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Capital a ferro e fogo

por Elsa Filipe, em 25.10.24

São muitas as imagens e os debates à volta dos confrontos que se vão espalhando noite dentro por vários bairros da capital e dos arredores. A situação que levou a esta violência e a toda esta revolta foi a ação policial contra um dos residentes do bairro do Zambuja, localizado na freguesia de Alfragide e pertencente ao município da Amadora que ocorreu n amadrugada de 21 de outubro.

Ao que se sabe - há várias versões, mas não se confirma ainda nada - é que o comportamento de um condutor terá despertado a atenção de um carro que patrulhava a zona e, ao mandar o condutor parar, este em vez de o fazer, fugiu tendo cometido diversas infrações durante a fuga. Seguidamente, o condutor terá entrado em despiste, "abalroando viaturas estacionadas, tendo o veículo em fuga ficado imobilizado". A fuga terminou com a tentativa de detenção do homem, que segundo relatos da própria polícia, "terá resistido à detenção" e tentado agredir os agentes "com recurso a arma branca".

Um dos polícias terá disparado dois tiros para o ar e, não tendo obtido o efeito desejado, terá disparado na direção do homem, acabando este por morrer devido aos ferimentos. 

Horas depois, "o movimento Vida Justa contesta a versão da polícia sobre a morte de Odair, afirmando que a versão dada pela PSP é “totalmente falsa”, e exigindo "uma comissão independente para investigar as mortes em circunstâncias estranhas que ocorrem na periferia" de Lisboa.

Nesta versão, a PSP informa que um homem "em fuga foi baleado por um agente do Comando Metropolitano de Lisboa, às 05:43, na Cova da Moura, quando alegadamente terá resistido à detenção e agredido os agentes com recurso a arma branca". Isto terá levado, segundo o mesmo comunicado, a que"um dos polícias, esgotados outros meios e esforços", tenha recorrido "à arma de fogo"  e atingido "o suspeito, em circunstâncias a apurar em sede de inquérito criminal e disciplinar." Seguidamente, o MAI abriu "um inquérito urgente à Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) sobre a morte de Odair."

A lamentável morte de um cidadão veio então levantar várias questões, entre as quais, se havia necessidade de disparar na sua direção. Se sim ou não, não sei, o que sei é que não gostaria de estar na situação dos agentes que, ao fazerem o seu trabalho, tiveram de abordar um condutor a meio da noite, em fuga e que não cumpre as ordens que lhe são dadas. Se agiram da melhor forma, acredito que não, e que poderiam ter feito as coisas de outra forma, que podem ter-se sentido ameaçados, que podem ter sentido a vida em risco ou que podem ter agido de impulso, sem pensar. Não quero desculpar a ação do agente que disparou, mas também não o quero recriminar por tê-lo feito. Se estivesse no seu lugar, o que teria eu feito? Não consigo imaginar. 

Em relação à ação que despoletou a perseguição. Sempre me ensinaram que, perante um veículo da polícia, devidamente identificado, que nos mande parar, é isso que devemos fazer: encostar, parar, e deixar que os agentes acedam aos documentos e ao veículo se for esse o caso. Não entendo porque não o fez Odair. Se tinha algo a esconder no carro, não o devia ter, se estava alcoolizado, também não deveria estar ao volante de um automóvel. Se passou realmente como dizem um traço contínuo, devia assumir o seu erro, e se fosse o caso receber a contra-ordenação. Fugir? Nunca seria essa a opção a tomar. Daquilo que se sabe, as fugas nunca correm muito bem. Alguém se fere, outros ficam feridos. Alguém morre... muitas vezes, pessoas que nem têm relação com o caso, simplesmente estavam no lugar errado à hora errada. Não foi o caso. Odair morreu não porque estava no lugar errado à hora errada. Morreu porque fugiu, porque desobedeceu. Não devia ter acontecido, não devia ter sido atingido, devia ter sido detido. Devia estar preso e não morto. 

"Em menos de quatro dias, a morte de Odair Moniz por um agente da PSP no Bairro do Zambujal desencadeou desacatos e tumultos por toda a Grande Lisboa, foram reveladas versões contraditórias do que antecedeu os tiros fatais, realizou-se uma reunião entre autarcas e Governo, organizaram-se duas manifestações e foram proferidas muitas reações extremadas sobre o caso, da esquerda à direita."

