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50 anos - as motivações do MFA e a Intentona

por Elsa Filipe, em 20.04.24

As motivações que, há 50 anos atrás, levaram ao Golpe Militar que poria fim ao Regime, foram principalmente de cariz profissional. O governo tinha aprovado dois decretos-lei (o 353 e 409, de julho e agosto de 1973) "para responder às necessidades da guerra colonial." Os oficiais, que tinham tido uma formação militar de quatro anos, "não aceitavam poder vir a ser ultrapassados pelos novos oficiais milicianos, cuja formação seria feita apenas em dois semestres."

O Movimento dos Capitães pretendia "recuperar o prestígio das Forças Armadas e, mesmo depois de terem conseguido que Marcelo Caetano, suspendesse os decretos, continuaram a reunir-se, de forma clandestina. O objetivo era "efetuar uma mudança de Regime" de forma a acabar com a guerra colonial.

"Como eram eles que comandavam os soldados nas três frentes de batalha, tinham a noção de que a guerra estavam longe de estar ganha, até pelo apoio que os povos africanos, a viver em más condições em muitas regiões, davam aos movimentos de libertação."

Angola e Moçambique, continuavam num impasse e "a Guiné estava quase toda controlada pelo PAIGC."

Em dezembro de 1973, o grupo mandatou "Vasco Lourenço, Vítor Alves e Otelo Saraiva de Carvalho como Comissão Coordenadora para planear um golpe militar." O caso das manifestações em Moçambique chegou ao conhecimento do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), Costa Gomes, e foi abordado por Vasco Lourenço e Otelo em reunião com António de Spínola, o vice-chefe do EMGFA." António Spínola, publicaria em 1974, pouco tempo antes da revolução, um livro que seria, à época, bastante esclarecedor e polémico.

A 5 de março de 1974, numa reunião clandestina, foi criado o "Manifesto dos Capitães, de que Melo Antunes era um dos autores. Esse documento deixava clara a politização do movimento, passando a defender-se o fim da guerra colonial e uma solução negociada para a independência dos povos africanos, o desmantelamento do regime e a implantação de uma democracia de tipo ocidental, o prestígio das forças armadas e o fim do isolamento de Portugal."

"Marcello Caetano, consciente do mau estar entre as forças armadas, convocou os generais para uma sessão de apoio ao governo, a 14 de março de 1974." Esta reunião chamar-se-ia de "Brigada do Reumático", não tendo comparecido Costa Gomes nem António Spínola, que foram exonerados dos cargos por Marcello Caetano Caetano. Este facto, apenas aumentou o seu "prestígio junto do Movimento dos Capitães."

"A 16 de março de 1974 houve uma tentativa, falhada, de golpe militar nas Caldas da Rainha" e que ficaria conhecida como a "Intentona das Caldas." A coluna, "comandada pelo major Armando Ramos" tinha saído do Regimento de Infantaria 5, nas Caldas da Rainha e seguiu até "às portas da capital." Deviam ter recebido apoio de outras forças, como Lamego, Mafra e Vendas Novas, mas nenhuma apareceu. Sem sinais do apoio esperado, a decisão foi "abortar o golpe e regressar ao quartel. Foi só depois de chegarem às Caldas que foram cercados pelas forças fiéis ao regime, vindas de Leiria e de Santarém." Por volta das 17 horas e "após várias horas de negociações, os revoltosos renderam-se."

Fontes:

https://ensina.rtp.pt/artigo/levantamento-militar-nas-caldas-da-rainha/

https://ensina.rtp.pt/explicador/as-motivacoes-do-golpe-militar-de-25-de-abril-de-1974/

 

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publicado às 13:59

Assinala-se hoje uma data importante no nosso país, que ainda hoje se mantém envolta em polémica e que marcou o fim do PREC. Nesta data, consolidou-se o espírito de liberdade conquistado no dia 25 de abril de 1974. Faz parte da nossa história, mas pouco ou nada se fala sobre esta data. Muito menos é mencionado nas escolas. 

De um lado os militares moderados e os partidos de centro esquerda e de direita, como o PPD, o CDS e o PS, e do outro os militares extremistas com o PCP, a UDP e outras forças partidárias dessa área de apoio. Após meses de tensão em que se registaram manifestações de  rua, sequestros da Assembleia da República e ameaças diversas, assinalaram-se movimentações e a ocupação de pontos estratégicos através da utilização de unidades de para-quedistas identificadas com a extrema esquerda.

Hoje o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, numa celebração da autarquia mas que poderá um dia vir a ser um acontecimento a nível nacional, quebrou as barreiras e ignorou as divisões que a data tem levantado. No seu discurso, afirmou que celebrar o 25 de Novembro de 1975 é "cada vez mais importante", considerando que foi neste dia "que a democracia venceu o extremismo". A democracia, é isto, é podermos festejar, se quisermos, uma data que foi importante, trazendo para a atualidade os valores defendidos há quase cinquenta anos e pensando que mais do que nunca é preciso falarmos sobre democracia e liberdade. "O poder militar pretendia ser o motor do poder político, alguns queriam que a legitimidade revolucionaria substituísse a legitimidade eleitoral", acusa Carlos Moedas, destacando que nesta altura "havia modelos de totalitarismo para todos os gostos". Esta foi uma celebração envolta em polémica e da qual iremos certamente voltar a ouvir falar. Mas não deixa de ser um ato de coragem, trazer nesta altura para o plano da discussão política, uma data que foi até certo ponto "apagada", por continuar até hoje envolta em polémica. 

Carlos Moedas apontou os "heróis" dessa data, nomeadamente o general Ramalho Eanes, Jaime Neves, Melo Antunes e todos os militares do grupo dos 9, enaltecendo "os militares moderados que souberam interpretar a vontade do povo português - que sabiam que a legitimidade do voto é a única legitimidade que conta numa democracia." Nem todos estiveram de acordo com as suas palavras, nem tão pouco com as celebrações de hoje. 

Poucos se lembrarão que, depois do 25 de abril, Portugal esteve prestes a entrar numa guerra civil, com a divisão das Forças Militares em que de um lado havia a esquerda radical e do outro a chamada direita militar. No dia 25 de Novembro de 1975, três militares morreram na Calçada da Ajuda, dois comandos ligados à chamada direita militar e um da polícia militar ligado ao Movimento das Forças Armadas. Nesta data, o povo consolidou a liberdade adquirida em abril e renovou o desejo de não deixar crescer uma outra ditadura que se começava a implantar.

Era preciso dizer não aos radicalismos, tal como o é hoje. Era necessário haver entendimentos e reformas e não deixar crescer os extremismos. Os mesmos que hoje já crescem pela Europa e que ameaçam as democracias. Portugal corre hoje o mesmo risco que corria há quase 50 anos atrás.

