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Gosto de escrever e aqui partilho um pouco de mim... mas não só. Gosto de factos históricos, políticos e de escrever sobre a sociedade em geral. O mundo tem de ser visto com olhar crítico e sem tabús!
Hoje tive de ir a Lisboa e, depois de uma noite mal dormida - ainda ia culpar o meu sporting, mas foi mesmo por pura ansiedade - lá fui.
A viagem até foi rápida, mas estacionar é que foi a grande dor de cabeça! Acabei por optar por um daqueles estacionamentos subterrâneos que nos estragam logo o dia só de olhar para os preços, mas enfim, entre isso e arriscar ser multada... pareceu-me melhor o dito cujo. Para começar, o local onde o IPR ainda se encontra ao fim de tantos anos, é tudo menos o melhor. É que na impossibilidade de estacionar ali perto, lá temos de fazer grandes caminhadas a pé, por entre calçadas esburacadas e estaleiros de obras porta sim, porta sim.
Um ano depois lá estava eu e a conversa parecia um déja-vu.
Lá consegui que a médica, entre as infelizes expressões de "isso é normal", "isso é só muscular" e "isso é da sua doença", fizesse o favor de avaliar as minhas queixas... à saída, trazia já o papel para marcar uma eco, que ficou marcada para uma vaga em setembro (dois anos depois de eu me ter começado a queixar da anca). Enfim, se ando a coxear há tanto tempo, mais uns meses não irão fazer diferença, pois não? Os joelhos é que já se vão queixando de compensarem o peso e o andar mais desengonçado mas desses trato depois. Lá trouxe mais do mesmo em medicação... não deve haver muito por onde escolher, nem opções a tentar, ou então dá muito trabalho ajudar um pouco nessa parte.
O que ainda me lixa, é que ao fim de tantos anos de ouvir tantas coisas, ainda me conseguem fazer correr as lágrimas. Mas já passou, amanhã é outro dia.
E pronto, desculpem lá, mas hoje precisava de desabafar um pouco.
Ultimamente não tenho dedicado muito a falar sobre mim, porque na verdade, tudo continua igual e, realmente, a conjuntura nacional e internacional tem sido muito mais interessante. Talvez porque não me dê grande relevância, ou porque tenha mais que fazer do que me estar a dar demasiado valor. No fundo, há sempre coisas boas e más a acontecer todos os dias na minha vida, mas a principal, sem dúvida, é sentir-me realizada com aquilo que agora estou a fazer.
Ontem caiu uma certa nostalgia e, até um certo aperto, quando comecei a pensar que está tudo a seguir no bom caminho. Mas eu não estou habituada a que as coisas me corram bem e isso faz-me sempre recear... não sei se conhecem a sensação. Eu não estou aqui a dizer que está tudo perfeito, não está mesmo, há muito para melhorar, tenho muito para trabalhar e sobretudo, para me auto-construir. Mas é este caminho que agora estou a percorrer é que me está a dar uma motivação diferente e me faz olhar para situações passadas e me faz pensar: como é que isto me aconteceu? como é que eu deixei que me fizessem isto? como é que eu me permiti a passar por isto? como é que eu não vi isto?
E estas memórias ainda me afetam. Sim, ainda acordo a meio da noite com angústias. Ainda temo e desconfio.
Ainda há sonhos e apertos que me fazem acordar a meio da noite.
E aqui está o foco que quero muito melhorar. A minha saúde. Vivo há anos demais presa a diagnósticos, a medicamentos, a tentativas de fazer os outros perceberem que há doenças que não são visíveis mas que estão cá e nos magoam, nos vão tirando as forças bocadinho a bocadinho. Mas sabem o que eu também sei? É que aquilo que mais me tira as forças, não é a doença nem a medicação, que sim estão cá e fazem parte da minha vida há muitos anos, é a minha preocupação sobre o que os outros pensam de mim. E essas pessoas interessam? Não deviam, porque não são as pessoas próximas de mim, nem as pessoas da minha família próxima, nem as pessoas que me querem bem. Se são só as "outras" e, muitas delas já nem fazem parte da minha vida, porque é que ainda me magoam, me fazem angustiar? Porque é que as memórias do que se passou, não podem passar apenas de memórias e, ainda hoje, me fazem ficar triste?
