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Quando o cansaço se torna em exaustão...

por Elsa Filipe, em 28.01.24

Fazendo aqui uma pausa nas minhas publicações viradas à política, venho hoje desabafar aqui um pouco, depois dos últimos dias que foram física, mental e emocionalmente muito cansativos.

Na sexta de manhã fui fazer a eletromiografia (sim, aquela que estava planeada desde novembro, daquela consulta que eu já estava à espera desde janeiro passado) e não vim de lá mais satisfeita. É que durante os últimos meses, meti na cabeça que ia ser operada e que as dores nas minhas articulações e a dormência que tenho constantemente nos dedos eram do túnel cárpico, mas afinal, parece que o problema não está aí. E não foi por descobrir que o túnel que poderia estar inflamado não está assim tão mau que fiquei descansada. É que as dores que tenho nos dedos têm aumentado muito nos últimos meses, os tremores (o meu sismógrafo pessoal, como lhe costumo chamar) voltaram e acho que têm estado piores do que estavam e às vezes tenho retrações dos tendões que são extremamente dolorosas e incapacitantes.

Associado a estes sintomas e que nada ligam com as mãos, tenho cãibras frequentes, bem como parestesias em determinadas zonas dos pés, do nariz e de outras zonas do corpo. E há aquela sensação de que tenho bichos a passar pela pele, que "mordem, picam" a noite inteira! Coço-me tanto que às vezes a pele começa a escamar e chego a fazer feridas. O cansaço tem vindo a aumentar mas sinto que isso pode estar relacionado com a perda de massa muscular, uma vez que devido às dores na articulação da anca e do ombro, passo todo o tempo que posso na cama... Pelos entretantos, levanto-me para ir trabalhar (ou apenas me sento quando o trabalho é online) e só subir a rua (uns longos 500 metros...) é um esforço demasiado pesado para os músculos cada vez mais fracos. Quando me encosto no muro da secundária, a meio da subida, não é para mais do que para descansar um pouco antes de continuar a subir.

Acabei por desistir do desfile deste ano, quando percebi que poderia dar-se o caso de não ser capaz de fazer a avenida, mas também porque tenho episódios de desiquilibrio e de tonturas quando estou em pé. E nem todos entendem que no ensaio eu devia estar sentada para me conseguir concentrar porque em pé, não são apenas as dores que pioram: são também os espasmos e as parestesias que me distraem do que estou a tentar fazer, E não, ninguém é obrigado a entender aquilo que às vezes nem eu sei explicar. E os meus colegas estão sempre a perguntar se estou melhor, se já consigo ensaiar ou o porquê de afinal eu não ir desfilar e eu, na maioria das vezes, já nem sei que lhes responder. Só que tenho dores e estou farta e cansada de ter dores! E quando regresso a casa depois de assistir aos ensaios, venho para casa e choro.

Ainda tenho a árvore de natal para acabar de arrumar. Não consigo fechar os ramos e enfiá-la na caixa. Já me deu vontade de a pôr no lixo... tirei as placas que protegem a parte de baixo dos móveis da cozinha e não consigo pô-los de volta porque isso implica baixar-me para os voltar a encaixar. E não consigo. Então, estão ali, a um canto...

De manhã, costumo levantar-me com o objetivo de ir fazer uma caminhada - mesmo que pequena - mas fico cansada nas pequenas tarefas, como tomar duche, vestir-me ou deixar o quarto minimamente arrumado que na maior parte das vezes acabo por desistir. Se faço a cama, já não arrumo a loiça que está na máquina... é tudo uma coisa de cada vez. Que inveja que eu tenho das pessoas que têm forças para manter tudo limpinho, tudo arrumado e organizado!

