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Gosto de escrever e aqui partilho um pouco de mim... mas não só. Gosto de factos históricos, políticos e de escrever sobre a sociedade em geral. O mundo tem de ser visto com olhar crítico e sem tabús!
Sempre que se fala em cheias, na televisão, parece que são "as primeiras" a acontecer, mas a verdade está muito distante disso. Como por exemplo, em Lisboa as maiores cheias registadas, datam de 26 de Novembro de 1967 e fez ontem precisamente 55 anos que aconteceram. Esse dia foi também considerado como aquele em que ocorreu uma das maiores tragédias da capital.
Para vos falar deste dia, de que ouvi falar mas não vivenciei, precisei de fazer alguma pesquisa. De entre as várias publicações e relatos que li, resolvi escolher duas entrevistas que para mim se destacam pela forma como relatam os acontecimentos daquela fatídica noite e dos dias que se seguiram.
As inundações que atingiram a cidade, levaram tudo à sua frente desde Alenquer até ao Dafundo. Na época, dava-se que as habitações tinham condições muito precárias e, não muito longe do que há nos nossos dias, havia uma enorme falta de ordenamento territorial. Destas cheias, o resultado foi a morte de 462 pessoas mas o número pode ter atingido os 700. Milhares de pessoas ficaram sem habitação. E continua-se com construções em zonas de leitos...
Dina Soares e Joana Bourgard, fizeram para a Rádio Renascença uma excelente reportagem onde algumas das testemunhas deste evento deram a sua visão dos acontecimentos dramáticos.
Nessa reportagem, é referida uma placa colocada pela Junta de Castanheira do Ribatejo no largo da aldeia de Quintas homenageia as cem pessoas que morreram naquela noite de 25 para 26 de Novembro, só naquela zona. Muitas apanhadas durante o sono, não tiveram tempo para fugir e os corpos de manhã foram colocados em cima de placas de zinco. Sabe-se que mais de metade da população sucumbiu debaixo da água e da lama, das cheias e das enxurradas que elevaram o caudal do Rio Grande da Pipa ao nível do primeiro andar das casas do largo.
Perante a apatia de Salazar, 5 mil alunos ajudaram as vítimas. Um movimento que marcou uma geração. Muitos dos estudantes da época, arregaçaram as mangas e foram para o terreno ajudar nas buscas e na remoção da lama que cobria as casas e, nestas muitas horas de trabalho, tomaram verdadeira consciência da miséria em que muitas famílais viviam.
Alguns fizeram de verdadeiros jornalistas e começaram a escrever no Jornal "Solidariedade Estudantil" onde relatavam a miséria que encontravam.
Segundo António Araújo, historiador referido noa reportagem de Dina Soares e Joana Bourgard, "aquilo não eram papéis, era a realidade duríssima de corpos inchados pela água e toda a condição humana que ali se revelava. Era a revelação não só da morte, mas também da vida que levou àquela morte. Tudo aquilo era atirado à cara dos estudantes quando chegavam ao terreno.”
Nesta reportagem, que recomendo vivamente, é referido que parte das reportagens de Joaquim Letria foi cortada pela censura. O país estava sob regras muito rígidas impostas pelo regime. Além disso, muitas informações eram, pura e simplesmente, negadas. “O ‘Diário de Lisboa’ entrou em choque com o Ministério do Interior porque eles procuravam minimizar as coisas e nós tínhamos a ideia contrária. Então, o Vítor Direito, que era o chefe de redacção, mandou-nos, a mim e ao Pedro Alvim, contar mortos. Chegámos perto dos 700", conta Joaquim Letria.
Segundo a mesma reportagem, "o impacto desta catástrofe atravessou fronteiras e despertou a solidariedade internacional. Grã-Bretanha, Itália, Mónaco, França, Suíça e Espanha enviaram donativos e vacinas contra a febre tifóide."
Mais do que os relatos que encontramos explandidamente registados neste reportagem, apresentam-nos também imagens, em especial de jornais da época. Um registo que fica para a história e do qual eu aconselho a leitura.
No domingo, explodiu o paiol de Linda-a-Velha, como é relatado numa outra grande reportagem.
Fontes:
https://especiais.rr.pt/cheias-1967/index.html
https://www.dn.pt/sociedade/cheias-de-1967-o-mar-de-lama-e-dor-que-mostrou-o-pais-8942334.html
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