E porque é que eu estou hoje a escrever isto? Bem, uma das razões é porque não sou a única pessoa a viver com fibro e sei que há muitas pessoas que dizem que o pior desta doença é a incompreensão dos outros. E é exatamente aí que eu sinto que tenho de trabalhar. Não nos outros, mas em mim, em aceitar-me como sou, sem me estar a preocupar se os outros acreditam em mim ou se falam por trás, ou se são falsos... é que eu sei que isso não me devia estar a magoar, não aos quarenta anos, nem depois de tudo aquilo que eu já passei na minha vida, de tudo aquilo que eu já vi e já vivi.
E é tudo isso que importa.
Fazendo aqui uma pausa nas minhas publicações viradas à política, venho hoje desabafar aqui um pouco, depois dos últimos dias que foram física, mental e emocionalmente muito cansativos.
Na sexta de manhã fui fazer a eletromiografia (sim, aquela que estava planeada desde novembro, daquela consulta que eu já estava à espera desde janeiro passado) e não vim de lá mais satisfeita. É que durante os últimos meses, meti na cabeça que ia ser operada e que as dores nas minhas articulações e a dormência que tenho constantemente nos dedos eram do túnel cárpico, mas afinal, parece que o problema não está aí. E não foi por descobrir que o túnel que poderia estar inflamado não está assim tão mau que fiquei descansada. É que as dores que tenho nos dedos têm aumentado muito nos últimos meses, os tremores (o meu sismógrafo pessoal, como lhe costumo chamar) voltaram e acho que têm estado piores do que estavam e às vezes tenho retrações dos tendões que são extremamente dolorosas e incapacitantes.
Associado a estes sintomas e que nada ligam com as mãos, tenho cãibras frequentes, bem como parestesias em determinadas zonas dos pés, do nariz e de outras zonas do corpo. E há aquela sensação de que tenho bichos a passar pela pele, que "mordem, picam" a noite inteira! Coço-me tanto que às vezes a pele começa a escamar e chego a fazer feridas. O cansaço tem vindo a aumentar mas sinto que isso pode estar relacionado com a perda de massa muscular, uma vez que devido às dores na articulação da anca e do ombro, passo todo o tempo que posso na cama... Pelos entretantos, levanto-me para ir trabalhar (ou apenas me sento quando o trabalho é online) e só subir a rua (uns longos 500 metros...) é um esforço demasiado pesado para os músculos cada vez mais fracos. Quando me encosto no muro da secundária, a meio da subida, não é para mais do que para descansar um pouco antes de continuar a subir.
Acabei por desistir do desfile deste ano, quando percebi que poderia dar-se o caso de não ser capaz de fazer a avenida, mas também porque tenho episódios de desiquilibrio e de tonturas quando estou em pé. E nem todos entendem que no ensaio eu devia estar sentada para me conseguir concentrar porque em pé, não são apenas as dores que pioram: são também os espasmos e as parestesias que me distraem do que estou a tentar fazer, E não, ninguém é obrigado a entender aquilo que às vezes nem eu sei explicar. E os meus colegas estão sempre a perguntar se estou melhor, se já consigo ensaiar ou o porquê de afinal eu não ir desfilar e eu, na maioria das vezes, já nem sei que lhes responder. Só que tenho dores e estou farta e cansada de ter dores! E quando regresso a casa depois de assistir aos ensaios, venho para casa e choro.
