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Dias negros... luto nacional

por Elsa Filipe, em 20.09.24

Hoje o dia acordou cinzento, com algumas nuvens e chuva em alguns pontos do país. Chuva que veio trazer algum alívio às populações, mas que tem de ser olhada também com alguma precaução. Como sempre, depois de grandes incêndios, as áreas ardidas e as zonas adjacentes ficam cobertas de cinza e de muitos inertes que podem ser arrastados pelas encostas, poluindo os cursos de água. É natural e expectável que isto aconteça, é mais uma consequência dos incêndios (que não é contabilizada na pena dos incendiários). As zonas atingidas pelos incêndios podem agora sofrer deslizamentos de terras para as quais a população deve estar atenta e mostrar uma atitude preventiva.

O país está de luto. Pelas vidas humanas perdidas foi declarado pelo governo que hoje seria dia de luto nacional. Mas não chega... temos de exigir mais! "Morreram sete pessoas e 166 ficaram feridas, devido aos fogos que atingem desde domingo sobretudo as regiões Norte e Centro do país, nos distritos de Aveiro, Porto, Vila Real, Braga, Viseu e Coimbra, e que destruíram dezenas de casas." (Pelas contas da ANEPC são apenas contabilizados "cinco mortos, excluindo da contagem dois civis que morreram de doença súbita").

De acordo com a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, em apenas quatro dia (de 14 a 18 de setembro) foram registadas "1044 ignições, 416 das quais em período noturno," a que respeita uma área ardida de cerca de "94.146 hectares." 

A ministra informou também que foram "detidas 11 pessoas, suspeitas de crime de incêndio florestal, sendo que oito delas foram apanhadas em flagrante delito."

O incêndios ainda não estão completamente extintos. Os dois incêndios que deflagravam em Castro de Aire, no distrito de Viseu, ainda não foram dominados. O incêndio de "Penalva do Castelo, distrito de Viseu, entrou esta madrugada em fase de resolução." Também o incêndio que começou em Alvarenga, Arouca, na quarta-feira, entrou "em fase de resolução."

Os incêndios de Sabroso de Aguiar e de Veria de Jales e Quintã, apesar de já terem estado em fase de resolução, acabaram ontem por sofrer "reativações", na zona de Vila Pouca de Aguiar, no distrito de Vila Real.

Agora está na hora de avaliar os prejuízos e esperar que as seguradoras façam a sua parte. O governo tem de apoiar agora estas autarquias, para que possam numa perspetiva de maior proximidade, apoiar as suas populações. São as autarquias, as assistentes sociais, as entidades locais (cruz vermelha, bombeiros, associações...) que sabem o que cada família necessita, que conhecem as empresas e aquilo que foi realmente perdido e danificado. Tenho estado a ver diversas entrevistas e reportagens televisivas e as perdas são muito grandes para cada uma destas pessoas. Em Castro Daire, Codeçais, são as quinze cabras que sobreviveram com ferimentos que dão agora alento a este pequeno produtor que teve de abandonar tudo para salvar a sua própria vida. Este senhor, perdeu mais de uma centena de animais (que são de uma raça autóctone transmontana, e por isso valiosa), mas além dos animais perdeu também alfaias, reboques, maquinarias, mais de dez quilómetros de cercas e terras... contabilizar tudo isto e agora multiplicar por outros produtores e pequenos empresários que perderam aquilo que tinha sido até aqui a sua vida. (Entrevista na Sic Notícias)

Falta agora pasto para os animais, ardeu o que estada dentro dos estábulos, dos armazéns e lojas. Ardeu a lenha que muitas pessoas já armazenavam para o inverno, e que lhes traria algum conforto no inverno frio que se aproxima. Arderam as arcas onde havia carne congelada para alimentação das famílias.

No "município de Albergaria-a-Velha" 41 famílias "perderam a casa, por causa das chamas."

A autarquia de Penalva do Castelo, registou "danos em equipamentos municipais no valor de cerca de 200 mil euros." Em Aveiro, os incêndios já se encontram "completamente dominados", mas "60 casas foram atingidas pelos fogos."

Em São Pedro do Sul, "arderam duas casas de primeira habitação," cerca de dez casas "de segunda habitação" e ainda vários "palheiros."

Fontes:

https://www.rtp.pt/noticias/pais/dia-de-luto-nacional-chuva-alivia-bombeiros-mas-ainda-ha-chamas_n1601289

https://www.rtp.pt/noticias/pais/concelhos-fazem-contas-aos-estragos-causados-pelos-incendios_n1601329

https://pt.euronews.com/my-europe/2024/09/19/cerca-de-quatro-mil-bombeiros-no-terreno-combatem-17-incendios-em-curso

 

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publicado às 12:45

Há vários dias que aqui tenho estado a tentar escrever um pouco sobre os incêndios que afetam o nosso país. Estamos todos de luto pelas perdas humanas, mas não nos podemos esquecer daqueles que ficam. Como lidar com a perda de uma casa, como olhar para os seus próprios animais carbonizados? Em 2017, estive na região da Pampilhosa da Serra, depois dos grandes inêndios de outubro e ainda hoje quando recordo aqueles dias, me recordo do cheiro e das lágrimas. Dias depois, ainda havia pontos quentes e aqui e ali pequenas chamas pontuavam a paisagem de laranja no meio do negro. Para muitas destas pessoas, a vida mudou totalmente, acabou ali, perderam tudo o que tinham.

André Fernandes, Comandante Nacional da Proteção Civil, tem feito todos os dias o ponto de situação das ocorrências, tentando passar através da comunicação social as informações mais relevantes nesta ocasião. 

Podemos dizer que a descida de temperatura está a dar uma ajuda. "Os fogos que lavram há vários dias no distrito de Aveiro continuam a ser os que mobilizam mais operacionais e meios. Ainda assim, incêndios em Oliveira de Azeméis e Albergaria-a-Velha estão em fase de resolução." 

No incêndio que deflagra em Sever do Vouga, há a registar um ferido "com gravidade," na localidade de Frágua. O incêndio atingiu "casas, sobretudo devolutas, e destruiu pelo menos 5 empresas." Os meios aéreos tiveram o seu trabalho dificultado pelo vento, que dificulta o combate às chamas, impedindo a sua atuação.