No dia 12 de novembro de 1975, dezenas de milhares de trabalhadores manifestaram-se junto ao Palácio de São Bento, reivindicando ser atendidos pelo Ministério do Trabalho. Os trabalhadores colocaram-se todos juntos nas escadas do palácio com faixas e bandeiras vermelhas. Perante a recusa, a manifestação radicalizou-se, e mobilizou-se contra o VI Governo Provisório, que suspendeu funções dia 20. Chegou mesmo a haver helicópteros no ar para levar mantimentos aos cercados em Belém e um pedido feito pelo Primeiro-ministro da altura para que ele e outros fossem resgatados, o que foi recusado pelos Comandos. A paralisia foi total, e o governo declarou efetivamente que não iria fazer nada "político", e anunciou que "estamos em greve, todos estão em greve, o governo também está em greve", agindo unicamente a título administrativo até à resolução do conflito de poder. O governo ameaçou também exilar-se no Porto, onde poderiam ser de certa forma protegidos por agricultores e camponeses no Norte que ameaçavam cortar o fornecimento de alimentos à "comuna vermelha de Lisboa". Isto mostrou o enfraquecimento do Estado e do poder político, num "confronto clássico de poder"

Na madrugada do dia 25, Vasco Lourenço é declarado comandante da Região Militar de Lisboa (RML) pelo Conselho da Revolução (CR). Os paraquedistas ocuparam rapidamente várias bases aéreas, assim como o Estado-Maior da Força Aérea, do Regimento de Artilharia de Lisboa (RALIS), que, pouco depois montou um aparato militar em várias zonas, e das tropas da Escola Prática de Administração Militar (EPAM), que ocuparam os estúdios da Rádio e Televisão de Portugal e controlaram as portagens da autoestrada do Norte. Por volta das sete da manhã, os paraquedistas ocuparam o comando da 1.ª Região Aérea e prenderam o seu comandante. Aqui, é dado o alerta à Presidência da República que "o 'golpe' está na rua". 

Um dos grupos envolvidos, chamado o Grupo dos Nove, deslocou-se até Belém, e o Presidente Costa Gomes assumiu a liderança. Pensa-se que este grupo formulara um plano para executar um golpe militar, que restituísse a hierarquia nas Forças Armadas. As medidas providenciais levaram à desmobilização popular, numa altura em que a população começava a cercar os vários pontos militares, o que poderia levar à distribuição de armas. Otelo Saraiva de Carvalho, anteriormente desaparecido, regressou a Belém, onde também teve um papel determinante. Francisco Costa Gomes decretou o estado de sítio na RML às 16h30. Houve no resto do dia diversas tentativas dos sublevados de tentar reverter a situação, desfavorável para si, e ofensivas dos moderados. Ao longo deste dia, os sublevados continuaram a perder posições, e a situação começou a normalizar-se. Jaime Neves, pouco após das 19h, saiu com uma força do RC da Amadora e cercou as instalações da Força Aérea em Monsanto, resultando na rendição de seus ocupantes. O domínio dos meios de comunicação passou a ser o objetivo mais importante. A Emissora Nacional, às 20h45, mudou a sua emissão para o Porto. O Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil convocou uma concentração junto à sede do sindicado através do Rádio Clube Português (RCP). O CR interviu, e convocou um destacamento da Escola Prática de Cavalaria de Santarém a Porto Alto, que continha os emissores de onda média, e, às 22h10, a emissão do RCP foi interrompida. As emissões da RTP passaram a ser feitas no Porto. No decorrer da noite, a situação começa a acalmar. 

No dia 26, o Conselho da Revolução decidiu dissolver o COPCON, e ordenou a presença de todos os seus comandantes no Palácio de Belém. Infelizmente, apesar de estarem perto, existiu uma falha na comunicação entre as forças de Jaime Neves que sitiavam a PM, e o Palácio de Belém. Após várias ligações com o major Campos Andrada, Vasco Lourenço conseguiu fazer com que se apresentasse em Belém. Apesar de tudo, o ataque não foi suspenso, e causou três mortos.

No dia 27, a conjuntura continuou a normalizar-se, e no fim da tarde o COPCON foi cercado e ocupado pelos comandos da Amadora, resultando em nove detenções, das dezenas de oficiais já encarcerados em Custoias. A Base Aérea do Montijo foi desocupada durante a noite. Costa GomesMorais da SilvaMelo AntunesPires Veloso, entre outros, falaram na televisão com o objetivo de acalmar a população. Apesar de ainda que não controlarem todas as unidades, os moderados estavam à beira da vitória. Ainda falta haver consenso se houve, ou não, uma tentativa de golpe de Estado, e quem foram os responsáveis.

Existe ainda uma grande polémica sobre a questão da distribuição das armas a civis e do  possível envolvimento do PS na preparação de uma futura intervenção estrangeira em Portugal. Em causa, o facto de Mário Soares de ter reunido com o primeiro-ministro James Callaghan para coordenar a ingerência militar do Reino Unido em Portugal caso irrompesse um golpe comunista, ao qual respondeu positivamente, garantindo o apoio, e despachou um oficial dos serviços secretos britânicos. Se houvesse a eclosão de uma guerra civil, Mário Soares contaria com vários tipos de operações clandestinas, apoio logístico aos militares moderados e a utilização de meios aéreos e marítimos para abastecimento na zona norte. De acordo com o ex-primeiro-ministro Vasco Gonçalves, a deslocação de Mário Soares ao Norte, no dia 25, fazia parte do plano, uma vez que seria ele o líder da resistência civil, e a sua segurança e liberdade teria, assim, de ser asseguradas, se ocorresse a tomada de Lisboa pelas forças revolucionárias.

Nada disto é falado e é como se (até hoje) todos tivessem feito um pacto de silêncio sobre os verdadeiros acontecimentos daqueles dias. Podemos pesquisar e encontramos muito mais perguntas do que respostas e, até, a comunicação social da altura, teve atitudes diferentes perante os acontecimentos em causa.

