Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


1º de Maio...

por Elsa Filipe, em 01.05.25

Este 1º de Maio foi um pouco estranho... depois de ter colocado a morte de um Papa à frente da celebração da Liberdade do país, a AD fez do Dia do Trabalhador, uma festa popular, ou como alguns chamaram "popularucha"... 

Depois do 25 de Afril de 1974, a Junta de Salvação Nacional (onde estavam representados os três ramos das forças armadas), "decretou feriado o dia 1 de Maio e, pela primeira vez em quase cinco décadas, o dia do trabalhador voltou a ser assinalado. Nesse dia, as pessoas vieram para a rua, empunhando cartazes e gritando "reivindicações de toda a ordem," demonstrando "de forma espontânea a sua alegria pela liberdade recentemente conquistada." Entre muitas outras coisas, pediram-se "direitos para as mulheres, para as crianças, para todos os partidos, para os artistas e para a imprensa, melhores salários" e, até, água canalizada.

(imagem: Museu do Aljube)

Em 1974, as "manifestações do Dia do Trabalhador que ocorreram em Lisboa e no Porto em 1974 impressionaram na dimensão, no exemplo de civismo e na genuína alegria partilhada entre todos, conhecidos e desconhecidos." Atualmente, descer a Avenida da Liberdade em Lisboa, ainda não é para todos.

"Em Lisboa, a Alameda Afonso Henriques foi ponto de encontro e o comício ocorreu depois no Estádio" da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, "onde muitos milhares de pessoas se juntaram nesse dia sob o lema “Paz, Pão e Liberdade!" e onde "Mário Soares" (socialista) "e Álvaro Cunhal" (comunista), "apareceram lado a lado", abraçando-se e, juntos, "celebrando a recentemente conquistada liberdade."

"Nos desfiles e comícios havia bandeiras nacionais e flores, estandartes de partidos e sindicatos, cartazes populares e milhares de vozes unidas na banda sonora da revolução. Ao mesmo tempo que cantarolavam a Grândola de Zeca Afonso e outras canções proibidas pela censura, gritavam palavras de ordem contra o fascismo e em defesa dos valores da democracia." Com este governo, quem cantou foi Tony Carreira e a festa foi feita nos Jardins do Palácio de Belém.

A origem desta data é, no entanto bem anterior a 1974. Remonta sim "ao século XIX." Em 1886, "milhares de trabalhadores" dos Estados Unidos, "organizaram uma greve geral para exigir a redução da jornada laboral para oito horas por dia." Estas manifestações, tornaram-se "particularmente violentas." Na cidade de Chicago, os ânimos exaltaram-se e a situação tomou proporções muito graves quando no dia 04 de maio, durante um protesto na Haymarket Square, "foi lançada uma bomba contra a polícia" o que levou à intensificação dos confrontos já de si violentos. "Várias pessoas morreram e líderes sindicais foram condenados à morte ou prisão."

"Três anos depois, em 1889, o Congresso Operário Internacional, em Paris, decidiu homenagear os trabalhadores de Chicago e instituiu o 1.º de Maio como dia de luta internacional pela melhoria das condições de trabalho." Em Portugal, a ditadura proibiu as comemorações, que tinham sido assinaladas pela primeira vez em 1890. 

Numa data que é, acima de tudo, simbólica, surgem agora novas questões e novas reinvindicações: "o impacto da automatização e da inteligência artificial, os efeitos da pandemia na organização do trabalho, a importância da conciliação entre vida pessoal e profissional e as desigualdades que persistem entre setores e entre homens e mulheres." Ainda hoje, tantos anos depois, os direitos não são ainda iguais para todos, os ordenados diferem pelo sexo do trabalhador e ainda há mulheres a morrer às mãos dos maridos que as consideram sua propriedade. Não podemos deixar cair a liberdade, não podemos esquecer que os nossos direitos ainda não estão seguros! 

Fontes:

https://ensina.rtp.pt/artigo/a-junta-de-salvacao-nacional-primeiro-poder-apos-a-ditadura/

https://ensina.rtp.pt/artigo/o-primeiro-1-o-de-maio-da-democracia/

https://ensina.rtp.pt/artigo/o-povo-unido-jamais-sera-vencido/

https://sicnoticias.pt/pais/2025-05-01-1.-de-maio-historia-lutas-e-os-novos-desafios-do-trabalho-b077aa0e

https://sicnoticias.pt/pais/2024-05-01-video-o-primeiro-dia-do-trabalhador-em-liberdade-como-foi-o-1-de-maio-ha-50-anos--4d34e069

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 23:52

Que não se deixe calar Abril

por Elsa Filipe, em 25.04.25

Como um dia Ary dos Santos afirmou num dos seus célebres poemas, "agora ninguém mais cerra, as portas que Abril abriu". Mas se este era o desejo do poeta... 50 anos depois, ainda há restícios de um país com medo da Liberdade!

Ontem à noite, assisti aqui no Seixal ao concerto de celebração dos 51 anos da Revolução de Abril, com a atuação de A Garota Não e de Ségio Godinho. Duas vozes diferentes, de gerações diferentes mas que se conjugaram de forma brilhante. Com letras carregadas de simbolismo e que fazem uma verdadeira reflexão sobre os tempos em que vivemos, A Garota Não, que cantou "Diga 33", uma letra dedicada ao trabalho de Sérgio Godinho, mostrou-nos também que ainda há espaço para as cantigas de intervenção. Sérgio Godinho e Os Acessores, trouxeram-nos as canções de Abril, sem esquecer a poesia de Eugénio de Andrade e de Zeca Afonso. De entre bgrande momentos desta noite, a cantiga "A Balada da Rita", uma versão de arrepiar de "Os Vampiros" cantada a dois. Ums dupla que me surpreendeu pela positiva, seguido de um espetáculo de fogo de artifício que, pelo que estamos acostumados, foi bastante mais contido e concentrado.

E porque é que este ano eu falo deste espetáculo de abril?

Porque em muitos locais, num país que é laico, pela sua constituição, se pararam as celebrações por luto ao Papa. Se somos um país em que todas as religiões são permitidas, então como é que se faz luto ao chefe máximo da igreja católica e não se declarou luto nacional por exemplo, pela morte do Aga Khan, líder dos muçulmanos ismailitas, que até presidia em Lisboa? Ninguém põe em causa a importância da figura do Papa, especialmente deste Papa, amado por tantos e repeitado por muitos, católicos ou não. Mas, não consigo entender como é que o governo coloca à frente da Liberdade e da Democracia, à frente do país, o representante de uma religião, fosse ela qual fosse. Reforço, na Constituição da República, diz que somos um país Laico. Mas parece que é mais uma daquelas coisas que está escrita, sem no entanto ser posta em prática pelos nossos governantes. 