Em Castro Daire a situação é ainda complexa, continuando "a lavrar com muita intensidade" e, havendo, segundo declarou Paulo Almeida, do município de Castro Daire, "cerca de 12 frentes ativas". De acordo com a Proteção civil, o incêndio está a provocar "grandes projeções" que obrigam "à reposição dos meios de combate." 

De acordo com Paulo Almeida, "muitas famílias acabaram por perder tudo, a sua subsistência," havendo danos em várias "primeiras habitações, barracões, anexos, arrumos, carros, máquinas, explorações agrícolas." Castro Daire recebeu o "reforço de meios espanhóis que estava previsto para o incêndio de Sabroso de Aguiar, Vila Pouca de Aguiar," que para ali acabaram por ser desviados. Estes "120 operacionais" da "Unidade Militar de Emergência espanhola" que vinham reforçar "o combate ao fogo no concelho de Vila Pouca de Aguiar," acabaram por ser desviados para Castro Daire, devido ao agravamento da situação.

O incêndio de Nelas, que terá tido início na aldeia de Folhadal, "na segunda-feira, está em resolução desde as 10:23, disse à agência Lusa fonte do Comando Sub-regional de Viseu Dão Lafões."

"Na aldeia de Arrancada do Vouga, as chamas já chegaram às casas, algumas devolutas, mas também algumas de primeira habitação."

No caso da ocorrência do concelho de Mangualde, que terá tido "origem em Penalva do Castelo" na passada segunda-feira, encontra-se "completamente dominado."

De acordo com declarações à Lusa, feitas pelo "adjunto de comando dos Bombeiros Voluntários de Santo Tirso, Luís Coelho," o "incêndio que começou na segunda-feira em Paços de Ferreira," e que avançou em direção a Santo Tirso, "teve dois reacendimentos na madrugada de hoje, continuando ativo em vários pontos," depois de ontem ter sido dado como dominado.

E deixo para o fim, o meu agradecimento aos que lá estão! Aos elementos das forças de autoridade, aos elementos da Cruz Vermelha, às várias associações, aos membros do INEM e aos bombeiros. Morreram quatro bombeiros e, apesar de tardiamente a meu ver, a presidência já declarou que amanhã será dia de luto nacional.

Como esclarecimento, a declaração de "luto nacional pode acontecer após a morte de uma três mais altas figuras do Estado: Presidente da República, presidente da Assembleia da República e primeiro-ministro." Mas não só: pode também ser "decretado quando morrem os antigos chefes de Estado" e, pode também "ser declarado pelo falecimento de personalidade ou ocorrência de evento de excecional relevância”. Tal como aconteceu em Pedrógão Grande, como ocorreu nos "incêndios de 15 de outubro," ou como aconteceu quando "uma árvore de grande porte caiu durante a festa da padroeira da Madeira."

Não vai trazê-los de volta, mas é um reconhecimento pelo seu trabalho e por uma vida dedicada a uma causa que não se esgota apenas no combate às chamas, mas que tem neste a sua maior visibilidade. Recebem pouco mais de dois euros à hora. Alguns... outros estão lá sem receber nada (e sim, vão porque querem, porque gostam, porque se sentem bem a ajudar os outros...), mas é justo? Não.

O trabalho dos bombeiros tem sido complicado e, nem sempre, reconhecido. Felizmente, são poucos aqueles que não admiram e agradecem o trabalho efetuado por todos estes homens e mulheres que deixam as suas casas e famílias para ir combater aquele inimigo nefasto. Muitos que lá estão, também têm as suas casas em risco e têm de ir acudir aos outros - foi esta a vida que escolheram. Mas haveria tanto a dizer sobre o que está errado... sobre a falta de descanso, sobre a falta de alimentação! Felizmente, as populações apoiam os bombeiros e quando lhes é possível, dão-lhes água, comida e algumas situações até acesso a uma casa de banho. Não vos veio ainda à ideia isso, pois não? Alguém imagina o que é estar numa viatura um dia inteiro sem poder ir a uma casa de banho, sem ter um pouco de dignidade? As mulheres que estão nos bombeiros, precisam também de se sentir minimamente limpas, por vezes, de trocar um penso ou um tampão.

Fontes:

https://expresso.pt/politica/2019-10-03-O-que-e-o-que-implica-e-em-que-situacoes-e-decretado-o-luto-nacional-

https://www.portugal.gov.pt/pt/gc24/comunicacao/comunicado?i=governo-decreta-dia-de-luto-nacional-em-homenagem-aos-militares-da-gnr-vitimas-da-queda-de-helicoptero

https://www.rtp.pt/noticias/pais/incendios-em-portugal-a-situacao-ao-minuto_e1600960

https://sicnoticias.pt/especiais/incendios-em-portugal/2024-09-17-video-em-sever-do-vouga-a-situacao-nao-esta-controlada-e-enquanto-estiver-este-vento-sera-muito-dificil-74d52072

https://sicnoticias.pt/especiais/incendios-em-portugal/2024-09-17-video-queremos-alguma-coisinha-para-comer-ardeu-tudo-o-cenario-aterrador-dos-incendios-em-aveiro-26db1eaa

https://pt.euronews.com/my-europe/2024/09/19/cerca-de-quatro-mil-bombeiros-no-terreno-combatem-17-incendios-em-curso

 

 

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publicado às 12:15

Num país que arde...

por Elsa Filipe, em 17.09.24

Desde ontem que o país olha horrorizado para um país que arde, aparentemente, de forma desgovernada.

Uma das pessoas que gostei de ouvir explicar vários factos, foi o comandante Mário Conde, do CB da Amadora, que esteve a comentar de forma extremamente assertiva a situação que se vive desde a passada sexta-feira no nosso país. Uma das melhores conversas que vi, nos últimos dias, entre o jornalista e apresentador Hernâni Carvalho e o comandante que, ao contrário de muitos "pseudo" comentadores que por aí andam, disse o que tinha a dizer de forma direta e sem medo de represálias (que certamente, as poderá vir a ter), no programa 'Linha Aberta', transmitido hoje, dia 17 e, em que se analisaram "os motivos que poderão estar a causar um mar de chamas acima do Mondego."

