As mulheres afegãs enfrentam duras provas de vida e estão privadas do acesso à educação desde que o regime Talibã voltou ao poder, depois da saída das tropas americanas. A EuroNews apresenta uma reportagem sobre estas escolas, que são um grito de revolta, num país onde as mulheres não têm voz. No DN encontrei também uma ótima reportagem sobre este assunto e que despertou o meu interesse.
O Afeganistão esteve sob o poder dos Talibã desde Setembro de 1996. Este regime e a guerra que se abateu sobre o povo afegão, destruiram 3600 escolas afegãs, ou seja, grande parte dos espaços que antes estavam reservados à escola. Mas o povo afegão não desistiu de aprender e criou espaços alternativos que, embora com condições muito precárias, permitiram perpetuar a ideia de escola no Afeganistão. apesar das dificuldades, existe uma enorme vontade de estudar. Até as populações nómadas realçam a importância da educação das suas crianças.
Agora começam a surgir escolas clandestinas para raparigas no Afeganistão, principalmente depois da subida dos talibãs ao poder. Mas as jovens que frequentam estas escolas clandestinas têm de ter muito cuidado.
Uma das raparigas que frequenta uma escola clandestina, contra a vontade do irmão, diz que também vai à escola muçulmana para aprender sobre religião e à tarde vai à escola clandestina, porque desta forma consegue responder ao irmão sobre religião sem levantar suspeitas.
A hostilidade masculina em relação à educação das mulheres é muito antiga no Afeganistão. Muitas raparigas sofrerem episódios de violência ou até a morte por frequentarem escolas femininas.
Ao contrário das promessas dos Talibãs quando subiram ao poder, no ano passado, a integração das mulheres está longe se ser uma realidade e a sociedade afegã encerra-se numa gestão masculina. Desde que tomou o poder há um ano, o regime talibã impôs duras restrições a meninas e mulheres para cumprir a visão austera do Islão, retirando-as da vida pública. As meninas vêem-se obrigadas a esconder os livros e os materiais escolares.
As mulheres não podem fazer viagens longas sem um parente do sexo masculino para acompanhá-las. Elas foram também instruídas a cobrirem-se com o hijab ou, de preferência, com uma burca - embora a preferência declarada dos talibãs seja que elas só saiam de casa se for absolutamente necessário.E, na mais cruel privação, as escolas secundárias para meninas em muitas partes do Afeganistão não foram autorizadas a reabrir. Mas escolas secretas surgiram em quartos de casas comuns em todo o país. Uma professora de uma das escolas secretas, adianta que não queria que estas raparifgas tivessem a mesma vida que ela - que devem ter um futuro melhor. Acrescenta ainda que muitas raparigas menores são obrigadas a casar, como ela foi. Ficou noiva aos 12 anos e lutou muito para ter acesso à educação - é por isso que não quer que passem pela mesma coisa.
Vários estudiosos religiosos dizem que não há justificação no Islão para a proibição do ensino secundário de meninas e, um ano após terem assumido o poder, os talibã ainda insistem que as aulas serão retomadas.
Um dos casos que encontramos nestas reportagens é o de Tamkin, que com o apoio do marido, transformou primeiro uma despensa numa sala aula. Em seguida, vendeu uma vaca da família para arrecadar fundos para livros didáticos, já que a maioria das meninas vinha de famílias pobres e não podiam pagar os próprios livros. Hoje, ensina inglês e ciências a cerca de 25 alunas ansiosas.
Recentemente, num dia chuvoso, as meninas entraram na sala de aula para uma aula de biologia. "Eu só quero estudar. Não importa como é o lugar", disse Narwan, que deveria estar no 12.º ano, sentada numa sala cheia de meninas de todas as idades.Atrás dela, um poster na parede pede aos alunos que sejam atenciosos: "A língua não tem ossos, mas é tão forte que pode partir o coração, então cuidado com as palavras".
Tal consideração da parte dos vizinhos ajudou Tamkin a manter o verdadeiro propósito da escola escondida. "Um talibã perguntou várias vezes 'o que está a acontecer aqui?' Eu disse aos vizinhos para dizerem que é uma madrassa", disse Tamkin. Uma outra jovem, Maliha, de dezessete anos, acredita firmemente que chegará o dia em que o regime talibã não estará mais no poder. "Nesse dia vamos dar bom uso ao nosso conhecimento", disse. Nos arredores de Cabul, num labirinto de casas de barro, Laila é outra professora que dá aulas clandestinas. Tanto esta professora como esta aluna, que são apenas dois exemplos de muitas, são casos de superação e de uma luta não só pela educação, mas pelo direito ao saber, a liberdade de escolherem o seu destino.
Assim, podemos afirmar que o direito a estudar não é o único objetivo de algumas meninas e mulheres afegãs - que são muitas vezes casadas em relacionamentos abusivos ou restritivos. Zahra, é disso um bom exemplo. Zahra, que frequenta uma escola secreta no leste do Afeganistão, casou-se aos 14 anos e agora vive com parentes por afinidade, que se opõem à ideia de frequentar as aulas. Atualmente, toma comprimidos para dormir para combater a ansiedade - preocupada em que a família do marido o influencie a obrigá-la a ficar em casa. "Eu digo-lhes que vou ao bazar local e venho aqui", disse Zahra sobre a ida à escola secreta que frequenta. Para ela, diz, é a única maneira de fazer amigas.
Laila é outra professora que dá aulas clandestinas a cerca de uma dúzia de meninas, que se reúnem dois dias por semana na sua casa, que tem um pátio e uma horta onde cultiva legumes e frutas. A sala de aula tem uma ampla janela que se abre para o jardim, e as meninas com livros didáticos guardados em pastas de plástico azul estão sentadas num tapete - felizes e alegres, a estudar juntas. À medida que a aula começa, uma a uma, eles leem as respostas dos trabalhos de casa.
Fontes:
https://pt.euronews.com/2022/08/14/dentro-das-escolas-secretas-para-raparigas-do-afeganistao
https://webpages.ciencias.ulisboa.pt/~ommartins/images/hfe/lugares/oriente/afeganistao.htm
https://www.dn.pt/internacional/as-meninas-que-desafiam-os-taliba-em-escolas-secretas-no-afeganistao-15080837.html