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Assinala-se hoje o Dia Mundial do Combate à Depressão. Esta é uma condição médica muito comum que afeta cerca de 5% da população mundial. Esta é uma doença que pode trazer um impacto muito negativo e entre as suas graves consequências pode mesmo estar o suicídio.

A depressão tem sido um tabu e como tantas doenças mentais é escondida dos outros por muitos dos seus portadores e recusada como um problema por muita da comunidade médica. A depressão é sobretudo uma doença estigmatizada e isso traz vários obstáculos ao seu correto tratamento. "A par da Irlanda somos o país com maior prevalência desta doença que continua a não ter resposta atempadas por parte Serviços de Saúde e gera incompreensão por parte da sociedade." 

E para que este preconceito deixe de existir é cada vez mais importante falar sobre o assunto, relembrar que existem meios de diagnóstico e de apoio e que podemos e devemos pedir ajuda. No entanto, é importante não esquecer que no nosso país a saúde mental continua a ser um parente pobre das restantes áreas da saúde. 

Uma das questões que temos de trazer para o primeiro plano é que a depressão é uma doença e não um sentimento. É diferente da tristeza, que "é uma emoção humana válida como qualquer outra e tem a sua função." E não podemos nunca dizer que é o mesmo.

A depressão pode ter diferentes causas. Estas podem ser “endógenas ou reactivas a fatores quer precipitantes, ou predisponentes: desencadeadas" por fatores prévios que ocorrem na vida de alguém. Independentemente da sua causa, todas as depressões devem ser atendidas, sejam mais leves ou mais severas. 

No decorrer do aparecimento dos sintomas associados à fibromialgia, a depressão apareceu na minha vida. Acabei por detetar alguns dos seus sintomas e procurei ajuda, mas se tivesse havido um trabalho paralelo na altura em que o diagnóstico ainda não estava atribuído e os problemas no trabalho se iam sucedendo, com conhecimento de todas as situações aos médicos que me seguiam, poderia ter sido prevenida ou agarrada muito mais cedo. Felizmente, o apoio de alguns amigos e familiares nessa altura foi fundamental. Mas a minha realidade não é igual à de muitas outras pessoas que passam sozinhas por estas situações e que acabam por entrar em fases muito mais profundas. O importante foi que no meu caso eu estava atenta e tive a capacidade de pedir apoio quando nenhum dos médicos que na época me estava a acompanhar percebeu (ou quis perceber) que tinha de haver um acompanhamento diferente. A procura de uma psicóloga foi inicialmente feita por mim, através do privado e às minhas custas, o que levanta também outras questões, como a da responsabilidade e disponibilidade financeira. Só bastante tempo depois (cerca de dois anos depois de estar na Unidade da Dor) é que me foi atribuída consulta de acompanhamento de psicologia na própria Unidade. Poderia ter sido tarde.

Fontes:

https://vaniacardoso.net/2023/01/17/13-de-janeiro-2023-dia-mundial-de-prevencao-e-combate-a-depressao/

https://www.medicina.ulisboa.pt/dia-mundial-mundial-do-combate-depressao

https://www.publico.pt/2024/01/13/impar/opiniao/depressao-doenca-estigma-obstaculos-tratamento-2076592

 

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publicado às 22:40

O toque que incapacita

por Elsa Filipe, em 12.06.23

Há dias em que acordar é um fardo, uma luta em que até as pálpebras doem abrir. Levantar requer uma dose de concentração, força e energia, que me deixam esgotada para o resto do dia. 

Há dias em que conseguir sair de casa e caminhar até à paragem, é um esforço quase demasiado grande para ser suportado. A meio da manhã, já estava a entrar em "burnout" - se é que este pico não foi apenas o sinal do corpo que já lá tinha chegado há vários dias. Alguns "entendidos" dizem que a fibromilagia é uma depressão disfarçada. Eu não acho isso. Eu acho que lutar contra esta doença é tão frustrante que nos leva à depressão. Também é verdade que fico pior quando me irrito, quando estou preocupada, ou quando não durmo o suficiente. Mas então, se fosse só isso, não teria crises em dias em que descansei bem, em que o dia correu de forma normal e sem sobressaltos, em que estive tranquila. Mas nessas alturas, o corpo ataca dizendo "estou aqui" e num repente, surge uma dor aguda numa articulação, ou uma perna fica presa, ou a cabeça começa sem aviso a latejar de tal forma que tenho de me segurar para não cair, a visão fica turva do nada, os olhos a arder e as palavras que estão na cabeça, não são as mesmas que saem da minha boca no decorrer de uma conversa.