Nos últimos dias, tenho boicotado as tarefas da casa de manhã e obrigo-me a ir à rua, conduzir um pouco ou ir a pé, para ver gente ou, às vezes, só ficar dentro do carro a ler umas páginas de um livro. Quando está sol. Se está nevoeiro ou chuva, só me consigo levantar porque me obrigo a ir trabalhar. É mais do que uma sensação de cansaço. É acordar já exausta.

Escrever... ai, era tudo o que eu queria... tenho tanta coisa para pôr no papel e não consigo! No teclado, é por enqunto muito mais fácil e lá vou conseguindo fazer alguns textos, preparar as minhas formações, com algumas pausas pelo meio mas... e pegar numa caneta, como sempre gostei? Tenho um romance a meio, mas não consigo avançar no teclado do computador. Falta-me a ligação entre o cérebro e a mão, que é mais natural e mais verdadeira que o ecrã. Às vezes, escrevo nas fichas dos meus alunos e depois percebo que o que escrevi não está tão percetível como eu desejava, a minha letra está diferente. Eu que estou sempre a defender a escrita "à mão" e que defendo o seu uso como forma preferencial por dezenas de razões, às vezes, nem eu percebo o que escrevi... e se isso vos pode parecer que não é nada de mais, enganam-se! Para mim, é tudo, porque sempre amei a escrita, porque em tudo o que faço e para onde vou, tenho canetas e papel a acompanhar-me!

E sim, por tudo isto, às vezes fico acordada noite dentro sem saber o que a vida me reserva... acabando às vezes por ter de me levantar para ir trocar a fronha da almofada, molhada pela tristeza que me assoma pelas longas noites.

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publicado às 20:00

Se há coisas de que tenho algum orgulho é de viver num país que me permite liberdade de expressão. Estas são as minhas palavras de hoje. Um país com muitas falhas, um país com corrupção no governo, com gente que nada vale em altos cargos, mas um país onde é possível dizer o que se pensa, escrever sobre o que se acha. Ser ponderado não é deixar de ser livre. Ser crítico, não é ser mal educado nem tão pouco ofensivo. Estar contra ou a favor de algo é apenas uma opinião, não é ter mais ou menos razão que o outro. Debater, é isso apenas, trocar ideias, discutir pontos de vista. Não é virar as costas à opinião do outro, mas pode ser escolher o lado que se acha mais correto segundo os nossos padrões.

Quando se procura alívio, nestes tempos difíceis, fazer um desabafo em forma de escrita pode ter uma função terapêutica. Uma página em branco pode ser difícil de ultrapassar, mas pode ser também uma terapia de autoconsciencialização e de reflexão sobre o que se passa à nossa volta. 

As notícias à nossa volta são assustadoras. Todos os dias somos "atacados" por más notícias, que nos vão afetando a mente e a compreensão do mundo. Podemos tornar-nos imunes à dor do outro? Não quero estar imune! Isso seria deixar de sentir, deixar de me importar. A dor do outro não pode ser desvalorizada só por estar atrás de um ecrã, por estar tão longe aparentemente. As lágrimas de uma mãe que grita a morte de um filho vítima de um bombardeamento, não pode ser vista de ânimo leve sem uma dor profunda que nos atravessa o coração. A dor de um pai que segura o corpo de um filho nos braços, caminhando numa estrada cheia de pó... sem destino...

Quando o local que conhecem como habitação, é atingido, para onde se dirigem os sobreviventes? Quando um familiar, um amigo, um conhecido, um vizinho, está ferido, para onde se leva? Parece que não é assim tão literal em contexto de guerra, pois não? E quem protege quem salva?

Na Ucrânia, já se registam mais de 500 crianças mortas desde o início da guerra (ou seja, desde fevereiro de 2022) e ferimentos em mais de mil (e, como é bastante fácil de compreender, estes dados podem estar a ser divulgados por baixo). Sobreviver, é apenas a primeira fase, depois, chegam outros problemas, uma vez que os ataques aéreos e as explosões também danificam "serviços essenciais como escolas e hospitais" o que traz um forte impacto na vida e na saúde destas crianças. 

