Depois da tempestade
Depois da tempestade vem a bonança, sempre ouvi dizer. Mas os últimos dias não foram fáceis para muitos portugueses, que viram os seus bens serem levados pela água, as casas e os negócios ficarem destruídos e as suas vidas completamente viradas do avesso. Se era esperado? Pela forma como se vão sucedendo as notícias nos meios de comunicação parece que foi algo de muito estranho, algo que o país nunca viveu. Mas, infelizmente, foram muitos os episódios de cheias que noutros anos deixaram algumas zonas do país arrasado. Talvez agora tenha subido mais em algumas zonas, talvez desta vez os alertas não tenham chegado a tempo, mas quantas destas pessoas sabiam que estavam em leito de cheia e que, havendo chuva e as condições adequadas, o rio irá retomar o seu leito natural e toda a bacia hidrográfica vai ficar completa?
Há quantos anos se estão a elaborar planos para minimizar as consequências destas cheias e há quantos anos eles aguardam para ser postos em prática? Estradas cortadas devido a lençóis de água por falta de escoamento. Linhas do metro completamente submersas, intransitáveis com cascatas de água a descer pelas escadas e levar tudo à sua frente. Infiltrações nas escolas que "sempre" pingavam mas não eram "nada de mais", levam ao encerramento de salas, de refeitórios e muitas crianças a ficar em casa ou a irem para os ATL ou centros de estudo, que sem esperarem têm de arranjar refeições para os alunos que deviam ter comido na escola e atividades para os meninos que deviam estar a ter aulas. Os pais ficam de mãos atadas sem saber se faltam ao trabalho para socorrer os filhos ou se os deixam aos cuidados das escolas e dos apoios que nestes dias não chegam.
A quantidade de chuva, cria rios de lama que correm velozes pelas encostas e que levam a derrocadas de muros que já estavam danificados, entram pelas portas e pelas janelas das casas, alagam garagens, caves, sobem pelas habitações até onde não dá mais. Alguns sobem aos pisos superiores, outros arrastam-se para os telhados e aguardam ajuda, no meio da aflição, uma senhora tenta salvar o marido acamado e morre curvada pela água e pelo desespero.
O que nos aconteceu nestes últimos dias foi uma catástrofe natural, aliada a um grande "fechar" de olhos do governo. As promessas não chegaram a tempo, os alertas ou não vieram ou os que vieram não se tornaram eficientes.
E parece que a bonança que esperávamos ainda vai demorar a chegar pois a chuva não nos vai dar tréguas nos próximos dias. Cuidem-se e cuidem uns dos outros. A proteção civil somos nós e o primeiro passo é não nos colocarmos em risco, avaliando se temos mesmo de sair, se temos mesmo de pegar no carro e atravessar uma enchente ou se não podemos ficar em casa um dia ou dois com os filhos. Tomem conta dos idosos, que muitas vezes vivem em zonas antigas e casas menos resistentes às intempéries. Isto ainda não acabou!