Ainda tenho a árvore de natal para acabar de arrumar. Não consigo fechar os ramos e enfiá-la na caixa. Já me deu vontade de a pôr no lixo... tirei as placas que protegem a parte de baixo dos móveis da cozinha e não consigo pô-los de volta porque isso implica baixar-me para os voltar a encaixar. E não consigo. Então, estão ali, a um canto...
De manhã, costumo levantar-me com o objetivo de ir fazer uma caminhada - mesmo que pequena - mas fico cansada nas pequenas tarefas, como tomar duche, vestir-me ou deixar o quarto minimamente arrumado que na maior parte das vezes acabo por desistir. Se faço a cama, já não arrumo a loiça que está na máquina... é tudo uma coisa de cada vez. Que inveja que eu tenho das pessoas que têm forças para manter tudo limpinho, tudo arrumado e organizado!
Nos últimos dias, tenho boicotado as tarefas da casa de manhã e obrigo-me a ir à rua, conduzir um pouco ou ir a pé, para ver gente ou, às vezes, só ficar dentro do carro a ler umas páginas de um livro. Quando está sol. Se está nevoeiro ou chuva, só me consigo levantar porque me obrigo a ir trabalhar. É mais do que uma sensação de cansaço. É acordar já exausta.
Escrever... ai, era tudo o que eu queria... tenho tanta coisa para pôr no papel e não consigo! No teclado, é por enqunto muito mais fácil e lá vou conseguindo fazer alguns textos, preparar as minhas formações, com algumas pausas pelo meio mas... e pegar numa caneta, como sempre gostei? Tenho um romance a meio, mas não consigo avançar no teclado do computador. Falta-me a ligação entre o cérebro e a mão, que é mais natural e mais verdadeira que o ecrã. Às vezes, escrevo nas fichas dos meus alunos e depois percebo que o que escrevi não está tão percetível como eu desejava, a minha letra está diferente. Eu que estou sempre a defender a escrita "à mão" e que defendo o seu uso como forma preferencial por dezenas de razões, às vezes, nem eu percebo o que escrevi... e se isso vos pode parecer que não é nada de mais, enganam-se! Para mim, é tudo, porque sempre amei a escrita, porque em tudo o que faço e para onde vou, tenho canetas e papel a acompanhar-me!
E sim, por tudo isto, às vezes fico acordada noite dentro sem saber o que a vida me reserva... acabando às vezes por ter de me levantar para ir trocar a fronha da almofada, molhada pela tristeza que me assoma pelas longas noites.
Assinala-se hoje o Dia Mundial do Combate à Depressão. Esta é uma condição médica muito comum que afeta cerca de 5% da população mundial. Esta é uma doença que pode trazer um impacto muito negativo e entre as suas graves consequências pode mesmo estar o suicídio.
A depressão tem sido um tabu e como tantas doenças mentais é escondida dos outros por muitos dos seus portadores e recusada como um problema por muita da comunidade médica. A depressão é sobretudo uma doença estigmatizada e isso traz vários obstáculos ao seu correto tratamento. "A par da Irlanda somos o país com maior prevalência desta doença que continua a não ter resposta atempadas por parte Serviços de Saúde e gera incompreensão por parte da sociedade."
E para que este preconceito deixe de existir é cada vez mais importante falar sobre o assunto, relembrar que existem meios de diagnóstico e de apoio e que podemos e devemos pedir ajuda. No entanto, é importante não esquecer que no nosso país a saúde mental continua a ser um parente pobre das restantes áreas da saúde.
Uma das questões que temos de trazer para o primeiro plano é que a depressão é uma doença e não um sentimento. É diferente da tristeza, que "é uma emoção humana válida como qualquer outra e tem a sua função." E não podemos nunca dizer que é o mesmo.
A depressão pode ter diferentes causas. Estas podem ser “endógenas ou reactivas a fatores quer precipitantes, ou predisponentes: desencadeadas" por fatores prévios que ocorrem na vida de alguém. Independentemente da sua causa, todas as depressões devem ser atendidas, sejam mais leves ou mais severas.