A religião não pode fazer parte das decisões do país nem nelas ter qualquer interferência. Infelizmente. este não é o primeiro caso em que isso acontece e, especialmente, num dia de celebração da Liberdade, esta interferência revolta-me. Sejam lá o que quiserem, acreditem naquilo que queiram, mas não, por favor, não imponham aos outros as vossas crenças e credos. Faleceu um homem bom, um diplomata, um pacificador, um revolucionário que de certeza defenderia que celebrassemos a nossa liberdade e que afirmassemos os valores de democracia e de paz!

A câmara de Almada manteve os eventos programados, mantendo também "a sessão solene da Assembleia Municipal, no qual se homenageiam "os valores de liberdade," cancelando apenas o fogo de artifício. A Câmara de Sintra, chegou mesmo a cancelar a "tradicional cerimónia de hastear da bandeira, nos Paços do Concelho." E não se pense que isto tem apenas a ver com a cor política, pois em Beja, mesmo "depois de o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, ter criticado o executivo de Luís Montenegro por ter adiado festividades," o presidente da Câmara, autarca do PS, cancelou o "fogo-de-artifício em Beja," devido ao luto nacional de três dias que foi "decretado pelo Governo pela morte do Papa Francisco." 

O governo, ao ser criticado. veio já esclarecer que não “cancelou”, nem "recomendou o cancelamento de quaisquer sessões evocativas da revolução," tendo no entanto "adiado para o dia 1 de Maio o evento festivo na residência oficial do primeiro-ministro". E a razão evocada para que os concertos ficassem "adiados para o 1.º de Maio," foi "por o país estar em luto nacional pela morte do Papa Francisco."

Noite fora, fui vendo pela televisão o que se estava a passar no Largo do Carmo, "um dos locais mais simbólicos do 25 de Abril de 1974 por ter sido no quartel da Guarda Nacional Republicana (GNR) lá situado que Marcello Caetano se refugiou antes de o edifício ser tomado por uma companhia do Movimento das Forças Armadas liderada por Salgueiro Maia o ter tomado." Tal como ocorreu no ano passado, e mais uma vez sem contar com o apoio da Câmara de Lisboa, o povo juntou-se e entoou "Grândola Vila Morena", de Zeca Afonso.

Uma frase que me fica do dia de hoje, foi a acusação de Pedro Nuno Santos, repetida em vários canais televisivos é a seguinte "Hoje o povo sai à rua, enquanto o Governo fica à janela."

Fontes:

https://www.publico.pt/2025/04/24/politica/noticia/governo-esclarece-nao-cancelou-cerimonia-25-abril-deu-indicacoes-municipios-2130865

https://cm-sintra.pt/atualidade/cultura/aviso-comemoracoes-do-25-de-abril-canceladas

https://almadense.sapo.pt/cidade/25-de-abril-almada-cancela-fogo-de-artificio-devido-a-morte-do-papa/

https://www.publico.pt/2025/04/24/politica/noticia/autarca-ps-cancela-fogodeartificio-beja-devido-tres-dias-luto-nacional-2130918

https://www.dn.pt/sociedade/veja-os-v%C3%ADdeos-multid%C3%A3o-invadiu-largo-do-carmo-para-cantar-gr%C3%A2ndola-%C3%A0-meia-noite

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 16:50

Irá o 25 de Abril ser um dia esquecido?

por Elsa Filipe, em 24.04.25

Assusta-me pensar que um dia, os nossos jovens deixem de saber o que aconteceu na Revolução. E não é por falta de se falar sobre isso - pois fala-se e muito - é por falta de interesse, por desvalorização daquilo que é a nossa história, por uma orientação para novos valores. Não se pode falar ainda em saudosismo, mas quando a nossa juventude, os futuros homens do amanhã, dizem que não lhes interessa saber o que era a ditadura, não sabem o que é o fascismo e não sabem que importância tiveram os capitães de abril... penso que estamos em risco de perder a luta no futuro.

Por isso, sim, vou ser chata e continuar a falar e a escrever sobre o mesmo. A ensinar mesmo quando não lhes apetece aprender, a tentar mostrar que se hoje podem abrir um site e ler sobre o que se passa em qualquer parte do mundo, isso se deve a uma luta que, infelizmente, ainda não terminou. Quando um aluno não reconhece importância às primeiras eleições onde as mulheres puderam votar em igualdade com os homens, algo se tem vindo a perder na nossa sociedade. Quando um juíz acusa uma vítima de se insinuar e ser culpada por ser violada, algo de muito mau se está a passar neste país. Quando um político não respeita a casa da democracia, que exemplo é dado à juventude? 

Abril.

Abril é  para mim o mês da Liberdade, uma data a assinalar, venha quem viar, haja ou não luto nacional. Não me interessa quem está no governo, quem tenta ditar as leis ou quem tenta impor as suas crenças. Num estado livre e laico, irei sair à rua e celebrar a Liberdade. Hoje, amanhã e sempre!

Devo muito.

Devo muito aos homens e mulheres que morreram pelo meu país. Sim. Pelos que morreram, também. Não foram só os militares que naquele dia se encheram de coragem e saíram à rua, foram anos de luta contra uma autoridade que não tinha dó em acusar, em prender, em torturar e matar! Foram anos de censura, anos de medo e de repulsa, contra um regime contra o qual não se podia sequer tossir. E é para que esses dias não voltem, para que o medo se continue a afastar - continue, sim, pois ainda temos muita gente a viver com medo -  que eu continuarei a ler, a escrever, a falar sobre a Liberdade, sobre a importância da nossa história.

Não se calem!

Gritem pela liberdade! Defendam os valores de Abril.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:55

Durante a manhã de 11 de março de 1975, "Lisboa é palco de inesperadas movimentações militares: uma parelha de T6 sobrevoa Lisboa a baixa altitude em ação de intimidação." Mais tarde, pelas 11h50, "forças da Base Aérea n.º 3 atacam o Regimento de Artilharia Ligeira n.º 1 (RAL 1), provocando um morto e 14 feridos."

Ao princípio dessa tarde, "o general António de Spínola e os principais implicados no golpe fogem para Espanha."

A Intentona de "11 de Março de 1975 apenas é compreensível se analisarmos de uma forma mais ampla os acontecimentos e processos que tiveram lugar desde o 25 de Abril de 1974 e, em particular, a partir do 28 de Setembro."

