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Gosto de escrever e aqui partilho um pouco de mim... mas não só. Gosto de factos históricos, políticos e de escrever sobre a sociedade em geral. O mundo tem de ser visto com olhar crítico e sem tabús!
Desde o dia 19 deste mês, terça-feira, que o conflito regressou à região de Nagorno-Karabakh, onde se opõem a Arménia e o Azerbaijão. Este conflito não tem sido muito falado na comunicação social, embora existam várias referências ao mesmo nos últimos dias.
Na região vigorava um cessar-fogo que foi quebrado quando quatro polícias e dois civis de origem azeri, foram mortos devido à explosão de minas numa zona da região controlada por Baku. Este ataque deitou por terra o frágil cessar-fogo, tendo o Ministério da Defesa do Azerbaijão comunicado o início de operações “antiterroristas” na região e apelado à rendição "total e incondicional" dos líderes separatistas arménios, na região que é reconhecida internacionalmente como território Azeri.
Gegham Stepanyan, provedor dos direitos humanos da autoproclamada República de Artsakh, afirmou que a ofensiva do Azerbaijão já provocou 25 mortos, um dos quais uma criança, e mais de 100 feridos. Artsakh, que não é um estado reconhecido internacionalmente, administra os territórios povoados por arménios no Nagorno-Karabakh. Do lado do Azerbeijão, está a Turquia, que defende o país irmão e é um dos grandes apoiantes do regime de Baku, tendo mesmo sido o primeiro país a reconhecer a independência do Azerbaijão após o colapso da União Soviética. Outro aliado do Azerbaijão é Israel, tendo sido daí que vieram os primeiros sinais de que estaria eminente uma ofensiva, quando entre 15 de agosto e 2 de setembro, se registaram quatro voos entre o Azerbaijão e a base militar de Ovda, de onde Israel exporta munições.
A Ucrânia, também aliada do Azerbaijão, declarou em janeiro deste ano, dar total apoio ao bloqueio azeri do Nagorno-Karabakh, afirmando que o seu impacto estava a ser “exagerado” pela Rússia para “desviar as atenções da guerra na Ucrânia”.
Esta zona, localizada no sul do Cáucaso, é palco de confrontos há anos. A tensão pelo controlo do enclave separatista cresceu nos últimos meses. No local, reconhecido internacionalmente como parte do Azerbaijão, vivem cerca de 120 mil pessoas que se identificam como sendo arménias. Durante a pandemia, o Azerbaijão tinha já lançado uma ofensiva a Artsakh, dando início à Segunda Guerra do Nagorno-Karabakh, que deu a vitória aos azeris. A 9 de novembro de 2020, foi assinado um cessar-fogo, mediado por Vladimir Putin e no qual os arménios foram obrigados a ceder o controlo de vários distritos: Agdam, a leste, Kalbajar e Lachin, a oeste. Com a perda deste último distrito, o território de Artsakh passou a estar separado da Arménia e totalmente rodeado pelas tropas azeris. Na altura, foi estabelecido um corredor de paz, em Lachin, sob controlo de forças russas de manutenção de paz, para assegurar a continuidade do tráfego de bens entre a Arménia e Artsakh. Mas não durou muito. Em dezembro de 2022, alegados ativistas ambientais azeris, às ordens de Baku, bloquearam o corredor, protestando contra a exploração ilegal de minérios na região, numa flagrante violação do acordo assinado dois anos antes. Durante alguns meses, a ajuda humanitária ainda foi entrando em Artsakh, mas, em abril, os azeris bloquearam totalmente a estrada, sem que as forças russas o tivessem impedido.
A região de Nagorno-Karabakh é, há muito, um foco de tensão entre arménios e azeris, estando a maior parte da região, atualmente ocupada por arménios. Com a União Soviética, a administração do território foi entregue à República Socialista Soviética do Azerbaijão, mas à medida que o Estado comunista se desintegrava, a situação foi ficando cada vez mais instável. A Primeira Guerra do Nagorno-Karabakh, inicou-se em 1988 e durou cerca de seis anos. O desfecho foi favorável para os arménios, com grande parte da região a passar a estar sob o seu controlo.
A autoproclamada República de Artsakh detém cerca 16% do território. Esta zona, que internacionalmente foi reconhecido como sendo azeri, passou a estar sob controlo arménio, mas não foi integrado no território da Arménia dando azo ao nascimento da autoproclamada República de Artsakh, que engloba a região do Nagorno-Karabakh e mais alguns territórios a oeste e sul, e que nunca obteve reconhecimento oficial de nenhum país.
A tentar mediar o conflito estão os Estados Unidos. Esta terça-feira, horas após a ofensiva azeri, o secretário de Estado norte-americano Antony Blinken falou com Nikol Pashinyan e reiterou a necessidade de parar com o conflito, antes que a sua escalada se torne demasiado "flagrante e perigosa”. Mas a União Europeia também se envolveu nas tentativas de prevenção de uma guerra em larga escala. Ao longo dos dez meses de bloqueio ao Nagorno-Karabakh têm sido realizadas várias reuniões com os líderes dos dois países. O interesse está também na compra de gás Azeri, uma vez que após a invasão russa da Ucrânia, em julho de 2022, a União Europeia terá avançado nas negociações para a aquisição de gás azeri, através da assinatura de um memorando, que prevê duplicar as importações de gás deste país até 2027, de forma a expandir o Corredor Meridional de Gás.