No decorrer do aparecimento dos sintomas associados à fibromialgia, a depressão apareceu na minha vida. Acabei por detetar alguns dos seus sintomas e procurei ajuda, mas se tivesse havido um trabalho paralelo na altura em que o diagnóstico ainda não estava atribuído e os problemas no trabalho se iam sucedendo, com conhecimento de todas as situações aos médicos que me seguiam, poderia ter sido prevenida ou agarrada muito mais cedo. Felizmente, o apoio de alguns amigos e familiares nessa altura foi fundamental. Mas a minha realidade não é igual à de muitas outras pessoas que passam sozinhas por estas situações e que acabam por entrar em fases muito mais profundas. O importante foi que no meu caso eu estava atenta e tive a capacidade de pedir apoio quando nenhum dos médicos que na época me estava a acompanhar percebeu (ou quis perceber) que tinha de haver um acompanhamento diferente. A procura de uma psicóloga foi inicialmente feita por mim, através do privado e às minhas custas, o que levanta também outras questões, como a da responsabilidade e disponibilidade financeira. Só bastante tempo depois (cerca de dois anos depois de estar na Unidade da Dor) é que me foi atribuída consulta de acompanhamento de psicologia na própria Unidade. Poderia ter sido tarde.
Fontes:
https://www.medicina.ulisboa.pt/dia-mundial-mundial-do-combate-depressao
Há dias em que acordar é um fardo, uma luta em que até as pálpebras doem abrir. Levantar requer uma dose de concentração, força e energia, que me deixam esgotada para o resto do dia.
Há dias em que conseguir sair de casa e caminhar até à paragem, é um esforço quase demasiado grande para ser suportado. A meio da manhã, já estava a entrar em "burnout" - se é que este pico não foi apenas o sinal do corpo que já lá tinha chegado há vários dias. Alguns "entendidos" dizem que a fibromilagia é uma depressão disfarçada. Eu não acho isso. Eu acho que lutar contra esta doença é tão frustrante que nos leva à depressão. Também é verdade que fico pior quando me irrito, quando estou preocupada, ou quando não durmo o suficiente. Mas então, se fosse só isso, não teria crises em dias em que descansei bem, em que o dia correu de forma normal e sem sobressaltos, em que estive tranquila. Mas nessas alturas, o corpo ataca dizendo "estou aqui" e num repente, surge uma dor aguda numa articulação, ou uma perna fica presa, ou a cabeça começa sem aviso a latejar de tal forma que tenho de me segurar para não cair, a visão fica turva do nada, os olhos a arder e as palavras que estão na cabeça, não são as mesmas que saem da minha boca no decorrer de uma conversa.
Noutros dias, faço as mesmas horas, o mesmo trabalho, os mesmos esforços, com mais facilidade, com mais vontade e sem um nível insuportável de dor. Por isso, isto não é uma queixa, é uma constatação. Para quem tem Fibromialgia, cada dia é diferente. Hoje estou mal, amanhã, estou bem. Não é do calor, não é do frio, é porque sim. Claro que nos dias de mais trabalho, canso-me mais - como todas as pessoas - mas não é esse o factor que despoleta as crises.
O conhecimento da forma como o nosso corpo funciona é fundamental. Mas há dias em que me sinto deseperada, em que o nível de dor torna qualquer movimento difícil, qualquer som passa a ser ensurdecedor, qualquer toque mesmo que ao de leve, parece um forte beliscão. A pele arde como se estivesse com um escaldão e até a roupa incomoda, as pontas do cabelo a tocar na cara e no pescoço parecem agulhas a espetar na pele. Só reconhece verdadeiramente quem já passou por isto, os outros apenas podem imaginar.
Foi há muito pouco tempo que eu aprendi a lidar com a minha doença e a aceitar que o meu corpo dói, sempre. Não me queixo sempre que sinto dor, porque seria chato para as outras pessoas se o fizesse. Mas isso não significa que eu não esteja a forçar naquele momento um sorriso ou um movimento.