Ocorre que depois da revolução de abril de 1974, as forças políticas ligadas a Spínola e à direita democrática, queriam que "Portugal liderasse uma organização" em que estivessem incluídas as antigas colónias, e que nestas fossem garantidos os interesses do país. Ora esta posição é oposta à defendida pelos militares que tinham preparado o 25 de Abril, "principalmente os membros do Movimento das Forças Armadas (MFA)."

Este Movimento apoiava por sua vez "os partidos totalitaristas marxistas africanos que estavam a consolidar controlo dos territórios recém-independentes, chegando os portugueses do MFA até a posicionar-se contra as organizações de nativos oposicionistas," apoiando a sua "supressão." 

Os "novos regimes africanos em consolidação," não poupam nem os portugueses que por lá se tinham mantido, nem os "autóctones, que são apoiantes do antigo regime ou pertencentes a facções opostas," o que leva a uma situação de precariedade, "com crescentes conflitos, perseguições políticas e exclusões dos processos transicionários na forma de violência, exílios, prisões e mesmo mortes." Spínola queria fazer valer a "independência dos territórios," garantindo a estabilidade dos portugueses, enquanto o MFA, cansado da guerra, queria fazer sair, quão rapidamente fosse possível, as tropas, não se mostrando "dispostos a prolongar a sua presença em África."

Em setembro de 1974, "na tentativa de contrariar uma viragem à esquerda liderada por diversas forças, Spínola" promove "a realização de uma manifestação de apoio à sua política." No entanto, essa manifestação acaba por ser inviabilizada por um grupo de civis apoiantes da esquerda e por "elementos do Movimento das Forças Armadas (MFA)." Em consequência desta derrota, o general Spínola demite-se e é substituído por Costa Gomes. 

Demitem-se também os "ministros da Defesa e da Comunicação Social, Firmino Miguel e Sanches Osório, respetivamente." A 1 de outubro de 1974 toma posse o III Governo Constitucional, que se torna "o segundo mais longo de todo o processo revolucionário português, abrindo uma fase de alguma estabilidade." É constituído ainda o "Conselho dos Vinte, organismo que reúne todos os oficiais com funções político-militares: membros da JSN, da Coordenadora do MFA, comandante-adjunto do COPCON e ex-membros da Coordenadora que, nesse momento, desempenhavam funções de ministro ou Alto-Comissário." Pretendia-se assim articular a "intervenção política dos militares e evitar as decisões de cúpula da JSN."

No entanto, a imagem internacional do país passa a ser uma preocupação.

A de março de 1975, Spínola é informado de um possível ataque que visaria a direita. Perante esta suposição denunciada pelos "serviços secretos espanhóis" é preparado um "novo golpe."

Segundo informação que correu então, "1500 pessoas ligadas à direita," estariam sob a mira de forças de esquerda, ligadas ao PCP e à União Soviética. Esta operação (também conhecida como operação matança da Páscoa e que teria entre as personalidades a abater 500 oficiais e 1000 civis apoiantes de Spínola), levou a que no dia 11 de março, o Regimento de Artilharia de Lisboa fosse "atacado por aviões e helicópteros da Força Aérea e por unidades de paraquedistas. Um soldado é morto durante o ataque e, no dia seguinte, regista-se também a morte de um civil." 

Perante tal falha, "Spínola escapa de avião para Espanha e outros oficiais pedem asilo político noutras embaixadas localizadas em Lisboa." Uma das consequências é a radicalização "à esquerda" e a consequente nacionalização (nomeadamente, da banca). Mais tarde, "Vasco Lourenço, implicado nesta alegada ação," acabaria por declarar "que não havia lista nenhuma na operação matança da Páscoa, e que afinal tinham "sido serviços de informação americanos ou russos que puseram a circular essa ideia com o fim de «lançar a casca de banana aos spinolistas»." 

Fontes:

https://50anos25abril.pt/historia/11-de-marco/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Golpe_de_11_de_Mar%C3%A7o_de_1975

https://ensina.rtp.pt/artigo/a-tentativa-de-golpe-de-11-marco-de-1975/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Opera%C3%A7%C3%A3o_Matan%C3%A7a_da_P%C3%A1scoa

https://50anos25abril.pt/historia/11-de-marco/equilibrios-politicos-no-pos-28-de-setembro/

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 23:08

Há 25 anos, Timor foi a eleições e, além da independência, ganharia então a vontade de construir uma democracia firme. "Depois de uma colonização de quase cinco séculos, pelos portugueses, e 24 anos de ocupação indonésia, o povo timorense foi chamado no dia 30 de agosto de 1999 para votar se queria livrar-se dos ocupantes ou manter-se sob a sua governação." O ato foi de facto um marco importante, em que a verdadeira vontade daquele povo foi mostrada ao mundo. Na verdade, "ninguém, nem o próprio presidente indonésio, que aceitou o referendo após longa batalha diplomática entre Portugal, Indonésia e as Nações Unidas, esperava tamanha afluência às urnas."

António Guterres, antigo primeiro ministro português, está presente em "Díli para participar nas celebrações dos 25 anos do referendo que levou à restauração da independência do país, pondo fim à ocupação Indonésia" junto com outros representantes nacionais e internacionais. Ao atual secretário-geral da ONU foi atribuída hoje a cidadadina timorense.

Guterres encontrou-se hoje com "o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão", uma das figuras mais importantes em todo este processo, a quem "António Guterres prestou também homenagem", destacando o seu papel "enquanto líder da resistência timorense e pela forma como defendeu a independência do seu povo detido em Jacarta, capital da Indonésia," bem como, no seu papel na "transformação de Timor-Leste num país independente, democrático, respeitador dos direitos humanos e que se afirma internacionalmente com crescente influência."

Guterres referiu ainda, que tinha ficado "impressionado com o compromisso do Governo timorense em matéria de segurança alimentar e investimento na agricultura," o que considerava ser um "desafio crucial para o êxito do desenvolvimento, saúde, educação e infraestruturas."

"Timor-Leste aderiu no início do ano à Organização Mundial do Comércio, é fundador do G7+ e deverá aderir à Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) no próximo ano."