As ações têm consequências. E agora uma comunidade chora a morte de um dos seus, uma família está enlutada. Odair deixou uma família, deixou filhos, mas naquela noite, estaria ele a pensar neles quando fugiu às autoridades? E, se realmente foi assim como contam que aconteceu - como já disse, ainda há muito que não se sabe e existem várias versões - terá pensado nos filhos? Cada um de nós vê a vida de uma forma diferente. Eu sinto-me segura na presença da polícia, mas há quem não se sinta assim e tenha as suas razões para tal, cultural e sociologicamente falando.

Acredito que o medo se imponha nos jovens que crescem em bairros, porque assistem a rusgas, assistem a portas deitadas a baixo a meio da noite e a casas invadidas. A minha porta nunca foi deitada abaixo... se tocarem, eu abro, podem ver tudo que não terei receio, de resto o que encontrarão será talvez pó.

O que agora está a acontecer é que não pode também ser permitido. Está a ser aproveitada a morte de um homem, uma morte que não deveria ter acontecido, para se fazer violência, para se criarem desacatos e destruírem bens de pessoas que nada têm que haver com o caso. Estão a destruir bens públicos, que são de todos, e bens privados. Não está a ser um ataque direcionado à polícia, mas ataques provocatórios e que podem levar a mais mortes! Se um polícia agora disparar contra um indivíduo que tenha na mão um cocktail molotov e o matar? Será mais um "mau" polícia? E não, não defendo nada que se entre de arma em punho, se atire indiscriminadamente e que se resolvam estas situações ao tiro! Isso não pode acontecer, não devia acontecer! Mas os bens que estão a destruir, são bens que têm dono! Estão a destruir coisas que são úteis aos bairros onde moram? Isso faz sentido? Estão a queimar carros de pessoas que têm família, que têm trabalho e que se esforçam por pagar as mensalidades todos os meses? Como é que, desta forma, dizem estar a manifestar-se contra esta morte? Tem de haver justiça, sim, tem de haver justiça. Mas estes atos são selváticos! São pensados para criar o caos.

No meio disto tudo, algo me passou esta noite pela cabeça. E se quem está à frente destes atos de selvajaria, não são "as pessoas" do bairro, não são "os amigos de Odair", nem quem o defende... mas sim, pelo contrário, se quem aparece de cara tapada, são aqueles que os querem fora dali? E se, imaginem, estes que atacam de forma indiscriminada, estão de facto a aproveitar o caso para fazer valer a sua posição e, ao fazerem-no, tentam-nos colocar contra estas pessoas? E se os atacantes, incendiários, estão mais à direita do que nos fazem crer? Talvez eu esteja enganada... mas foi isso que esta noite me passou pela cabeça, foi uma suposição, uma hipótese...

Fontes:

https://rr.sapo.pt/especial/pais/2024/10/25/morte-de-odair-moniz-e-desacatos-na-grande-lisboa-o-que-se-sabe-ate-agora/398881/

https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2024/10/21/versao-mal-contada-vida-justa-contraria-versao-da-policia/398396/

https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2024/10/21/homem-em-fuga-morre-apos-ter-sido-baleado-pela-psp-na-cova-da-moura/398362/

 

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publicado às 02:52

Os avisos foram feitos e já se esperava a ocorrência de incêndios florestais, mas de ontem para hoje a situação piorou bastante e, infelizmente, já se pode falar na ocorrência de uma catástrofe em que já se lamenta a perda de vidas humanas, vários feridos e muitos bens materiais destruídos. Ao longo do dia, a situação tem vindo a piorar.

"O balanço mais recente da Proteção Civil dá conta de 21 vítimas, incluindo três mortos. Foram atingidas pelas chamas casas de primeira habitação e evacuados lares e escolas."

Uma das três mortes a lamentar até agora, foi a de um bombeiro que durante o combate às chamas sucumbiu. Depois, haveremos talvez de saber porquê, mas agora o que importa é confortar a família, os colegas e os amigos. O bombeiro, que combatia o incêndio de Oliveira de Azeméis, "fazia parte da corporação de bombeiros de São Mamede de Infesta" e quando se sentiu mal estava a realizar uma pausa para se alimentar.