Em todos os jornais, se destacou os acontecimentos destes dias, inclusivé das manifestações ocorridas. Tal como em várias outras publicações, no 25 de novembro de 1975,  no semanário "O Jornal," destaca como o país se encontra em crise, com o título: A crise da semana: Governo de braços caídos”. No interior do jornal, havia uma página dedicada aos“quatro malditos” do VI Governo Constitucional: Tomás Rosa (ministro do trabalho), Ferreira da Cunha (secretário de Estado da Comunicação Social), Almeida Santos (ministro da Comunicação Social) e Marcelo Curto (secretário de Estado do Trabalho), os quais eram assim apelidados por sobre eles recaírem "as críticas mais violentas das forças situadas mais à esquerda da conjuntura revolucionária portuguesa”.  Num outro artigo, dá ainda conta da morte de Franco, “o último ditador da Europa”, que morreu no poder, chamando de certa forma a atenção para o futuro que "resta aos espanhóis", num obituário, escrito por Javier López, que não esconde a felicidade pela perda. Este artigo, não esconde uma mensagem para o povo português, na palavra "último", para que abra os olhos e não deixe que o extremismo regresse ao país.

 

Fontes:

https://sicnoticias.pt/pais/2023-11-25-Celebrar-o-25-de-Novembro-porque-todas-as-datas-contam-0597e22f

https://ionline.sapo.pt/artigo/808624/25-de-novembro-e-o-dia-do-triunfo-da-democracia?seccao=Portugal_i

https://www.tsf.pt/portugal/politica/comemorar-abril-e-exercicio-incompleto-moedas-diz-que-25-de-novembro-ditou-vitoria-da-democracia-17398595.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_de_25_de_Novembro_de_1975

https://ensina.rtp.pt/artigo/o-25-de-novembro-de-1975/

 

 

 

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publicado às 19:58

Este é um tema que me interessa bastante. Estou muito atenta ao que se vai passando pelo mundo, no que respeita aos movimentos sísmicos, mas a verdade é que aquilo que mais me preocupa é o meu país. Passaram dois séculos e meio, mais ano menos ano, desde o grande sismo de 1755. O que mudou?

Recomendos estes vídeos, para saberem um pouco mais sobre este desastre que afetou o nosso país:

https://youtu.be/fKigEJj3iVI

https://youtu.be/N4SqWIPGrD8

De acordo com vários registos, sabemos os danos causados por este enorme evento. Os sismólogos estimam que o sismo de 1755 atingiu magnitudes entre 8,7 a 9 na escala de Richter e  levou à destruição quase completa da cidade de Lisboa, especialmente da zona da Baixa. Atingiu ainda grande parte do litoral do Algarve e Setúbal.

O epicentro não é ainda hoje conhecido com precisão, mas pensa-se, devido a um forte sismo, ocorrido em 1969 no Banco de Gorringe, que tenha sido nesse mesmo local que provavelmente se localizou o epicentro em 1755.

sismo foi seguido de um maremoto que se acredita ter atingido a altura de 20 metros e de vários incêndios que, não tendo sido controlados, alastraram durante vários dias destruindo tudo o que o sismo tinha deixado de pé. Contaram-se mais de 10 mil mortos (embora haja quem aponte muitos mais). Foi um dos sismos mais mortíferos da história, marcando o que alguns historiadores chamam a pré-história da Europa Moderna. Relatos da época afirmam que os abalos foram sentidos, consoante o local, durante duas horas e meia, causando fissuras enormes de que ainda hoje há vestígios em Lisboa. 

Minutos depois do primeiro abalo, as águas do Tejo começaram a subir ameaçadoramente pelas ruas da cidade, invadindo a baixa. Muitas pessoas que tinham fugido para as margens do Tejo com o objetivo de escapar aos edifícios que ruíam, foram apanhadas pelas águas.

Não podemos também esquecer que se celebrava neste dia um feriado do calendário religioso, o Dia de Todos os Santos (celebrado desde o século VII e fixado nesta data no século VIII, pelo Papa Gregório III) e que por isso, as igrejas e as ruas estavam cheias de gente e se haviam acendido muitas velas nos altares. 

Ainda hoje, em algumas zonas de Portugal, no dia de Todos os Santos, as crianças saem à rua e juntam-se em pequenos grupos para pedir o pão-por-deus de porta em porta.

Conhecer a história é o primeiro passo para a mudança! As construções sofreram alterações, as ruas tornaram-se mais largas e isso foi um passo importante, tanto na sua reconstrução como na prevenção de danos causados por futuros eventos sísmicos. Mas estamos a falar em mais de 200 anos. Neste tempo, o que foi feito para melhorar as construções? E não falo apenas em Lisboa.

Todos os dias, há relatos de sismos de maiores ou menores dimensões que atingem a Europa e o Norte de África e que podem influenciar os movimentos tectónicos das placas que nos são mais próximas. O que tem sido feito para minimizar danos caso voltemos a ter uma ocorrência grave?

Fontes:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Sismo_de_Lisboa_de_1755

https://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_de_Todos_os_Santos

https://ensina.rtp.pt/artigo/o-terramoto-de-lisboa-de-1755/

 

 

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publicado às 21:47

1º de maio

por Elsa Filipe, em 01.05.23

O 1.º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador, teve origem nos acontecimentos de Chicago de 1886 quando se realizou uma jornada de luta pela redução do horário de trabalho para as oito horas

A homenagem remonta ao dia 1 de maio de 1886, quando uma greve foi iniciada na cidade norte-americana de Chicago com o objetivo de conquistar melhores condições de trabalho, principalmente a redução da jornada de trabalho diária, que chegava a 17 horas, para oito horas. Durante a manifestação houve confrontos com a polícia, o que resultou em prisões e mortes de trabalhadores. Este acontecimento serviria de inspiração para muitas outras manifestações que se seguiriam. Em 1889, a Segunda Internacional Socialista decidiu, em Paris, proclamar o 1º de Maio como o Dia do Trabalhador em memória dos que morreram em Chicago.

O Dia Internacional do Trabalhador, passou assim a ser uma data comemorativa internacional, dedicada aos trabalhadores, sendo feriado em muitos outros países como é em Portugal.

Encontramos registos mais antigos, em relação a manifestações que hoje chamaríamos de sindicais. Entre 1852 e 1910 realizaram-se 559 greves no nosso país. A subida dos salários, a diminuição da jornada de trabalho e a melhoria das condições de laboração eram as principais exigências dos operários. No nosso país, a data para as celebrações do 1º de Maio, foi decidida no Congresso Socialista de 1889, como uma campanha internacional a favor das oito horas de trabalho. Assim, os trabalhadores aderiram a esta comemoração e sob o olhar de D. Carlos, nasceram os encontros da massa de trabalhadores, no que eram secundados pelos patrões, que se consideravam oficiais dos mesmos ofícios.

A comemoração centrava-se num desfile que atravessava a Avenida da Liberdade e seguia até ao Cemitério dos Prazeres, onde eram colocadas flores no túmulo de José Fontana, republicano socialista que levantara o movimento operário em Portugal.