Uma outra figura importante neste processo, foi Durão Barroso, que em "1992, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal," participou em "quatro rondas de negociações" com a Indonésia. Apenas a 5 de maio de 1999, os dois países assinariam "três acordos, nomeadamente sobre a questão de Timor-Leste, outro sobre a modalidade da consulta popular e um terceiro sobre segurança," com o contributo essencial das Nações Unidas. Barroso, salientou ainda que foi "o massacre do cemitério de Santa Cruz" o grande acontecimento que "contribuiu para dar visibilidade à questão de Timor-Leste." Lembro-me ainda hoje desse massacre e eu era bem pequena na altura. Existem imagens que nos ficam gravadas na mente. Se foi "com a ajuda da comunidade internacional," que o povo de Timor-Leste se conseguiu livrar do domínio indonésio, também não se deve esquecer que muitos países não acreditavam que tal fosse possível.

"Os acordos foram assinados por Jaime Gama, na altura chefe da diplomacia portuguesa, pelo seu homólogo indonésio, Ali Alatas, e por Kofi Annan, antigo secretário-geral da ONU." No entanto, o processo não foi fácil e a«s Nações Unidas tiveram mesmo de permanecer no país como força de gestão e manutenção de paz até ao ano de 2012. Durante este período, chegou mesmo a ser necessária a entrada de uma força liderada pela Austrália, devido a ataques de extrema violência causados por milícias apoiadas pela Indonésia.

Fontes:

https://www.tsf.pt/1577666496/timor-ganhou-a-batalha-da-independencia-agora-tem-de-ganhar-a-do-desenvolvimento/

https://www.noticiasaominuto.com/mundo/2623023/timor-uma-historia-bonita-conseguida-com-dificuldade-e-falta-de-apoio

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 22:42

Há 50 anos, os presos do Tarrafal, foram libertados.

Neste campo, os presos viam morrer os companheiros - 36 dos cerca de 600 que lá passaram, morreram. 32 eram de nacionalidade portuguesa, 2 eram guineense e 2 eram angolanos. A maioria foi torturada, não havia cuidados médicos e ficavam isolados do mundo. O único médico que por lá passou, nãos lhes prestava cuidados - "estava lá só para passar certidões de óbito".

O campo, localizado "na aldeia de Chão Bom, no Concelho de Tarrafal, na ilha de Santiago" em Cabo Verde, abriu em 1936, "durante um processo de reorganização do sistema prisional do Estado Novo, com o objetivo de encarcerar presos políticos e sociais," sobretudo aqueles que se opunham ao regime fascista. 

Esta "localização foi escolhida de forma estratégica, tanto por ser perfeita para que os testemunhos não viessem a público, com principal objetivo de aniquilar física e psicologicamente os opositores portugueses e africanos à ditadura Salazarista, isolando-os do resto mundo em condições desumanas de cativeiro, maus tratos e insalubridade." Muitos eram deixados a morrer de forma "natural", ou seja, completamente deixados ao abandono sem qualquer tratamento, por exemplo, contra a tuberculose que ali se instalava facilmente.

Em 1956 fecha portas, mas volta a reabrir em 1962, com o nome de "Campo de Trabalho de Chão Bom." Nesta fase, o campo destinava-se "a encarcerar anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde, altura em que morreram dois angolanos e dois guineenses." A 1 de maio de 1974, o campo foi encerrado e posteriormente passou a museu. Doenças, subnutrição, torturas, igual "àqueles de Hitler na Alemanha". 

Hoje, além de se celebrar a passagem do 50 anos, sobre o encerramento deste terrível campo de concentração, assinala-se também a passagem de mais um Dia do Trabalhador. O 1º de Maio é celebrado em vários países e, tem por base, a greve que decorreu neste mesmo dia, mas em 1886, em Chicago. Os trabalhadores gravistas, pretendiam exigir melhores condições de trabalho, sobretudo "a redução da jornada de trabalho diária," das habituais dezassete horas, para oito horas diárias.

Poderia aqui descrever muitos episódios e factos históricos que fui descobrindo nas minhas pesquisas (sabem que eu adoro História...) mas tornaria este post muito extenso. Deixo aqui apenas um pequeno excerto:

"Em 1833, oficialmente, o horário de trabalho das crianças foi reduzido para as 48 horas semanais." "Em 1844, pela primeira vez, é estabelecida a semana de trabalho de 69 horas, com um limite máximo de 12 horas diárias."

 Após anos de luta, em 1886, dá-se o "Massacre de Chicago":

"80000 trabalhadores a abandonarem o trabalho e a irem para a manifestação. Com o governo a mobilizar mais de 1000 polícias para vigiar e intimidar os trabalhadores. (...)Os trabalhadores despedidos não desistem e no dia 2 de maio algumas centenas realizam um comício em frente à fábrica que os tinha despedido. É chamada novamente a polícia que investe sobre os trabalhadores e começa a bater para os dispersar, provocando várias mortes e causando dezenas de feridos."

"Os trabalhadores voltam à carga e é realizado um segundo comício para protestar contra a brutalidade policial, (...)Quando restavam cerca de 200 trabalhadores, eis que explodiu no meio dos polícias uma bomba matando um deles e ferindo muitos outros. Foi o caos, com os polícias a dispararem sobre a multidão em fuga, ficando as ruas cobertas de sangue, mortos e feridos."

"Nos dias que se seguiram, centenas de dirigentes e trabalhadores foram presos. Houve um mega-julgamento no mesmo ano de 1886, tendo sido condenados à morte por enforcamento sete sindicalistas. Alguns foram condenados a prisão perpétua e outros quatro dirigentes sindicais foram executados a 11 de novembro de 1887, pelas 11.30."

Pouco tempo depois o governo assume perante a opinião púbica que estes sindicalistas estariam inocentes.

No ano de 1889, o "Congresso Operário Internacional, reunido em Paris," decreta então esta data como o "Dia Internacional dos Trabalhadores."

Em Portugal, esta data é celebrada desde 1890, numa época em que a monarquia dava as suas últimas cartadas. "Nas comemorações do 1.º de maio em Portugal, em 1890, a manifestação em Lisboa reclamou do município «o estabelecimento das 8 horas diárias e a regulamentação do trabalho de menores». No Porto, a comemoração aconteceu no Monte Aventino, atraindo milhares de trabalhadores."

O Estado Novo veio acabar com esta comemoração. "Só a partir de maio de 1974," depois da Revolução, "é que se voltou a comemorar livremente o Primeiro de Maio, que passou a ser feriado. Nesta data," estima-se que tenham estado 500 mil pessoas na manifestação do Dia do Trabalhador de 1974," só na capital.

5o anos depois, o povo continua a celebrar esta data!

 1º de Maio em Portugal

Em Moçambique, também "durante o período colonial," estavam proibidas quaisquer celebrações do "Dia do Trabalhador, em virtude da natureza repressiva do regime colonial português. No entanto, houve manifestações de trabalhadores moçambicanos, em particular em Lourenço Marques (atual Maputo), contra o modo de relações laborais existente naquele período."