Aquando desta ocorrência, era o incêndio de Oliveira de Azeméis aquele que mais preocupação trazia. Entretanto, o dia nascia e com ele percebiamos que outros incêndios tinham deflagrado durante a noite e que, alimentados pelas altas temperaturas e pelo vento forte, ameaçavam pessoas e bens. Durante o dia, chegavam até nós imagens terríveis, em que os piores cenários se estavam a suceder - habitações destruídas pelas chamas, animais a que ninguém conseguiu acudir a tempo de evitar a sua morte. Enormes colunas de denso fumo cobrem as serras e descem os vales, impedindo saber o que se está a passar do outro lado ou, em muitos casos, saber o que está a dois palmos da cara! O dia está a dar lugar à noite e lamentam-se já duas vidas perdidas...

O distrito de Aveiro tem estado a ser o mais afetado. Faltam bombeiros - que nestes dias nunca serão suficientes, faltam baldes para atirar água às chamas que se aproximam, ardem as mangueiras. O vento sopra as fagulhas para cima dos telhados que, dali a nada, se transformam em tochas, pegando em tudo à sua volta. O pior cenário está a acontecer - o fogo já não lavra só no mato: entrou na cidade, entrou nas aldeias, queimou carros, queimou casas e matou pessoas!

Algumas estradas foram cortadas. Mas mesmo com os cortes efetuados, muita gente tentou contornar as indicações das autoridades e chegar às localidades e aldeias onde tinha os seus familiares e os seus bens. Não os posso criticar, mas alerto apenas que estas tentativas de dar a volta às indicações das autoridades, pode levar não apenas ao risco que a pessoa assume, mas também põe em causa aqueles que o têm de, eventualmente, seguir para socorrer.

Infelizmente, o pânico é natural nestas situações mas este mesmo pânico deve ser evitado, pois é dele que decorrem tantas vezes situações em que as reações de cada um, o coloca a si em risco, mas também a quem o tenta ajudar. Além do risco que decorre do próprio incêndio, existem também alguns comportamentos que devem ser evitados, tal como tem sido veiculado durante o dia pela comunicação social. Só que é natural que cada pessoa queira que lhe salvem a sua casa, os seus terrenos, armazéns, alfaias e animais. Muitos comportamentos de risco acabam por ser praticamente impossíveis de se evitar, uma vez que mexem com aqueles que são os nossos maiores sentimentos - aqueles que amamos - que são os nossos familiares, os nossos amigos e também em muitos casos os nossos animais, as nossas casas, os nossos bens!

Podemos dizer que o pior começou na sexta-feira com a deflagração no Fundão, a que se seguiram depois várias outras que iam dispersando meios e desgastando homens. Pelas duas da manhã, a meio da noite, no meio do mato, algo faz deflagrar o fogo de Pessegueiro do Vouga. Horas mais tarde, já depois da hora do almoço e com temperaturas bastante elevadas, acende-se outra situação grave em Sever do Vouga. Apesar de terem surgido como deflagrações independentes umas das outras, podemos dizer que neste momento, os fogos já se confundem e misturam uns com os outro, tal a sua intensidade. O incêndio de Sever do Vouga já chegou a Águeda.

Na zona de Albergaria-a-velha, o início do incêndio que agora queima e destrói não apenas mato mas também atinge povoações, começou hoje pouco depois das sete da manhã, quando as temperaturas estavam mais baixas e a humidade era um pouco maior. Pouco depois do início do incêndio, a A25 estava cercada pelas chamas, mas mesmo assim as pessoas continuavam a avançar, sem visibilidade, sem saber como estava a situação mais à frente. Nesta região contam-se já dois mortos. Com o passar das horas, os incêndios longe de se esgotarem, aproveitaram o combustível disponível e foram galgando montanhas e vales. Não há como acudir a tudo!

Um pouco mais abaixo, na zona de Viseu, o incêndio que começou pouco antes do meio-dia, avançou em várias direções. Além dos meios terrestres, o combate foi feito também por um meio aéreo que foi dando algum alívio. No entanto, não houve forma de impedir a progressão do incêndio e neste momento, a "zona Industrial de Oliveirinha, no concelho de Carregal do Sal", encontra-se cercada pelas chamas.

Numa outra região, na zona de Coimbra, a pior ocorrência iniciou-se hoje pouco depois das dezasseis horas. Chegaram a estar em ação cinco meios aéreos nesta zona, mas a dificuldade de combate mais a norte exigiu a dispersão das aeronaves pelas várias frentes.

E podia continuar... o dia não foi fácil e a noite não será melhor, havendo a registar novos incêndios que se iniciaram já depois das 23 horas (um em Guimarães e outro em Cinfães). As projeções, que com o vento podem atingir vários quilómetros, podem dar origem a novos incêndios. Assim, Portugal que até dispõe de muitos meios, dificilmente se acharão ser os suficientes, mesmo com o acréscimo de oito meios aéreos provenientes da União Europeia (sendo que, de noite, estes meios não podem trabalhar).