Noutros dias, faço as mesmas horas, o mesmo trabalho, os mesmos esforços, com mais facilidade, com mais vontade e sem um nível insuportável de dor. Por isso, isto não é uma queixa, é uma constatação. Para quem tem Fibromialgia, cada dia é diferente. Hoje estou mal, amanhã, estou bem. Não é do calor, não é do frio, é porque sim. Claro que nos dias de mais trabalho, canso-me mais - como todas as pessoas - mas não é esse o factor que despoleta as crises. 

O conhecimento da forma como o nosso corpo funciona é fundamental. Mas há dias em que me sinto deseperada, em que o nível de dor torna qualquer movimento difícil, qualquer som passa a ser ensurdecedor, qualquer toque mesmo que ao de leve, parece um forte beliscão. A pele arde como se estivesse com um escaldão e até a roupa incomoda, as pontas do cabelo a tocar na cara e no pescoço parecem agulhas a espetar na pele. Só reconhece verdadeiramente quem já passou por isto, os outros apenas podem imaginar.

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publicado às 23:37

Dia Mundial da Fibromialgia

por Elsa Filipe, em 12.05.23

Foi há muito pouco tempo que eu aprendi a lidar com a minha doença e a aceitar que o meu corpo dói, sempre. Não me queixo sempre que sinto dor, porque seria chato para as outras pessoas se o fizesse. Mas isso não significa que eu não esteja a forçar naquele momento um sorriso ou um movimento. 

Antes, não percebia o porquê de me doer do lado direito e na hora seguinte, me doer do lado esquerdo.Ou qual a razão de ficar sem paciência ao longo do dia. É tudo devido à doença. Ou porque é que fico sem força e não consigo subir dois degraus seguidos sem respirar fundo. É do cansaço constante que a doença me dá. Os músculos e as articulações estão constantemente rígidos. 

Se me lembro da primeira vez que me afetou? Talvez consiga situar num dia em que me baixei para pegar no meu filho ao colo e fiquei sem me conseguir levantar. Já passaram uns 12 anos, mas nessa época eu achava que podia fazer tudo ainda. Até me convencer que tinha de mudar de vida e que a minha vida nunca mais seria a mesma, demorou muito tempo.

O Dia Mundial da Fibromialgia faz com que se fala nisto, com que se oiçam outras histórias, que se vejam histórias de superação. O bom seria que as pessoas entendessem que não somos nós que estamos a fingir ou que somos queixinhas, ou que apenas não queremos trabalhar. 

Muitas vezes, até para virar o corpo na cama exige um esforço sobre-humano. Noutros dias, estamos melhores e achamos que conseguimos fazer aquelas coisas de que já tínhamos saudades... e abusamos do corpo mal habituado. Devido aos anos que se passaram, eu já sei antecipar as crises na maioria das vezes. Quando o tempo começa a ficar mais húmido, o corpo dá sinal. Ou quando me enervo, não consigo relaxar os músculos e os moviementos tornam-se menos amplos e mais dolorosos. Quando tomo banho à noite e desperto antes de ir para a cama, ou fico muito interessada numa série que está a dar na televisão e adormeço mais tarde, o corpo castiga-me no dia seguinte como se eu não tivesse direito a pequenos prazeres. 

Não olhem para nós como queixinhas. Não somos pessoas diferentes de vocês, não gostamos de estar na cama nem de estarmos embrulhados numa manta em pleno verão. Eu pessoalmente não gosto quando tenho de ir quase de gatas para a casa de banho, ou quando me agarro ao corrimão para não cair pela escada ao descer. Ou quando tropeço e caio quando vou na rua, só porque o meu corpo perde a força. 