A manifestação era organizada pela Federação das Associações Operárias, com bandas de música que tocavam o Hino do 1º de Maio, composto pelo pianista Eduardo Garrido. A cidade apresentava-se de traje domingueiro e alinhava no cortejo, que contava ainda com carros alegóricos que a Associação da Classe correspondente enfeitava.

Portugal enfrentava uma época económica problemática, devido aos conflitos que existiam entre os países imperialistas e à crise argentina, que culminou em Portugal com a falência da casa bancária Baring & Bros, os banqueiros do Estado Português.

No século XIX foi reconhecido o direito de associação aos trabalhadores, o que possibilitava a formação das associações de classe, a que se seguiu a regulamentação, por parte do Estado, do trabalho das mulheres e dos menores nos estabelecimentos industriais. Mas o movimento operário chegou mais longe e empenhou-se na conquista das melhorias laborais e sociais, promoveu acções culturais e de desenvolvimento da educação. 

Conta-se que no 1º de Maio de 1900 se juntaram em Lisboa cerca de 40 mil pessoas, numa altura em que “as classes médias ainda viam as organizações de trabalhadores com alguma simpatia”.

Durante a I República não se deixou de festejar o Dia do Trabalhador, mas sublinhe-se que um dos primeiros diplomas aprovados, com a instituição do novo regime, dizia respeito ao estabelecimento dos feriados nacionais e destes não constava o dia do trabalhador.

Em 1933 é decretada a “unicidade sindical” e o “controle governamental dos sindicatos” esmorecendo um movimento operário que só ganharia novo ânimo na década de 40. Durante o Estado Novo as manifestações no Dia do Trabalho (e não do Trabalhador) eram organizadas e controladas pelo Estado. O primeiro 1º de Maio celebrado em Portugal depois do 25 de Abril foi a maior manifestação alguma vez organizada no país. Só na cidade de Lisboa juntaram-se mais de meio milhão de pessoas. Para muitos, foi a forma dos portugueses demonstrarem a sua adesão ao 25 de Abril, que uma semana antes restituía ao país a democracia.

EM 2023, as ruas continuam cheias e uma das novidades deste ano é a Agenda do Trabalho Digno e de Valorização dos Jovens no Mercado de Trabalho que entra hoje em vigor. Esta Agenda é composta por 70 medidas que trazem alterações nos contratos, nos despedimentos e nos direitos dos trabalhadores. De acordo com o Governo, estas medidas pretendem combater a precariedade laboral, melhorar as condições de trabalho e a conciliação entre a vida pessoal, familiar e profissional.

O Executivo pretende também identificar irregularidades no mercado de trabalho. Para isso, garante que vai reforçar os mecanismos de fiscalização, apostando no cruzamento de dados entre várias entidades. A semana de quatro dias também está na agenda. Ainda este ano vai ser desenvolvido um projeto-piloto, de base voluntária e sem perda de rendimento.

Apesar destas medidas trazerem melhorias para muitos trabalhadores, a verdade é que ainda há muito a fazer para combater a precariedade laboral e as desigualdades, especialmente ao nível das progressões na carreira e na atribuição mais justa de ordenados. 

 

Fontes:

https://sicnoticias.pt/pais/2023-04-30-O-que-muda-no-mercado-de-trabalho-a-partir-de-1-de-maio--ad80cf05

https://sicnoticias.pt/pais/2023-05-01-Dia-do-Trabalhador-comemora-se-em-varios-pontos-do-pais-029dc891

https://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_do_Trabalhador

https://www.mulherportuguesa.com/lazer/festas-tradicoes/1-de-maio-dia-do-trabalhador/

 

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publicado às 16:31

Ponte Vasco da Gama: 25 anos

por Elsa Filipe, em 29.03.23

Hoje a minha memória vai até 1998, ano em que precisamente a 29 de março, foi inaugurada a Ponte Vasco da Gama. De muitas curiosidades que aqui podia escrever, destaco a grandiosidade da obra que fez com que até 2018 esta fosse a ponte mais comprida da Europa, com 17.185 km, dos quais 12.345 km são feitos sobre as águas do Tejo. Atualmente, a posição é ocupada pela ponte da Crimeia, com 18.100 km, construída sobre o Estreito de Kerch na Rússia e inaugurada em maio de 2018.

Outro facto importante, é que a ponte Vasco da Gama pode suportar rajadas de vento de 250km/h e foi concebida para resistir a um sismo 4.5 vezes mais forte do que o terramoto de Lisboa de 1755.

A obra, foi da responsabilidade da empresa Teixeira Duarte e implicou não só a construção da ponte mas também acessos e viadutos necessários. A Ponte Vasco da Gama faz assim a ligação entre a parte oriental de Lisboa e as localidades da margem sul do Tejo de Montijo e Alcochete.

Atualmente, esta tal como a ponte 25 de Abril, está sujeita ao pagamento de portagem para a sua travessia, no sentido Sul-Norte. Apesar disso, pela forma como está implantada, permite-nos desfrutar de uma excelente vista sobre o rio.

 

Fontes:

https://lisboasecreta.co/10-curiosidades-sobre-a-ponte-vasco-da-gama/

https://teixeiraduarteconstrucao.com/projetos/ponte-vasco-da-gama/

https://www.minube.pt/sitio-preferido/ponte-vasco-da-gama-a4920

 

 

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publicado às 16:48

Ataque a centro Ismaelita

por Elsa Filipe, em 28.03.23

Hoje ocorreu um ataque com arma branca, no centro Ismaelita de Lisboa. Duas funcionárias deste centro acabaram por perder a vida, tendo havido ainda vários feridos, inclusivé o própria agressor que acabaou por ser baleado pela Polícia de Segurança Pública. Ferido nas pernas, foi detido e levado para o Hospital de S. José.

O líder desta comunidade confirmou que o agressor é afegão, mas os motivos do ataque não são ainda conhecidos. A resposta da PSP foi bastante rápida mas mesmo assim não o suficiente para impedir as duas mortes. 

Os ismaelitas são uma minoria muçulmana xiita e a única comunidade muçulmana liderada por um Imã vivo, que se pensa ter descendência direta do profeta Maomé, o príncipe Karim Aga Khan. Em todo o mundo, a comunidade ismaelita conta com, aproximadamente, 15 milhões de pessoas, dos quais cerca de 8 mil estão em Portugal.