De 7 a 14 de outubro, mais de 700 crianças foram mortas na Faixa de Gaza. Citando James Helder, porta-voz da UNICEF, "as imagens e histórias são claras: crianças com queimaduras horríveis, ferimentos de morteiro e partes do corpo perdidas. E os hospitais estão totalmente sobrecarregados para tratá-los.” Afirma também James Helder que, as crianças israelitas que foram raptadas no passado dia 7 de outubro, e que ainda estão "como reféns em Gaza devem ser reunidas de forma segura e imediata com as suas famílias e entes queridos”.

Os ataques aos hospitais e os cortes sistemáticos de energia colocam também a vida de milhares de crianças em risco na Faixa de Gaza. Um dos médico que se manifestou, afirma que "muitas crianças que dependem de ventiladores não sobreviveriam a uma interrupção de eletricidade em Gaza".

No dia 17 deste mês, o hospital de "Al-Ahli na Cidade de Gaza," foi alvo de um bombardeamento e "caso seja confirmado, será o mais mortífero bombardeamento aéreo israelita nas cinco guerras que foram travadas desde 2008." Nas imagens que foram mostradas por alguns meios de comunicação, vê-se "um enorme incêndio rodeando as fachadas do edifício, vidros estilhaçados e corpos, muitos deles desmembrados, espalhados por toda a zona." O ataque terá feito cerca de 500 mortos, entre os quais dezenas de crianças. No mesmo dia (17/10) uma escola foi também bombardeada, o que provocou a morte de pelo menos seis pessoas e dezenas de feridos. A escola, que era administrada por uma agência afeta à ONU, estava localizada no "acampamento de refugiados de Al Maghazi." Seriam cerca de 4000, as pessoas que "estavam refugiadas naquela escola."

Para quê isto?

E é difícil escrever sobre estes ataques. Mas temos de o fazer. Repetidamente. Temos de continuar a espalhar estes números por aí. Talvez o meu blogue não chegue a muita gente, o meu público é "pouqinho" (mas bom), mas acho que é um passo importante se cada um de nós for chamando a atenção para estes problemas uma e outra vez, não sendo cumplíces em calar tanta maldade!

 

Fontes:

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/mais-de-700-criancas-palestinas-morreram-em-gaza-durante-guerra-com-israel-diz-unicef/

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/vidas-de-criancas-correm-risco-se-eletricidade-parar-diz-medico-de-gaza/

https://sicnoticias.pt/mundo/2023-10-17-Israel-Ataque-aereo-a-hospital-mata-pelo-menos-500-pessoas-em-Gaza-eeaab0a9

https://sicnoticias.pt/mundo/2023-10-17-Israel-ataque-atinge-escola-da-ONU-em-Gaza-e-mata-pelo-menos-seis-pessoas-cc4ff8ca

 

 

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publicado às 23:16

Eduardo Pitta

por Elsa Filipe, em 25.07.23

Faleceu esta manhã em Torres Vedras, o poeta, escritor e ensaísta português Eduardo Pitta, com 73 anos, vítima de complicações decorrentes de um AVC. 

Eduardo Pitta, nasceu em Lourenço Marques, atual Maputo, a 9 de Agosto de 1949. Viveu em Moçambique até Novembro de 1975. Era crítico literário da revista Sábado desde 2011, mas também nas revistas Colóquio-Letras (1987-2019), da Fundação Calouste Gulbenkian, e LER (1990-2006), bem como nos jornais Diário de Notícias (1996-1998) e Público (2004-2011).

Desde 1974, publicou dez livros de poesia, um romance, duas coletâneas de contos, quatro volumes de ensaio e crítica, duas recolhas de crónicas, dois diários de viagem e o livro de memórias "Um Rapaz a Arder". Um ensaio sobre homossexualidade na literatura portuguesa contemporânea, Fractura (2003), é considerado por Mark Sabine «the first history of Portuguese literary homosexuality». Participou em encontros de escritores, congressos, seminários e festivais de poesia em Portugal, Espanha, França, Itália, Grécia e Colômbia.