Não têm sido dias fáceis e há a lamentar sobretudo a morte de quatro bombeiros.

No passado domingo, dia 15, "João Manuel dos Santos Silva," que era "membro da corporação dos Bombeiros Voluntários de São Mamede de Infesta (Matosinhos)," estaria numa pausa para se alimentar durante o combate a "um incêndio na região de Oliveira de Azeméis," quando "morreu vítima de doença súbita." João Silva e os colegas foram jantar depois de terem estado "a combater as chamas," e "quando estavam a tomar café," o bombeiro "entrou em paragem cardiorrespiratória." Apesar de ter sido "assistido no local por uma equipa do INEM," o quadro já não foi possível de reverter. Este homem, era casado e "tinha dois filhos, sendo que o mais novo também é bombeiro, e dois netos. Durante muitos anos, trabalhava como padeiro de noite e depois de dia ia para os bombeiros." 

Em Tábua, distrito de Coimbra, três bombeiros perderam a vida. Carbonizados depois de terem ficado cercados pelas chamas. Sabem o que é estar a sentir o corpo a "cozinhar" dentro dos equipamentos que estes bombeiros vestem? Imaginem só o querer encontrar o caminho, saber dos colegas e cair, atingido pelas chamas cavalgantes. Duas mulheres e um homem, que estavam a combater uma frente de incêndio (e não em deslocação com veiculado por alguns meios de comunicação social) perderam a vida e as suas famílias irão apenas ter os seus corpos carbonizados para chorar. Imaginem-se e entendam porque é que a mim, perante estas notícias, me sobe uma vontade de atirar com os incendiários para o meio das chamas e deixá-los lá. Não nos podemos esquecer que há também feridos a lamentar, entre eles, vários bombeiros. De entre os feridos, a situação mais grave será a de uma bombeira que está a lutar pela vida nos Cuidados Intensivos.

Que haja mão firme da justiça!

Além disso, lamentam-se também vários civis que acabaram por perder a vida, por causas direta ou indiretamente, ligadas aos incêndios florestais.

Segundo a GNR, no dia 16, segunda-feira, "foi encontrado cerca das 15.30 horas um corpo carbonizado na zona florestal do Sobreiro, no concelho de Albergaria-a-Velha" que se revelou vir a tratar-se de "um cidadão de nacionalidade brasileira, de 28 anos de idade, funcionário de uma empresa que se dedica à exploração florestal." Aparentemente, este homem "terá ido, juntamente com outros funcionários da empresa, recuperar alguma maquinaria que se encontrava na zona afetada pelo incêndio."

Durante a noite, uma idosa de 83 anos, morreu perto de Mangualde.

Ao longo da noite, muita gente teve de ser evacuada. Manter a calma é algo quase impensável quando se tem de abandonar a casa, os bens que se levou uma vida a juntar, as memórias que não sabem se lá vão estar quando regressarem. Não há ninguém que abandone a sua casa e a sua terra de ânimo leve. Já arderam cerca de 40 casas e diversas viaturas.

Muitos voluntários têm estado a ajudar nestas evacuações e também no combate às chamas, em locais onde os profissionais não conseguem chegar tantas são as ocorrências que ocorrem em simultâneo. Ajudam com tratores, com máquinas agrícolas, com pequenos tanques com água. Muitos voluntários de diversas organizações, ou até por iniciativa própria, têm estado a ajudar a resgatar animais. Infelizmente, parece que não tem sido possível salvar todos os animais.

Resumindo um pouco, algumas das ocorrências, de referir que pouco depois da meia-noite, havia em Ribeira de Fráguas, na zona de Albergaria-a-velha, uma zona habitacional que era atingida pelas chamas. Os bombeiros estavam longe de conseguir chegar a todo o lado e, se por um lado se pedia às populações para dixarem as suas casas e irem para um lugar seguro, por outro, a ausência de meios que os tranquilizassem, fazia com que poucos aceitassem arredar pé.

Em Vila Pouca de Aguiar, o fogo também não deu tréguas durante a noite, com o vento forte a piorar a situação.

Em Coimbra, o incêndio que na véspera tinha deflagrado numa zona florestal, durante a noite ameaçou a cidade. Ninguém se esquece do incêndio que há 19 anos, cercou e invadiu a cidade.

Segundo as palavras do presidente da câmara municipal de Sever do Vouga, um dos incêndios que começou perto da zona industrial, uma pessoa foi vista a dar início a esta ignição e a fugir. O vento estava fortíssimo, o local era distante dos outros focos de incêndio e os meios estavam empenhados noutras ocorrências muito consideráveis. Maldade pura de quem achou boa ideia dar início a uma nova ignição, ainda por cima perto de uma zona industrial. As pessoas criticam a falta de meios e demora na ajuda, mas por muito que custe a alguns compreender, em situações destas, não há meios que cheguem a todo o lado e a população não consegue e não pode fazer mais.

Em Gondomar, deflagraram vários incêndios em pontos diferentes. A população vai tentando proteger as casas com baldes e mangueiras domésticas e está cada vez a ficar mais nervosa e cansada. O presidente da Câmara de Gondomar referiu que "a propagação para a área urbana do incêndio", está "contida", embora na zona de Melres, a situação não esteja controlada. Um dos maiores focos, começou na zona de Cosmes, ontem pouco depois das 13h00.

Na zona de Baião, já arderam várias casas. O presidente queixa-se da falta de meios aéreos referindo, no entanto, que compreende a situação tendo em conta o que se está a passar pelo país. 

Em Valongo, a Polícia Judiciária "constituiu arguidos quatro funcionários da União de Freguesias de Campo e Sobrado," por presumívelmente terem, pela sua atuação irresponsável, sido os autores de um incêndio florestal. Os funcionários, apesar de todos os alertas, usaram "uma roçadora de disco metálico, cuja utilização é proibida quando o índice de perigo de incêndio rural se encontra a um nível máximo ou mesmo muito elevado”. Agora coloco a questão: usaram por sua iniciativa, ou alguém os mandou utilizar aquele tipo de máquina?

