Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Gosto de escrever e aqui partilho um pouco de mim... mas não só. Gosto de factos históricos, políticos e de escrever sobre a sociedade em geral. O mundo tem de ser visto com olhar crítico e sem tabús!
São muitas as imagens e os debates à volta dos confrontos que se vão espalhando noite dentro por vários bairros da capital e dos arredores. A situação que levou a esta violência e a toda esta revolta foi a ação policial contra um dos residentes do bairro do Zambuja, localizado na freguesia de Alfragide e pertencente ao município da Amadora que ocorreu n amadrugada de 21 de outubro.
Ao que se sabe - há várias versões, mas não se confirma ainda nada - é que o comportamento de um condutor terá despertado a atenção de um carro que patrulhava a zona e, ao mandar o condutor parar, este em vez de o fazer, fugiu tendo cometido diversas infrações durante a fuga. Seguidamente, o condutor terá entrado em despiste, "abalroando viaturas estacionadas, tendo o veículo em fuga ficado imobilizado". A fuga terminou com a tentativa de detenção do homem, que segundo relatos da própria polícia, "terá resistido à detenção" e tentado agredir os agentes "com recurso a arma branca".
Um dos polícias terá disparado dois tiros para o ar e, não tendo obtido o efeito desejado, terá disparado na direção do homem, acabando este por morrer devido aos ferimentos.
Horas depois, "o movimento Vida Justa contesta a versão da polícia sobre a morte de Odair, afirmando que a versão dada pela PSP é “totalmente falsa”, e exigindo "uma comissão independente para investigar as mortes em circunstâncias estranhas que ocorrem na periferia" de Lisboa.
Nesta versão, a PSP informa que um homem "em fuga foi baleado por um agente do Comando Metropolitano de Lisboa, às 05:43, na Cova da Moura, quando alegadamente terá resistido à detenção e agredido os agentes com recurso a arma branca". Isto terá levado, segundo o mesmo comunicado, a que"um dos polícias, esgotados outros meios e esforços", tenha recorrido "à arma de fogo" e atingido "o suspeito, em circunstâncias a apurar em sede de inquérito criminal e disciplinar." Seguidamente, o MAI abriu "um inquérito urgente à Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) sobre a morte de Odair."
A lamentável morte de um cidadão veio então levantar várias questões, entre as quais, se havia necessidade de disparar na sua direção. Se sim ou não, não sei, o que sei é que não gostaria de estar na situação dos agentes que, ao fazerem o seu trabalho, tiveram de abordar um condutor a meio da noite, em fuga e que não cumpre as ordens que lhe são dadas. Se agiram da melhor forma, acredito que não, e que poderiam ter feito as coisas de outra forma, que podem ter-se sentido ameaçados, que podem ter sentido a vida em risco ou que podem ter agido de impulso, sem pensar. Não quero desculpar a ação do agente que disparou, mas também não o quero recriminar por tê-lo feito. Se estivesse no seu lugar, o que teria eu feito? Não consigo imaginar.
Em relação à ação que despoletou a perseguição. Sempre me ensinaram que, perante um veículo da polícia, devidamente identificado, que nos mande parar, é isso que devemos fazer: encostar, parar, e deixar que os agentes acedam aos documentos e ao veículo se for esse o caso. Não entendo porque não o fez Odair. Se tinha algo a esconder no carro, não o devia ter, se estava alcoolizado, também não deveria estar ao volante de um automóvel. Se passou realmente como dizem um traço contínuo, devia assumir o seu erro, e se fosse o caso receber a contra-ordenação. Fugir? Nunca seria essa a opção a tomar. Daquilo que se sabe, as fugas nunca correm muito bem. Alguém se fere, outros ficam feridos. Alguém morre... muitas vezes, pessoas que nem têm relação com o caso, simplesmente estavam no lugar errado à hora errada. Não foi o caso. Odair morreu não porque estava no lugar errado à hora errada. Morreu porque fugiu, porque desobedeceu. Não devia ter acontecido, não devia ter sido atingido, devia ter sido detido. Devia estar preso e não morto.
"Em menos de quatro dias, a morte de Odair Moniz por um agente da PSP no Bairro do Zambujal desencadeou desacatos e tumultos por toda a Grande Lisboa, foram reveladas versões contraditórias do que antecedeu os tiros fatais, realizou-se uma reunião entre autarcas e Governo, organizaram-se duas manifestações e foram proferidas muitas reações extremadas sobre o caso, da esquerda à direita."
As ações têm consequências. E agora uma comunidade chora a morte de um dos seus, uma família está enlutada. Odair deixou uma família, deixou filhos, mas naquela noite, estaria ele a pensar neles quando fugiu às autoridades? E, se realmente foi assim como contam que aconteceu - como já disse, ainda há muito que não se sabe e existem várias versões - terá pensado nos filhos? Cada um de nós vê a vida de uma forma diferente. Eu sinto-me segura na presença da polícia, mas há quem não se sinta assim e tenha as suas razões para tal, cultural e sociologicamente falando.
Acredito que o medo se imponha nos jovens que crescem em bairros, porque assistem a rusgas, assistem a portas deitadas a baixo a meio da noite e a casas invadidas. A minha porta nunca foi deitada abaixo... se tocarem, eu abro, podem ver tudo que não terei receio, de resto o que encontrarão será talvez pó.
O que agora está a acontecer é que não pode também ser permitido. Está a ser aproveitada a morte de um homem, uma morte que não deveria ter acontecido, para se fazer violência, para se criarem desacatos e destruírem bens de pessoas que nada têm que haver com o caso. Estão a destruir bens públicos, que são de todos, e bens privados. Não está a ser um ataque direcionado à polícia, mas ataques provocatórios e que podem levar a mais mortes! Se um polícia agora disparar contra um indivíduo que tenha na mão um cocktail molotov e o matar? Será mais um "mau" polícia? E não, não defendo nada que se entre de arma em punho, se atire indiscriminadamente e que se resolvam estas situações ao tiro! Isso não pode acontecer, não devia acontecer! Mas os bens que estão a destruir, são bens que têm dono! Estão a destruir coisas que são úteis aos bairros onde moram? Isso faz sentido? Estão a queimar carros de pessoas que têm família, que têm trabalho e que se esforçam por pagar as mensalidades todos os meses? Como é que, desta forma, dizem estar a manifestar-se contra esta morte? Tem de haver justiça, sim, tem de haver justiça. Mas estes atos são selváticos! São pensados para criar o caos.
No meio disto tudo, algo me passou esta noite pela cabeça. E se quem está à frente destes atos de selvajaria, não são "as pessoas" do bairro, não são "os amigos de Odair", nem quem o defende... mas sim, pelo contrário, se quem aparece de cara tapada, são aqueles que os querem fora dali? E se, imaginem, estes que atacam de forma indiscriminada, estão de facto a aproveitar o caso para fazer valer a sua posição e, ao fazerem-no, tentam-nos colocar contra estas pessoas? E se os atacantes, incendiários, estão mais à direita do que nos fazem crer? Talvez eu esteja enganada... mas foi isso que esta noite me passou pela cabeça, foi uma suposição, uma hipótese...
Fontes:
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.