"Foi neste dia que um grupo de revoltosos," que ganharia o nome de "os Quarenta Conjurados," planeou e "lançou um golpe de Estado." Este grupo invadiu o Paço Real em Lisboa e assassinou "o representante de Espanha em Portugal, Miguel de Vasconcelos." A independência foi assim devolvida ao povo português. Sentava-se no trono o rei D. João IV, iniciando então a Dinastia de Bragança.
Terminavam 60 anos de ocupação que se tinha iniciado depois da crise de sucessão que se deu com a morte prematura do Rei D. Sebastião em Alcácer-Quibir, para onde tinha partido com apenas 25 anos. A estratégia portuguesa passava por conquistar a região através de um cerco, mas a decisão acabou por ser alterada e o novo plano passou por atacar em campo aberto. Esta decisão ditaria o terrível desfecho, uma vez que o "xerife Abd el-Malek sabia que os portugueses estavam a rumar para as suas terras com o objetivo de uma investida." Mas, afinal, o que aconteceu para que os espanhóis fossem reis de Portugal?
Voltando atrás... no dia "4 de agosto" de 1578, os portugueses tinham sido "derrotados no Norte de África" e o rei D. Sebastião foi dado como "morto durante o combate," juntamente com "milhares de portugueses, incluindo a elite do poder," tendo os sobreviventes, na sua maioria sido feitos prisioneiros em Marrocos.
Com a presunção da morte de D. Sebastião, foi coroado "o cardeal D. Henrique mas," que era "irmão de D. João III e que havia sido na menoridade de D. Sebastião, regente do reino."
De entre os pretendentes havia D. Filipe de Espanha, Dª Catarina e D. António. D. Filipe de Espanha era, de facto, neto de D. Manuel I e, por isso, um dos pretendentes ao trono português, concorrendo contra a prima, Dª Catarina. "Esta candidata, apesar de ter o apoio de alguns membros do clero e de alguns juristas, não reunia o apoio de muitos fidalgos, provavelmente por causa de rivalidades e conflitos tradicionais entre casas senhoriais." D. António, apesar de ser o mais fraco dos candidatos acabou por ser aclamado pelo povo!
No entanto, D. António acabaria por ser derrotado na Batalha de Alcântara pelas forças espanholas," e fugiria para os Açores, tendo acabado "exilado em França."
Três dos cinco governadores que ficaram a chefiar "o país aceitaram o rei de Espanha como rei de Portugal em julho de 1580." Estes três homens, assinaram "o reconhecimento de Filipe II em Castro Marim, dando-se então início à dinastia Filipina. E o que era feito de D. Catarina e de D. António?
"D. Catarina acabou por abandonar a pretensão ao trono e D. António tentou uma negociação com o rei de Espanha: abdicaria da sua pretensão se fosse nomeado governador vitalício, proposta esta que foi recusada por Filipe II."
Uma das ações de Filipe II foi mesmo prometer que haveria a "possibilidade de resgate de uma grande parte dos que, embarcados com D. Sebastião, haviam ficado prisioneiros nos cárceres marroquinos." De facto, o rei chegou mesmo a avançar com o pagamento de quantias monetárias bastante elevadas "para libertar os reféns e assim garantir o apoio e a gratidão da nobreza portuguesa." Além disso, muitos destes nobres viam na União Ibérica, "uma forma de ascender e receber vários benefícios."
Entretanto, nascia o filho de "Filipe I de Portugal e de sua esposa, Ana de Áustria," mas parece que poucos prestaram "atenção" ao nascimento "de um infante espanhol. Nesta altura estava a decorrer a preparação da jornada para o Norte de África." Não era o primogénito e, por isso, o lugar não seria diretamente seu, mas a morte do seu "irmão Carlos, filho de Maria Manuela, infanta de Portugal," e posteriormente com as mortes dos "infantes Fernando, Carlos Lourenço e Diogo," acabou por ter o seu lugar garantido na sucessão ao trono.