Nem para a população, nem para aqueles que estão a dar o seu melhor para evitar que a situação se agrave. Se não puder ajudar... não atrapalhe!

Fontes:

https://sicnoticias.pt/especiais/incendios-em-portugal/2024-09-16-video-bombeiro-que-combatia-incendio-em-oliveira-de-azemeis-morre-durante-pausa-98bee39b

https://sicnoticias.pt/especiais/incendios-em-portugal/2024-09-16-portugal-em-alerta-por-causa-do-risco-de-incendio-8c7f63da

https://fogos.pt/fogo

https://fogos.pt/lista

 

 

 

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publicado às 23:40

Fugas mediáticas das prisões portuguesas

por Elsa Filipe, em 09.09.24

Na ordem do dia está a fuga de cinco homens da cadeia de Vale de Judeus, os quais são considerados perigosos e que ainda não foram encontrados. Mas claro que esta não foi a primeira vez que isto aconteceu.

Segundo informação da Direção Geral das Políticas de Justiça, publicados no Público, nos "últimos 15 anos fugiram 160 reclusos ao sistema prisional português." 

Hoje vamos aqui ver algumas dessas fugas, a maior das quais terá acontecido também na cadeia de Vale de Judeus, há 44 anos. A 17 de julho de 1978, 124 homens conseguiram fugir "por um túnel," com 35 metros de comprimento e 80 centímetros de diâmetro, que terá demorado entre um a "três meses a escavar." Só quando os guardas prisionais "foram fazer a habitual contagem de turno, por volta das dez e meia da noite", repararam que a maioria dos reclusos já lá não estava - para trás ficaram apenas "76 reclusos."

Uma outra fuga famosa foi a que aconteceu em 1986, quando seis reclusos da prisão de Pinheiro da Cruz, incluindo os “manos Cavaco”, mataram "três guardas e escaparam num carro celular." Os homens acabaram por se separar "mas foram todos apanhados, à exceção de um que se suicidou."

Já em agosto de 2007, fugiram seis reclusos do estabelecimento prisional de Guimarães. Os fugitivos "usaram ferros das cadeiras para manietar três guardas," a quem roubaram as armas. Conseguiram depois fugir numa carrinha de transporte de comida.

Em novembro de 2012, "três estrangeiros escaparam da cadeia anexa" à Polícia Judiciária do Porto, removendo as grades de uma janela e descendo, como nos filmes, usando uma "corda de lençóis atados."

A criatividade não pára aqui e, em 2017, "três reclusos da Prisão de Caxias serraram as grades da janela," de onde conseguiram sair para o exterior das celas "e depois cortaram a rede para conseguir fugir" do estabelecimento prisional de Caxias. Neste grupo estava o luso-israelita Joaquim Bitton Matos, que "ficou conhecido pelo vídeo em que faz de super-homem a provocar a então ministra da Justiça Francisca Van Dunem." O homem poderá estar atualmente em "Israel, mas o país não extradita os seus nacionais." 

Mas o que se destaca são as sucessivas fugas de Mark Roscaleer, um dos homens que se encontra a monte junto com outros quatro fugitivos. Mark Roscaleer tinha-se já conseguido evadir da "cadeia de Kirkham, em Inglaterra" tendo-se entregue às autoridades políciais "após nove dias em fuga." Já em Portugal, a 18 de agosto de 2019, o inglês que "tinha sido transferido da prisão de segurança média de Silves, de onde já tentara escapar", resolveu fazer uma nova tentativa. "Partiu a janela a cela onde estava preso" e com "o corpo todo" coberto de óleo, tentou "passar pelas grades." Por volta das 23 horas, os guardas prisionais aperceberam-se desta "tentativa de evasão e travaram a fuga do recluso."