O centro Ismaelita de Lisboa celebrou 26 anos e caracteriza-se não só por ser um espaço de oração para a comunidade, mas também, por ser ponto de encontro entre pessoas de diversos contextos sociais e culturais. Um dos objetivos deste centro é o de promover a criação de pontes entre várias comunidades, mas também de seu um lugar de partilha de conhecimento e desenvolvimento inteletual. Associada a este Centro, está a Fundação Aga Khan em Portugal, fundada pelo princípe Karim, desempenha funções de investigação e de intervenção em áreas como a educação, exclusão social e pobreza urbana no nosso país e em países africanos de Língua oficial portuguesa, sendo por isso bastante reconhecida.

 

Fontes:

https://sicnoticias.pt/pais/2023-03-28-Dois-mortos-em-ataque-com-faca-no-Centro-Ismaili-em-Lisboa-e5a54f33

https://sicnoticias.pt/especiais/ataque-no-centro-ismaili/2023-03-28-Quem-sao-os-ismaelitas-e-quais-as-origens-do-centro-em-Lisboa--b09787b3

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publicado às 16:20

Fenómeno de cheias, 55 anos depois

por Elsa Filipe, em 27.11.22

Sempre que se fala em cheias, na televisão, parece que são "as primeiras" a acontecer, mas a verdade está muito distante disso. Como por exemplo, em Lisboa as maiores cheias registadas, datam de 26 de Novembro de 1967 e fez ontem precisamente 55 anos que aconteceram. Esse dia foi também considerado como aquele em que ocorreu uma das maiores tragédias da capital.

Para vos falar deste dia, de que ouvi falar mas não vivenciei, precisei de fazer alguma pesquisa. De entre as várias publicações e relatos que li, resolvi escolher duas entrevistas que para mim se destacam pela forma como relatam os acontecimentos daquela fatídica noite e dos dias que se seguiram.

As inundações que atingiram a cidade, levaram tudo à sua frente desde Alenquer até ao Dafundo. Na época, dava-se que as habitações tinham condições  muito precárias e, não muito longe do que há nos nossos dias, havia uma enorme falta de ordenamento territorial. Destas cheias, o resultado foi a morte de 462 pessoas mas o número pode ter atingido os 700. Milhares de pessoas ficaram sem habitação. E continua-se com construções em zonas de leitos...

Dina Soares e Joana Bourgard, fizeram para a Rádio Renascença uma excelente reportagem onde algumas das testemunhas deste evento deram a sua visão dos acontecimentos dramáticos.

Nessa reportagem, é referida uma placa colocada pela Junta de Castanheira do Ribatejo no largo da aldeia de Quintas homenageia as cem pessoas que morreram naquela noite de 25 para 26 de Novembro, só naquela zona. Muitas apanhadas durante o sono, não tiveram tempo para fugir e os corpos de manhã foram colocados em cima de placas de zinco. Sabe-se que mais de metade da população sucumbiu debaixo da água e da lama, das cheias e das enxurradas que elevaram o caudal do Rio Grande da Pipa ao nível do primeiro andar das casas do largo.

Perante a apatia de Salazar, 5 mil alunos ajudaram as vítimas. Um movimento que marcou uma geração. Muitos dos estudantes da época, arregaçaram as mangas e foram para o terreno ajudar nas buscas e na remoção da lama que cobria as casas e, nestas muitas horas de trabalho, tomaram verdadeira consciência da miséria em que muitas famílais viviam.

Alguns fizeram de verdadeiros jornalistas e começaram a escrever no Jornal "Solidariedade Estudantil" onde relatavam a miséria que encontravam. 

Segundo António Araújo, historiador referido noa reportagem de Dina Soares e Joana Bourgard, "aquilo não eram papéis, era a realidade duríssima de corpos inchados pela água e toda a condição humana que ali se revelava. Era a revelação não só da morte, mas também da vida que levou àquela morte. Tudo aquilo era atirado à cara dos estudantes quando chegavam ao terreno.”

Nesta reportagem, que recomendo vivamente, é referido que parte das reportagens de Joaquim Letria foi cortada pela censura. O país estava sob regras muito rígidas impostas pelo regime. Além disso, muitas informações eram, pura e simplesmente, negadas. “O ‘Diário de Lisboa’ entrou em choque com o Ministério do Interior porque eles procuravam minimizar as coisas e nós tínhamos a ideia contrária. Então, o Vítor Direito, que era o chefe de redacção, mandou-nos, a mim e ao Pedro Alvim, contar mortos. Chegámos perto dos 700", conta Joaquim Letria.

Segundo a mesma reportagem, "o impacto desta catástrofe atravessou fronteiras e despertou a solidariedade internacional. Grã-Bretanha, Itália, Mónaco, França, Suíça e Espanha enviaram donativos e vacinas contra a febre tifóide."

Mais do que os relatos que encontramos explandidamente registados neste reportagem, apresentam-nos também imagens, em especial de jornais da época. Um registo que fica para a história e do qual eu aconselho a leitura.

No domingo, explodiu o paiol de Linda-a-Velha, como é relatado numa outra grande reportagem

 

Fontes:

https://especiais.rr.pt/cheias-1967/index.html

https://www.dn.pt/sociedade/cheias-de-1967-o-mar-de-lama-e-dor-que-mostrou-o-pais-8942334.html

 

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publicado às 17:50

A 1 de julho de 1922, o Teatro Maria Vitória, aquele que é o mais antigo do Parque Mayer, e que ficou conhecido como a "Catedral da Revista", fez a sua primeira estreia com a peça "Lua Nova," da autoria de Ernesto Rodrigues, Félix Bermudes e João Bastos. A peça do género teatro de revista, fazia uma retrospetiva, "em jeito de piada, dos principais acontecimentos do ano anterior."

Na fachada do novo Teatro de Lisboa, o nome "Maria Vitória" imortaliza a jovem fadista e atriz de apenas 26 anos que com a sua voz forte já era um sucesso na capital e no país. A jovem, conhecida, entre outros com o "fado do 31", tornou-se uma lenda e ainda hoje é lembrada. 

"O Parque Mayer surge como uma tentativa de revitalizar as tradicionais feiras itinerantes que, no início do século XX, eram pontos de entretenimento para os lisboetas - desde a conhecida Feira de Agosto, no parque Eduardo VII, à Feira de Santos, que foi proibida em 1919 devido à instabilidade noturna."

Mas no palco do Maria Vitória não passou só revista. Ali também era "possível assistir a comédias musicadas, operetas - como “Quebra-Bilhas” (1930) e as “Lavadeiras” (1933) - ou à proclamação de poemas." Algumas das revistas com mais destaque da sua história, foram "as revistas Foot-ball e Rataplan. Nesta, contava-se a "história de Artur Alves dos Reis, um burlão que falsificava notas de 500 escudos quase impercetíveis aos olhos dos especialistas de contrafação." 

