
Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Gosto de escrever e aqui partilho um pouco de mim... mas não só. Gosto de factos históricos, políticos e de escrever sobre a sociedade em geral. O mundo tem de ser visto com olhar crítico e sem tabús!
Olhamos a invasão da Rússia à Ucrânia com grande preocupação, mas a verdade é que a Europa está rodeada de conflitos armados que complicam toda a situação desde o leste ao médio oriente. Está tudo à "nossa porta" e, ao mesmo tempo, parece que está tão longe e lá vamos seguindo a nossa visa, nos nossos queixumes.
Há nove meses que a população arménia de Nagorno-Karabakh, habitado na época soviética por uma maioria arménia cristã e uma minoria azeri muçulmana xiita, e da República de Artsakh, vive em condições desumanas devido ao bloqueio imposto pelo regime do Azerbaijão.
Na capital da autoproclamada república, Stepanakert, não há combustível e as velas voltaram a fazer parte da noite de cerca de 120 mil pessoas. A população está a passar fome. O Azerbaijão não permite a entrada a meios de comunicação independentes. 10 camiões com ajuda francesa foram, sem surpresas, barrados à porta do corredor de Lachin, numa “violação total dos direitos humanos”.
Nagorno-Karabakh é, há muito, um foco de tensão entre arménios e azeris. A região tem estado maioritariamente ocupada por arménios, não obstante a União Soviética, ter entregue à República Socialista Soviética do Azerbaijão o governo desse território.
À medida que o Estado comunista se desintegrava, a situação foi ficando cada vez mais instável. EM 1988 começou a Primeira Guerra do Nagorno-Karabakh, e que durou seis anos, com um desfecho favorável para os arménios. Em 2020 dá-se uma nova investida que só termina com um acordo de cessar-fogo, assinado a 9 de novembro de 2020 e mediado por Vladimir Putin, no qual os arménios foram obrigados a ceder o controlo de vários distritos: Agdam, a leste, e Kalbajar e Lachin, a oeste. Durante a guerra desse ano, o Azerbaijão matou 2906 combatentes azeris e 3825 arménios. Baku conseguiu recuperar uma grande porção territorial dentro e em torno da região.
Em setembro de 2022, aproveitando o incremento do conflito entre a Rússia e a Ucrânia e a passividade da União Europeia (com quem recentemente o Azerbaijão fez um acordo para o fornecimento de gás) e da NATO (cujos membros não querem provocar a Turquia, parceiro da Aliança Atlântica e grande aliado do Azerbaijão), as forças azeris atacaram algumas localidades como Goris, Kapan e Jermuk, reconhecidas internacionalmente como parte da Arménia. Os combates entre os dois países deixaram 286 mortos dos dois lados e fez crescer o temor de uma guerra em larga escala.
Há o risco de se estabelecerem novas zonas tampão sem que a restante Europa se mexa para o impedir. Mais uma vez, é o povo que sofre as consequências, estando em causa um verdadeiro genocídio.
Neste acordo foi estabelecido um corredor através do qual se faria a ligação entre a Arménia e Artsakh. Durante alguns meses, a ajuda humanitária ainda foi entrando em Artsakh, mas, em abril, os azeris bloquearam totalmente a estrada. Muitos não saberão mas Artsakh "é um autoproclamado Estado independente no Sul do Cáucaso com fortes ligações à Arménia." Este é um "país que não existe" e por isso, Stepanakert também é a "capital do país que não existe." Ali se fala Arménio e a população é maioritariamente cristã.
A 30 de agosto deste ano, a porta-voz de Lavro, Rússia, Maria Zakharova, afirmou que a culpa do bloqueio azeri a Artsakh era da Arménia, dizendo que "a atual situação no corredor de Lachin é uma consequência do reconhecimento pela Arménia do Nagorno-Karabakh como parte do território do Azerbaijão”. A aparente apatia russa pode espantar uma vez que a Arménia ainda faz parte da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, uma espécie de NATO que a Rússia formou com mais cinco ex-Estados soviéticos, entre eles a Arménia. Esta "não reação" da parte de Moscovo, fez com que a Arménia ameaçasse com a sua saída da organização.
A 31 de agosto, Annalena Baerbock, ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, fez um surpreendente apelo ao fim do bloqueio azeri, o que renovou as esperanças de muitos de que a Europa pudesse contribuir para o fim do problema.
“Matar à fome é um crime de genocídio que está previsto. Para haver um genocídio tem de haver uma tentativa de eliminação, no todo ou em parte, de um grupo nacional. Esta parte final pode estar a ser preenchida, porque os arménios são uma minoria no Azerbaijão”, afirma Pereira Coutinho, especialista em Direito Internacional e professor na NOVA School of Law.
Fontes:
https://www.almadeviajante.com/viagens/nagorno-karabakh/
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.