 

Fontes:

https://sicnoticias.pt/pais/2024-09-08-video-fugas-e-tentativas-em-15-anos-fugiram-160-reclusos-das-prisoes-portuguesas-91f796bd

https://observador.pt/2024/09/07/vale-de-judeus-ja-foi-palco-da-fuga-mais-espetacular-do-pais-em-1978-mais-de-100-homens-fugiram-por-um-tunel/

https://www.jn.pt/4877244163/um-tunel-grades-serradas-e-cordas-de-lencois-cinco-fugas-coletivas-nas-cadeias-portuguesas/

https://www.jn.pt/5562450428/fugitivo-britanico-esfregou-se-em-oleo-para-fugir-da-cadeia-de-lisboa-em-2019/

https://tviplayer.iol.pt/programa/cnn-domingo/619396440cf2c7ea0f08f9e9/video/66ddece90cf2f130c2996e85

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publicado às 13:02

Fuga da prisão - só saíram cinco?

por Elsa Filipe, em 08.09.24

Durante a manhã de ontem, sábado, cinco reclusos da cadeia de Vale de Judeus, evadiram-se daquelas instalações. Contaram com ajuda do exterior e, vamos a saber se não terão tido também ajuda do interior, mas o que salta desde logo à vista, é a facilidade com que o plano foi colocado em prática e as falhas que têm estado a ser faladas nos meios de comunicação social. Falhas essas que não são novidade para ninguém - e que provavelmente eram do conhecimento dos reclusos. Aquilo que acaba por me espantar no meio de tudo o que tenho estado a ver nas notícias é, como é que só saíram cinco?

Porventura, os restantes não quiseram arriscar o agravamento das suas penas ou, talvez cá fora as condições para serem recebidos na sociedade não fossem as melhores se se apresentassem como fugitivos, resolvendo por isso, que seria muito mais benéfico cumprirem o resto das suas penas. Mas para estes cinco reclusos, fugir foi uma opção em que tiveram tempo de pensar, e se bem o pensaram, melhor o fizeram.

Sem brincadeiras, estes homens são considerados muito perigosos (quatro deles tinham “medidas especiais de segurança”) e devíamos todos estar bastante preocupados com o facto de eles se encontrarem à solta e sem sabermos exatamente se ainda estão no país ou se já seguiram viagem para outro lado. É que só deram pela fuga quarenta minutos depois e, durante esse lapso temporal, os mesmos tiveram tempo de se pôr bem longe dali. Vale de Judeus fica em Alcoentre, perto de Lisboa, numa zona em que com facilidade se tem acesso a autoestradas (já para não falar da possibilidade de terem saído de barco ou de avião para outro lado, o que com documentos falsos não terá sido assim tão difícil).

Mas como é que o fizeram? Até agora, o que se sabe é tiveram ajuda do exterior, havendo "três suspeitos envolvidos," e o apoio de de duas viaturas para a fuga (uma de marca Mercedes e outra de marca Volvo). Os reclusos saíram pelo pátio, recorrendo a uma escada e a uma corda que lhes foram lançadas do exterior, sem que os guardas dessem conta. Isto foi possível por haver uma clara “falta de meios humanos (haverá 20 guardas para cerca de 500 reclusos)," facto que tem sido sucessivamente desvalorizado pelas diferentes tutelas. Outro factor que terá ajudado à fuga, ou pelo menos facilitado a sua execução, é que devido às últimas obras realizadas na prisão de Vale de Judeus, "as torres de vigia foram retiradas e substituídas por câmaras de vigilância." Estas câmaras são visualizadas por apenas um guarda, o que é humanamente impossível.

E quem são estes homens?

20240908-tvi-fugitivos.jpg

Rodolfo Lohrmann é "um criminoso argentino que chegou a ser um dos dez homens mais procurados da América Latina" e que por cá era conhecido como "El Ruso". É acusado de crimes de rapto, sequestro e homicidio. Uma das suas vítimas foi "Christian Schaerer (na altura com 21 anos), filho de um político argentino." Apesar de ter sido pago um "resgate de 277 mil dólares (cerca de 249 mil euros)" pela família, o jovem nunca veio a aparecer. Neste crime esteve também envolvido um cúmplice de nome Horacio Maidana. "Os dois acabariam por ser detidos em Aveiro, onde estariam a preparar assaltos a carrinhas de transporte de valores, e eram suspeitos de serem os autores de vários assaltos a bancos na zona de Lisboa e Odivelas. Ambos aguardaram julgamento na prisão de alta segurança do Monsanto, em Lisboa."

Fernando Pereira, foi "condenado com duas penas, uma de seis anos e outra de 24 por crimes como tráfico de droga e assaltos à mão armada," o que em Portugal perfaz apenas 25 anos.

Fábio Loureiro, de 33 anos e natural de Lagoa, no Algarve, cumpria também uma pena de 25 anos, "por vários crimes, incluindo sequestro e associação criminosa." É conhecido pela alcunha de "Cigano", e "foi considerado um dos maiores traficantes de droga do Algarve."