Fontes:

https://observador.pt/2024/05/01/portugal-cabo-verde-guine-bissau-e-angola-assinalam-libertacao-do-tarrafal/

https://rdpafrica.rtp.pt/noticias-africa/50-anos-sobre-a-libertacao-dos-presos-politicos-do-campo-do-tarrafal/

https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/angola-nos-50-anos-da-libertacao-dos-presos-do-tarrafal/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_do_Trabalhador

https://observador.pt/opiniao/historia-concisa-do-1-o-de-maio-dia-do-trabalhador/

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:51

No dia 4 de dezembro de 1961, "o imponente Chrysler preto que fora carro oficial do ditador, foi o veículo de fuga de oito presos, que aproveitaram a blindagem da viatura para rebentar o portão da prisão e fugir em direção à autoestrada."

Esta fuga começa a ser preparada dois anos antes e foi uma das mais emblemáticas e caricatas da história do Estado Novo. António Tereso, militante do PCP, encontrava-se preso em Caxias" por ter participado em protestos sindicais." Supostamente, por não aguentar "a pressão da prisão", Tereso meteu-se "em zaragatas com antigos camaradas, com quem partilhava a cela," e acabou por pediu para ser "admitido como trabalhador da prisão." Mas apenas dois camaradas conheciam o plano e, só esses, "continuavam, discretamente, a comunicar com ele - os camaradas José Magro e Afonso Gregório." António Tereso tentava assim conquistar a "confiança dos guardas e do diretor de Caxias, de forma a ganhar liberdade de movimentos e poder investigar eventuais hipóteses de fuga." E se bem o planearam, melhor o fizeram.

Depois da fuga de Peniche, "os carcereiros" receavam ainda mais pela "segurança de Caxias. Houve reforço de guardas, os períodos de isolamento dos presos eram maiores, o tempo de recreio era mais curto, as visitas em comum foram suspensas e os prisioneiros eram constantemente mudados de sala, para evitar que pudessem planear fugas ou atividades subversivas."

Além de percorrer "cada palmo das instalações, à procura de passagens, túneis ou outros espaços esquecidos que pudessem servir para uma fuga," Tereso ainda se conseguiu tornar no mecânico do "novo diretor da prisão, Gomes da Silva." Além de limpar e cuidar do Volkswagen de Gomes da Silva, Tereso ainda "conduzia a viatura dentro das instalações da prisão sempre que era preciso." A pedido do novo diretor, Tereso começa a trabalhar no Chrysler de 1937, de sete lugares, que havia sido de Salazar. "Constava que tinha sido oferecido ao ditador por Hitler." A viatura tinha uma forte blindagem e, rapidamente, Tereso descobriu o botão que ligava e desligava o motor de arranque. No dia da fuga, fez em marcha atrás o caminho pelo túnel que dava acesso à zona de recreio dos presos. 

Conforme planeado, dez dos "prisioneiros encenavam um jogo de futebol e esperavam pela aproximação do carro de fuga. Assim que entrou no terreno que servia de campo de futebol, os dez presos cercaram o carro, como se protestassem por o seu jogo ter sido interrompido. Dispuseram-se conforme planeado: três do lado esquerdo, quatro do lado direito, e três na parte de trás do Chrysler. Estes últimos não participariam na fuga, pois não cabiam no veículo."

Três guardas da GNR, observavam a cena que ali decorria, achando que os presos estavam a protestar com "o antigo camarada," por lhes estar "a estragar a futebolada com aquela inopinada incursão automobilística. Quando um dos presos gritou Golo!, os sete escolhidos saltaram para dentro do carro: seis apertados no banco de trás, um ao lado do condutor. José Magro, Francisco Miguel, António Gervásio, Domingos Abrantes, Guilherme da Costa Carvalho, Elídio Esteves e Rolando Verdial."

O carro deitou abaixo o portão do forte de Caxias, mas "o embate mal se sentiu por quem ia no carro. Apesar disso, o veículo ficou bastante amolgado, e acabou por perder o pára-choques durante a fuga, já em Lisboa." Os guardas ainda dispararam contra o carro, mas apesar das marcas, a "blindagem dos vidros e da parte superior do automóvel deu boa conta do recado."

O carro, que pode ser visto no Museu do Caramulo, "só seria encontrado oito horas mais tarde, sem pára-choques e sem um farolim, abandonado na zona de Campolide, a 12 quilómetros de distância da prisão." 

Fontes:

https://cnnportugal.iol.pt/pcp/a-incrivel-fuga-da-prisao-de-caxias-no-carro-de-salazar/20211204/61aa8b620cf2c7ea0f0bd161

https://www.tsf.pt/portugal/sociedade/mercedes-oferecido-por-hitler-a-salazar-era-mesmo-blindado-a-historia-de-uma-fuga-de-caxias-que-tem-50-anos-14379406.html/

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 23:23

Para aqueles que, como eu, não éramos ainda nascidos neste tempo, esta parece uma realidade longínqua. Ouvi falar das prisões políticas, das torturas e das mortes, mas não me lembro de, quando miúda ouvir contar as histórias das fugas e, essas, são também interessantes de se conhecer. 

Entre 1926 e 1974, foram mais de 30000, as pessoas que foram presas por razões políticas. A maioria delas, nunca tiveram direito a julgamento, ou chegaram sequer a ser indiciadas por qualquer crime em específico. Entregues à Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (posteriormente chamada PIDE e, mais tarde DGS) foram em 1934, as cadeias do Aljube, as duas de Caxias, a de Peniche e a de Angra do Heroísmo (que seria depois substituída pelo campo do Tarrafal, em Cabo-Verde, que foi mandado abrir por Salazar em 1936).

Além das cadeias e da polícia militar, havia o tribunal político que julgava aquilo que o Regime achava estar contra a segurança do próprio Estado. Em 1932, numa das primeiras fugas do Aljube (hoje museu) evadiram-se seis detidos e morreu um GNR Nesta cadeia, localizavam-se os chamados "curros" - salas individuais, minúsculas, onde os detidos eram mantidos e vergados por interrogatórios violentos. 

Em maio de 1938, evade-se Francisco de Paula Oliveira (Pavel), que tinha sido capturado pela PVDE a 10 de Janeiro desse ano e que estava preso no Aljube, apenas por pertencer ao PCP. Pavel contou com "a ajuda de um enfermeiro da cadeia," que conheceu durante a sua estadia na enfermaria.

