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Faleceu o historiador António Borges Coelho

por Elsa Filipe, em 17.10.25

Tinha 97 anos e assistiu por isso a importantes eventos do curso histórico do nosso país, da Europa e do Mundo! Além de historiador, António Borges Coelho, foi também poeta e ficcionista. Escreveu sobre a "Inquisição portuguesa e a ocupação islâmica daquele que viria a ser o território português." Passou pela queda da República, por uma ditadura, pela 2ª Guerra Mundial e pela chegada da democracia. Assistiu ao encerramento do país devido ao Covid, o mesmo covid que o mantinha internado e que terá contribuído para a sua morte.

Nascido em Murça a 7 de outubro de 1928, quis "ser frade franciscano," tendo arriscado ir "para o seminário de onde acabaria por ser expulso."

No final da década de 1940, ingressa na "Faculdade de Direito Lisboa, mas abandona os estudos para dedicar-se exclusivamente à política," participando de forma ativa "na campanha presidencial de Norton de Matos."

"Em 1949 integra o Movimento de Unidade Democrática (MUD) Juvenil e, depois, o Partido Comunista Português (PCP). A 3 de janeiro de 1956, já como dirigente do PCP na clandestinidade, é preso pela PIDE, recolhendo à cadeia do Aljube."

Em junho de 1957 é julgado e "condenado a dois anos e nove meses de prisão," seguindo "para a prisão de Peniche." É ainda na prisão que casa "com Isaura Silva, em 1959. Um ano depois, Borges Coelho opta por não integrar a fuga de Peniche de vários dirigentes do PCP," recusando assim voltar à clandestinidade. A sua pretensão era a de se dedicar "a uma carreira como historiador após a libertação" algo que mais tarde acabaria por acontecer, mas não sem antes ter sido "castigado e enviado para o Aljube." Ali, foi sujeito "à tortura da estátua e a seis meses de isolamento."

Regressado à prisão de "Peniche, dedica-se ao trabalho de escrita histórica. Em 1962 ser-lhe-ia concedida liberdade condicional por um período de cinco anos." Diz o PCP que, depois de adquirida a liberdade, Borges Coelho toma a decisão "de se desvincular do PCP," mas não se sabe se terá sido assim, uma vez que terá continuado a "manter um posicionamento de estreita colaboração com o Partido."

"Em 1967 conclui a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas na Universidade de Lisboa. Em 1968 torno-se jornalista, n’ A Capital." Depois disso, veio ainda a trabalhar "no Diário de LisboaDiário PopularVértice ou Seara Nova." 

"Já em liberdade continuou os trabalhos que tinha iniciado no Forte de Peniche e escreve “As Raízes da Expansão Portuguesa”, livro que foi apreendido das livrarias e que o levou a ser submetido a novos interrogatórios pela PIDE. No ano seguinte publicou “A Revolução de 1383”.

Além destes, publicou as obras "Questionar a HistóriaA Inquisição em Évora (1987)" bem como "vários volumes da História de Portugal."

Até 2020, foi "presidente do Conselho Consultivo do Museu do Aljube, com quem colabora desde o seu início. Em 1999, foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada, em 2018 com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade e em 2019 foi-lhe atribuída pelo Governo a Medalha de Mérito Cultural." Tinha publicado este ano, na editora Caminho, "a coletânea Poemas."

Uma das fontes vivas da memória deixou-nos e deixou mais pobre o nosso país. O PCP diz dele que é um "homem vertical, solidário, homem de causas e de luta pela liberdade, pela emancipação social, por um Portugal democrático, de progresso e de justiça." Pelo menos, ficaram a sua escrita e os seus relatos e isso será mais difícil de apagar.

Fontes:

https://www.publico.pt/2025/10/17/culturaipsilon/noticia/morreu-historiador-antonio-borges-coelho-2151280

https://www.museudoaljube.pt/doc/antonio-borges-coelho-jorge-tavares-da-silva/

https://www.pcp.pt/faleceu-antonio-borges-coelho

 

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publicado às 22:57



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