Em Mangualde, arderam também várias habitações e há feridos a registar. A população ajuda como pode, mas o incêndio veio de Penalva, empurrado pelo forte vento. Nelas, Mangualde e Penalva do Castelo são apenas alguns exemplos de zonas onde devido aos incêndios as aulas foram canceladas, as creches e jardins de infância não abriram e alguns lares foram evacuados. A A25 continua cortada nos dois sentidos, para segurança dos condutores e, também, para servir de faixa de emergência para a circulação dos meios.

"Os incêndios de Cabeceiras de Basto e Póvoa de Lanhoso, distrito de Braga, preocupam a Proteção Civil por haver casas na linha de fogo e pelo risco de propagação a uma mancha florestal contígua de vários hectares." Este incêndio, chegou mesmo a "cercar a aldeia de Samão, obrigando os moradores a refugiarem-se num abrigo previamente definido no âmbito do Programa Aldeias Seguras."

Em Amarante, no distrito do Porto, deflagraram três incêndios em diferentes zonas do concelho, com algumas das frentes muito "próximas de zonas residenciais." Dois destes incêndios "lavram nas zonas da serra da Aboboreira e de Vila Meã."

Um outro incêndio, lavra em Aguiar de Sousa, Paredes, tendo tido origem pelas "05:21 na zona de Sobreira." O incêndio que teve início "na segunda-feira em Soutelo, Castro Daire," está neste momento com “várias frentes ativas” e segue já em "direção aos municípios vizinhos de São Pedro do Sul e Viseu."

Além dos bombeiros, que têm o maior dispositivo de sempre a atuar, não nos podemos esquecer de todas as outras entidades que têm estado a ajudar. No entanto, na contabilização dos meios, não nos podemos esquecer de fazer a distinção entre os meios em combate e os meios em trânsito, ou os meios em reserva, o que por vezes é transmitido de forma um pouco confusa pela comunicação social, fruto desses dados não lhes serem transmitidos. 

A Cruz Vermelha Portuguesa já "mobilizou 100 colaboradores e voluntários para o apoio às autoridades no socorro às populações afetadas pelos incêndios, naquele que é o maior contingente dos últimos cinco anos, anunciou hoje a instituição."

Por volta das 09:30 desta manhã, "a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC)" registava "mais de 140 ocorrências, envolvendo mais de 5000 operacionais, apoiados por 1600 meios terrestres e 21 meios aéreos." Ao longo do dia de hoje, a situação evoluiu para norte e o Minho rapidamente foi atingido. Olhando o mapa, observa-se a localização da maioria dos incêndios e, podemo-nos perguntar o porquê de estarem localizados numa zona, apesar de extensa, limitada. 

Fica também sobre hoje o registo de um aluno de apenas 12 anos que esta tarde esfaqueou seis colegas na Escola Básica da Azambuja. As aulas tinham começado apenas há poucas horas quando "depois de ter ido a casa à hora do almoço buscar a arma branca", um aluno do 7º ano esfaqueou seis colegas, aparentemente de forma indiscriminada. O aluno tinha saído para almoçar e, no regresso, "já no interior do edifício da escola," retirou da mochila "um colete à prova de bala, que mais tarde identificou ser do pai, e uma faca." Cá estas situações não são muito comuns - felizmente - mas noutros países é frequente existirem este tipo de ataques em escolas.

Fontes:

https://www.rtp.pt/noticias/pais/incendios-em-portugal-a-situacao-ao-minuto_e1600254

https://fogos.pt/fogo

https://sic.pt/programas/linha-aberta-com-hernani-carvalho/videos/2024-09-17-video-o-norte-do-mondego-no-estado-em-que-esta-e-pura-coincidencia--5d138aba

https://www.jn.pt/7262728855/dois-mortos-nos-incendios-em-albergaria-a-velha/

https://www.jn.pt/8199032209/bombeiro-de-sao-mamede-de-infesta-morre-de-doenca-subita-durante-combate-ao-fogo-em-oliveira-de-azemeis/

https://observador.pt/liveblogs/idosa-morreu-em-mangualde-numero-de-mortos-sobe-para-quatro-ribeira-de-fraguas-ficou-cercada-pelas-chamas/

https://cnnportugal.iol.pt/geral/esfaqueou-todos-os-que-viu-aluno-do-setimo-ano-ataca-colegas-em-escola-da-azambuja-ha-cinco-criancas-feridas/20240917/66e992d4d34ea1acf26e6f10

https://magg.sapo.pt/atualidade/atualidade-nacional/artigos/aluno-de-12-anos-esfaqueia-6-colegas-na-azambuja-menor-tinha-colete-a-prova-de-balas-e-levou-faca-de-casa

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publicado às 21:40

Os avisos foram feitos e já se esperava a ocorrência de incêndios florestais, mas de ontem para hoje a situação piorou bastante e, infelizmente, já se pode falar na ocorrência de uma catástrofe em que já se lamenta a perda de vidas humanas, vários feridos e muitos bens materiais destruídos. Ao longo do dia, a situação tem vindo a piorar.

"O balanço mais recente da Proteção Civil dá conta de 21 vítimas, incluindo três mortos. Foram atingidas pelas chamas casas de primeira habitação e evacuados lares e escolas."

Uma das três mortes a lamentar até agora, foi a de um bombeiro que durante o combate às chamas sucumbiu. Depois, haveremos talvez de saber porquê, mas agora o que importa é confortar a família, os colegas e os amigos. O bombeiro, que combatia o incêndio de Oliveira de Azeméis, "fazia parte da corporação de bombeiros de São Mamede de Infesta" e quando se sentiu mal estava a realizar uma pausa para se alimentar.