Em 1948, foi a vez de Palma Inácio. Este tinha sido preso por participar num ato de sabotagem, feito por "alguns oficiais da Força Aérea que, por aqueles anos, se insubordinaram contra a ordem ditatorial." Este ato contra o Regime, logo depois de terminada a 2ª Guerra Mundial, ficou conhecido pela “Abrilada de 1947”. Depois da fuga, a 16 de abril de 1948, Palma Inácio conseguiu expatriar-se para o Brasil, "agravando assim a sua condição de arguido. Daí em diante, nunca mais pôde regressar, a não ser que se sujeitasse a prisão, como de facto aconteceu por duas vezes."

Em 1957, dá-se outra fuga inesperada, que implicou um salto do 5º andar! "Américo de Sousa, Carlos Brito e Rolando Verdeal nunca teriam escolhido uma madrugada de sábado para domingo para fugir pelas grades e pelo beiral de um 5º andar da rua Augusto Rosa em Lisboa." Nessa noite, não se via vivalma, o que era normal visto que naquela época ninguém andava a passear por Lisboa durante a noite. 

Carlos Brito, tinha 23 anos quando, em outubro de 1956, foi preso pela segunda vez e colocado no Aljube para "interrogatório e tortura." Dali, os presos eram levados "à António Maria Cardoso" para serem torturados. “Era preciso resistir aos interrogatórios, não falar." Conta que foi só depois de terem saído dos curros para uma cela, da qual serraram as grades de ferro, com um serra que tinha vindo dissimulada numa prenda de anos. Para disfarçar os cortes, o estratagema usado foi "miolo de pão pintado com aguarela da cor das grades." Os guardas não desconfiaram. Num prédio ali perto, havia uma casa para alugar, que "Deolinda Franco," na altura mulher de Carlos Brito, visitou  na véspera da fuga. "Mostrou-se interessada em alugar a casa, fez perguntas, experimentou janelas ... e teve o cuidado de deixar uma aberta." Depois dos três fugitivos terem passados pelo buraco feito nas grades da janela, e terem descido por uma espécie de corda feita de lençóis, atravessaram em meias os telhados de outros dois edifícios até chegarem à "varanda do andar devoluto que Deolinda simulara querer arrendar."

Aí, arranjaram-se o cabelo, calçaram-se e saíram pela porta do prédio, como se fossem apenas um grupo de amigos, passando enquanto o "sentinela da Guarda Republicana que prestava serviço à entrada do Aljube" se encontrava a seguir na direção oposta. O carro, que deveria estar à espera do grupo, não apareceu e tiveram de se pôr a correr "até ao Largo da Graça," onde apanharam um táxi, "para a Rua da Escola Politécnica," que era perpendicular à rua onde ficava a casa de contacto, onmde chegaram por volta das quatro da manhã.

Estas foram apenas, algumas das muitas fugas organizadas por muitos "destes homens e mulheres, condenados a intermináveis períodos de prisão, tentar fugir era a única forma de reconquistar a liberdade e retomar a luta no exterior."

Fontes:

https://ensina.rtp.pt/artigo/fuga-prisoes-politicas-estado-novo/

https://expresso.pt/multimedia/2016-09-30-A-espantosa-fuga-da-mais-sinistra-cadeia-da-ditadura

https://www.museudoaljube.pt/wp-content/uploads/2024/01/2024_01_09_Fugir-das-Cadeias-da-Pide.pdf

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 12:42

Há 50 anos Portugal vivia em ditadura, mas a coragem de um grupo de capitães e de todos os militares que os seguiram sem virar as costas, mesmo podendo fazê-lo, fez com que hoje eu e todos os cidadãos deste país, possamos viver em democracia. A liberdade foi uma conquista que se celebra com uma data, mas que foi preparada e tentada em várias ações e com muita luta e, não devemos esquecer cada um desses momentos, nem as pessoas que os fizeram. Às vezes, resumimos Abril a meia dúzia de pessoas que tiveram um papel fundamental e que por isso ficaram reconhecidas. Mas porque o golpe deu certo. Temos de relembrar também todos os ex-combatentes, temos de lembrar todas as figuras que estiveram nos bastidores e todos aqueles que deram a cara por nós, pelo nosso povo!

Logo, irei possivelmente dar um passeio até ao Seixal, onde se prepara já uma grande festa de celebração, porque temos de dar a cara, temos de estar presentes e temos de continuar a semear cravos. O nosso contributo tem de ser nas ruas e tem de ser no local e momentos próprios. Amanhã (daqui a umas horas) celebraremos meio século da Revolução. 

Somos um país que reclama. Mas somos um país que só reclama porque estes capitães se juntaram num posto de comando na Pontinha (mais especificamente num barracão de arrumações do Regimento de Engenharia n.º 1)  e daí comandaram todas as movimentações das tropas que fizeram a Revolução. Hoje peço que se fale mais disto nas escolas - não se pintem só cravos, falem com as crianças e com os nossos jovens sobre estas pessoas. Que saibam que foi Salgueiro Maia que disse:

"Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas, os estados capitalistas e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos”.

Que saibam que foi a voz de João Paulo Dinis que anunciou "aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa: «Faltam cinco minutos para as vinte e três horas. Convosco, Paulo de Carvalho com o Eurofestival 74, «E Depois do Adeus», uma canção de José Niza." E que esta foi a primeira senha para o avanço das tropas. Quantos conhecem o capitão Bicho Beatriz, o capitão Pombinho, o capitão Santos Coelho e, tantos outros, capitães, tenentes e soldados que, naquela noite, podiam ter sido presos ou morrido, mas que mesmo assim, foram em frente.

Nos livros da escola, não se fala no capitão Santos Silva, nem do Capitão Mira Monteiro, nem do capitão Patrício, e nem dos "tenentes Andrade Silva, António Pedro, Sales Grade, Ruaz e Nave," e nem do papel do Major Fontão durante as operações.

Quantos saberão que na Rua Capelo, na Rádio Renascença, Paulo Coelho, "locutor de serviço, nessa noite, no programa «Limite», sem saber dos compromissos assumidos por dois dos seus colegas, Carlos Albino e Manuel Tomás, quase faz perigar a transmissão da senha à hora exata por ter antecipado a leitura de anúncios publicitários." Foi preciso que "no final da leitura do primeiro anúncio, Manuel Tomás, também presente na cabine técnica," tenha dado "um pequeno safanão (aparentemente sem intenção) na mão do técnico de som José Videira," provocando o "arranque da bobine que" continha a senha. "Então, pela voz previamente gravada de Leite de Vasconcelos, através dos potentes emissores da Rádio Renascença, ouve-se a primeira quadra da canção Grândola, Vila Morena, de José Afonso. Já no final da transmissão, o agente da Censura, ali presente, dá sinais de que escutara algo que não previra." Ali, tudo podia ter ido por água abaixo.