Filipe III de Espanha, II de Portugal, que se tornaria rei "de ambas as coroas em 1598," teria uma saúde muito débil. Casar-se-ia com D. Margarida, que "cumpriu o seu dever como rainha e conseguiu gerar" oito descendentes, entre eles, a "infanta Ana Maurícia," que mais tarde se tornaria "rainha de França (mãe de Luís XIV). D. Filipe II, morreria em grande sofrimento e, poderá até, ter sido vítima de envenenamento, a 31 de março de 1621.
Tinha nascido entretanto em Valladolid, D. "Filipe III de Portugal e IV de Espanha", em 1605. "O nascimento de um príncipe do sexo masculino era sempre motivo de grande júbilo e satisfação, porque assegurava a continuação da linhagem e o destino da coroa." O infante seria "jurado como príncipe herdeiro de Castela pelas cortes a 13 de janeiro de 1608," com apenas três anos. "Em 1611, Espanha começou a negociar o matrimónio do herdeiro da coroa com uma infanta francesa. Contudo, nesta altura o príncipe tinha apenas sete anos e a infanta francesa Isabel de Borbom, nove." Casaram em 1615 e tiveram sete filhos, apenas um deles, do sexo masculino, que acabaria por morrer. D. Filipe III voltaria a casar-se para que fosse possível encontrar um sucessor varão, desta vez com a sua própria "sobrinha, Mariana de Áustria."
A verdade é que, a Dinastia Filipina, dirigiu "o Reino português com distância física" e não mantinha qualquer "ligação afetiva a Portugal." D. Filipe I, deixou mesmo "o governo da coroa portuguesa entregue ao seu sobrinho D. Alberto, filho de Maximiliano da Áustria e de Maria da Áustria, sua irmã."
Durante o reinado de Filipe II, a governação de Portugal foi também bastante "instável e fortemente marcada pela distância." O país sofria "diversas dificuldades," tais como a "escassez de cereais e péssimos anos para a agricultura," que tornaram a vida do povo deveras complicada. "Com o objetivo de melhorar a relação com Portugal e acalmar o descontentamento dos portugueses," D. Filipe II de Portugal, entregou o governo a "Cristóvão de Moura."
Em 1608, "o cargo de vice-rei foi entregue a D. Pedro Castilho, bispo de Leiria e inquisidor mor do Reino. Ao longo do reinado de Filipe II de Portugal, foram vários os vice-reis, sendo o último vice-rei Diego de Silva." Filipe II de Portugal nunca se mostrou muito preocupado "em resolver as questões do reino de Portugal," chegando mesmo a acusar os "seus ministros" da situação em que o reino se encontrava.
"Com a subida ao trono de Filipe III", a ausência física tornou-se ainda mais evidente, tendo "a governação de Portugal" estado "sempre entregue ao respetivo vice-rei rei ou à junta de governadores." No ano de 1634, Filipe III de Portugal, "designou como vice-rainha de Portugal, a sua prima italiana Margarida de Sabóia, duquesa de Mântua." Entretanto começava o conflito da Catalunha, onde muitos dos nobres portugueses acabaram por ir combater.
Pouco tempo depois, em 1639, "foi proposto ao Duque de Bragança um cargo importante, o cargo de governador-geral das armas de Portugal." D. João, não terá aceite "esta oferta e, quando a conspiração contra a Dinastia Filipina começou a ganhar maior proporção," acabou por ser de certa forma, "obrigado" a ter uma atitude mais ativa e assumiu a liderança do "movimento que emergia."
O golpe de Estado que conduziu à morte de Miguel de Vasconcelos, foi planeado durante algum tempo, em "várias reuniões secretas no Palácio da Independência, no Largo de São Domingos, perto do Largo do Rossio, em Lisboa. Foi aí que os 40 nobres que queria derrubar o espanhol Filipe III do trono conspiraram, mais precisamente num anexo, na altura conhecido como palácio de Antão Vaz de Almada," que era um dos Quarenta.
Mas não nos podemos esquecer de um outro factor que pode ter facilitado o desfecho positivo deste golpe. Na Catalunha, acontecia "ao mesmo tempo, a Guerra dos Segadores," o que pode ter servido "para desviar as atenções da coroa espanhola, que na altura travava outras guerras com outros territórios para além de Portugal."
A independência só foi reconhecida por Espanha 28 anos depois, em 1668, com a assinatura do Tratado de Lisboa.