Não, não é de propósito que deixo cair coisas, ou que me esqueço de nomes de pessoas ou de locais. E não é que eu não goste de conduzir, é poreque perco a força e tenho espasmos nas pernas e fico com medo de deixar de controlar o carro e magoar alguém. É percetível isso? Não o será para todas as pessoas - acreditem, muitos ainda me julgam mal e acham que só não me apetece!

No ano passado falei também sobre esta doença e sobre a forma como ela nos afeta. Há cada vez mais gente a partilhar conteúdos sobre ela e a dismistificar muitas das coisas que sofremos.

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publicado às 15:29

Fibromialgia - consulta de reumatologia

por Elsa Filipe, em 26.11.22

O fim de semana chega e com ele o tempo de por em ordem as ideias e de refletir sobre os próximos passos que tenho de dar. Durante anos, batalhei por ter um diagnóstico e, mesmo sabendo que aquilo de que sofria era de uma doença que para alguns médicos nem existe, nunca baixei os braços. Na última consulta a minha médica de família lá cedeu e enviou um pedido de avaliação para o Instituto Português de Reumatologia, o qual pensavamos que demorava mais a ser atendido. Fui lá esta semana. 

A médica rapidamente confirmou o diagnóstico de fibromialgia e disse que para ela era óbvio, encontrou facilmente os pontos de dor, os gatilhos. Estranhou o porquê de ter andado tanto tempo para me diagnosticarem algo que há muito se suspeitava o que era. Voltou a referir que tenho de fazer hidroginástica ou pilates clínico, mas isso para mim não é fácil - pelo menos não neste momento EM QUE ESTOU CHEIA de trabalho! Andar a pé é o máximo que agora tenho conseguido fazer e que mais se assemelha com desporto. 

Em relação aos meus pulsos ela é a favor que eu seja operada e que isso me vai beneficiar bastante, mas sinceramente eu não fiquei convencida. 

Agora terei nova consulta em maio e até lá tenho de manter a medicação (ela voltou a receitar-me duloxetina) e fazer exames. 

Não muda nada, mas para mim muda muita coisa. Pelo menos sei que estou a ser seguida no sítio certo por uma pessoa experiente. Uma pessoa frontal mas que não me fez sentir diminuída.

Mas no fundo, aquilo que me tem irritado sempre é que ainda agora estou em casa, cheia de dores. A medicação que agora aumentou deixa-me cheia de sono e ainda não vejo melhoras (sei que irá demorar a me habituar) e que esperam de mim que enfrente tudo como se não fosse nada de mais. O pior não são as dores, mesmo assim, o pior é o cansaço, a falta de força e de ânimo.

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publicado às 15:40

As madrugadas

por Elsa Filipe, em 22.07.22

Acordo. A madrugada ainda não deu lugar ao calor que se adivinha mas o meu corpo já não quer estar mais no aconchego dos lençois. Que se lixe. Tenho umas séries para ver, umas coisas para escrever e, se calhar, um café ajudava a começar a manhã. Faço o café, arrumo a loiça que deixei na máquina, ligo a tv. Volto para cima da cama. Tv ligada e o pc preparado para pôr em prática mais um exercício de escrita. É mais fácil escrever de madrugada. Antes dos outros problemas do dia começarem a chegar em rajadas e a deturpar-me as ideias e a vontade.

Ontem o dia não começou bem. Andei à procura da marcação para a consulta na Unidade da Dor, que estava marcada desde abril. Pensava que era às 11h. Encontro o papel, no meio de umas outras papeladas perdidas, são 9h43m. "Vou já sair e aproveito para ir beber café", olho para o papel que tenho na mão.

