Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Assinala-se hoje uma data importante no nosso país, que ainda hoje se mantém envolta em polémica e que marcou o fim do PREC. Nesta data, consolidou-se o espírito de liberdade conquistado no dia 25 de abril de 1974. Faz parte da nossa história, mas pouco ou nada se fala sobre esta data. Muito menos é mencionado nas escolas. 

De um lado os militares moderados e os partidos de centro esquerda e de direita, como o PPD, o CDS e o PS, e do outro os militares extremistas com o PCP, a UDP e outras forças partidárias dessa área de apoio. Após meses de tensão em que se registaram manifestações de  rua, sequestros da Assembleia da República e ameaças diversas, assinalaram-se movimentações e a ocupação de pontos estratégicos através da utilização de unidades de para-quedistas identificadas com a extrema esquerda.

Hoje o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, numa celebração da autarquia mas que poderá um dia vir a ser um acontecimento a nível nacional, quebrou as barreiras e ignorou as divisões que a data tem levantado. No seu discurso, afirmou que celebrar o 25 de Novembro de 1975 é "cada vez mais importante", considerando que foi neste dia "que a democracia venceu o extremismo". A democracia, é isto, é podermos festejar, se quisermos, uma data que foi importante, trazendo para a atualidade os valores defendidos há quase cinquenta anos e pensando que mais do que nunca é preciso falarmos sobre democracia e liberdade. "O poder militar pretendia ser o motor do poder político, alguns queriam que a legitimidade revolucionaria substituísse a legitimidade eleitoral", acusa Carlos Moedas, destacando que nesta altura "havia modelos de totalitarismo para todos os gostos". Esta foi uma celebração envolta em polémica e da qual iremos certamente voltar a ouvir falar. Mas não deixa de ser um ato de coragem, trazer nesta altura para o plano da discussão política, uma data que foi até certo ponto "apagada", por continuar até hoje envolta em polémica. 

Carlos Moedas apontou os "heróis" dessa data, nomeadamente o general Ramalho Eanes, Jaime Neves, Melo Antunes e todos os militares do grupo dos 9, enaltecendo "os militares moderados que souberam interpretar a vontade do povo português - que sabiam que a legitimidade do voto é a única legitimidade que conta numa democracia." Nem todos estiveram de acordo com as suas palavras, nem tão pouco com as celebrações de hoje. 

Poucos se lembrarão que, depois do 25 de abril, Portugal esteve prestes a entrar numa guerra civil, com a divisão das Forças Militares em que de um lado havia a esquerda radical e do outro a chamada direita militar. No dia 25 de Novembro de 1975, três militares morreram na Calçada da Ajuda, dois comandos ligados à chamada direita militar e um da polícia militar ligado ao Movimento das Forças Armadas. Nesta data, o povo consolidou a liberdade adquirida em abril e renovou o desejo de não deixar crescer uma outra ditadura que se começava a implantar.

Era preciso dizer não aos radicalismos, tal como o é hoje. Era necessário haver entendimentos e reformas e não deixar crescer os extremismos. Os mesmos que hoje já crescem pela Europa e que ameaçam as democracias. Portugal corre hoje o mesmo risco que corria há quase 50 anos atrás.

No dia 12 de novembro de 1975, dezenas de milhares de trabalhadores manifestaram-se junto ao Palácio de São Bento, reivindicando ser atendidos pelo Ministério do Trabalho. Os trabalhadores colocaram-se todos juntos nas escadas do palácio com faixas e bandeiras vermelhas. Perante a recusa, a manifestação radicalizou-se, e mobilizou-se contra o VI Governo Provisório, que suspendeu funções dia 20. Chegou mesmo a haver helicópteros no ar para levar mantimentos aos cercados em Belém e um pedido feito pelo Primeiro-ministro da altura para que ele e outros fossem resgatados, o que foi recusado pelos Comandos. A paralisia foi total, e o governo declarou efetivamente que não iria fazer nada "político", e anunciou que "estamos em greve, todos estão em greve, o governo também está em greve", agindo unicamente a título administrativo até à resolução do conflito de poder. O governo ameaçou também exilar-se no Porto, onde poderiam ser de certa forma protegidos por agricultores e camponeses no Norte que ameaçavam cortar o fornecimento de alimentos à "comuna vermelha de Lisboa". Isto mostrou o enfraquecimento do Estado e do poder político, num "confronto clássico de poder"

Na madrugada do dia 25, Vasco Lourenço é declarado comandante da Região Militar de Lisboa (RML) pelo Conselho da Revolução (CR). Os paraquedistas ocuparam rapidamente várias bases aéreas, assim como o Estado-Maior da Força Aérea, do Regimento de Artilharia de Lisboa (RALIS), que, pouco depois montou um aparato militar em várias zonas, e das tropas da Escola Prática de Administração Militar (EPAM), que ocuparam os estúdios da Rádio e Televisão de Portugal e controlaram as portagens da autoestrada do Norte. Por volta das sete da manhã, os paraquedistas ocuparam o comando da 1.ª Região Aérea e prenderam o seu comandante. Aqui, é dado o alerta à Presidência da República que "o 'golpe' está na rua". 