Fontes:
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4n413kv6gro
Olhamos a invasão da Rússia à Ucrânia com grande preocupação, mas a verdade é que a Europa está rodeada de conflitos armados que complicam toda a situação desde o leste ao médio oriente. Está tudo à "nossa porta" e, ao mesmo tempo, parece que está tão longe e lá vamos seguindo a nossa visa, nos nossos queixumes.
Há nove meses que a população arménia de Nagorno-Karabakh, habitado na época soviética por uma maioria arménia cristã e uma minoria azeri muçulmana xiita, e da República de Artsakh, vive em condições desumanas devido ao bloqueio imposto pelo regime do Azerbaijão.
Na capital da autoproclamada república, Stepanakert, não há combustível e as velas voltaram a fazer parte da noite de cerca de 120 mil pessoas. A população está a passar fome. O Azerbaijão não permite a entrada a meios de comunicação independentes. 10 camiões com ajuda francesa foram, sem surpresas, barrados à porta do corredor de Lachin, numa “violação total dos direitos humanos”.
Nagorno-Karabakh é, há muito, um foco de tensão entre arménios e azeris. A região tem estado maioritariamente ocupada por arménios, não obstante a União Soviética, ter entregue à República Socialista Soviética do Azerbaijão o governo desse território.
À medida que o Estado comunista se desintegrava, a situação foi ficando cada vez mais instável. EM 1988 começou a Primeira Guerra do Nagorno-Karabakh, e que durou seis anos, com um desfecho favorável para os arménios. Em 2020 dá-se uma nova investida que só termina com um acordo de cessar-fogo, assinado a 9 de novembro de 2020 e mediado por Vladimir Putin, no qual os arménios foram obrigados a ceder o controlo de vários distritos: Agdam, a leste, e Kalbajar e Lachin, a oeste. Durante a guerra desse ano, o Azerbaijão matou 2906 combatentes azeris e 3825 arménios. Baku conseguiu recuperar uma grande porção territorial dentro e em torno da região.
Em setembro de 2022, aproveitando o incremento do conflito entre a Rússia e a Ucrânia e a passividade da União Europeia (com quem recentemente o Azerbaijão fez um acordo para o fornecimento de gás) e da NATO (cujos membros não querem provocar a Turquia, parceiro da Aliança Atlântica e grande aliado do Azerbaijão), as forças azeris atacaram algumas localidades como Goris, Kapan e Jermuk, reconhecidas internacionalmente como parte da Arménia. Os combates entre os dois países deixaram 286 mortos dos dois lados e fez crescer o temor de uma guerra em larga escala.
Há o risco de se estabelecerem novas zonas tampão sem que a restante Europa se mexa para o impedir. Mais uma vez, é o povo que sofre as consequências, estando em causa um verdadeiro genocídio.
Neste acordo foi estabelecido um corredor através do qual se faria a ligação entre a Arménia e Artsakh. Durante alguns meses, a ajuda humanitária ainda foi entrando em Artsakh, mas, em abril, os azeris bloquearam totalmente a estrada. Muitos não saberão mas Artsakh "é um autoproclamado Estado independente no Sul do Cáucaso com fortes ligações à Arménia." Este é um "país que não existe" e por isso, Stepanakert também é a "capital do país que não existe." Ali se fala Arménio e a população é maioritariamente cristã.
A 30 de agosto deste ano, a porta-voz de Lavro, Rússia, Maria Zakharova, afirmou que a culpa do bloqueio azeri a Artsakh era da Arménia, dizendo que "a atual situação no corredor de Lachin é uma consequência do reconhecimento pela Arménia do Nagorno-Karabakh como parte do território do Azerbaijão”. A aparente apatia russa pode espantar uma vez que a Arménia ainda faz parte da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, uma espécie de NATO que a Rússia formou com mais cinco ex-Estados soviéticos, entre eles a Arménia. Esta "não reação" da parte de Moscovo, fez com que a Arménia ameaçasse com a sua saída da organização.
A 31 de agosto, Annalena Baerbock, ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, fez um surpreendente apelo ao fim do bloqueio azeri, o que renovou as esperanças de muitos de que a Europa pudesse contribuir para o fim do problema.
“Matar à fome é um crime de genocídio que está previsto. Para haver um genocídio tem de haver uma tentativa de eliminação, no todo ou em parte, de um grupo nacional. Esta parte final pode estar a ser preenchida, porque os arménios são uma minoria no Azerbaijão”, afirma Pereira Coutinho, especialista em Direito Internacional e professor na NOVA School of Law.
Fontes:
https://www.almadeviajante.com/viagens/nagorno-karabakh/
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