Foram muitos os nomes que se estrearam ou que passaram pelas tábuas do Maria Vitória, entre eles, Amália Rodrigues, que também ali se estreou em 1940, na revista “Ora Vai Tu." E ali conheceu "o compositor Frederico Valério." Também aqui se estreou Io Appolloni, em 1965, na revista “Sopa de Mel." Marina Mota, Carlos Cunha e Fernando Mendes também ali se lançaram.

O que fez do teatro de revista um género não só do povo, mas também de todas as classes sociais, foi desde sempre a forma como retratava a verdade do país. E também por isso, sofreu as agruras da ditadura. "Quando, a 28 de maio de 1926, o golpe de Estado liderado pelo general Gomes da Costa proclama o início da segunda República Portuguesa - mais conhecida como Estado Novo -, a revista Ás de Espadas cantou o movimento militar. A população estava habituada a revoluções constantes desde a implantação da República, em 1910, e desvalorizou a importância de mais um movimento militar."

Já calada com a "Lei da rolha" que sentiu durante a monarquia, a Revista vem então a sentir os cortes da Censura, nos seus textos. Mesmo assim, é com muita arte, que se continua a fintar muitos dos cortes do "lápis azul."

Na revista “O Banzé”, em 1939, tem disso um bom exemplo. Posta em cena logo depois da "declaração de guerra à Alemanha que daria início à II Guerra Mundial, tinha um quadro onde a “Taberna Inglesa”, o “Hotel França” e a “Casa Alemã” disputavam entre si a "anexação de um armazém." Nunca chegou a subir ao palco devido aos cortes efetuados pela censura. 

Era preciso ter um selo branco que aprovasse cada uma das páginas do guião, o que tornava o "processo de produção de uma revista" já de si complexo, ainda mais difícil e demorado. A Comissão da Censura "analisava a escrita e cortava palavras, falas ou até mesmo números inteiros. Os empresários iam buscar os guiões, apresentavam aditamentos e correções, num vai e vem que não tinha fim à vista." 

Mas também tinham vários truques para escapar aos censores. Um deles eram os "trocadilhos" que faziam parte dos textos, que com muita imaginação e inteligência, conseguiam "ludibriar os censores." Além dos truques para enganar a PIDE, no Maria Vitória havia um camarote - o cinco - que "estava sempre reservado para receber os censores ou outros representantes do Estado Novo que, para o ocuparem," precisavam de mostrar na entrada o respetivo cartão ao fiscal. Assim, se esse camarote estivesse ocupado, os atores já sabiam que a PIDE lá estava e, claro, reprimiam um pouco mais algumas piadas. Foi no teatro que se denunciou a "independência da Guiné." A revista, afinal de contas, era "uma forma de cultura expressiva, já completamente entrosada no país desde meados do século XIX" e, por isso, não era proibida.

Na madrugada de 25 de abril, o Maria Vitória era o único palco com espetáculo a decorrer no Parque. Enquanto na Rádio Renascença, a música "Grândola, Vila Morena”, de Zeca Afonso, tocava, via-se ainda no Maria Vitória a revista “Ver, Ouvir e Calar”, que tinha sido "escrita por Aníbal Nazaré, Henrique Santana e Henrique Parreirão" e que depois se passou a chamar "Ver, Ouvir e Falar" fazendo jus ao espírito revolucionário. A revista “Até Parece Mentira” foi a primeira revista criada para o palco do "Maria Vitória em tempo de liberdade."

No dia 10 de maio de 1986, um incêndio deflagrou no Maria Vitória e destruiu o teatro. A companhia do Maria Vitória continuou o seu trabalho, mas durante esse período fê-lo no teatro Maria Matos e "só regressou a casa em 1990" quando as obras terminaram e foi permida a estreia da "revista Vitória! Vitória!."

Atualmente, Hélder Freire Costa, nascido "nas Janelas Verdes," em 1941 é "o último a resistir", contando já com 55 anos no Maria Vitória. Reclama que aquela casa, está a precisar de obras, mas que já não lhe caberá a ele fazê-las.

Fontes:

https://sdistribution.impresa.pt/data/content/binaries/5e5/409/e112e0b6-7282-49bd-ad89-a46d94681ead/

https://amensagem.pt/2022/06/14/helder-freire-costa-ultimo-empresario-teatro-maria-vitoria-centenario-parque-mayer/

 

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publicado às 21:01

Parque Mayer - 100 anos de espetáculos!

por Elsa Filipe, em 15.06.22

Quem diria que hoje ainda estaria de pé! Inaugurado a 15 de junho de 1922, o Parque Mayer assistiu "de camarote" à chegada da ditadura, sofreu as agruras que se viveu no país e quase que viu os seus teatros deitados abaixo, enquanto outros pelo seu abandono iam sendo incendiados. Mas hoje, apesar de tudo, está de pé e comemora o seu primeiro centenário.

A sua história acompanha não só a da cidade de Lisboa como a de Portugal. "O Parque Mayer foi ocupar um espaço junto à Avenida da Liberdade, que pertenceu antes aos jardins e espaços adjacentes do Palácio Mayer e foi construído em 1901 por Nicola Bigaglia e pertença de Adolfo de Lima Mayer."

Funcionou ali entre 1918 e 1920 "o Club Mayer, um clube noturno de recreio e jogo." Em 1920, Artur Brandão, adquiriu o terreno e tornou-se o primeiro "promotor do espaço" mas, no ano seguinte, vendeu-o a Luís Galhardo, depois de trágico acontecimento: "a morte por afogamento de um neto do proprietário no lago que ali existia." 

Luís Galhardo era já uma "personalidade ligada ao meio teatral, que sonhava criar um espaço dedicado ao divertimento" e com alguns sócios, criou a "Sociedade Avenida Parque. Lda," em 1921. Esta Sociedade "projetou nos espaços adjacentes ao edifício do Club Mayer, um espaço de diversão noturna e um polo de atração teatral, especializado no teatro de revista." Nascia assim a génese do Parque Mayer!

Mas em plena ditadura, no ano de 1930 Luís Galhardo acaba por vender "o Club Mayer para a instalação do Consulado Geral de Espanha em Lisboa."

Apesar do que se passava no país, foram as "décadas de 30 e de 70 do séc. XX" as que mais marcaram o "apogeu do Parque Mayer, um sítio carismático de diversão", onde se podiam encontrar barraquinhas, o "circo El Dorado", combates de boxe, carrocéis, entre outros divertimentos. "O percurso político, social e cultural do país, no início dos anos 70, levou a uma renovação de autores, artistas e da própria revista à portuguesa." Esta mudança não seria possívfel sem nomes como "José Viana, Aníbal Nazaré, Francisco Nicholson e Gonçalves Preto que ousaram abordar assuntos até aí interditos."