Diversos poemas seus encontram-se traduzidos em castelhano, italiano, francês, inglês e hebraico. Mantinha desde 2005 o blogue Da Literatura. Casou em 2010 com Jorge Neves, seu companheiro desde 1972.

 

Fontes:

https://sicnoticias.pt/cultura/2023-07-25-Morreu-o-poeta-e-escritor-Eduardo-Pitta-7cc83809?utm_source=caixa-na-sicnoticias

https://www.eduardopitta.com/

 

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publicado às 13:02

Greves e falta de motivação

por Elsa Filipe, em 16.06.23

Num ano atípico, onde alguns alunos passaram quase mais tempo "fora" do que dentro da sala de aula, motivar para a realização das provas de 9º ano tem sido uma tarefa hercúlea. É que uns não deram a matéria toda por causa do covid, da falta de professores e das greves, outros deram mas já fizeram contas e basta-lhes ter um 10 para passarem o ano. E assim vai a vontade dos alunos que este ano foram avaliados a matemátia e vão ser avaliados a português.

Fazer um texto? Não é obrigatório concluir a prova toda e se fizerem só a escoha múltipla dá para passar de ano. E continuamos com esta palhaçada.

Sem falar das provas de aferição.

Quanto a essas, os alunos sabem que não contam para a nota e que "se calhar" o professor nem vem porque faz greve. Então e o papel dos pais, aqui fica onde? Cansados de tanta greve, já nem obrigam os filhos a estudar porque "é tempo perdido". Verdade que já ouvi isto. Não lhes consigo dar razão, porque mesmo sem testes e sem provas a contar para "passar" a aprendizagem é contínua, e um dia, eles nem um email sem erros serão capazes de enviar.

É para isto que estamos a caminhar. Falta exigência no ensino! Não a exigência que se aplicava nos anos 70, 80 ou 90... algo mais medido e adequado aos tempos que correm! A educação precisa de um novo rumo!

Como é que se chega a um quarto ano sem saber ler? Sim, existem vários casos (e não estou a falar de crianças com Necessidades Educativas Específicas, nem abrangidas por nenhum apoio especial), estou mesmo a falar de meninos e meninas, que vão à escola, não costumam faltar, mas estão ali só a ver passar a marcha. 

Os professores estão sem tempo para nada. Vejo cadernos, de 3º e 4º ano, em que cada palavra tem um erro e em que não se respeitam parágrafos, maiúsculas, pontuação... e nada, nem uma correçãozinha a lápis. Novas formas de ensinar, sim de acordo, mas, mesmo que não se assinale, é preciso agir com exercícios em que o aluno consiga atingir aquela meta. Ou escrever a nossa Língua de forma minimamente correta não é uma das várias metas a atingir?

Depois rimo-nos quando vêmos nas notícias, caixas de texto com erros, acentos usados ao contrário e outros pontapés na gramática e na ortografia. Lá fazemos umas piadinhas sobre isso, mas a culpa é de quem? Do ensino, da sua falta de exigência, da falta de motivação dos alunos? E da falta de motivação dos professores? Não será também?

Há tanto a fazer, mas só se fala em anos, meses e dias, merecidos e devidos sim, mas que não vão resolver os problemas de base do nosso sistema educativo que se está a afundar. 

