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Há meninos que vão à escola. Há meninos que fazem birras porque não querem comer a sopa. Há meninos que brincam com carrinhos, constroem puzzles e pintam desenhos coloridos.

Há meninos que são levados em tenra idade e que são sujeitos às maiores atrocidades. Há meninos que em vez de desenhos animados assistem a execuções. Há meninos que são recrutas em ”campos infantis” por toda a Síria e pelo Iraque e fazem parte do Daesh. 

Assinala-se hoje o Dia Internacional contra o Uso de Crianças-soldado. Segundo o mais recente levantamento feito pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, 56 das atuais 57 entidades em guerra têm utilizado crianças nos seus exércitos. Em 2014, foram identificadas oito nações onde as crianças são recrutadas pelas forças de segurança: Afeganistão, Chade, Mianmar, Somália, Sudão do Sul, Sudão e Iêmen. Em países como Iraque e Síria, crianças permanecem vulneráveis ao recrutamento por conta da proliferação de entidades armadas e avanços do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL). No Sudão do Sul, os conflitos internos ainda afectam jovens e, no Iêmen, a participação e o uso de crianças pelas partes em conflito tornaram-se amplamente disseminados desde a escalada das tensões, em Março de 2015.

Há meninos que brincam ao faz-de-conta com armas feitas de pau e cantam "rei, capitão, soldado, ladrão..." e há meninos que gritam antes de dispararem armas verdadeiras, numa idade em que ainda não deveriam saber que a morte é irreversível. Estas crianças são usadas como bombistas suicidas ou para ”transportar armas e material médico nos confrontos”. Enquanto as meninas são vendidas ou entregues aos soldados do Daesh como presentes,  os rapazes são sujeitos a treino religioso e militar, onde aprendem a disparar armas e são obrigados a assistir a vídeos de decapitações.

Em 2016, pensa-se que terão sido 89 as crianças entre os oito e os 18 anos que morreram nas fileiras do Daesh durante um ano. O autoproclamado Estado Islâmico chama-lhes "as crias do califado". São meninos e meninas, provenientes na sua maioria da Síria mas que acabam por morrer em solo iraquiano: 60% dos jovens terá entre 12 a 16 anos, enquanto apenas 6% estão entre os oito e os 12 anos. São tratados como qualquer outro soldado. Estudos apontam para que 39% das crianças que faleceram em nome do Daesh iam a conduzir um veículo armadilhado, enquanto 33% foram mortas como peões no campo de batalha. Os números são ainda mais aterradores quando se descobre que 18% dos rapazes não tinham sequer quaisquer planos de sobreviver, sendo parte de inghimasis, ataques onde os jiadistas mergulham para lá das linhas do inimigo com a intenção de causar o maior número de baixas até eles próprios serem mortos.

Em 2017, no programa Grande Reportagem (SIC) com o título "Crianças no Daesh" de Henrique Cymerman, filmada na zona de Mosul no Iraque, podemos ver (se bem que não serei nunca capaz de compreender) o drama de milhares de meninos raptados pelo Estado Islâmico e transformados em terroristas suicidas e soldados, logo a partir dos três anos. Este excelente trabalho de reportagem mostra como uma equipa de resgate tenta libertar das mãos do ISIS crianças e meninas dos 3 aos 15 anos. São crianças e adolescentes que passaram longos períodos nas mãos do Daesh, movimento que chegou a controlar metade da Síria e metade do Iraque. Um dos meninos era Akram, com apenas 10 anos, que mostra aos repórteres como os homens do Estado Islâmico o ensinaram a matar e a cortar o pescoço de seres humanos, começando os "treinos" com bonecas, depois com gatos, cães, e por fim, com pessoas. Akram diz acerto ponto: "Se continuarem a falar em inglês vou ter de os matar."

Segundo uma denúncia das Nações Unidas, em 2022, as autoridades iraquianas mantinham detidas mais de um milhar de crianças (1091), algumas delas com apenas nove anos, acusadas de serem uma ameaça à segurança do Estado e de pertencerem ao Daesh. De facto, a esperança dos líderes do autoproclamado Estado Islâmico é que, mesmo se a organização eventualmente for derrotada, a “missão” pode continuar através de uma nova geração de jiadistas, através dos milhares de crianças que já foram doutrinadas com os seus ensinamentos.

Está tudo errado. 

Estas crianças, são vítimas de guerra. Nunca pediram para estar ali... nunca pediram para que lhes fosse posta uma arma nas mãos... não puderam ser crianças, não puderam brincar, sorrir, cantar, sonhar...

Fontes:

https://visao.pt/atualidade/mundo/2016-01-10-as-criancas-sao-o-futuro-ate-no-daesh/

https://expressodasilhas.cv/mundo/2016/02/27/uma-infancia-a-combater/47798

https://www.publico.pt/2022/02/19/mundo/noticia/mil-criancas-presas-ligacoes-terrorismo-iraque-1996110

https://sicnoticias.pt/programas/reportagemsic/2017-07-14-Criancas-no-Daesh-uma-infancia-roubada

 

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publicado às 20:22



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