Foi aqui que nasceram também os desfiles das marchas populares. "Em 1932, por sugestão de Leitão de Barros, realizou-se no Parque Mayer o primeiro desfile de grupos representantes dos bairros lisboetas."

Construíram-se vários teatros neste espaço. O primeiro foi" o Teatro Maria Vitória" inaugurado em 1922, e cujo nome foi uma homenagem à "atriz e fadista Maria Vitória, cuja morte (poucos anos antes) criara alguma consternação." Estreou-se naquele palco, ainda em instalações de madeira provisórias, a 1 de julho desse ano a revista “Lua nova”. Esta sala é a única que ainda continua em atividade como teatro, muito pelo caráter resiliente" do empresário Helder Freire Costa. Um grave incêndio a "10 de Maio de 1986" quase destruiu por completo este teatro e manteve-o "fechado até 1990." Nessa altura, passados quatro anos, reabriu com a peça "Vitória, Vitória", título que se referia a todo o "esforço feito para recuperar a sala de espetáculos. Já então tinham sido gastos 90 mil contos na renovação daquele espaço." A falta de subsídios, que haviam sido prometidos "por várias entidades," tardaram e dificultaram o reerguer do Maria Vitória.

A 20 de agosto de 2003, este espaço sofreu danos graves devido a um outro incêndio que consumiu muito do recheio que estava armazenado. Além do fogo em si, também a água utilizada causou avultados danos, atingindo "o palco, o fosso da orquestra, a sala de estar do público, o salão grande e escadas."

"A 8 de julho de 1926" é inaugurado o Teatro Variedades, onde estreou a revista “Pó de arroz”. Seguiram-se o Capitólio, em 1931. Em 1937, apareceu uma outra casa de espetáculo, o Teatro Recreio, "que foi edificado por iniciativa do empresário Giuseppe Bastos e esteve apenas três anos em funcionamento." E, por último, já em 1956, o novo Teatro ABC, no espaço que já tinha sido do “Alhambra” e parte do “Pavilhão Português”, estreando a revista “Haja saúde”.

Apesar de durante a época do Salazarismo, muitos quadros de revista terem sido "interditados" pela censura, a verdade é que foi nas décadas de 1960 e 1970, que se viveram os tempos mais "áureos da revista à portuguesa. Os quatro teatros do Parque Mayer rebentavam pelas costuras, com espetáculos diários, a que assistiam ilustres figuras da vida pública, ao lado do povo anónimo." Durante as "primeiras décadas, outros espetáculos chamavam multidões, como o fado, o boxe e os combates de luta livre." Estes combates muitas vezes eram ensaiados!

Em agosto de 1990, o ABC sofreu um grave incêndio, já depois de ter sofrido obras de remodelação. Na época tinha em cena a peça "Ai Cavaquinho." Encerraria definitivamente em 1997.

"Em 1999, os terrenos do Parque Mayer foram comprados pela Bragaparques por 13 milhões de euros. Em julho de 2005, a empresa permutou os terrenos por parte dos lotes municipais de Entrecampos, onde se situava a Feira Popular." Só em março de 2021, depois de uma grande batalha jurídica, "a Câmara Municipal de Lisboa vence o processo legal que a opunha à Bragaparques, resultado da disputa referente aos terrenos do Parque Mayer, e que obrigava ao pagamento de 138 milhões de euros pela autarquia à empresa."

Fontes:

https://informacoeseservicos.lisboa.pt/contactos/diretorio-da-cidade/parque-mayer

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/incendio-no-teatro-abc/

https://www.noticiasmagazine.pt/2022/viagem-aos-100-anos-do-parque-mayer/historias/276677/

http://cvc.instituto-camoes.pt/teatro-em-portugal-espacos/parque-mayer.html

https://www.publico.pt/2003/08/21/jornal/chamas-comem-cenarios-e-recheio-do-teatro-maria-vitoria-204532

 

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publicado às 21:19

A história do dia que mudou Portugal

por Elsa Filipe, em 25.04.22

Feriado comemorativo do 25 de Abril.

A 24 de abril de 1974, o Movimento dos Capitães - ou Movimento das Forças Armadas (MFA), grandemente composto por capitães que tinham tido participação na Guerra Colonial e apoiados por muitos outros soldados milicianos reuniram-se para pôr em andamento o controlo de vários pontos estratégicos. Os seus objetivos eram claros: acabar com a guerra colonial, libertar os presos políticos, restaurar a liberdade e a democracia em Portugal.

Mas esta revolução teve a sua origem alguns anos antes...  A primeira reunião de capitães terá sido em África, em Bissau na Guiné, e a segunda no Monte do Sobral, nas Alcáçovas, concelho de Viana do Alentejo, a 9 de novembro de 1973, após se terem encontrado no Templo romano, em Évora. A última e definitiva reunião antes da revolução, ocorreu a 24 de março de 1974.

Na noite de 24 de abril, o Major Otelo Saraiva de Carvalho, considerado o estratega do movimento que derrubou o regime de Marcello Caetano, instalou um posto de comando secreto no quartel da Pontinha, em Lisboa. Escondidos dos olhares de todos, coordenaram os movimentos das tropas e a ocupação das suas posições.

A primeira senha passou às 22 horas e 55 minutos: a música E depois do adeus”, escrita por José Calvário e cantada por Paulo de Carvalho no Festival da Canção de 1974, tocou na Emissora Nacional e marcou os preparativos das forças revolucionárias, tendo muitas partido rumo à capital, na esperança de um Portugal livre e democrático.

Às 00 horas e 20 minutos, a Rádio Renascença, passa no programa “Limite” uma transmissão gravada com a primeira estrofe de “Grândola Vila Morena”, a canção que Zeca Afonso escreveu para homenagear o cante alentejano e que tinha sido banida pelo lápis azul da censura. A música tocou logo de seguida e foi o segundo sinal. O seu significado: “tropas em movimento”. Agora não havia volta a dar. 

Soldados de Santarém, Estremoz, Figueira da Foz, Lamego, Lisboa, Mafra, Tomar, Vendas Novas, Viseu, e outros pontos do país dirigiam-se para Lisboa.

Pelas 3 horas, as tropas revoltosas, quase em sintonia, iniciavam a ocupação – sem grande resistência - de pontos fulcrais para o sucesso da revolta: o Aeroporto de Lisboa, o Rádio Clube Português, a Emissora Nacional, a RTP e a Rádio Marconi.

O regime só reagiu pelas 4 horas e 15 minutos, quando foi ordenado que as forças sedeadas em Braga avançassem sobre o Porto para recuperar o Quartel-General, no entanto, também estas forças tinham aderido ao MFA e ignoraram as ordens do regime.

