Num ano complicado, em que os media foram essenciais para nos dar a conhecer o estado do mundo, foram muitos os crimes cometidos contra os jornalistas.
50 jornalistas foram mortos em 2020 no exercício da sua profissão, sobretudo em países considerados em paz e durante manifestações, um número estável em comparação com os 53 casos registados em 2019, mas preocupante, pois 34 jornalistas foram mortos em países que oficialmente não estavam em guerra. Registaram-se 8 casos no México, 4 na Índia, 4 no Paquistão, 3 nas Filipinas e 3 nas Honduras. A proporção de jornalistas mortos em países em guerra como na Síria e Iémen, ou assolados por conflitos de baixa ou média intensidade, como no caso do Afeganistão ou do Iraque é de 32%. A grande maioria foram deliberadamente alvejados e assassinados, em condições particularmente bárbaras e sórdidas, com destaque para o México e a Índia, onde jornalistas foram decapitados, esquartejados ou mortos à facada. Os jornalistas de investigação são particularmente visados, devido ao seu trabalho na investigação de casos de corrupção e desvio de fundos públicos, inquéritos sobre a máfia e o crime organizado ou por investigação sobre temas ligados a questões de meio-ambiente.
Registaram-se ainda 367 jornalistas detidos desde janeiro. Há a destacar um aumento de 35% do número de mulheres jornalistas detidas arbitrariamente, bem como o aumento das violações de liberdade de imprensa, devido às leis de excepção ou medidas de emergência adoptadas devido à pandemia da Covid-19.
Em 2020, registaram-se porém sete repórteres foram mortos enquanto cobriam protestos, dos quais 4 no Iraque, 2 na Nigéria e 1 na Colômbia. Dos vários casos podemos destacar o do jornalista Julio Valdivia Rodríguez, no México, que trabalhava para o diário El Mundo, que foi encontrado decapitado no estado de Veracruz e do seu colega Víctor Fernando Álvarez Chávez, redactor-chefe do site de notícias local Punto x Punto Noticias, que foi esquartejado em Acapulco.
Na Índia, o repórter Rakesh Singh “Nirbhik”, do diário Rashtriya Swaroop, foi queimado vivo, depois de ser borrifado com uma solução alcoólica altamente inflamável, enquanto Isravel Moses, correspondente de uma estação de televisão do estado de Tamil Nadu (sul), foi esfaqueado e não resistiu aos ferimentos.
No Iraque, três jornalistas foram baleados na cabeça por homens armados não identificados, no decorrer da cobertura de protestos. Um outro jornalista morreu no Curdistão enquanto tentava escapar dos confrontos que opunham polícias e manifestantes. Casos semelhantes ocorreram na Nigéria e na Colômbia.
Quando nos queixamos dos nossos direitos e da liberdade de expressão que, por vezes, sentimos não ter, recordemos o que se passou este ano, com a prisão e a morte de vários joranalistas. Um dos casos mais recentes é o de Zam.
No dia 12 de dezembro, depois de um julgamento que não teve nada de justo, o jornalista Rouhollah Zam, foi condenado à morte por enforcamento. E não estamos na Idade Média, estamos em pleno século XXI. Zam, que dirigia um canal na plataforma de mensagens criptografadas Telegram, chamado Amadnews, foi considerado culpado de desempenhar um papel ativo no protesto do inverno de 2017-2018. Em outubro de 2019, foi acusado por Teerão de ter desempenhado o papel de agente em nome da França, embora o Irão não tenha especificado o local ou a data dos factos da acusação.
E assim vai a justiça pelo mundo fora...
Fontes:
https://www.rfi.fr/pt/mundo/20201229-rsf-50-jornalistas-mortos-em-2020-sobretudo-em-pa%C3%ADses-n%C3%A3o-em-guerra
https://expresso.pt/internacional/2020-12-08-Irao.-Confirmada-sentenca-de-morte-do-jornalista-Rouhollah-Zam-acusado-de-ser-agente-em-nome-de-Franca