o single Tudo ao Ar. No ano passado, apresentou o novo single em português Mundo ao Contrário.

Participou, com apenas 15 anos e com o nome artístico de Izamena, na 3ª semifinal do Festival RTP da Canção 2001 com a canção "Mundo Colorido", mas não conseguiu nesse ano a passagem à final.

Segundo a própria, a Mimicat é "uma Marisa um bocadinho mais vaidosa, um bocadinho mais atrevida. É aquilo que a Marisa não pode ser no dia-a-dia, quando vai na rua". O pseudónimo soou-lhe bem no primeiro instante. Afinal, já há muitos anos que era chamada de Mimi pela família. Bastou juntar Cat à alcunha, para dar um toque mais pessoal ao nome.

A inspiração para escrever as canções e para escolher a sua sonoridade, provém de músicos como Ella Fitzgerald, Jill Scott ou Ray Charles. com uma clara preferência por músicos que vão desde os anos 30/40 até aos anos 70.

Mimicat aposta forte na imagem, no realce da beleza feminina.

Festival RTP da Canção 2023 foi o 57º Festival RTP da Canção. A primeira semifinal teve lugar no dia 25 de fevereiro e a segunda no dia 4 de março, nos estúdios da RTP, em Lisboa. A final foi disputada no dia 11 de março, também nos estúdios da RTP. 

A RTP convidou 15 compositores para que apresentassem uma canção original e inédita, sendo estes os responsáveis por definir os respetivos intérpretes para as suas canções.

As restantes cinco vagas de compositores resultaram da abertura a candidaturas espontâneas de canções originais e inéditas com uma duração máxima de três minutos. Aqui, puderam concorrer todos os cidadãos de nacionalidade portuguesa ou residentes em Portugal, tivessem ou não trabalhos publicados, o que inclui os portugueses que vivam fora do país, assim como os cidadãos dos PALOP ou de outras nacionalidades que residam em Portugal.

Foi constituído um júri para as avaliar, sendo os concorrentes vencedores convidados a apresentá-las a concurso nesta edição. Segundo as regras, cada canção tem a duração máxima de 3 minutos, podendo ser apresentada em português ou numa outra qualquer língua estrangeira.

 

Fontes:

https://media.rtp.pt/festivaldacancao/autores/mimicat/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Mimicat

https://mag.sapo.pt/musica/artigos/mimicat-a-mimicat-e-a-marisa-um-bocadinho-mais-vaidosa-e-um-bocadinho-mais-atrevida?artigo-completo=sim/

https://media.rtp.pt/festivaldacancao/artigos/mimicat-e-a-grande-vencedora-do-festival-da-cancao-2023/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Festival_RTP_da_Can%C3%A7%C3%A3o_2023

 

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publicado às 12:50

Claudisabel

por Elsa Filipe, em 19.12.22

A vida termina num sopro. Depois de uma tarde animada, a trabalhar em Castanheira de Pera, Cláudia entra no carro e segue em direção ao Algarve. A viagem termina abruptamente na zona de Álcácer, onde em plena A2 é abalroada por outra viatura, quando, aparentemente, estaria parada na berma, após sinalizar a viatura e regressar ao seu interior. 

Não sabemos o que se terá passado, mas a vida desta cantora de apenas 40 anos, foi-lhe roubada num segundo. Parada no local errado, à hora errada. 

Cláudia nasceu em Faro em 1982 e a sua carreira como artista começou em 1995 com apenas 13 anos, com o seu primeiro álbum, "Dizias Tu, Pensava Eu". Em 1998 lançou o disco "Pensei Com o Coração", e no mesmo ano a artista participou na coletânea "De mãos dadas". Foi no ano de 1999 que obteve o seu maior sucesso apresentando o tema "Preciso de um Herói".

Já em 2001 lança o seu 4.º disco, de nome "Meu Sonho Azul", que voltou a ter mais um grande sucesso na sua carreira, com o tema "Não vou voltar a chorar".

Em 2002 num outro formato a artista arrisca participar na segunda edição do Big Brother Famosos.

No ano de 2005 surgiu "Preto no Branco" e em 2009 a cantora voltou a surgir no mercado com o álbum "Quem és tu". Em 2010 participou no Festival RTP da canção, pelas mãos de produção do compositor Jordi Cubino, com o tema "Contra Tudo e Todos", tendo passado até às semi-finais.

Claudisabel tinha sido vítima de um aparatoso e grave acidente de viação em 2019, quando uma viatura não respeitou um sinal vermelho. Deste resultaram consequências graves, tendo ficado com uma lesão na coluna que lhe provocou duas hérnias e uma compressão cervical que lhe tornva difíceis alguns movimentos. Ficou ainda com uma lesão na vista, uma perda de visão significativa e uma pressão ocular muito elevada.

Regressa aos discos em 2020, com uma abordagem diferente, um estilo musical totalmente renovado e uma imagem marcante, com o seu single "Condenada".

Nestes momentos tão duros, não podem haver palavras que confortem a família e os amigos - e ela parecia ter tantos a gostar dela, como se vê agora nas redes sociais. Cada dia é uma dádiva que nos pode ser retirada a qualquer momento e somos um grão de areia neste universo.

 

 

Fontes:

https://www.dn.pt/cultura/cantora-claudisabel-morre-em-acidente-na-a2-tinha-40-anos-15513455.html

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publicado às 23:14

Ucrânia vence Festival Eurovisão

por Elsa Filipe, em 15.05.22

A grande final da Eurovisão realizou-se ontem em Turim, Itália. A Ucrânia, com a canção "Stefania", da Kalush Orchestra, é a grande vencedora do Festival da Eurovisão 2022. Esta é a terceira vitória da Ucrânia neste evento e desde logo se assumiu como a grande favorita desta edição. É a primeira vitória na Eurovisão de uma canção com componente hip-hop.

"Saudade, Saudade", na voz de Maro, de 27 anos, conseguiu o nono lugar, igualando a classificação de Tonicha, em 1971, com "Menina" e de Manuela Bravo em 1979, com "Sobe, Sobe, Balão Sobe". De recordar que Portugal participa no concurso europeu desde 1964, tendo vencido pela primeira e única vez em 2017 com o tema “Amar pelos Dois”. Salvador Sobral continua a ser o vencedor com a maior pontuação de sempre na Eurovisão (758 pontos).

Fontes:

https://expresso.pt/blitz/2022-05-14-Ucrania-e-a-vencedora-do-Festival-da-Eurovisao-2022-9be4766b

https://media.rtp.pt/extra/noticias/ucrania-vence-eurovisao-2022-portugal-no-top10-com-segundo-melhor-resultado-de-sempre/

 

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publicado às 12:18


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