Antes, não percebia o porquê de me doer do lado direito e na hora seguinte, me doer do lado esquerdo.Ou qual a razão de ficar sem paciência ao longo do dia. É tudo devido à doença. Ou porque é que fico sem força e não consigo subir dois degraus seguidos sem respirar fundo. É do cansaço constante que a doença me dá. Os músculos e as articulações estão constantemente rígidos.
Se me lembro da primeira vez que me afetou? Talvez consiga situar num dia em que me baixei para pegar no meu filho ao colo e fiquei sem me conseguir levantar. Já passaram uns 12 anos, mas nessa época eu achava que podia fazer tudo ainda. Até me convencer que tinha de mudar de vida e que a minha vida nunca mais seria a mesma, demorou muito tempo.
O Dia Mundial da Fibromialgia faz com que se fala nisto, com que se oiçam outras histórias, que se vejam histórias de superação. O bom seria que as pessoas entendessem que não somos nós que estamos a fingir ou que somos queixinhas, ou que apenas não queremos trabalhar.
Muitas vezes, até para virar o corpo na cama exige um esforço sobre-humano. Noutros dias, estamos melhores e achamos que conseguimos fazer aquelas coisas de que já tínhamos saudades... e abusamos do corpo mal habituado. Devido aos anos que se passaram, eu já sei antecipar as crises na maioria das vezes. Quando o tempo começa a ficar mais húmido, o corpo dá sinal. Ou quando me enervo, não consigo relaxar os músculos e os moviementos tornam-se menos amplos e mais dolorosos. Quando tomo banho à noite e desperto antes de ir para a cama, ou fico muito interessada numa série que está a dar na televisão e adormeço mais tarde, o corpo castiga-me no dia seguinte como se eu não tivesse direito a pequenos prazeres.
Não olhem para nós como queixinhas. Não somos pessoas diferentes de vocês, não gostamos de estar na cama nem de estarmos embrulhados numa manta em pleno verão. Eu pessoalmente não gosto quando tenho de ir quase de gatas para a casa de banho, ou quando me agarro ao corrimão para não cair pela escada ao descer. Ou quando tropeço e caio quando vou na rua, só porque o meu corpo perde a força.
Não, não é de propósito que deixo cair coisas, ou que me esqueço de nomes de pessoas ou de locais. E não é que eu não goste de conduzir, é poreque perco a força e tenho espasmos nas pernas e fico com medo de deixar de controlar o carro e magoar alguém. É percetível isso? Não o será para todas as pessoas - acreditem, muitos ainda me julgam mal e acham que só não me apetece!
No ano passado falei também sobre esta doença e sobre a forma como ela nos afeta. Há cada vez mais gente a partilhar conteúdos sobre ela e a dismistificar muitas das coisas que sofremos.
Qual é o problema de nos irmos habituando a ter uma doença crónica? É que vamos criando defesas, construindo muralhas que nos ajudam a suportar cada dia e gerindo a nossa rotina diária tendo em conta os tempos certos que precisamos para descansar e recuperar.
Quando de repente, algo quebra esta cadência o corpo dispara e a dor rasga por todos os lados. É quando achamos que tudo está melhor e baixamos a guarda que ela começa a atacar, primeiro de mansinho, contraindo os músculos, limitando os movimentos a um mínimo que se torne suportável e quando nos damos conta, todo o corpo está demasiado contraído para que seja possível mexermo-nos naturalmente.
Hoje foi um desses dias. A dor atingiu todas as articulações em simultâneo, cada tentativa de me mexer e de sair da cama atingia o meu corpo como se estivesse coberta de vidros ou de espinhos que me picavam a pele.