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publicado às 12:50

No comboio

por Elsa Filipe, em 28.10.22

Hoje o dia não parece ter corrido bem a toda a gente, pelo menos, não deve ter sido a melhor manã da senhora que ia sentada no banco à minha frente no comboio. Estranhamente havia lugares vazios, pelo que aproveitei para me sentar. Infelizmente, esta senhora não parecendo reparar que havia mais gente além dela dentro da carruagem, partilhava com os restantes as músicas que ela estava a ouvir. Não que o som dos seus auriculares estivesse muito alto, ela estava mesmo com o telemóvel levantado na mão, com o som alto. Logo isto fez-me tomar mais atenção a esta personagem. Senta-se uma rapariga ao seu lado e a dita começa a olhar descaradamente o que ela está a fazer no seu telemóvel. A rapariga reparou, abanou a cabeça e desviou  um pouco o telemóvel mas a senhora sem qualquer bom senso, continuou a tentar captrapiscar o que havia de segredos na tela da vizinha.

Esta levanta-se e prefere ficar de pé. Eu levanto-me logo a seguir para dar lugar a uma outra senhora. Quando oiço a primeira perguntar se faltava muito para Coina. Íamos no sentido contrário. Então ela levanta-se, sai na mesma estação que eu, passa a correr escada abaixo. Pensei, pronto distraiu-se e agora basta-lhe apanhar o comboio que circula na outra linha, chegará se calhar um pouco atrasada. Mas não. A história não termina aqui. Quando chega ao fundo das escadas, entra nas escadas rolantes, voltando a subir, a correr, pelo meio das outras pessoas, voltando para a mesma plataforma onde estava o comboio de onde tínhamos acabado de sair. Fiquei com vontade de subir novamente para ver se tinha voltado a entrar no mesmo comboio e continuado no sentido Lisboa a pensar que agora já ia para o seu destino. Mas não o fiz. 

Tive pena dela porque ninguém merece enganar-se no comboio, mas cá no fundo, foi com um pouquinho de maldade que pensei "bem feito" para não andares a chatear os outros com "Tou nem aí" logo de manhã!

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publicado às 09:17

Feira do Livro

por Elsa Filipe, em 12.09.22

Apesar de ser uma amante de livros, nem sempre tenho a oportunidade de ir à Feira do Livro. Este ano, foi diferente. 

Escrevi um pequeno conto infantil, que foi editado através da editora Cordel de Prata e a minha ida foi combinada com eles para realizar a Sessão de autógrafos e a promoção do meu livro. Para começar, foi logo difícil combinar esta hora. Consegui uma quarta à noite e, felizmente, estava uma noite quente e bonita, com a feira cheia de gente a passear. Mas um dia de semana, não é bom para as vendas. Por outro lado, percebi que, embora em algumas bancas houvesse promoções e livros em destaque, cartazes e publicidade, eu ia para uma cadeira colocada virada para a rua, sem espaço para acolher as pessoas que eventualmente ali parassem. Ninguém me conhecia e mesmo com divulgação (feita apenas por mim nas minhas redes sociais), repito que uma noite de quarta não é boa para vendas.

Senti-me ali um pouco deslocada. Felizmente pude falar por breves momentos com uma rapariga que também tinha sido abordada como eu para editar o seu livro (pela mesma editora e que queria saber como tinha decorrido o processo comigo), por uma colega de trabalho (e Amiga!) que levou a família a passear e me foi dar o seu apoio (tão bom!) e por fim, com um casal que eu já não via pessoalmente há vários anos. Acabei por passar a hora de pé, acompanhada destas pessoas especiais que me forma propositadamente ver e dar o seu apoio, amizades recentes e antigas, mas que me fizeram sentir tão bem! 

Da parte da editora, o apoio foi mínimo. Estar ali ou não, penso que para eles foi igual. Esperava outro acompanhamento - mas claro, se calhar se fosse alguém conhecido, tinha sido diferente. Existem muitos escritores como eu: ainda escrevemos muito mas editamos pouco. Existem muitos bons escritores no nosso país. Poucos têm dinheiro para continuar a publicar, porque é um processo moroso e dispendioso que nos leva a desistir. 

