No ano passado, a Políca Judiciária registou 1.102 desaparecimentos de crianças e jovens em Portugal, mais 126 casos que em 2021. Este ano, os números também não são animadores e ainda só estamos em maio.
Muitos dos casos acabam por se revelar fugas voluntárias e acabam com um desfecho positivo, mas noutros casos infelizmente não é assim.
Este ano foram já vários os casos de jovens que decidiram pôr termo à vida e, como mãe e como docente, não consigo aceitar, embora compreenda que a dor psicológica por vezes possa ser tão grande que só consigam ver essa solução. A conclusão dos vários casos que tenho acompanhado pelos meios de comunicação social é que falta apoio psicológico nas escolas e nos centros de saúde para lidar com estes casos. A saúde mental devia ser uma área prioritária.
Concordo com a jornalista Rute Agulhas do DN quando diz que uma das frases que se costuma ouvir é do género de "a minha filha diz que se mata, mas é da boca para fora, só para chamar a atenção". Pela experiência que tenho, nem sempre chegam ao ato fianl, mas é um grito de ajuda, um apelo a que os pais valorizem que algo se está a passar com eles e que precisam de ajuda. E rápido! Rute Agulhas afirma também no seu artigo que estes jovens precisam de sentir que não estão sozinhos e que os pais os acolhem na sua dor. Precisam de escuta ativa e de ajuda especializada, não de juízos de valor ou críticas destrutivas, após falar sobre outras manifestações concretas como a auto-mutilzação, por exemplo.
Ao fazê-lo, mais não estão do que a desvalorizar e a minimizar o risco de suicídio dos seus filhos, contribuindo para que estes se sintam incompreendidos e (ainda mais) sozinhos. A ideação suicida não surge do "nada", tem uma continuidade que vai crescendo e se vai acentuando. bAo longo deste processo temos diversas fases, de maior ou menor gravidade, em função da natureza, frequência e persistência dos pensamentos ou imagens, se existe já um plano suicída delimitado e do acesso ao método identificado, entre outras variáveis que podem assumir-se como fatores de risco.
No primeiro trimestre deste ano, a PJ recebeu já 330 denúncias. Uma das coisas que tenho vindo a reparar é no número de mensagens de pais que procuram notícias de jovens e de crianças através das redes sociais.
Há uma “desesperança” nos jovens que tentam o suicídio. E os que chegam aos consultórios são cada vez mais novos.
Em Portugal, estima-se que, por dia, em média, três pessoas morrem por suicídio, número presente no documento “Vamos falar sobre suicídio?”, desenvolvido pela Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Tal como refere o site Gerador, embora não se deva comparar números entre curtos períodos de tempo, sabe-se que com a chegada da pandemia por covid-19, em 2020, aumentaram o número de pessoas com depressão e com ansiedade, em Portugal. Outros estudos realizados vieram também referir que a pandemia ampliou os fatores de risco associados ao suicídio, como perda de emprego ou perda de capacidade económica, havendo ainda razões ligadas a traumas, a abusos, transtornos mentais e barreiras de acesso aos serviços de saúde. Segundo dados da OMS, o suicídio continua a ser uma das principais causas de morte no mundo, sendo responsável por uma em cada 100 mortes. O suicídio também é a quarta causa de morte no mundo entre jovens de 15 a 29 anos, depois dos acidentes de trânsito.
Segundo dados de 2017, apresentados por Ana Matos Pires, assessora do Programa Nacional para a Saúde Mentalnuma entrevista ao jornal Expresso, uma em cada seis mortes de pessoas entre os dez e os 29 anos em Portugal é por suicídio. Diz também que se há duas décadas o número de psicólogos nas escolas e nas universidades era reduzido, hoje “continua tudo igual e sem nenhuma articulação com os serviços de saúde mental”.
Mudanças de comportamento, como fazer um plano ou pesquisar maneiras de tirar a própria vida; afastar-se dos amigos, despedir-se e distribuir itens importantes ou fazer testamentos; fazer coisas muito arriscadas, como dirigir em velocidade extrema; mostrar mudanças extremas de humor; comer ou dormir muito ou pouco; usar drogas ou álcool com mais frequência também pode ser um sinal de alerta para a ocorrência iminente de suicídio.
E porque é que os jovens não procuram ajuda? A verdade é que em vários casos procuram, mas não a encontram. Noutros casos, o estigma, os recursos limitados e a falta de consciencialização continuam a ser as principais barreiras para a procura ativa de ajuda, destacando-se a necessidade de formar por exemplo os professores para lidarem com formas de sinalização e sinais de alerta. Muito importantes também são as campanhas anti estigma que se podem promover em escolas e nas redes sociais e de comunicação. Mostrar apenas os casos de suicídio nas notícias não é a solução.
Atualmente, o tema tem sido bastante debatido e há muito mais informação do que havia antes, mas não sabemos como é que essa informação está a chegar aos nossos jovens e se ela é proporcional às suas necessidades e aos problemas atuais que estão a atravessar.
Fontes:
https://expresso.pt/sociedade/2021-09-10-Suicidio-e-a-principal-causa-de-morte-em-criancas-e-jovens-adultos-em-Portugal-8a69a853
https://gerador.eu/suicidio-em-numeros/
https://www.dn.pt/opiniao/cao-que-ladra-tambem-morde-adolescentes-e-tentativas-de-suicidio-14927949.html
https://www.paho.org/pt/noticias/9-9-2021-apos-18-meses-pandemia-covid-19-opas-pede-prioridade-para-prevencao-ao-suicidio