Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Os meninos-soldado da guerra de Angola

por Elsa Filipe, em 13.02.19

Hoje trago um tema, bastante polémico, mas do qual não nos podemos esquecer: os meninos-soldado. São crianças, raptadas, vendidas ou até recrutadas, que se juntam a grupos armados e combatem nas guerras de todo o mundo. Sobrevivem em condições desumanas, na maioria das vezes sem abrigo, alimentação adequada ou cuidados de saúde. Muitas morrem devido a ferimentos por armas de fogo, explosões ou de doenças contraídas e das quais não chegama  ser tratadas. Outras tantas são violadas, mutiladas...

Durante toda a História mundial, há inúmeros exemplos do uso de crianças em conflitos armados, seja propositadamente ou pela força das circunstâncias. É muito recente a condenação explícita e global da participação ativa de crianças em conflitos e guerras, uma vez que só em 1989 foi assinada a Convenção sobre os Direitos da Criança, onde se pode ler que: “os Estados Partes devem tomar todas as medidas possíveis na prática para garantir que nenhuma criança com menos de 15 anos participe directamente nas hostilidades”.

Uma notícia na RTP em 1990, já alertava para esta problemática, dizendo que "MPLA e UNITA incorporam crianças nas suas forças de combate devido ao desgaste humano provocado pela guerra civil no país". Tanto Angola como Moçambique ratificaram a Convenção sobre os Direitos da Criança em 1990, mas sabemos que as suas diretrizes não foram cumpridas.

Nesta pequena notícia, é mesmo mostrado um documento onde se intima jovens a partir dos 16 anos a se recensearem, mas em imagens da mesma época vemos que existem crianças bem mais novas de arma na mão.

Um relatório da Human-Rights, viria a dizer que estas crianças-soldado, que lutaram na guerra civil de Angola tinham sido excluídas dos programas de desmobilização, aquando do acordo que estabeleceu a paz na extensão continental de Angola em 2002.

"O contigente esquecido" foi um relatório criado na época e que dá a conhecer essa problemática. Em dados apresentados nesse ano, estimam que cerca de 11.000 crianças estiveram envolvidas nos últimos anos dos combates. Algumas crianças receberam treinamento no uso de armas e participaram diretamente dos combates, enquanto que outras atuaram como carregadores, cozinheiros, espiões e trabalhadores. A estas crianças eram dadas também drogas, como por exemplo, a Canábis. Fugir não era opção, porque quem tentava fugir era morto e, muitas vezes era pedido a uma das crianças que matasse outra que tinha tentado fugir da base. Se não o fizesse, ela mesma era morta. O medo era constante. 

O uso de crianças em conflitos armados viola a legislação de inúmeros países, entre os quais, Angola, bem como viola de forma bastante clara as leis internacionais. Sobre Angola recai a obrigação de providenciar a recuperação e reintegração de todas as crianças afetadas pelo conflito.

Além das agruras da guerra, as crianças-soldado foram privadas de oportunidades educacionais, vocacionais e de desenvolvimento, o que faz com que estas crianças necessitem particularmente de programas de reabilitação adequados com as suas experiências específicas. Sem nenhuma assistência, elas correm o risco de serem manipuladas no futuro, tornando-se mais vulneráveis a serem atraídas ao serviço militar ou ao exercício de atividades ilegais.

Ainda segundo "O contingente esquecido", os soldados da UNITA espancavam frequentemente as crianças que cometiam qualquer infração e forçavam-nas a realizar trabalhos perigosos, além de abusarem sexualmente das adolescentes ou de as ofereceram como "esposas" aos soldados.

As forças armadas do Governo também usaram rapazes na guerra, se bem que em número mais reduzido do que a UNITA. 

As crianças que atuaram na guerra devem primeiro ser identificadas e reconhecidas para garantir que as ofertas tangíveis de assistência realmente as beneficiem.

Em abril de 2002, a guerra terminou na parte continental do país, depois de décadas de combates. A infra-estrutura do próprio país estava em ruínas: escolas e clínicas de saúde tinham sido completamente destruídas e restavam poucos profissionais qualificados para prestar os serviços.

O sucesso dos projetos de reintegração das crianças-soldado dependerá de uma maior dedicação de recursos por parte do governo para prestar os serviços básicos a todos os angolanos. Quem passou por isto, tem traumas muito profundos.

Fontes:

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/mpla-e-unita-incorporam-criancas-nas-suas-forcas-de-combate/

https://www.hrw.org/pt/news/2003/04/28/226507

https://www.dw.com/pt-002/a-inf%C3%A2ncia-passada-na-guerra-crian%C3%A7as-soldado-em-mo%C3%A7ambique-e-angola/a-17799763

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 12:48



Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.



Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D