Quando terminou a minha "hora" fui literalmente convidada a sair (uns minutos antes) porque os senhores começaram a baixar os estores - como aquelas pessoas que se fartam das visitas e começam a varrer a casa, sabem?

Peguei na bolsa e ia a sair, com a ideia de "agora vou eu às compras" quando caí na realidade: a Feira estava a fechar. Não comprei nada. E infelizmente, não sei se consigo lá regressar este ano. Fiquei trsite e desapontada. Felizmente, eu consigo encontrar bons livros em promoção noutros locais e acabo por ter a minha biblioteca bastante composta.

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publicado às 19:26

Reencontros

por Elsa Filipe, em 27.08.22

Se a edição do meu livro foi um sonho teornado realidade, a verdade é que além da satisfação pessoal, a sua saída trouxe-me muitas outras coisas boas. Uma delas foi a possibilidade de voltar a falar com algumas pessoas com as quais a vida me tinha feito perder o contato e, também, voltar a encontrar-me com alguns amigos.

A possibilidade de rever algumas pessoas, de ir entregar o livro em mão (na maioria das vezes ficava mais barato enviar por correio), com uma dedicatória, umas palavras pensadas em especial para aquela pessoa, tornam o momento em que o livro troca de mãos ainda mais especial. Não sei se dará vendas suficientes, mas já estou a ganhar com este retomar de relações que fui perdendo. As redes sociais trazem esta possibilidade, tanto na divulgação do próprio livro, como no reencontrar de pessoas, antigas colegas de curso, antigos colegas de trabalho, amigos que nunca deixaram de estar presentes, mas com os quais não falamos todos os dias.

Sou muito crítica em relação ao meu trabalho e com este meu livro não foi exceção. Para mim, há sempre algo a melhorar, algo que as pessoas não vão gostar. 

Mas os comentários ao meu trabalho têm sido bons. Tenho ouvido e lido frases de motivação e de incentivo e, sobretudo, de surpresa. Quem me conhece bem, sabe que eu sempre gostei de escrever e que sempre escrevi muito.

Este passo da edição foi uma aventura, um risco grande que eu corri sozinha. Tinha de ser sozinha, sem ninguém das minhas relações que se envolvesse demasiado ou investisse no projeto. Se correr mal, terei de ser só eu. 

Vivi e o dragão_img_novidade.jpeg

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publicado às 18:20

Editando um sonho

por Elsa Filipe, em 15.08.22

Sai hoje o meu livro. A partir de hoje, estará nas bancas "Vivi e o dragão". Um conto infantil, com sabor a mar e cheiro de praia. Convido-vos a conhecer a pequena "Vivi" nesta aventura fantástica pelo mundo da imaginação e dos sonhos, dos dragões e dos pós de fada. Espero que traga momentos felizes a muitas crianças pelo nosso país fora.

A construção deste livro começou com um pequeno conto para participar num concurso da editora Cordel de Prata. Mas depois, as coisas foram-se complementando e, um ano depois, está aqui o resultado final. Estive muito ansiosa por ver o resultado final e, tendo em conta que ainda não tenho os meus exemplares na minha mão, essa ansiedade ainda não passou.

Vivi e o dragão_img_jadisponivel.jpeg

O dia coincidiu com um acelerar do processo para poder ser lançado ainda nesta feira do livro (onde irei também ter uma sessão de autógrafos), mas não foi escolhido por nenhuma razão em especial. 

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publicado às 14:28

Em vésperas da liberdade, "presos" em casa

por Elsa Filipe, em 24.04.20

Um pouco antes das 23h de um dia 24 como o de hoje, ouve-se na rádio a canção "E depois do Adeus"... mais tarde, já na madrugada de 25 de abril, é a voz de José Afonso que ecoa nos rádios com "Grândola, Vila Morena". Outras canções, antes da revolução cantavam gritos de revolta e brilhavam os olhos dos seus intérpretes quando conseguiam dizer aquelas letras ludibriando quem os queria calar.

