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Assinala-se hoje uma data importante no nosso país, que ainda hoje se mantém envolta em polémica e que marcou o fim do PREC. Nesta data, consolidou-se o espírito de liberdade conquistado no dia 25 de abril de 1974. Faz parte da nossa história, mas pouco ou nada se fala sobre esta data. Muito menos é mencionado nas escolas. 

De um lado os militares moderados e os partidos de centro esquerda e de direita, como o PPD, o CDS e o PS, e do outro os militares extremistas com o PCP, a UDP e outras forças partidárias dessa área de apoio. Após meses de tensão em que se registaram manifestações de  rua, sequestros da Assembleia da República e ameaças diversas, assinalaram-se movimentações e a ocupação de pontos estratégicos através da utilização de unidades de para-quedistas identificadas com a extrema esquerda.

Hoje o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, numa celebração da autarquia mas que poderá um dia vir a ser um acontecimento a nível nacional, quebrou as barreiras e ignorou as divisões que a data tem levantado. No seu discurso, afirmou que celebrar o 25 de Novembro de 1975 é "cada vez mais importante", considerando que foi neste dia "que a democracia venceu o extremismo". A democracia, é isto, é podermos festejar, se quisermos, uma data que foi importante, trazendo para a atualidade os valores defendidos há quase cinquenta anos e pensando que mais do que nunca é preciso falarmos sobre democracia e liberdade. "O poder militar pretendia ser o motor do poder político, alguns queriam que a legitimidade revolucionaria substituísse a legitimidade eleitoral", acusa Carlos Moedas, destacando que nesta altura "havia modelos de totalitarismo para todos os gostos". Esta foi uma celebração envolta em polémica e da qual iremos certamente voltar a ouvir falar. Mas não deixa de ser um ato de coragem, trazer nesta altura para o plano da discussão política, uma data que foi até certo ponto "apagada", por continuar até hoje envolta em polémica. 

Carlos Moedas apontou os "heróis" dessa data, nomeadamente o general Ramalho Eanes, Jaime Neves, Melo Antunes e todos os militares do grupo dos 9, enaltecendo "os militares moderados que souberam interpretar a vontade do povo português - que sabiam que a legitimidade do voto é a única legitimidade que conta numa democracia." Nem todos estiveram de acordo com as suas palavras, nem tão pouco com as celebrações de hoje. 

Poucos se lembrarão que, depois do 25 de abril, Portugal esteve prestes a entrar numa guerra civil, com a divisão das Forças Militares em que de um lado havia a esquerda radical e do outro a chamada direita militar. No dia 25 de Novembro de 1975, três militares morreram na Calçada da Ajuda, dois comandos ligados à chamada direita militar e um da polícia militar ligado ao Movimento das Forças Armadas. Nesta data, o povo consolidou a liberdade adquirida em abril e renovou o desejo de não deixar crescer uma outra ditadura que se começava a implantar.

Era preciso dizer não aos radicalismos, tal como o é hoje. Era necessário haver entendimentos e reformas e não deixar crescer os extremismos. Os mesmos que hoje já crescem pela Europa e que ameaçam as democracias. Portugal corre hoje o mesmo risco que corria há quase 50 anos atrás.

No dia 12 de novembro de 1975, dezenas de milhares de trabalhadores manifestaram-se junto ao Palácio de São Bento, reivindicando ser atendidos pelo Ministério do Trabalho. Os trabalhadores colocaram-se todos juntos nas escadas do palácio com faixas e bandeiras vermelhas. Perante a recusa, a manifestação radicalizou-se, e mobilizou-se contra o VI Governo Provisório, que suspendeu funções dia 20. Chegou mesmo a haver helicópteros no ar para levar mantimentos aos cercados em Belém e um pedido feito pelo Primeiro-ministro da altura para que ele e outros fossem resgatados, o que foi recusado pelos Comandos. A paralisia foi total, e o governo declarou efetivamente que não iria fazer nada "político", e anunciou que "estamos em greve, todos estão em greve, o governo também está em greve", agindo unicamente a título administrativo até à resolução do conflito de poder. O governo ameaçou também exilar-se no Porto, onde poderiam ser de certa forma protegidos por agricultores e camponeses no Norte que ameaçavam cortar o fornecimento de alimentos à "comuna vermelha de Lisboa". Isto mostrou o enfraquecimento do Estado e do poder político, num "confronto clássico de poder"