Aquando desta ocorrência, era o incêndio de Oliveira de Azeméis aquele que mais preocupação trazia. Entretanto, o dia nascia e com ele percebiamos que outros incêndios tinham deflagrado durante a noite e que, alimentados pelas altas temperaturas e pelo vento forte, ameaçavam pessoas e bens. Durante o dia, chegavam até nós imagens terríveis, em que os piores cenários se estavam a suceder - habitações destruídas pelas chamas, animais a que ninguém conseguiu acudir a tempo de evitar a sua morte. Enormes colunas de denso fumo cobrem as serras e descem os vales, impedindo saber o que se está a passar do outro lado ou, em muitos casos, saber o que está a dois palmos da cara! O dia está a dar lugar à noite e lamentam-se já duas vidas perdidas...

O distrito de Aveiro tem estado a ser o mais afetado. Faltam bombeiros - que nestes dias nunca serão suficientes, faltam baldes para atirar água às chamas que se aproximam, ardem as mangueiras. O vento sopra as fagulhas para cima dos telhados que, dali a nada, se transformam em tochas, pegando em tudo à sua volta. O pior cenário está a acontecer - o fogo já não lavra só no mato: entrou na cidade, entrou nas aldeias, queimou carros, queimou casas e matou pessoas!

Algumas estradas foram cortadas. Mas mesmo com os cortes efetuados, muita gente tentou contornar as indicações das autoridades e chegar às localidades e aldeias onde tinha os seus familiares e os seus bens. Não os posso criticar, mas alerto apenas que estas tentativas de dar a volta às indicações das autoridades, pode levar não apenas ao risco que a pessoa assume, mas também põe em causa aqueles que o têm de, eventualmente, seguir para socorrer.

Infelizmente, o pânico é natural nestas situações mas este mesmo pânico deve ser evitado, pois é dele que decorrem tantas vezes situações em que as reações de cada um, o coloca a si em risco, mas também a quem o tenta ajudar. Além do risco que decorre do próprio incêndio, existem também alguns comportamentos que devem ser evitados, tal como tem sido veiculado durante o dia pela comunicação social. Só que é natural que cada pessoa queira que lhe salvem a sua casa, os seus terrenos, armazéns, alfaias e animais. Muitos comportamentos de risco acabam por ser praticamente impossíveis de se evitar, uma vez que mexem com aqueles que são os nossos maiores sentimentos - aqueles que amamos - que são os nossos familiares, os nossos amigos e também em muitos casos os nossos animais, as nossas casas, os nossos bens!

Podemos dizer que o pior começou na sexta-feira com a deflagração no Fundão, a que se seguiram depois várias outras que iam dispersando meios e desgastando homens. Pelas duas da manhã, a meio da noite, no meio do mato, algo faz deflagrar o fogo de Pessegueiro do Vouga. Horas mais tarde, já depois da hora do almoço e com temperaturas bastante elevadas, acende-se outra situação grave em Sever do Vouga. Apesar de terem surgido como deflagrações independentes umas das outras, podemos dizer que neste momento, os fogos já se confundem e misturam uns com os outro, tal a sua intensidade. O incêndio de Sever do Vouga já chegou a Águeda.

Na zona de Albergaria-a-velha, o início do incêndio que agora queima e destrói não apenas mato mas também atinge povoações, começou hoje pouco depois das sete da manhã, quando as temperaturas estavam mais baixas e a humidade era um pouco maior. Pouco depois do início do incêndio, a A25 estava cercada pelas chamas, mas mesmo assim as pessoas continuavam a avançar, sem visibilidade, sem saber como estava a situação mais à frente. Nesta região contam-se já dois mortos. Com o passar das horas, os incêndios longe de se esgotarem, aproveitaram o combustível disponível e foram galgando montanhas e vales. Não há como acudir a tudo!

Um pouco mais abaixo, na zona de Viseu, o incêndio que começou pouco antes do meio-dia, avançou em várias direções. Além dos meios terrestres, o combate foi feito também por um meio aéreo que foi dando algum alívio. No entanto, não houve forma de impedir a progressão do incêndio e neste momento, a "zona Industrial de Oliveirinha, no concelho de Carregal do Sal", encontra-se cercada pelas chamas.

Numa outra região, na zona de Coimbra, a pior ocorrência iniciou-se hoje pouco depois das dezasseis horas. Chegaram a estar em ação cinco meios aéreos nesta zona, mas a dificuldade de combate mais a norte exigiu a dispersão das aeronaves pelas várias frentes.

E podia continuar... o dia não foi fácil e a noite não será melhor, havendo a registar novos incêndios que se iniciaram já depois das 23 horas (um em Guimarães e outro em Cinfães). As projeções, que com o vento podem atingir vários quilómetros, podem dar origem a novos incêndios. Assim, Portugal que até dispõe de muitos meios, dificilmente se acharão ser os suficientes, mesmo com o acréscimo de oito meios aéreos provenientes da União Europeia (sendo que, de noite, estes meios não podem trabalhar).

Nem para a população, nem para aqueles que estão a dar o seu melhor para evitar que a situação se agrave. Se não puder ajudar... não atrapalhe!

Fontes:

https://sicnoticias.pt/especiais/incendios-em-portugal/2024-09-16-video-bombeiro-que-combatia-incendio-em-oliveira-de-azemeis-morre-durante-pausa-98bee39b

https://sicnoticias.pt/especiais/incendios-em-portugal/2024-09-16-portugal-em-alerta-por-causa-do-risco-de-incendio-8c7f63da

https://fogos.pt/fogo

https://fogos.pt/lista

 

 

 

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publicado às 23:40

A Madeira continua a arder...

por Elsa Filipe, em 22.08.24

Passaram já nove dias desde que deflagrou um incêndio florestal na Madeira e só hoje, chegaram à ilha os primeiros Canadairs, provenientes de Espanha. Os meios humanos e materiais estão a ser reforçados, havendo uma principal preocupação com uma frente que lavra na cordilheira central da ilha.

Este incêndio começou no dia 14 de agosto, na zona da "Ribeira Brava, propagando-se na quinta-feira ao concelho de Câmara de Lobos, e, já no fim de semana, ao município da Ponta do Sol." Entretanto já atingiu o Pico Ruivo, no concelho de Santana.