E que, a preparação para a movimentação, tenha passado por sabotagem? O "oficial do MFA, Capitão Rosário Simões tinha acordado que a sua missão seria neutralizar a unidade evitando a sua ação contra o Movimento, pois a maioria dos oficiais não era aderente. Na véspera foram sabotadas as Bocas de Fogo por forma a não poderem ser utilizadas, mas com capacidade de retorno rápido caso elas viessem a ser necessárias para o Movimento."

Apesar de todas as movimentações que aconteciam pelo país, às 03h16m, a interceção de uma chamada telefónica "entre o Ministro da Defesa, Dr. Silva Cunha e o Ministro do Exército Gen. Andrade e Silva," dá a conhecer ao Posto de Comando das operações que àquela hora "o Regime não tinha conhecimento do desenrolar das ações."

A coluna que entrou nessa madrugada em Lisboa e que era comandada pelo capitão Salgueiro Maia, "era composta por um Esquadrão de Reconhecimento a 10 Viaturas Blindadas e um Esquadrão de Reconhecimento a 160 homens com 12 viaturas de transporte, 2 Ambulâncias e 1 Jeep." Depois de ocupados vários pontos fundamentais, entre eles o aeroporto de Lisboa, foi dada ordem para que os elementos que tinham ocupado o Rádio Clube Português transmitissem o 1.º Comunicado. "Foi com emoção que em todo o País centenas de militares ouviram pela voz de Joaquim Furtado o primeiro de vários comunicados que haviam sido redigidos pelo Maj. Vitor Alves. Estava previsto que os comunicados seriam lidos pelo Maj. Costa Neves, no entanto, Joaquim Furtado, locutor de serviço ao RCP, ao saber das intenções do Movimento de imediato se prontificou para o fazer. No comunicado pede-se para que a população se mantenha calma e apela-se à classe médica para ocorrer aos hospitais."

Ao longo do dia, a emissão do RCP prossegue com a leitura de outros comunicados que iam colocando a população a par do que se passava, mas também com a transmissão de "canções de luta, algumas delas há muito proibidas ouviram-se: José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Jorge Letria, Luís Cília, José Mário Branco."

Às 7h30m, uma "coluna da GNR que estacionara no Campo das Cebolas avança para o Terreiro do Paço. O Cap. Salgueiro Maia dirige-se ao Comandante da coluna dizendo-lhe que deve sair da zona pois não tem potencial para o enfrentar. O Comandante da Coluna obedece e retira."

Muitos foram também os episódios em que representantes das forças do Regime, acabaram por se mudar para o lado dos revoltosos. E eu penso que isso fez toda a diferença, para que o número de vítimas, tivesse sido tão baixo. 

A fragata N.R.P. Alm. Gago Coutinho, "integrava uma força NATO (StaNavForlant) que navegava rumo à barra Sul do Porto de Lisboa, com destino a Nápoles, quando recebe ordem do Vice-Chefe do Estado Maior da Armada, Almirante Jaime Lopes, para abandonar a formatura e colocar-se frente ao Terreiro do Paço à ordem do Estado Maior da Armada." 

Pelas 7h50m, o Almirante Jaime Lopes, "dá ordem ao Comandante do navio para abrir fogo sobre os tanques do Exército posicionados no Terreiro do Paço. O Comandante da unidade não cumpre a ordem, alegando que estava muita gente no Terreiro do Paço e , também, que vários cacilheiros se encontravam nas proximidades."

Por volta das 8h30, o "Ministro do Exército" apercebe-se da ocupação do Terreiro do Paço e vendo a sua situação muito complicada, "ordena a abertura, à picareta, de uma parede de tijolo que dava para o Ministério da Marinha. Aí conjuntamente com o Ministro da Marinha e outras entidades fogem, dirigindo-se para o parque de estacionamento da Marinha entrando para uma carrinha que os irá conduzir ao RL2." Mais ou menos à mesma hora, a fragata Gago Coutinho, "recebe uma comunicação do Posto Comando da Marinha efetuada através da Esquadrilha de Submarinos e do Centro de Comunicações da Armada, onde se encontrava o Cap. Ten. Almada Contreiras, dando indicação para o navio sair a barra." Caldeira dos Santos, 1º Tenente, informa que "a situação a bordo está controlada e que a guarnição estava com o Movimento."

Às 14h00m, o Secretário de Estado da Informação e Turismo, Dr. Pedro Pinto, já se "apercebera da inevitabilidade da queda do regime. Resolve assumir a mediação entre o Governo e o General Spínola. O Dr. Nuno Távora, Chefe de Gabinete do Dr. Pedro Pinto desloca-se a casa do General António de Spinola entregando-lhe uma carta do Secretário de Estado." Duas horas depois, o "Dr. Nuno Távora e o Dr. Feytor Pinto são recebidos pelo Prof. Marcelo Caetano" que é informado "da disponibilidade do Gen. Spínola para aceitar a sua rendição e assumir o poder." Pouco tempo depois, Marcelo Caetano reune com o capitão Salgueiro Maia e é ao aperceber-se da inevitabilidade da situação, que decide render-se desabafando: “assim o poder não cai na rua." Às 16h45m, o general Spínola fica "mandatado pelo PC para receber a rendição de Marcelo Caetano. Spínola é também informado que os dirigentes do regime serão conduzidos ao Funchal por um DC 6 da Força Aérea."

Às 19h30m, o Capitão Salgueiro Maia teme que, "perante um Largo do Carmo a transbordar de população entusiasmada" se possa desenrolar uma onda de violência durante a operação de retirada "dos membros do regime do Quartel do Carmo." É numa chaimite, de nome Bula, que são retirados "Marcelo Caetano, Rui Patrício, César Moreira Baptista e outros membros do Governo."

O que mostrou a força desta revolução também foi o apoio do povo! Ainda antes do poder passar para o lado dos revoltosos, já as pessoas que entretanto se juntavam nas ruas, festejavam a queda do Regime. A felicidade estava estampada nos mesmos rostos onde antes havia medo. Às 20h30, o povo de Lisboa que desde manhã seguia as movimentações militares, "começava a engrossar pelas ruas da Baixa, à medida que as Forças do Movimento iam conquistando objetivos. A população começou a dirigir-se maciçamente para a sede da PIDE/DGS na Rua António Maria Cardoso." Infelizmente, às 21h00m, os agentes da "PIDE, vendo a sua sede cercada de população, abrem fogo indiscriminado tendo efetuado 4 mortes e 45 feridos que serão socorridos pela Cruz Vermelha e encaminhados para o Hospital S. José e Hospital Militar." São estas as quatro vítimas que se lamentam deste dia e que o ensombram, mesmo não tendo sido por culpa dos militares revoltosos, mas sim de um grupo de agentes da PIDE.