Hoje estamos em casa, por causa de uma pandemia e até parece que não temos liberdade. De certa forma, estamos um pouco presos mas não as nossas mentes, tal como não estavam presas as mentes daqueles que usaram as palavras e a escrita como gritos de revolta e rasgar de amarras. É sobre esses que hoje vos venho escrever.

A palavra escrita podia comprometer o regime e a imagem que dele os portugueses tinham e por isso, muitos livros foram proibidos, muitos jornais nunca chegaram a ver a luz do dia e muitas informações foram caladas.Portugal, viveu durante 48 anos, na escuridão. A escuridão da mente que não podia abrir-se ao mundo mas também a escuridão daqueles que às escondidas, iam escrevendo artigos de propaganda contra o regime, poemas - tantos hoje cantados - com coisas que não podiam ser ditas. Falemos hoje livremente de livros proibidos e de autores que alguns quiseram que nunca fossem lidos!

A política de Salazar e de Marcello Caetano, era feita de silêncios, de calar tudo o que fosse considerado “propaganda subversiva”. Os jornais, as revistas, os livros e outras manifestações culturais, eram cortados previamente ou simplesmente proibidos. Fugir ao lápis azul, passou a ser uma arte construída em subtilezas e truques para iludir a vigilância policial. E uma forma de resistir sem liberdade de expressão.

A censura era uma arma do Estado Novo! Produziu mais de 10.000 relatórios de leitura aos livros de autores portugueses, lusófonos e não-lusófonos, em edição original ou tradução, que entravam e circulavam em território nacional. 

Centenas de obras foram proibidas. Falamos em cerca de 900 títulos identificados como tendo sido proibidos pela ditadura entre 1933 e 1974. o primeiro livro objeto da fúria censora da ditadura do Estado Novo foi A obra intangível do Dr. Oliveira Salazar, de Cunha Leal, que chefiou um governo na I República e chegou a apoiar o golpe de 28 de maio de 1926.

Os autores eram acusados de serem imorais, pornográficos, comunistas, irreligiosos, subversivos, maus, antissociais, dissolventes, anarquistas ou revolucionários, os livros examinados pela Censura abrangem áreas como as artes plásticas, ciências naturais, ciência política, economia, educação, geografia, filosofia, história, literatura, música, sociologia, religião, entre outras. A Censura acabou por proibir especialmente as obras marxistas-leninistas, eróticas ou de educação sexual. Nas décadas de 1940 e 50 proibiu-se a literatura neorrealista.

Da lista negra de autores portugueses faziam parte Urbano Tavares Rodrigues, Miguel Torga, Alves Redol, Natália Correia, Herberto Hélder, Aquilino Ribeiro, Vergílio Ferreira, entre outros. O autor mais proibido misturava em doses bem medidas um humor brejeiro, a sátira política e o erotismo do seu desenho que indispunham os censores, o que os levou a apreender 29 obras de José Vilhena, humorista que depois do 25 de Abril publicaria o título Gaiola Aberta. Os outros dois autores mais proibidos são Roy Harvey (15 obras), pseudónimo literário de José Ferreira Marques, e Tomás de Fonseca (14), cujo militantismo republicano e anticlerical lhe valeu a perseguição do lápis azul. O quarto autor mais visado é Urbano Tavares Rodrigues, jornalista e escritor, militante do PCP, que viu sete livros serem proibidos.

Com um número muito menor de livros, estão as mulheres. Sem dúvida, fruto da parca escolarização a que as meninas tinham acesso e ao poder que os homens tinham sobre as mulheres, conseguindo em muitas casas, castrar-lhes o pensamento. Daquelas que o conseguiram fazer, poucas chegaram até aos nossos dias. No caso de Maria Archer, a ação da censura terá tido um peso tão grande que a autora perdeu o seu meio de subsistência, tendo de viver mais de duas décadas fora de Portugal. Para além disso, a sua obra sofreu danos irreversíveis pois ela teve de ser alterada de forma a poder passar ilesa pela mão dos censores. Tem havido algumas tentativas de recuperação da sua obra – e, consequentemente, do seu lugar na história literária –, mas estas têm sido insuficientes para que seja conhecida pelo grande público.