Miguel Albuquerque, presidente do executivo madeirense, é que não aparenta estar muito preocupado com o facto da ilha estar a ser atingida por este grande incêndio, afirmando até que a situação está a ser descrita com grande alarmismo. Tanto o presidente como o secretário regional com a pasta da Proteção Civil no Governo Regional da Madeira, Pedro Ramos, estão a ser acusados de estarem ausentes, durante o decorrer das operações. Ambos, encontram-se de férias na ilha do Porto Santo, "abandonando as operações no terreno." 

A população teve de abandonar as suas casas, as habitações estão sem água e a destruição das reservas naturais da ilha, como por exemplo a Floresta Laurissilva, deixou atrás de si um cenário de tristeza e desolação, mas para o presidente madeirense, está tudo controlado e os danos são mínimos. O vento, a urografia do terreno e os acessos difíceis têm impedido o acesso dos bombeiros a determinadas áreas da ilha e por isso tem sido adotada a técnica do "deixa arder". A chegada dos dois meios aéreos vem agora dar apoio ao único helicóptero que tem estado a atuar na ilha desde o início do incêndio. No passado sábado, chegaram à ilha "80 elementos da Força Especial dos Bombeiros," que têm estado a ajudar no combate a este incêndio.

José Manuel Rodrigues, presidente da Assembleia Legislativa Regional, destacou a importância do helicóptero que serve a ilha e ressalva que "há alguns prejuízos, quer em casebres, quer em palheiros, quer em terrenos agrícolas," e que "há danos ambientais difíceis de recuperar."

"Catorze percursos pedestres classificados e quatro áreas de lazer da Madeira" foram entretanto encerrados, "por prevenção, devido aos incêndios rurais na ilha." No entanto, muitos turistas ignoram os avisos e continuam a usar esses trajetos.

Fontes:

https://sicnoticias.pt/especiais/incendios-em-portugal/2024-08-21-video-incendio-na-madeira-unico-helicoptero-disponivel-nao-esta-a-ser-utilizado-operacao-e-bastante-complexa-46b01553

https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2024/08/17/madeira-vai-receber-80-bombeiros-da-forca-especial-nas-proximas-horas/390325/

https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2024/08/18/madeira-varios-percursos-pedestres-e-areas-de-lazer-encerrados/390408/

 

 

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publicado às 12:53

No dia 17 de junho de 2017, pelas 14:43 é dado o primeiro alerta para um incêndio florestal que já deflagrava na localidade de Escalos Fundeiros, e que rapidamente avançou sobre os concelhos de Castanheira de Pêra, de Figueiró dos Vinhos e Ansião, no interior do distrito de Leiria. Com o intenso calor e ventos fortes, as chamas galgaram montes e vales e alastraram rapidamente para os concelhos da "Pampilhosa da Serra (distrito de Coimbra) e da Sertã (distrito de Castelo Branco)."

Mais um, entre tantos incêndios a que ao longo dos anos nos estavamos a habituar. Todos os anos era assim. Chegado o verão, abria a época de incêndios e sabíamos que o norte e centro do país era sempre dos mais atingidos. Infelizmente, este não seria apenas mais um...

Este dia foi diferente. O calor estava diferente, o ar pesado, carregado, quente e uma das grandes conclusões é que não podemos falar apenas de um grande incêndio, mas sim de, pelo menos quatro, o que fez com os meios ficassem dispersos. No mesmo dia, passados apenas uns minutos do primeiro, surge um "segundo alerta para outro incêndio na região, em Góis" (distrito de Coimbra), que viria a tomar grandes proporções, alastrando para os "concelhos de Pampilhosa da Serra e de Arganil." Cerca de uma hora mais tarde, a população alertava "para o terceiro incêndio na região, em Figueiró dos Vinhos." Pelas 19h o pânico está instalado, com estradas cortadas e aldeias completamente cercadas. As pessoas tentam fugir, sem saber quais os caminhos para onde se devem dirigir. O fumo denso impossibilita a condução em segurança.

Pelas 20h41m, surge um quarto incêndio na região, em Alvaiázere, mas entretanto as comunicações estavam caóticas. Às 21h12m, o SIRESP informa "que se regista a queda de três estações da rede de comunicações – Serra da Lousã, Malhadas e Pampilhosa da Serra." A coordenação dos meios no terreno torna-se cada vez mais difícil e, numa situação em que todos os segundos contam, instala-se a incapacidade de entrar em contato com todos os veículos no terreno. Os incêndios encontraram condições climáticas favoráveis ao seu avanço e as matas mal cuidadas deixaram o alimento para que o resto acontecesse. Minutos depois e com o SIRESP praticamente em colapso, é dado o alerta para um quinta deflagração, desta vez em Penela. "Por dificuldades nas comunicações da rede SIRESP reforça-se o recurso à Rede Operacional dos Bombeiros (ROB)."

Minutos antes da notícia começar a surgir nos media, começamos a receber nas redes sociais alertas de que algo não estava bem. Amigos e familiares, não conseguindo entrar em contato com os seus familiares, iam tentando usar as redes sociais para comunicar ou, pelo menos, entrar em contato com alguém que soubesse o que por lá se passava. Por aqui, a noite estava quente, mas não imaginávamos a tragédia que estava a acontecer. 

Por volta das 00h40m, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, chega a Pedrógão Grande, mas só pela 01h30m é decretado por Jorge Gomes, o plano de emergência distrital.

Não me esqueço que estava num acampamento. Estavamos perto da segurança do quartel, numa zona arborizada rodeada de casas e vedada, mas havia uma trovoada seca que se ouvia ao longe. O ar tinha um cheiro diferente e estava pesado. Conhecedores dos riscos, sabiamos que se a trovoada se aproximasse mais, teríamos de evacuar o acampamento - o nosso e os dos grupos de escuteiros que ali estavam e que nos tinham cedido as suas instalações para aquela atividade. Aqui não havia fogo ativo nas redondezas, mas era como se a noite nos trouxesse aos poucos o fumo e os gases vindos do centro do país. A desgraça já tinha acontecido quando mandamos os miúdos para as tendas. Sabíamos que era algo grave, só não sabíamos bem o quê. Ponderámos levar os miúdos de volta e, pô-los a dormir no pavilhão do quartel, mas depois percebemos que isso só os preocuparia ainda mais. Os mais velhos, já se tinham apercebido que havia algo grave e que nós não estavamos tranquilos. A noite foi passada em claro e, logo de manhã cedo, terminamos o acampamento e regressamos. Pelas 09h00 da manhã, já existe a certeza de 43 vítimas mortais. Estamos todos em choque, o país está em choque. Apenas uma hora depois, o número passa para "57 vítimas mortais e 59 feridos." Às 13h30 do dia 18, o "Governo decreta três dias de luto nacional."