Deitada, o corpo tremia como se uma corrente de baixa voltagem passasse por ele e de tempos a tempos descargas dessa corrente me provocassem espasmos, movimentos involuntários e dolorosos seguidos de caibras nos músculos. O que se passou? Não faço ideia, mas sei que a origem esteve numa noite inteira acordada com uma possível gastroenterite. A medicação forte para as dores e os relaxantes musculares ajudaram na parte do alívio das dores mas não foram suficientes. Tomar doses maiores fez-me ficar a dormir o dia inteiro e não conseguir ir trabalhar.
Mas nos últimos dias esta crise esteve a espreitar, tentando encontrar um espacinho por onde eu a deixasse aparecer. Eu percebi isso, já as conheço bem, as malvadas gostam de brincar comigo mas eu já as domino, já as conheço bem para as deixar passar pelas minhas defesas. Então vieram os vómitos, as tonturas e o mau estar que me fez ficar em sobressalto a noite inteira até eu ter de me render e me deixar atacar por todo aquele fluxo de dor.
Tentei, sempre evitá-la, atrasá-la o mais possível para que coincidisse com o fim de semana e não me estragasse um dia de trabalho, mas desta vez não fui capaz. Antes assim a uma sexta...
Desde 1992 é celebrada esta data, na qual se tenta chamar a atenção para aspetos importantes da nossa sociedade como as Acessibilidades. Olhem à vossa volta quando saírem para ir beber um café, ou para ir comprar leite a um hipermercado. Esse espaço é acessível? Uma pessoa com cadeira de rodas conseguiria sair da vossa casa e chegar ao café sem ajuda de outras pessoas?
A data tem como principal objetivo a motivação para uma maior compreensão dos assuntos relativos à deficiência e a mobilização para a defesa da dignidade, dos direitos e do bem-estar destas pessoas. Neste dia, debate-se a independência e a autonomia das pessoas com deficiência, bem como a criação de condições de inclusão destes cidadãos. Existe uma estimativa, de acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde) que cerca de 15% da população mundial vive com algum tipo de incapacidade (motora, visual, auditiva, etc). Além disso, que entre 2% a 4% da população com mais de 15 anos vive com alguma dificuldade funcional. Em Portugal, segundo os últimos dados da Saúde e Incapacidades (de 2011) feito pelo INE (Instituto Nacional de Estatística) cerca de 16% dos portugueses (entre 15 a 64 anos) tinham simultaneamente problemas de saúde prolongadas e dificuldades na realização de atividade básicas do dia-a-dia (ver, ouvir, andar, sentar, levantar, comunicar, memorizar, etc). As mulheres são as mais afetadas pelas doenças prolongadas, de acordo com o estudo, e a idade mais crítica é entre os 55 a 64 anos (a última faixa etária analisada).
De acordo com a “Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência”, as pessoas com deficiência devem ter acesso “em condições de igualdade com os demais, ao ambiente físico, ao transporte, à informação e comunicações, incluindo as tecnologias e sistemas de informação e comunicação e a outras instalações e serviços abertos ou prestados ao público, tanto nas áreas urbanas como rurais”.
A legislação afirma também que os “edifícios, estradas, transportes e outras instalações interiores e exteriores, incluindo escolas, habitações, instalações médicas e locais de trabalho” devem ser acessíveis a todas as pessoas com mobilidade reduzida no país. Nesse cenário, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e o digital têm um papel preponderante, porque são um facilitador e um fator de inclusão, sendo essenciais para remover barreiras e contribuir para uma vida independente. Mas para isso, os serviços digitais precisam de ser acessíveis e fáceis de utilizar e o site acessibilidade.gov.pt há muito se assumiu como a referência para a acessibilidade digital em Portugal. O Decreto-Lei n.º 163/2006 estabelece normas e diretrizes para os projetos de construção dos prédios públicos e também em ruas para serem seguidas.
Mas infelizmente... ainda é uma utopia!