A consulta é às 10h. Estou atrasada. Saio de casa e pelo caminho vou mais uma vez pensando que tenho de ter calma, ouvir o que me vai ser dito, respirar e sair dali com calma, "vai ser só mais uma consulta". Minutos depois de entrar no gabinete, já estou a chorar. Perco de vez a calma e "que se lixe" hoje vou pôr tudo cá fora. Afinal, não tenho mais ninguém a quem me queixar! A médica volta a falar da minha postura e eu disparo que assim tenho menos dores, que ela me está a avaliar em dois minutos ali e que nas restantes horas e dias da minha vida sou apenas Eu sozinha a lidar com a dor, com a incapacidade, com o julgamento dos outros. Se é para me julgar também então não vim ali fazer nada. Ela pede autorização para me encaminhar para a psicóloga. Até que enfim, penso. É um direito que eu tenho, já tive consultas mas tive de as pagar do meu bolso.

Avançamos mais um pouco hoje. Depois de me ouvir, lá me avalia os pontos de dor e descobre os gatilhos. O toque dela parecem facas a perfurar-me a carne, uma facada de cada vez. Torço-me e as lágrimas caem em silêncio. Tento responder quando me faz perguntas mas as palavras estão turvas na minha mente. A dor ultrapassa já a vontade de falar. Só quero que ela me deixe sair dali.

Lá resolve fazer uma eco para me ver o ombro - surpresa, há ali qualquer coisa algures na acromioclavicular - informo que já sabia, que já esteve pior do que está agora. Já passaram alguns anos desde que fiz fisioterapia. Agora as dores estão piores porque me torceram o braço esta semana, tento explicar. Saio da consulta com mais uns comprimidos para tomar à noite que "ajudarão nas dores e a descansar", com indicação para não desistir da hidroginástica (que não faço) e para aguardar a chamada para o raio-x e para ir pedir à médica de família que me passe fisioterapia. Voltamos ao jogo do empurra e das burocracias. Pior se quero um relatório: iam ser duas páginas a explicar o processo e acho que quase será mais fácil ir doutorar-me em medicina primeiro - deve ser mais rápido.

Depois do almoço vou trabalhar. Enquanto estou sentada a preencher a folha de ponto, um dos meninos chega por trás de mim. Ele é autista, não sabe medir a força do aperto. Agarra-me a cabeça e o pescoço entre os seus braços e sufoca-me, aperta-me. Tento manter a calma, enquanto a minha colega tenta que ele afrouxe o aperto.

Os outros miúdos aproximam-se e tentam ajudar. Acho que tanta gente de volta dele só o faz apertar mais. Sei que só passaram uns segundos. Estou bem.

Não, não estou bem.

As dores disparam e o ombro, o braço, o pescoço parecem a escaldar. Foi o gatilho mais do que a força que ele colocou no aperto. Não entendi e enquanto tento voltar a respirar, chamam-no e levam-no para os pais que entretanto o vieram buscar. Hoje vão sair daqui sem saber o que ele me fez. Não tenho forças para lhes ir contar e a minha colega que o vai entregar não teve tempo de saber o que se passou. Ele não tem culpa. Eu tenho culpa de ter baixado a guarda e estar distraída a preencher um papel. Nem me apercebi da presença dele atrás de mim, ou se o vi, não o senti como uma ameaça. Ele não é ameaçador. Eu não tenho medo dele. Mas sentir-me agarrada e apertada faz despoletar em mim uma sensação de pânico. Passaram-se sete anos e ainda sinto que me estão a agarrar. Por momentos, aquela criança passou de ser apenas um rapaz, autista, para ser aquele outro que me agrediu naquela tarde e que nunca vou esquecer.

Tenho de respirar. O dia continua. As pessoas à minha volta continuam nas suas rotinas e não sabem o que se passou. Respondo sem pensar a algo que me perguntam e acusam-me de estar a "fazer aquele olhar", a "responder torto"... nem me lembro o que me perguntaram, não sei que olhar é que fiz. Por momentos, só me apetece sair dali. Deixem-me ir para casa por favor, é só o que estou a pensar naquele momento.