Ao longo do dia, este número foi sendo atualizado, culminando em 66 vítimas mortais, 253 feridos, sete dos quais graves, e na destruição de meio milhar de casas e 50 empresas. Só no dia 24 de junho, "o incêndio de Pedrógão Grande é dado como extinto."

"Relativamente às vítimas mortais, 47 foram encontradas nas estradas do concelho de Pedrógão Grande, tendo 30 morrido dentro de automóveis, 17 nas imediações durante a fuga ao incêndio e 1 na sequência de um atropelamento." Entre os feridos, contam-se 12 bombeiros e 1 militar da Guarda Nacional Republicana. Muitas destas pessoas, acabaram por ficar incapacitados para voltar a desempenhar as suas funções e, sobrevivem com uma pequena esmola mensal que o nosso Estado lhes atribuiu.

No dia 20 de junho, uma das frentes de fogo do incêndio de Pedrógão Grande juntou-se ao incêndio de Góis, originando o maior incêndio florestal de sempre em Portugal. Alguns dias depois, era publicada uma lista com os nomes de 64 vítimas diretas do incêndio (outras duas, na altura ainda não tinham sido contabilizadas) onde os números ganham rosto e idade. Entre elas, várias crianças, famílias inteiras que ao tentarem fugir, acabaram por correr diretas para a morte. Entre elas, a minha amiga de infância, Sara que com o seu sorriso rasgado ainda hoje me faz sentir um aperto no coração.

Passaram sete anos desde a tragédia. Até agora, muito se discutiu sobre causas, falhas e culpados. Mas temos todos a certeza de que muito ainda falta fazer naqueles territórios do centro do país, a começar pela prevenção, tão falada na altura e que, ainda hoje ou não é feita ou é mal feita. "No rescaldo do incêndio, a causa apontada pelas autoridades foi a trovoada seca que, conjugada com temperaturas muito elevadas (superiores a 40ºC) e vento muito intenso e variável, fez deflagrar e propagar rapidamente o fogo. No entanto, o presidente da Liga dos Bombeiros, Jaime Marta Soares, acredita que o incêndio não teve origem em causas naturais já que, segundo a perceção de alguns habitantes, o fogo já estaria ativo antes da trovoada."

"Despovoamento, envelhecimento da população, falta de empregos qualificados ou de ordenamento e gestão da floresta, falhas nas comunicações, vias de comunicação perigosas ou serviços públicos deficientes, são, afinal, problemas coincidentes com dezenas de concelhos do interior português. A necessidade de coesão do território nacional é incessantemente repetida, mas, naqueles territórios, esse desígnio tarda em cumprir-se."
 
No que respeita a apurar culpados, a investigação feita no âmbito criminal "resultou num julgamento com 11 arguidos, entre os quais o comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, então responsável pelas operações de socorro," bem como, "os presidentes de Câmara de Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra e Figueiró dos Vinhos. Foram todos absolvidos pelo Tribunal de Leiria, em setembro de 2022, que considerou que os mortos e feridos provocados pelos incêndios não foram resultado da ação ou omissão dos arguidos."
 
Num outro processo, "14 arguidos de um total de 28 - incluindo o antigo presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, e o então vereador Bruno Gomes - que estavam acusados num processo relacionado com a reconstrução de casas na sequência dos incêndios."
 
Infelizmente, a 15 de outubro do mesmo ano, o país ainda mal refeito do drama ocorrido em junho, sofre uma nova situação. O país vê-se novamente a braços com grandes frentes de fogo que levam tudo à sua frente. Dois dias depois dos primeiros alertas, os incêndios da zona centro são finalmente "considerados extintos e são anunciadas 45 vítimas mortais, 350 empresas afetadas, um prejuízo de cerca de 360 milhões de euros e uma área ardida de cerca de 54 mil hectares."
 
2017 foi um ano negro, que nunca irei esquecer.
 
Fontes:
 
 

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publicado às 23:01

120 anos de uma Associação Real

por Elsa Filipe, em 12.08.23

Hoje comemoram-se os 120 anos dos Bombeiros de Sesimbra. A minha primeira casa, o meu primeiro trabalho, mesmo que na altura com apenas 14 anos eu tivesse uma perspetiva diferente daquela que hoje tenho. Deixo aqui hoje um pequeníssimo registo.

Hoje quero dar os parabéns a todos os homens e mulheres que fizeram e fazem a história daquela casa. Uma associação que nasceu em 1903, fundada por El-rei Dº Carlos I. O rei e o princípe Dº Luiz Filipe (mortos no Regicídio de 1908) foram de facto Presidentes de Honra e Comandantes Honorários desta casa. Em 1904 recebeu o título de "Real".

No Blogue ca Família Real Portuguesa, podemos ler que a "atribuição dos títulos honoríficos ficou a dever-se ao apoio concedido pela coroa à Fundação dos BVS, para o qual concorreu a influência do capitão de fragata D. Fernando de Serpa Pimentel, comandante do iate real "Amélia", Ajudante de Campo de Dom Carlos e amigo do Tenente Alfaro Cardoso, Comandante da Guarda Fiscal em Sesimbra, grande entusiasta da Comissão Organizadora da Associação de Bombeiros."

Na verdade, ambos ofereceram grandes donativos: "o Rei disponibilizou-se desde logo a atribuir a quantia de 300 mil réis destinados à aquisição de uma bomba tipo americana" e o "Príncipe Dom Luiz Filipe decidiu apoiar monetariamente a compra de uma manga de salvação, concedendo para o efeito a verba de 50 mil réis." Estas informações estão na obra de António Reis Marques, sobre a história da Associação e a que é feita referência no blogue (por acaso, eu também tenho esta monografia e devo dizer que está excelente e relata muito bem a história da vila de Sesimbra e da Associação). 