Poucos minutos depois - pela voz do jornalista Joaquim Furtado, no Rádio Clube Português - surge o primeiro comunicado do MFA. A participação dos locutores - que acabaram por dar apoio aos revoltosos - foi fundamental para a revolução.

Seguiu-se o Hino Nacional, “A Portuguesa” e a marcha militar "A Life on the Ocean Wavesde Henry Russell e que viria ser o hino do MFA. As forças revolucionárias da Escola Prática de Infantaria de Mafra já estavam a controlar o aeroporto de Lisboa quando às 04 horas e 45 minutos, o MFA lê o segundo comunicado no Rádio Clube Português. 

Com o aeródromo de Tires também ocupado e com a Escola Prática de Cavalaria a ocupar o Terreiro do Paço, surge um terceiro comunicado do MFA: “(...) Informa-se a população de que, no sentido de evitar todo e qualquer incidente ainda que involuntário, deverá recolher a suas casas, mantendo absoluta calma. A todos os elementos das forças militarizadas, nomeadamente às forças da G.N.R. e P.S.P. e ainda às Forças da Direcção-Geral de Segurança e Legião Portuguesa, que abusivamente foram recrutadas, lembra-se o seu dever cívico de contribuírem para a manutenção da ordem pública, o que, na presente situação, só poderá ser alcançado se não for oposta qualquer reação às Forças Armadas. (...)"

Às 6 horas 30 minutos, um pelotão do Regimento de Cavalaria 7, comandado pelo Alferes Miliciano David e Silva, fiel ao Governo, chega ao Terreiro do Paço. Ao nascer do dia, o confronto está iminente, mas, após conversações, estes acabam por se colocar às ordens do MFA.Quando surge o quarto comunicado, já o MFA sabe que Marcelo Caetano, o Presidente do Conselho de Ministros, a cabeça do regime, está no Quartel do Carmo e, enquanto uma força do Regimento de Lanceiros 2, contrária ao MFA, tomava posição na Ribeira das Naus, é transmitido o quinto comunicado. A população vai assim estando a par do que se está a passar. Àquela hora, no Terreiro do Paço, Salgueiro Maia prendia o Tenente-Coronel Ferrand de Almeida.

No Tejo, a fragata "Gago Coutinho" toma posição frente ao Terreiro do Paço e tem ordens para disparar sobre as tropas de Salgueiro Maia. Neste momento, os revoltosos já não vão voltar atrás. Na fragata que poderia ter aberto fogo sobre Lisboa e atingido as forças instaladas no Terreiro do Paço, dá-se uma revolta a bordo e acaba por desviar para o Mar da Palha.

Os ministros da Defesa, da Informação e Turismo, do Exército e da Marinha, o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, o Governador Militar de Lisboa, o subsecretário de Estado do Exército e o Almirante Henrique Tenreiro que estavam cercados no Terreiro do Paço, conseguem fugir do Ministério do Exército abrindo um buraco na parede. 

Na Ribeira das Naus, o Alferes Miliciano Fernando Sottomayor não obedece às ordens do Brigadeiro Junqueira dos Reis para disparar sobre Salgueiro Maia e as suas tropas. Sottomayor recebe ordem de prisão e a ordem para disparar sobre os soldados revolucionários volta a ser dada. Ninguém a cumpriu e Junqueira dos Reis dispara dois tiros para o ar, abandonando em seguida o local.

Momentos depois, na Rua do Arsenal, o Brigadeiro Junqueira dos Reis dá ordem de fogo sobre o Tenente Alfredo Assunção - enviado por Salgueiro Maia para negociar com as forças de Junqueira dos Reis. A ordem também desobedecida e dizem que o Brigadeiro Junqueira dá três murros no Tenente Assunção.

Com o MFA a controlar as operações pelo país, a coluna militar comandada por Salgueiro Maia, cerca o Largo do Carmo e tem ordens para abrir fogo sobre o Posto de Comando e provocar a rendição de Marcelo Caetano.

Entretanto, a população distribuía comida, leite e cigarros pelos militares presentes no Largo do Carmo, mas forças da GNR – comandadas pelo Brigadeiro Junqueira dos Reis - tomavam posição na retaguarda das tropas de Salgueiro Maia, em defesa do regime.

Às 14 horas já decorriam conversações entre o General Spínola e Marcelo Caetano, para a obtenção da rendição do Presidente do Conselho, e meia hora depois surge o décimo comunicado do MFA e que dava conta da ocupação dos principais objetivos e de ter o esquadrão do RC 3, comandado pelo Capitão Ferreira, a cercar as tropas do Brigadeiro Junqueira dos Reis.

No Carmo, Salgueiro Maia, ao megafone, faz um ultimato à GNR para que se renda e ameaça rebentar com os portões do Quartel do Carmo, abrindo fogo sobre a fachada do Quartel. Entretanto Pedro Feytor-Pinto e Nuno Távora, da Secretaria de Estado da Informação e Turismo - portadores de uma mensagem do General Spínola para Marcelo Caetano - entram no Quartel e avisam Marcelo Caetano de que Salgueiro Maia está a falar a sério e que os próximos disparos não serão para o ar.

Salgueiro Maia segue-os cerca de meia hora depois para receber a rendição, mas Marcelo Caetano informa que só se renderá a um Oficial-General para que o poder não caísse na rua. Acabou por ser o General Spínola a ir receber a rendição de Marcelo Caetano.

Às 18 horas e 30 minutos, a Chaimite Bula entra no Quartel do Carmo para transportar Marcelo Caetano à Pontinha e, momentos depois, Fialho Gouveia transmite na RTP uma declaração do MFA.

No mesmo dia, a PIDE/DGS, a Legião e a Mocidade Portuguesa foram extintas e os dirigentes fascistas foram destituídos. Registaram-se 6 mortos e cerca de 45 feridos.4 deles eram civis que foram alvejados junto da sede da DGS, um outro era soldado da 1.ª Companhia Disciplinar, em Penamacor, que se encontrava de férias na capital e que seria o único militar a morrer durante a revolução. O sexto foi um funcionário da PIDE.

Por estes homens e mulheres de armas, se mostrou um país farto da situação em que vivia e lutou por um Portugal melhor. Não obstante, os anos que se seguiram não foram fáceis, mas se hoje vivemos em liberdade a eles lho devemos.

 

Fontes:

https://www.tribunaalentejo.pt/artigos/25-de-abril-revolucao-passo-passo (2021)

https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$otelo-saraiva-de-carvalho

 

 

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publicado às 14:48


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