A tarde passa, aos poucos as coisas vão voltando ao normal. Saio do trabalho. Tenho várias coisas ainda para fazer e o meu filho lembra-me que tinhamos combinado ir ao Batuque. Quero ir. Deixei de ir porque tinha de recuperar. Já entendi que nunca vou estar completamente bem, então... que se lixe! Se amanhã não me mexer será porque estive a fazer algo prazeroso e não a chorar enroscada num canto. A dor esteve sempre ali, presente, como um ferro a escaldar encostado no ombro ou uma faca que de vez em quando me penetrada no braço, mas assim que a música arrancou eu fazia parte daquela bateria. Deixei-me ir, sem pensar num enredo que nunca tocara mas que segui durante mais de uma hora como se tivesse ensaiado dezenas de vezes.

Sete anos, desapareceram como se tivesse ensaiado na semana anterior. E o meu filho tentou estar ali, mostrou vontade de aprender, quis saber os nomes dos instrumentos e como se tocam. Diz que vai desfilar e então iremos os dois como fizemos antes. Criar memórias. Um dia ele vai lembrar-se de mim e de como eu e ele desfilavamos. Um dia ele vai saber que estivemos juntos e  que ultrapassei muita coisa.

Hoje será igual, posso ter um dia bom ou mau. Posso ter dores ou não.

A dor crónica é a malvada que nos destrói sonhos. Mas eu vou pisá-la mais do que ela me vai pisar a mim.

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publicado às 06:00

Perder-me, lá bem no fundo...

por Elsa Filipe, em 04.07.22

Se há coisas que me fazem perder as estribeiras, é quando os meus planos saem furados. Sabem aquela semana em que começamos a planear tudo, mas depois chega a sábado e todos os planos meticulosamente pensados dão em nada?

Não importa, pois nem era nada de especial, pensando agora sobre isso, mas o que magoa é quando alteramos o que queríamos ou gostaríamos de fazer, sem que haja uma pessoa que nos valorize por isso. Sem querer, acabei por passar todo fim de semana quase sozinha (às vezes estar sozinha é bom, mas nem sempre). Havia festa aqui no Seixal, mas também não tive paciência para lá ir. 

No sábado, chegou cá a casa também a máquina nova para a loiça (a primeira que tenho eque finalmente consegui adquirir com uma ajudinha especial) mas nem isso me fez ficar mais feliz, porque a água ainda não está a funcionar e por isso continuo sem a conseguir utilizar.

Talvez me devesse estar a sentir feliz, mas não estou, não sei porquê. Estou zangada com tudo. Sabem aqueles dias em que SÓ nos apetece fechar num casulo e desaparecer? Não para sempre, apenas até isto passar, já que também não tenho uma daquelas máquinas de viajar no tempo que penso que já deviam ter inventado! É que me acontece isto muitas vezes, aqueles dias que começam mal, que nada que se faça parece ajudar a que melhorem, muito pelo contrário.

Só sei que aliado a isto, a dor se começou a instalar e, sim, a fibro sendo uma doença oportunista, deprime e aproveita a depressão como se fossem amigas inseparáveis e não vivessem uma sem a outra. Estou a conseguir hoje recuperar um pouco, depois de umas caminhadas, difíceis por sinal,  e de hoje ter aguentado um dia de trabalho cheia de dores.

Felizmente, foi o mesmo trabalho onde me pude divertir, passar tempo com gente interessante e trabalhadora e descarregar um pouco o meu stress. Começaram as Férias Desportivas e hoje foi dia de uma batalha de balões de água. Resultado, as articulações das minhas mãos estão a queimar com o gel de efeito quente que coloquei para tentar ultrapassar as dores insuportáveis. Agora já não sei se é pior aguentar as dores ou esta sensação de queimadura e a comichão! Aproveitei e pus o gel onde me doia, ou seja, nos ombros, na lombar, nas duas pernas, nos pulsos, nos dedos das mãos... está simplesmente insuportável de aguentar. Cheguei a casa perto das 18h e vim logo, logo, para a cama. Estou um pouco mais calma, menos zangada, mas ainda a recuperar - sei que vai demorar uns dias na melhor das hipóteses -  a voltar ao normal, a voltar a estar apenas com dores suportáveis, sem ter de me encher de medicação e sem cair à cama assim que chego.