Um dos grupos envolvidos, chamado o Grupo dos Nove, deslocou-se até Belém, e o Presidente Costa Gomes assumiu a liderança. Pensa-se que este grupo formulara um plano para executar um golpe militar, que restituísse a hierarquia nas Forças Armadas. As medidas providenciais levaram à desmobilização popular, numa altura em que a população começava a cercar os vários pontos militares, o que poderia levar à distribuição de armas. Otelo Saraiva de Carvalho, anteriormente desaparecido, regressou a Belém, onde também teve um papel determinante. Francisco Costa Gomes decretou o estado de sítio na RML às 16h30. Houve no resto do dia diversas tentativas dos sublevados de tentar reverter a situação, desfavorável para si, e ofensivas dos moderados. Ao longo deste dia, os sublevados continuaram a perder posições, e a situação começou a normalizar-se. Jaime Neves, pouco após das 19h, saiu com uma força do RC da Amadora e cercou as instalações da Força Aérea em Monsanto, resultando na rendição de seus ocupantes. O domínio dos meios de comunicação passou a ser o objetivo mais importante. A Emissora Nacional, às 20h45, mudou a sua emissão para o Porto. O Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil convocou uma concentração junto à sede do sindicado através do Rádio Clube Português (RCP). O CR interviu, e convocou um destacamento da Escola Prática de Cavalaria de Santarém a Porto Alto, que continha os emissores de onda média, e, às 22h10, a emissão do RCP foi interrompida. As emissões da RTP passaram a ser feitas no Porto. No decorrer da noite, a situação começa a acalmar. 

No dia 26, o Conselho da Revolução decidiu dissolver o COPCON, e ordenou a presença de todos os seus comandantes no Palácio de Belém. Infelizmente, apesar de estarem perto, existiu uma falha na comunicação entre as forças de Jaime Neves que sitiavam a PM, e o Palácio de Belém. Após várias ligações com o major Campos Andrada, Vasco Lourenço conseguiu fazer com que se apresentasse em Belém. Apesar de tudo, o ataque não foi suspenso, e causou três mortos.

No dia 27, a conjuntura continuou a normalizar-se, e no fim da tarde o COPCON foi cercado e ocupado pelos comandos da Amadora, resultando em nove detenções, das dezenas de oficiais já encarcerados em Custoias. A Base Aérea do Montijo foi desocupada durante a noite. Costa GomesMorais da SilvaMelo AntunesPires Veloso, entre outros, falaram na televisão com o objetivo de acalmar a população. Apesar de ainda que não controlarem todas as unidades, os moderados estavam à beira da vitória. Ainda falta haver consenso se houve, ou não, uma tentativa de golpe de Estado, e quem foram os responsáveis.

Existe ainda uma grande polémica sobre a questão da distribuição das armas a civis e do  possível envolvimento do PS na preparação de uma futura intervenção estrangeira em Portugal. Em causa, o facto de Mário Soares de ter reunido com o primeiro-ministro James Callaghan para coordenar a ingerência militar do Reino Unido em Portugal caso irrompesse um golpe comunista, ao qual respondeu positivamente, garantindo o apoio, e despachou um oficial dos serviços secretos britânicos. Se houvesse a eclosão de uma guerra civil, Mário Soares contaria com vários tipos de operações clandestinas, apoio logístico aos militares moderados e a utilização de meios aéreos e marítimos para abastecimento na zona norte. De acordo com o ex-primeiro-ministro Vasco Gonçalves, a deslocação de Mário Soares ao Norte, no dia 25, fazia parte do plano, uma vez que seria ele o líder da resistência civil, e a sua segurança e liberdade teria, assim, de ser asseguradas, se ocorresse a tomada de Lisboa pelas forças revolucionárias.

Nada disto é falado e é como se (até hoje) todos tivessem feito um pacto de silêncio sobre os verdadeiros acontecimentos daqueles dias. Podemos pesquisar e encontramos muito mais perguntas do que respostas e, até, a comunicação social da altura, teve atitudes diferentes perante os acontecimentos em causa.

Em todos os jornais, se destacou os acontecimentos destes dias, inclusivé das manifestações ocorridas. Tal como em várias outras publicações, no 25 de novembro de 1975,  no semanário "O Jornal," destaca como o país se encontra em crise, com o título: A crise da semana: Governo de braços caídos”. No interior do jornal, havia uma página dedicada aos“quatro malditos” do VI Governo Constitucional: Tomás Rosa (ministro do trabalho), Ferreira da Cunha (secretário de Estado da Comunicação Social), Almeida Santos (ministro da Comunicação Social) e Marcelo Curto (secretário de Estado do Trabalho), os quais eram assim apelidados por sobre eles recaírem "as críticas mais violentas das forças situadas mais à esquerda da conjuntura revolucionária portuguesa”.  Num outro artigo, dá ainda conta da morte de Franco, “o último ditador da Europa”, que morreu no poder, chamando de certa forma a atenção para o futuro que "resta aos espanhóis", num obituário, escrito por Javier López, que não esconde a felicidade pela perda. Este artigo, não esconde uma mensagem para o povo português, na palavra "último", para que abra os olhos e não deixe que o extremismo regresse ao país.

 

Fontes:

https://sicnoticias.pt/pais/2023-11-25-Celebrar-o-25-de-Novembro-porque-todas-as-datas-contam-0597e22f

https://ionline.sapo.pt/artigo/808624/25-de-novembro-e-o-dia-do-triunfo-da-democracia?seccao=Portugal_i

https://www.tsf.pt/portugal/politica/comemorar-abril-e-exercicio-incompleto-moedas-diz-que-25-de-novembro-ditou-vitoria-da-democracia-17398595.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_de_25_de_Novembro_de_1975

https://ensina.rtp.pt/artigo/o-25-de-novembro-de-1975/

 

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:58



Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.



Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D