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Gosto de escrever e aqui partilho um pouco de mim... mas não só. Gosto de factos históricos, políticos e de escrever sobre a sociedade em geral. O mundo tem de ser visto com olhar crítico e sem tabús!
Assinala-se hoje em Portugal o Dia de Todos os Santos, mas para mim, aquilo que faz mais sentido assinalar é - apesar de posterior - a passagem de 269 anos desde o terrível sismo que afetou o nosso país e que, para sempre, ficará na nossa história. Nesta data, saem sempre alguns artigos de opinião sobre a prevalência de sismos no país, sobre a possibilidade de ocorrência de uma grande catástrofe que leve milhares de vidas ou sobre se estamos ou não preparados.
Claramente, não estamos preparados nem para um sismo, nem para um maremoto, como aquele que atingiu o país, destruindo tudo à sua passagem. Mas estamos muito melhor preparados do que estaríamos há quase 270 anos. Se tal acontecesse, iriam haver mortos, muitos deles soterrados pelos escombros dos edifícios, mas porventura muitos menos pelos incêndios que naquele dia deflagraram na capital.
De acordo com um artigo apresentado pela CNN Portugal, a ocorrência de um sismo com caraterísticas idênticas às de 1755 iria por exemplo levar à morte de muitos bebés e crianças, uma vez que "centenas de berçários e infantários estão instalados em edifícios de habitação antigos, que vão colapsar ou sofrer danos severos." Isto ocorre com mais frequência nas grandes cidades e, com menos frequência, no interior e em pequenas localidades. As escolas públicas precisam, na sua maioria, de um reforço estrutural e muitas estão localizadas em quotas baixas que seriam facilmente atingidas em caso de tsunami.
Segundo o mesmo artigo, a "maioria dos hospitais públicos também não resistiria a um sismo violento. Os dois hospitais centrais de Lisboa - Santa Maria e São José – são vulneráveis."
O hospital de São José - que desde 1759 funciona no Convento de Santo Antão (de onde foram expulsos os Jesuítas por Marquês de Pombal) - é um dos mais antigos do país nasceu porque neste convento se passou "a abrigar os doentes provenientes do Hospital de Todos-os-Santos então destruído pelo terramoto de 1755." Atualmente, podemos dizer que se pratica aqui "medicina moderna em edifícios velhos e reconstruídos." No entanto, deixo aqui a questão, apesar da sua vulnerabilidade, não podemos deixar de reparar que o edifício principal sobreviveu ele próprio ao sismo de 1755. Nesse ano, "estima-se que entre 30 mil e 40 mil pessoas tenham perdido a vida," quantas perderíamos agora?
Das perdas desse dia, contam-se inúmeras infraestruturas importantes: "os seis hospitais da cidade, incluindo o de Todos-os-Santos, 33 palácios da grande nobreza, o Palácio Real, a Patriarcal, o Arquivo Real, a Casa da Índia, o Cais da Pedra, a Alfândega palácios, igrejas, bibliotecas, a faustosa Ópera do Tejo, inaugurada sete meses antes..."
Mas não posso deixar de referir que este acontecimento trágico trouxe uma grande mudança e que nesta mudança podemos encontrar aspetos positivos. A resposta dada inicialmente a este "desastre", que teve uma "magnitude estimada entre 8,5 e 9" e que "atingiu violentamente a capital e grande parte do sul de Portugal", foi coordenada por Santiago José Carvalho e Melo, conhecido como o "Marquês de Pombal." O Marquês "liderou os esforços de reconstrução, aplicando medidas urbanísticas inovadoras que moldaram a Lisboa moderna." Ganhou-se também "uma cidade nova, muito moderna para a época em que foi construída e, pormenor importante, edificada de acordo com um sistema anti-sísmico – a famosa estrutura flexível de madeira dos edifícios, «em gaiola»."
Por outro lado, a sociedade também sofreu uma mudança profunda, com clara influância no "pensamento filosófico e científico da época, especialmente sobre questões religiosas e de justiça divina, numa Europa iluminista que começava a questionar os fundamentos do mundo natural." Com esta catástrofe vieram-se a "equacionar questões importantes que mexiam com a religião, com os conceitos filosóficos, com o papel atribuído ao homem no palco do mundo."
«As nossas casa tremiam como folhas das árvores, e os nossos corações como as nossas casas. Imaginai, ó vindouros, o pavor com que o ranger e o ribombar da queda dos edifícios, que ruíam em massa, nos abrasava, como um fogo, até à medula dos ossos. Aqui uma caterva de gente contorcia-se sob os escombros, nas mais cruenta agonia. Além gritos lancinantes de morte coavam através das pedras e da terra, e a ninguém era possível acudir aos desventurados que se debatiam sozinhos. Mas além um desgraçado rasgava as unhas e a carne até aos ossos, a fim de salvar a sua pobre vida de uma cova – tal, porém, para nada mais lhe valendo senão para se tornar em coveiro de si mesmo, porquanto, com suas mãos, preparava o próprio túmulo».
(J.R.A. Piderit )
Fontes:
https://www.chlc.min-saude.pt/hospital-de-sao-jose/
https://aventar.eu/2010/02/07/o-terramoto-de-1755-e-a-cultura-europeia-da-epoca/
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