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publicado às 22:50

Reflexão de vida

por Elsa Filipe, em 17.04.22

Na passada quinta-feira foi dia de muitas lágrimas. Não me aconteceu nada, mas foi o descarregar de muitos dias de emoções contidas dos quais ainda estou a recuperar. Fui à consulta da Unidade da Dor, desta vez já na Unidade do Laranjeiro, em que uma equipa estava à minha espera.

Dois anos depois da primeira consulta, na qual me assustei com a suspeita de EM, a médica aborda-me agora dizendo que não há nada a temer e que eu tenho de me endireitar e ir em frente com a minha vida. Abanou-me psicologicamente, ralhou-me para me pôr direita, para deixar de me deixar dominar pelas dores e fazer frente à vida.

Por momentos senti-me muito mal, ao mesmo tempo culpada do sofrimento de estar com a cabeça numa possível doença mais grave e depois revoltada por estar sem trabalho fixo, por estar sempre cheia de dores e sem vontade de fazer nada! E a médica ao ver-me desabar num pranto, diz-me apenas o que eu estava a pensar: "E porque é que eu estou cheia de dores?" 

E logo me responde: "Porque tem muita coisa, nessa coluna, que temos de controlar e por isso vamos a tomar a medicação mas a fazer pela vida. Pode e deve fazer tudo!" Eu na altura, naqueles momentos, ainda a digerir tudo, nem percebi bem a intenção daqueles empurrões para a frente, mas hoje, uns dias depois sei que ela tinha toda a razão. Tal como me tinham dito há dois anos atrás na consulta, tenho de fazer pilatos clínico, hidroginástica e, também pode ser bom que eu faça fisioterapia. Agora estou a fazer um plano de exercícios indicado pela equipa médica e que me vai ajudar até conseguir entrar no pilatos, e um tratamento de seis sessões de Diatermia que me vai ajudar bastante.

Eu nunca desisti de mim e todos os dias me tento levantar para ir trabalhar, para fazer as minhas coisas, mesmo que nem sempre seja capaz de fazer tudo o que quero. Mas a verdade, é que nos últimas semanas, me tenho estado outra vez a entregar a um estado depressivo que não é nada bom. Nem para mim que tenho fibromialgia e que tenho depressão, nem para ninguém. Na prática, é muito fácil falar em lutar, mas não é nada fácil quando estas duas patologias nos começam a puxar para baixo. Felizmente, mesmo com muitas adversidades, tenho conseguido dar a volta por cima. E não me posso esquecer de referir que tenho muitas pessoas amigas, que, de certa forma e cada uma à sua maneira, me vão transmitindo valores positivos, me vão desafiando, me vão apoiando cada uma do seu jeito. Uma palavra, uma frase, um abraço no momento certo ou, às vezes, um abanão!

Obrigada por me fazer verter todas as lágrimas acumuladas. Sou grata por hoje, que é Páscoa, estar sozinha em casa, poder refletir, poder caminhar na minha marginal, observando o rio a correr e as pessoas a passear, tomar o meu café. Aqueles pequenos prazeres, tão simples e, que nos trazem tantas energia boa! Hoje não foi dia de estar com ninguém, não foi dia de dar nem de receber, foi apenas o momento certo de estar comigo mesma e de planear a minha vida, os próximos passos a dar. Não é fácil, porque ainda me falta aquele trabalho certo, aquela realizaçaõ profissional que me vai trazer estabilidade para outras coisas que preciso. Mas vou começar a semana com uma vontade renovada. 

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publicado às 18:47

Nuvens

por Elsa Filipe, em 09.04.22

Hoje está muito difícil. Nunca precisaram que o tempo vos acompanhasse? Sabem aqueles dias em que vos apetece fechar a página e passar ao seguinte, simplesmente porque hoje não estão para isto?

É que bem pensado, se ainda viesse uma boa trovoada daquelas com relâmpagos que metessem medo, eu ainda podia ir para dentro do carro sentir as bátegas de água no vidro e ver os raios desfazer a estrada à minha volta, as rajadas arrancar uns pinheiros, rachar ao meio os eucaliptos. É assim que hoje me sinto, explosiva.