A Associação adoptou como bandeira a então bandeira nacional, azul e branca, passando o símbolo da Monarquia a ser também o dos bombeiros. Mais tarde, com o advento da república, foi adoptada a nova bandeira verde-rubra, situação que se mantém, pelo que a Associação "em qualquer acto, formatura ou desfile, em que se apresente, tem direito às honras e prerrogativas devidas à bandeira nacional", escreve António Reis Marques no seu livro. 

Alguns dirão que os bombeiros de Sesimbra não serão tão antigos, contando apenas desde o ano de 1927, altura do retorno efetivo da atividade dos mesmos na medida em que após o Regicídio e a forte ligação desta casa à monarquia, houve uma grande dificuldade em retomar em pleno as atividades. Mas na verdade, a associação continuou em funções. Em 1931 têm a sua primeira ambulância motorizada.

O local onde está hoje o quartel-sede não foi a sua primeira localização. Ali havia um aterro, onde se transferia o peixe transportado em burros para as carroças que depois o iam distribuir por outras zonas. Este mesmo aterro, ficando numa zona limítrofe à vila foi também aproveitado para construção do Quartel dos Bombeiros Voluntários. Numa fase mais recente, próxima dos finais dos anos 70, o Largo viria a ser remodelado, permitindo maior eficiência na circulação. Em 1978, por deliberação da Câmara Municipal, receberia o nome de Largo dos Bombeiros, numa clara e reconhecida homenagem à corporação de bombeiros.

Na minha primeira noite de piquete, em 1998, eu tinha apenas 14 anos. Sabia pouco da vida mas era uma miúda cheia de vontade de fazer e de aprender. E felizmente, isso nunca me foi vedado pelos meus pais. Conhecia o quartel por já fazer parte da fanfarra à cerca de um ano e pouco, mas não tinha experiência nem formação nenhuma. Na época, era comandante Fernando Gato, e tive a sorte de conhecer e aprender com grandes bombeiros da altura. Recebi as minhas divisas de bombeiro com 17 anos. Era uma casa muito tradicional com uma grande relação com as gentes e com os costumes da terra. Era na altura o quartelo que enchia quando a sirene soava e vínhamos de todos os lados, largando tudo o que não fosse prioritário para acudir aos outros. Muita coisa mudou em mim desde então.

Cresci ali como mulher e como pessoa e levei com as minhas primeiras desilusões da vida. Ali aprendi que ser mulher num mundo de homens é difícil, aprendi a defender as minhas próprias ideias e a argumentar. Aprendi o valor da vida e também da morte. Ali cresci de menina a mulher, ganhei uma carapaça da qual tem sido difícil me livrar, ri muito e chorei ainda mais. Dei a mão na morte e assisti ao nascimento da vida.

 

Fontes:

MARQUES, António Reis, Bombeiros Voluntários de Sesimbra. Origem, Formação e Percurso (1903-2003)

http://realfamiliaportuguesa.blogspot.com/2009/07/dom-carlos-e-principe-dom-luiz-filipe.html

http://ruascomhistoria.sesimbra.pt/largo-dos-bombeiros-voluntarios/

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publicado às 18:04

Natal

por Elsa Filipe, em 25.12.18

No meu Natal, há esperança. 

No meu Natal, há árvore, há bolas e há fitas. Há uma mesa recheada e composta e muitos presentes. Há o luxo que se pode numa época em que, não vivendo de forma abastada, tenho um teto, trabalho e comida.

No Natal cá de casa, há muito mais do que haverá noutras casas. 

Como é tradicional, o Primeiro ministro deixou a sua mensagem de Natal. Aqui deixo um pequeno excerto dessa mensagem:

"Portugal vive um momento particularmente importante, que é essencial poder ser vivido e partilhado com justiça por todos os portugueses. Pela primeira vez desde o início do século a nossa economia cresceu mais do que a média europeia, reduzindo fortemente o desemprego, permitindo-nos ter, finalmente, contas certas e melhorar a vida da maioria das famílias."
 
Será?
 
Para alguns de nós talvez venha aí um ano melhor, assim espero. Da minha parte, acho que o Pai Natal me poderia trazer um pouco de sossego nas minhas dores e um pouco de empatia daqueles que lidam comigo todos os dias. Não consigo já estar disponível para ajudar os outros como antes estava. Já não consigo ser quem era. Natal, pode ser uma época de compreensão, de entendimento e de perdão, mas o que sinto é que eu fiz e dei a minha parte e que agora deveria estar a receber dos outros essa compreensão e não... 
 
O Natal é uma mesa cheia, são embrulhos, presentes e cânticos. Mas é um dia como os outros... um dia com dores, um dia em que me custa estar bem disposta e feliz. É um dia de mesa cheia mas de lugares vazios. 
 
O Natal é também dia de trabalho. Na nossa família, somos dois a trabalhar no Natal, ora na noite de consoada, ora no próprio dia de Natal, na rua ou na Central, nós como outros como nós temos de escolher entre a nossa família (o meu filho) e o nosso trabalho. E se é um ato de amor ao próximo? Já foi... já lá vai o tempo em que eu o fazia por querer dar algo mais aos outros, por fazer a diferença naquele dia na noite de consoada de alguém. Agora é uma obrigação que me faz estar constantemente a pôr em causa, o que é que estou aqui a fazer. Este sentimento não é fácil de gerir, porque é um misto de culpa e que me faz refletir muito sobre aquilo que sou e em que me estou a tornar. E o pior é que tenho medo de passar toda esta negatividade para o meu filho. 
 
Mas hoje é Natal. Comi muito, dei mais prendas do que aquelas que recebi e isso deixa-me feliz. E há no país tantas crianças que hoje comeram tão pouco quanto ontem, ou menos...  mas diz o nosso Primeiro-ministro que o país está melhor.
 
Feliz Natal.
 

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publicado às 23:40


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