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Caderno Diário

Gosto de escrever e aqui partilho um pouco de mim... mas não só. Gosto de factos históricos, políticos e de escrever sobre a sociedade em geral. O mundo tem de ser visto com olhar crítico e sem tabús!

Caderno Diário

Jorge Sampaio

O ex-presidente da República Portuguesa, Jorge Sampaio morreu com 81 anos, no hospital de Santa Cruz, em Lisboa, onde estava internado desde o final de agosto, devido a dificuldade respiratória e doença cardíaca que já o acompanhava desde há muito.

Filho de mãe professora de inglês, de quem herda o rigor, e de pai médico, investigador, de quem herda a preocupação com o serviço de saúde público, criado numa família burguesa, democrática, que marcou a sua educação e personalidade. Irmão do conhecido psiquiatra Daniel Sampaio. Casou com Maria José Ritta, em Abril de 1974, de quem teve dois filhos, Vera e André, e com quem partilhou a vida privada e pública.

É em 1958, que desponta o seu entusiasmo pela política, talvez por ser o ano da campanha do General Humberto Delgado às presidenciais e ele, mesmo que ainda com 19 anos numa ditadura em que a maioridade era atingida apenas aos 21, ser já presidente da Associação Académica da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Havia a vontade de fazer algo e Jorge Sampaio estaria no momento e local exatos para poder fazer a diferença.

Funda o MAR (Movimento de Ação Revolucionária), o MES (Movimento de Esquerda Socialista) e o IS (Intervenção Socialista) antes de, em 1978, se tornar militante do PS (Partido Socialista). Embora mais tarde tenha reconhecido publicamente "o erro" de não ter-se inscrito mais cedo, em 1963, quando o PS foi fundado.

Durante quase 30 anos, desempenhou cargos políticos, tendo sido líder do PS. Em 1996 ganha a presidência da República a Soares, só deixando o lugar 10 anos depois. O homem da frase "há vida para além do orçamento" (2004), era tímido e discreto, mas ao mesmo tempo demonstrava uma cultura acima da média. Nem sempre entendido, afirmava que a "democracia global" teria de envolver a "democracia participativa e não só a representativa", mostrando uma preocupação com o futuro do país e do mundo, em especial com os países de expressão portuguesa.

Passou por cinco governos, e entre outros acontecimentos marcantes, assistiu há 21 anos à aprovação de um orçamento que valeu grande investimento na zona do Minho e o famosos "queijo Limiano", assistiu à queda de Guterres e conviveu com Durão Barroso e com a sua "mentira" sobre a Cimeira das Lajes, interrompeu o caminho de Santana Lopes dissolvendo a Assembleia e abriu o caminho para a eleição de José Sócrates. Foi ainda responsável pelos primeiros referendos nacionais, foi recordista de vetos (22, todos ganhos), percorreu os 308 concelhos do país. Não escapou aos escândalos da Universidade Moderna e da Casa Pia e teve um papel fundamental na independência de Timor Leste, que visitou assim que lhe foi possível. Foi o primeiro chefe do Estado português a fazê-lo.

No fim da presidência da República, Kofi Annan escolhe-o primeiro para lutar contra tuberculose e depois para unir as civilizações. O desempenho dessas funções valeu-lhe uma distinção da Organização Mundial de Saúde e o primeiro prémio Nelson Mandela instituído pelas Nações Unidas para premiar "feitos e contribuições excecionais ao serviço da humanidade".