A apetecer-me partir a loiça e não a lavar. Atirar o ferro à parede e ignorar que está partido à meses e que tenho de estar sempre a colar adesivo para aguentar mais umas pecinhas de roupa...

Porque é que as coisas têm de ser tão complicadas e porque é que o que é simples não pode ser sempre simples? O tempo podia colaborar e mandar umas nuvens mais carregadas, com chuva e trovoada que me animassem a tarde. Estou na escrita mas sei que o resto está por fazer, o trabalho não está acabado, estou atrasada com prazos. E como é que atrasei tudo, se tive dias "livres" sem trabalho? Claro, simples que ninguém entenda. Na minha testa nascem borbulhas (talvez um par deles já lá tenha tido) mas não aparece uma luz fluorescente a dizer "doente crónica". E sem esse lototipo escarrapachado, fácil que os demais não entendam o que é "fibrofog" nem depressão. Sim, porque essa está cá tem tempo e nunca foi embora, mas as doenças também temos de escolher as que podemos pagar e as que não podemos dar importância. Ora eu optei por pagar nas que me tiram as dores físicas. Sem dor, posso fingir que o resto está bem e continuar a ir trabalhar. 

E como eu me considero uma pessoa inteligente, também finjo que não me dói às vezes. Hoje dói-me os ombros (o esquerdo está pior), as articulações das mãos, o osso da perna esquerda e o tornozelo e, claro, a cabeça. Mas ontem a dor era maior nas articulações do braço e mão direitas mas também no ombro esquerdo, na anca direita e joelho esquerdo (mesmo assim não me enganei). Ora se  alguém ouvisse e prestasse devida atenção, hoje ia achar que "ah, enganaste-me bem!" Pois ia achar que ou eu era louca ou mentirosa, ou que não sei os nomes das partes do corpo. Mas para meu próprio mal, sei bem os nomes e nomezinhos de todos os ossos, músculos e coisinhas mais! 

E agora que descarreguei aqui um bocadinho de más energias na folha, vou aquecer café e tentar acabar os manuais que deviam já estar prontos! Depois logo tento acabar de fingir que arrumo a casa.

 

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publicado às 16:27

Chover no molhado

por Elsa Filipe, em 08.04.22

Esta semana não tem sido fácil, nem este mês, nem este ano.

Mudar é sempre uma decisão complicada, especilamente quando temos quem dependa de nós e nunca sei se estou à altura de atingir os meus objetivos, nem que seja o de pôr comida na mesa em todas as refeições e pagar as contas.

O pior é quando sentimos que de alguma forma temos de tomar decisões difíceis, fazer as escolhas que uns meses (anos?) antes não teríamos de fazer. Aí nessas alturas eu penso, "pior era se o meu país estivesse em guerra e eu de malas às costas a fugir daqui" mas porra! Eu não mereço isto, não estudei para isto (sim, já me arrependi bem de não ter seguido secretariado, mas pronto é o que acontece quando ouvimos os outros e temos vergonha de dizer que afinal já não queremos ser professoras como queríamos aos seis anos de idade).

A nossa vida devia dar para espreitar mais à frente, nem que fosse só um episódio do futuro. Assim escusavamos de andar a fazer figura de ursos em caminhos que não levam a lado nenhum. 

Esta semana, alguém me perguntou "mas tirou o curso, trabalhou e depois esteve tantos anos noutra área?" Porque numa dada altura da minha vida, eu era "muito nova" e tinha "pouca experiência". Hello! Eu tive de ir trabalhar noutra profissão, numa que eu sabia fazer, que tinha experiência e onde aprendi muito e ganhei ainda mais competências, mas não porque fosse o meu sonho, foi só para pôr dinheiro em casa e comida na mesa.