No fim, nem tudo correu como desejado. Por volta das 23h45m, a Junta de Salvação Nacional "reune-se" e é aprovada "a Proclamação da Junta" que designa como "Presidente da República, o General António de Spínola. Esta designação foi contrária ao anteriormente acordado com o MFA que escolhera o General Costa Gomes."

Apesar de tudo, é proclamada a primeira lei da primeira República pós-regime.

"Lei n.º 1/74: destitui das suas funções o Presidente da República e o Governo, dissolve a Assembleia Nacional e o Conselho de Estado e determina que todos os poderes atribuídos aqueles aos referidos órgãos passem a ser exercidas pela JSN."

O decreto-lei nº 169, vem também dar início ao processo de descolonização e ao fim da guerra colonial.

"DL n.º 169/74: exonera os Governadores Gerais dos Estados de Angola e Moçambique e determina que as suas funções passem a ser desempenhadas interinamente pelos Secretários Gerais desse Estados."

À 01h30m, já no dia 26 de abril, é lida já "perante as câmaras da RTP, a Proclamação da Junta de Salvação Nacional" por António de Spínola.

Às 07h00m, o "Almirante Américo Tomás, sob escolta de uma força do Movimento, comandada pelo Ten. Cor. Almeida Bruno segue para o aeroporto de Lisboa. À mesma hora o Ten.Cor. Lopes Pires acompanha o Prof. Marcelo Caetano e os ex-Ministros Silva Cunha e Moreira Baptista ao aeroporto onde todos embarcam" num avião da "Força Aérea rumo ao Funchal onde ficam com residência vigiada."

Só no dia 26, pelas 9h30m, os homens do RC3 "desarmam os agentes da PIDE/DGS e passam revista às instalações."

E tantas pessoas se poderiam ouvir sobre o que aconteceu nestes dias! Que outros pontos de vista interessante teríamos concerteza sobre a Revolução que, teve o seu ponto alto no dia 25 mas não se esgotou no Terreiro do Paço, nem no largo do Carmo. Amanhã, muitos irão descer a Av. da Liberdade. Absorvam tudo o que puderem, porque são 50 anos de liberdade!

Fontes:

https://ensina.rtp.pt/artigo/a-revolucao-de-25-de-abril-de-1974/

https://www.castilholegalcorp.com/pt/publicacoes/capitaes-de-abril-a-memoria-de-um-futuro-incerto/194/

https://a25abril.pt/base-de-dados-historicos/o-dia-d/

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:00

50 anos - as motivações do MFA e a Intentona

por Elsa Filipe, em 20.04.24

As motivações que, há 50 anos atrás, levaram ao Golpe Militar que poria fim ao Regime, foram principalmente de cariz profissional. O governo tinha aprovado dois decretos-lei (o 353 e 409, de julho e agosto de 1973) "para responder às necessidades da guerra colonial." Os oficiais, que tinham tido uma formação militar de quatro anos, "não aceitavam poder vir a ser ultrapassados pelos novos oficiais milicianos, cuja formação seria feita apenas em dois semestres."

O Movimento dos Capitães pretendia "recuperar o prestígio das Forças Armadas e, mesmo depois de terem conseguido que Marcelo Caetano, suspendesse os decretos, continuaram a reunir-se, de forma clandestina. O objetivo era "efetuar uma mudança de Regime" de forma a acabar com a guerra colonial.

"Como eram eles que comandavam os soldados nas três frentes de batalha, tinham a noção de que a guerra estavam longe de estar ganha, até pelo apoio que os povos africanos, a viver em más condições em muitas regiões, davam aos movimentos de libertação."

Angola e Moçambique, continuavam num impasse e "a Guiné estava quase toda controlada pelo PAIGC."

Em dezembro de 1973, o grupo mandatou "Vasco Lourenço, Vítor Alves e Otelo Saraiva de Carvalho como Comissão Coordenadora para planear um golpe militar." O caso das manifestações em Moçambique chegou ao conhecimento do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), Costa Gomes, e foi abordado por Vasco Lourenço e Otelo em reunião com António de Spínola, o vice-chefe do EMGFA." António Spínola, publicaria em 1974, pouco tempo antes da revolução, um livro que seria, à época, bastante esclarecedor e polémico.

A 5 de março de 1974, numa reunião clandestina, foi criado o "Manifesto dos Capitães, de que Melo Antunes era um dos autores. Esse documento deixava clara a politização do movimento, passando a defender-se o fim da guerra colonial e uma solução negociada para a independência dos povos africanos, o desmantelamento do regime e a implantação de uma democracia de tipo ocidental, o prestígio das forças armadas e o fim do isolamento de Portugal."

"Marcello Caetano, consciente do mau estar entre as forças armadas, convocou os generais para uma sessão de apoio ao governo, a 14 de março de 1974." Esta reunião chamar-se-ia de "Brigada do Reumático", não tendo comparecido Costa Gomes nem António Spínola, que foram exonerados dos cargos por Marcello Caetano Caetano. Este facto, apenas aumentou o seu "prestígio junto do Movimento dos Capitães."

"A 16 de março de 1974 houve uma tentativa, falhada, de golpe militar nas Caldas da Rainha" e que ficaria conhecida como a "Intentona das Caldas." A coluna, "comandada pelo major Armando Ramos" tinha saído do Regimento de Infantaria 5, nas Caldas da Rainha e seguiu até "às portas da capital." Deviam ter recebido apoio de outras forças, como Lamego, Mafra e Vendas Novas, mas nenhuma apareceu. Sem sinais do apoio esperado, a decisão foi "abortar o golpe e regressar ao quartel. Foi só depois de chegarem às Caldas que foram cercados pelas forças fiéis ao regime, vindas de Leiria e de Santarém." Por volta das 17 horas e "após várias horas de negociações, os revoltosos renderam-se."

Fontes:

https://ensina.rtp.pt/artigo/levantamento-militar-nas-caldas-da-rainha/

https://ensina.rtp.pt/explicador/as-motivacoes-do-golpe-militar-de-25-de-abril-de-1974/

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 13:59


Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.



Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D