Mark Roscaleer, estava a cumprir 9 anos, acusado de crimes de roubo e sequestro. De nacionalidade britânica, Mark tem 39 anos e "já tinha fugido da prisão no seu país de origem."

Shergili Farjani, de 40 anos, é georgiano e estava a cumprir uma pena menor, de apenas 5 anos, "pelo crime de ofensa à integridade física." De notar que nesta prisão de alta segurança, estão, além de criminosos condenados a penas mais longas, estão também muitos reclusos estrangeiros.

O que pergunto é, se eles eram tão perigosos, deviam estar juntos, num espaço não vigiado? E entre muitas outras coisas que nos devem preocupar, é que havia alertas de falta de efetivos no meio prisional. Já se falava há muitos anos do fraco investimento nas prisões e das más condições de trabalho. Todos sabemos que existem telemóveis dentro das cadeias (um meio que facilita a comunicação com o exterior e ajuda na preparação deste tipo de fugas).

Vale de Judeus, está sem diretor e sem chefe dos guardas! Mas que mais tem sido feito e, o que é que foi feito, pelo menos nesta prisão, desde que se soube desta fuga? Algo mudou lá dentro?

Fontes:

https://www.dn.pt/3562177618/uma-escada-e-cordas-a-porta-de-saida-de-cinco-reclusos-da-prisao-de-vale-de-judeus/

https://regiao-sul.pt/algarve-na-tv/fabio-cigano-foi-considerado-um-dos-maiores-traficantes-de-droga-do-algarve-tvi/681864#google_vignette

 

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publicado às 19:43

Polícias em protesto

por Elsa Filipe, em 27.01.24

As nossas forças policiais estão em protesto! E, na minha opinião, com todo o direito.

Os protestos começaram à cerca de duas semanas, depois da iniciativa tomada por "um agente da PSP em frente à Assembleia da República," e atinge já uma grande mobilização a nível nacional "sendo as iniciativas organizadas através de redes sociais, como Facebook e Telegram."

A plataforma responsável por esta marcha, "foi criada para exigir a revisão dos suplementos remuneratórios nas forças de segurança, depois de o Governo ter aprovado no final do ano passado um suplemento de missão para a Polícia Judiciária." Os manifestantes não criticam "a atribuição deste suplemento à PJ" mas criticam a "decisão política de manter de fora os profissionais da PSP e da GNR que diariamente estão na primeira linha de intervenção e que são também prejudicados nas penalidades, nas insalubridades e no risco da sua missão." De facto, o próprio "presidente do maior sindicato da PSP" tem vindo a afirmar que o que está a ser exigido é o "equilíbrio relativamente ao risco, penosidade e salubridade" em relação à Polícia Judiciária.

Na última quarta-feira, foram cerca de quinze mil, os elementos das forças policiais (entre agentes da PSP, militares da GNR, e guardas prisionais)os que se juntaram "em Lisboa, no Largo do Carmo, e marcharam até à Assembleia da República, reclamando por melhores condições de trabalho."

Depois de marcharem de forma ordeira e quase sem bandeiras, nem palavras de ordem, "os manifestantes cantaram três vezes o hino nacional em frente ao Parlamento." Ficaram depois "dezenas de elementos da PSP e da GNR"  acampados junto à Assembleia da República," que não desmobilizaram.

Dia 31 espera-se outra manifestação, desta vez no Porto. 

A maior manifestação de polícias até agora em Portugal, aconteceu em 2013, do qual resultaram vários confrontos e onde aconteceu a invasão da escadaria da Assembleia da República.

Fontes:

https://pt.euronews.com/2024/01/25/policia-unida-jamais-sera-vencida-15-mil-elementos-da-psp-e-gnr-em-marcha-historica-em-lis

https://sicnoticias.pt/pais/2024-01-23-Estruturas-da-PSP-e-GNR-estranham-calculos-do-Governo-sobre-subsidio-de-risco-a66b3ba8

https://sicnoticias.pt/pais/2024-01-25-Policias-em-protesto-Ninguem-pode-ficar-indiferente-depois-da-manifestacao-em-Lisboa-46332f0f

https://sicnoticias.pt/pais/2024-01-24-Milhares-de-elementos-da-PSP-e-GNR-manifestam-se-em-Lisboa-9eec01c8

 

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publicado às 19:29


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