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Caderno Diário

Escrever é algo que me apraz. Ante a minha vontade de criar, muitas vezes me falta tempo. Aqui passo da vontade à prática. Este é um caderno onde escrevo sobre a minha vida pessoal e temas da atualidade que me fazem refletir.

Caderno Diário

Escrever é algo que me apraz. Ante a minha vontade de criar, muitas vezes me falta tempo. Aqui passo da vontade à prática. Este é um caderno onde escrevo sobre a minha vida pessoal e temas da atualidade que me fazem refletir.

30
Mar22

Quando se importarem...

...comigo, avisem.

É que uma consulta, quase dois anos depois, é no mínimo um gozo que só uma chamada de atenção da minha médica de família (que pediu uma reavaliação) conseguiu resolver. Claro que vou à consulta, porque PRECISO mesmo que me dêem atenção, um diagóstico, uma solução!

Mas a vontade é de dizer que morri, devido à inoperância e ao tempo de espera. Que me suicidei à espera que me digam que afinal não sofro de Esclerose Múltipla, que é "só" fibromialgia, mas "não podemos escrever isso porque tem outros problemas". Ah sim, claro, isso eu sei, problemas é o que eu mais tenho, mas se calhar ajudava dar um nome e um tratamento a cada um desses problemas e não me dizerem apenas que tenho de "aprender a lidar com a dor", "descansar" (ora, se faz favor, eu aviso onde para me porem o dinheiro na conta enquanto fico a descansar?), e fazer pilatos, hidroginástica (adorava, alguém que pague as aulas, ou pago com o dinheiro que não ganho se ficar em casa a descansar?)

Enganaram-se na pessoa ao distribuir as doenças!

Porra, eu não tenho dinheiro para fazer acunputura, para fazer pilatos clínico, para ir para a hidroginástica num local em que me garantam (garantido mesmo!) que a água é quente! Lá vou dando o luxo a mim mesma de pagar uma massagem, onde sei que me tratam bem e que é mais barato (minha querida Sara e Anjo Reyel), sabendo que vou trocar algumas das minhas refeições na próxima semana por uns cafés de pacote a enganar o estômago!

Nem a medicação, porque deixei (sim, sou estúpida ou...) acabar o prazo de comprar a receita e na farmácia não me vendem sem uma receita nova. Mas como sei que vou este mês ter consulta na Unidade da Dor, não vou pedir à médica a medicação, aviar e depois trocarem-me os medicamentos por outros. É que há dois anos atrás, na primeira e única consulta em que lá estive, a médica que na altura achei impecável, mudou-me o plano de tratamento e disse que "era para ir avaliando" enquanto escrevia no pedido "muito urgente" de uma ressonância a expressão "suspeita de EM. Estúpida não sou, mas claro que sabia o que estava a tentar despistar. Mas depois acho que o seguimento foi muito mal feito. Nunca me disseram o que tinha ou não tinha. Na consulta de neurologia, a médica que nem olhou para os exames que eu trazia, só que me disse "está bom, ainda não é para operar", referindo as minhas fantásticas hérnias e "o resto?" perguntei eu, "qual resto?", "as dores", "isso não é para aqui, mas posso pedir uma reavaliação na ortopedia".

E pronto, cá estou eu, um ano epouco depois desta fantástica consulta, sem saber o que "está bom", o que "pode ficar pior" e com um plano provisório para tratar a EM ainda dois anos depois. Por isso, resolvi mesmo parar, tudo, esperar a consulta da dor e o que aí vem. A médica será outra, por isso talvez tenha mais sorte desta vez. Talvez esta me entenda, me diga o que tenho e como lidar antes de me medicar, e que depois me medique em condições. Só isso que eu quero. Para que eu consiga, se não conseguir trabalhar, receber uma ajuda, algo que me pague as contas em atraso, não tenha de escolher de entre os muitos medicamentos os que compro este mês e os que compro só quando puder como se isso fosse um luxo ou pudesse ser uma escolha minha!

Ter uma doença crónica, degenerativa, nunca pode ser visto com leveza, sem acompanhamento, devia ser um trabalho multidisciplinar de várias especialidades, não de consultas de dois em dois anos.