A acessibilidade em Portugal e no mundo é um fator extremamente importante para a qualidade de seus cidadãos e também para a integração e participação na vida pública. Poucos edifícios têm sequer uma simples rampa à entrada e quando têm, raras são as que estão de acorda com a inclinação adequada e segura para que uma pessoa portadora de deficiência física se possa movimentar. Se falamos em lojas, quantas permitem a livre circulação sem embater em obstáculos e armadilhas?
Qualquer um de nós é um potencial utilizador. Não é necessário nascer com deficiência. Podemos ter uma doença degenerativa (como eu tenho), precisar de fazer uma cirurgia ou ter um acidente de viação, um atropelamento, uma queda...
Fontes:
https://www.aepombal.edu.pt/a-semente/dia-internacional-da-pessoa-com-deficiencia-2/
https://www.eurodicas.com.br/acessibilidade-em-portugal/
Trabalhar na área educativa - o que eu amo - faz com que chegue a esta altura e eu já esteja em ponto morto, sem forças nem energias. O verão e o calor, para quem sofre desta e de outras patologias, pode ser extremamente desgastante. Felizmente, tenho umas meninas espetaculares na minha equipa que me apoiam e me dão a mão quando preciso. Este ano, infelizmente, voltei a ter de conduzir, mas as idas à praia e outras voltas e viagens, têm sido mais fáceis, porque nos vamos substituindo umas às outras para não custar tanto! Só tenho a agradecer-lhes!
Pena que nem todos sejam assim e prevaleça a vontade de prejudicar os outros em vez de compreender e de ajudar, mas pronto. As pessoas com as quais nos vamos cruzando na vida, tornam-se especiais por isso mesmo e nunca vou esquecer estas pessoas especiais que, apesar de me conhecerem só desde maio, me compreendem e apoiam.
Quanto ao calor... ui, não é fácil e nem sei se não acaba por se tornar pior do que nos dias de muito frio. O calor, pelo menos a mim, agrava-me as crises e, não me deixa dormir, o que torna alguns dos meus dias quase insuportáveis! Tenho inúmeras cãibas e espasmos que são difíceis de aguentar!
Mas tenho de aguentar, mesmo que custe. Este ano acho que nem férias vou ter, por isso, um dia de cada vez e muita medicação, para conseguir levantar-me da cama e ir trabalhar. O sol ainda é o que vai najudando, sabe bem o seu toque na pele - sempre com muito protetor - e a reposição de vitamina D que é essencial para quem padece destas coisas.
Não estou habituada a que sejam os outros a terem o cuidado de me facilitar a vida. Hoje uma pessoa fez um gesto para comigo que me deixou bastante sensibilizada, chamando a atenção aos colegas de trabalho e também aos miúdos, que eu tinha uma doença chamada fibromialgia e que apanhar o frio da água me iria prejudicar. Fiquei espantada porque nunca ninguém tinha feito isso por mim. Estávamos na praia, primeiro dia e, apesar de já ter conversado com ela sobre isso, não estou habituada a que as pessoas se lembrem de mim nestas alturas e me tentem facilitar a vida. De facto, até teria de ficar alguém nas toalhas, a vigiar as crianças que não iam tomar banho, mas ela ter tido aquele cuidado protetor para comigo, significou muito.
Fiquei sem reação, mas bastante agradecida pelo seu gesto. Acho que estou a ganhar ali uma amiga, mas mais do que isso, ela está a ser uma professora para mim, mais do que uma colega, com as palavras e os ensinamentos certos na altura certa. Eu sou muito explosiva e preciso de alguém que me ajude a controlar a minha impulsividade, que me compreenda e oriente, sem críticas destrutivas. Algo que me faz falta.
Hoje cheguei a casa perto das 16h e pouco e vim logo para a cama. Tenho tudo desarrumado, não tenho vontade nem forças para fazer mais nada do que ir trabalhar e voltar. Consigo dar muito no trabalho, mas depois venho para casa exausta e cheia de dores. Estou aqui no computador porque tenho formação do Word e não quero ter falta, mas não sei se hoje aguento até ao final da sessão...
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