Felizmente, numa determinada altura da minha vida tive pessoas que me ajudaram a superar, me arranjaram trabalho e me deram uma oportunidade de ir em frente. Ao Zé e à Fátima nunca serei suficientemente grata. Mas infelizmente, à minha volta houve também gente a pisar-me. Essas pisadelas, empurrões, estão gravadas no meu corpo fisicamente como se não tivessem sido só palavras e atos nas minhas costas (ou mesmo à minha frente, sem vergonha que eu visse, a olharem-me nos olhos enquanto me prejudicavam e ficavam por cima).

A dor é física como é psicológica. Às vezes, dói tanto que tenho me marcar os dentes no pulso ou no braço para retirar o foco da dor "oca" noutras partes do corpo. Oca porque é como se estivesse com uma zona vazia, fria, uma dor fantasma num membro que ainda lá está, que dói como se estivesse partido, queimado mas que eu olho e não tem lá nada!

Apetece bater até marcar, negro, para depois mostrar e dizerem "ah, não te dói aí?" Talvez entendessem a dor sem sentido, fantasmagórica que me acorda de noite e me massacra. Qundo não vem dor, vem a comichão ou as cãibras, ou a dor, a comichão e as cãibras. E só quero que a noite acabe e de manhã o dia amanheça como se eu tivesse dormido bem, mas nada disto acontece.

Estou sem tomar medicação. Várias semanas já, a levar-me à loucura.

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publicado às 22:00

Nem uma brisa...

por Elsa Filipe, em 04.08.18

Os dias têm estado muito quentes e à noite nem uma brisa ajuda a suportar o calor. Ontem, Alcácer do Sal, distrito de Setúbal, atingiu 45,9 graus Celsius. Setúbal chegou aos 44.6 graus. Para mim as noite muito quentes como a de hoje são complicadas de suportar. Embora não saia para ir para o terreno apagar fogos, a verdade é que se torna complicado vê-los sair do quartel e eu ter de ficar. Sei que a minha situação de saúde tem vindo a piorar e que dificilmente evoluirei mais na carreira. Torna-se frustrante não os poder apoiar, mas pior ainda é quando percebo que me olham de forma diferente por eu não os ajudar mais. É porque não consigo, não éporque não queira, mas eles não têm de entender porque nem eu sei ainda muito bem o que tenho e porque é que me sinto sempre assim tão em baixo.

Mas voltando à onda de calor, razão do post de hoje... a verdade é que estes valores não são muito normais apesar de estarmos em agosto. Muitas das estações registaram valores acima dos 40º, como se pode ver aqui:

Calor. Um terço do país bateu recordes de temperaturas em agosto

É desta forma expectável que hoje sejam verificados novos recordes históricos, estando 11 distritos - Lisboa, Setúbal, Bragança, Évora, Guarda, Vila Real, Santarém, Beja, Castelo Branco, Portalegre e Braga - em aviso vermelho até às 14:59 de domingo, devido à persistência de valores elevados da temperatura máxima, segundo o IPMA.

Hoje parece que as temperaturas máximas se vão manter em valores extremos em Portugal, mas também em Espanha e, segundo a BBC, é esperado que nestes dois países seja batido o recorde europeu registado na Grécia há mais de 40 anos em Elesfina e Tatoi. Nestas duas localidades, situadas na região da Ática Ocidental, onde fica Atenas, os termómetros registaram 48 graus Celsius, a temperatura mais alta registada na Europa desde que começaram as medições, em 1956. Em Portugal, o recorde é de 1 de agosto de 2003, ano em que se registou "novo máximo absoluto relativo à temperatura máxima de 47,3°C na Amareleja", segundo o IPMA. A onda de calor que se verificou nesse ano é "comparável" a que estamos a viver agora.

Esta semana, voltaram em grande força os incêndios florestais sendo que ontem o mais complicado foi em Monchique, Algarve. Amanhã, domingo, espera-se que as temperaturas comecem a descer um pouco e talvez isso ajude os mais de 400 operacionais que estão no terreno.

Em Espanha, a onda de calor já fez três mortos.

Fontes:

https://www.dn.pt/edicao-do-dia/04-ago-2018/calor-um-terco-do-pais-bateu-recordes-de-temperaturas-em-agosto-9677514.html

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publicado às 09:47


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