Carmen de Figueiredo foi censurada pela inclusão, na estrutura da narrativa, de descrições sexuais. Nita Clímaco, com a sua escrita fez contrastar Portugal, pobre, iminentemente rural, culturalmente tacanho, a França, moderna, culturalmente viva. No entanto, essa modernidade acaba por ser apresentada como uma devassidão moral pela censura.

Natália Correia, mais conhecida e até estudada nos nossos dias, também foi impedida de ser lida mas, a verdade é que esta veio não só a reeditar algumas das suas obras depois do 25 de Abril mas também a tornar-se num dos nomes mais proeminentes da cultura portuguesa nas décadas seguintes. A sua obra foi premiada e reeditada várias vezes.

Nos estrangeiros apareciam Jorge Amado, Jean-Paul Sartre e todos os que defendessem a ideologia marxista. 

Recomendo que oiçam a entrevista feita por Teresa Nicolau, João Martins e Paulo Nunes (RTP - 2014).

 

Fontes:

https://ensina.rtp.pt/artigo/livros-e-escritores-censurados-pelo-estado-novo/

https://www.parlamento.pt/Parlamento/Documents/Biblioteca_25abril2021.pdf

https://www.dn.pt/politica/estado-novo-censurou-900-livros-2434309.html

https://www.esquerda.net/dossier/escritoras-portuguesas-e-estado-novo-9-autoras-e-21-obras-censuradas/64649

https://www.bnportugal.gov.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=1682%3Aexposicao-obras-proibidas-e-censuradas-no-estado-novo-3-maio-3-set&catid=173%3A2022&Itemid=1680&lang=pt

 

 

 

 

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publicado às 19:38

Agustina Bessa-Luís

por Elsa Filipe, em 04.06.19

Mais conhecida como Agustina Bessa-Luís, a escritora nascida em Vila Meã, Amarante, a 15 de outubro de 1922, faleceu ontem.

Desde muito jovem que Agustina se interessou por livros, descobrindo na biblioteca do avô materno, os clássicos da literatura espanhola, francesa e inglesa, marcantes na sua formação literária. Os locais onde viveu a sua meniníce, marcam a sua escrita.

Estreou-se com a novela "Mundo Fechado" em 1949,  e em 1954, o romance "A Sibila", trás-lhe um enorme sucesso e reconhecimento geral. 

Escreveu mais de cinquenta obras, entre romances, contos, peças de teatro, biografias romanceadas, crónicas de viagem, ensaios e livros infantis. 

O realizador Manoel de Oliveira, com quem manteve uma relação de amizade e de colaboração próxima, adaptou algumas das suas obras ao cinema, tais como: "Fanny Owen" (que deu origem ao filme de nome "Francisca" em 1981), "Vale Abraão" (filme homónimo, 1993), "As Terras do Risco" (que deu origem ao filme "O Convento", 1995) ou "A Mãe de um Rio" (que deu origem a "Inquietude" em 1998).

Foi também autora de peças de teatro e guiões para televisão, tendo o seu romance "As Fúrias" sido adaptado para teatro e encenado por Filipe La Féria, em 1995 no Teatro Nacional D. Maria II.

Em 2005, participou no programa da RTP "Ela por Ela" e em julho de 2006, pouco depois de terminar a sua última obra, "A Ronda da Noite", deixou de escrever e retirou-se da vida pública, devido a razões de saúde (possivelmente pelo acidente vascular cerebral que sofreu).

 

Fontes:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Agustina_Bessa-Lu%C3%ADs

https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$agustina-bessa-luis

 

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publicado às 14:06


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