Na madrugada do dia 25, Vasco Lourenço é declarado comandante da Região Militar de Lisboa (RML) pelo Conselho da Revolução (CR). Os paraquedistas ocuparam rapidamente várias bases aéreas, assim como o Estado-Maior da Força Aérea, do Regimento de Artilharia de Lisboa (RALIS), que, pouco depois montou um aparato militar em várias zonas, e das tropas da Escola Prática de Administração Militar (EPAM), que ocuparam os estúdios da Rádio e Televisão de Portugal e controlaram as portagens da autoestrada do Norte. Por volta das sete da manhã, os paraquedistas ocuparam o comando da 1.ª Região Aérea e prenderam o seu comandante. Aqui, é dado o alerta à Presidência da República que "o 'golpe' está na rua". 

Um dos grupos envolvidos, chamado o Grupo dos Nove, deslocou-se até Belém, e o Presidente Costa Gomes assumiu a liderança. Pensa-se que este grupo formulara um plano para executar um golpe militar, que restituísse a hierarquia nas Forças Armadas. As medidas providenciais levaram à desmobilização popular, numa altura em que a população começava a cercar os vários pontos militares, o que poderia levar à distribuição de armas. Otelo Saraiva de Carvalho, anteriormente desaparecido, regressou a Belém, onde também teve um papel determinante. Francisco Costa Gomes decretou o estado de sítio na RML às 16h30. Houve no resto do dia diversas tentativas dos sublevados de tentar reverter a situação, desfavorável para si, e ofensivas dos moderados. Ao longo deste dia, os sublevados continuaram a perder posições, e a situação começou a normalizar-se. Jaime Neves, pouco após das 19h, saiu com uma força do RC da Amadora e cercou as instalações da Força Aérea em Monsanto, resultando na rendição de seus ocupantes. O domínio dos meios de comunicação passou a ser o objetivo mais importante. A Emissora Nacional, às 20h45, mudou a sua emissão para o Porto. O Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil convocou uma concentração junto à sede do sindicado através do Rádio Clube Português (RCP). O CR interviu, e convocou um destacamento da Escola Prática de Cavalaria de Santarém a Porto Alto, que continha os emissores de onda média, e, às 22h10, a emissão do RCP foi interrompida. As emissões da RTP passaram a ser feitas no Porto. No decorrer da noite, a situação começa a acalmar. 

No dia 26, o Conselho da Revolução decidiu dissolver o COPCON, e ordenou a presença de todos os seus comandantes no Palácio de Belém. Infelizmente, apesar de estarem perto, existiu uma falha na comunicação entre as forças de Jaime Neves que sitiavam a PM, e o Palácio de Belém. Após várias ligações com o major Campos Andrada, Vasco Lourenço conseguiu fazer com que se apresentasse em Belém. Apesar de tudo, o ataque não foi suspenso, e causou três mortos.

No dia 27, a conjuntura continuou a normalizar-se, e no fim da tarde o COPCON foi cercado e ocupado pelos comandos da Amadora, resultando em nove detenções, das dezenas de oficiais já encarcerados em Custoias. A Base Aérea do Montijo foi desocupada durante a noite. Costa GomesMorais da SilvaMelo AntunesPires Veloso, entre outros, falaram na televisão com o objetivo de acalmar a população. Apesar de ainda que não controlarem todas as unidades, os moderados estavam à beira da vitória. Ainda falta haver consenso se houve, ou não, uma tentativa de golpe de Estado, e quem foram os responsáveis.

Existe ainda uma grande polémica sobre a questão da distribuição das armas a civis e do  possível envolvimento do PS na preparação de uma futura intervenção estrangeira em Portugal. Em causa, o facto de Mário Soares de ter reunido com o primeiro-ministro James Callaghan para coordenar a ingerência militar do Reino Unido em Portugal caso irrompesse um golpe comunista, ao qual respondeu positivamente, garantindo o apoio, e despachou um oficial dos serviços secretos britânicos. Se houvesse a eclosão de uma guerra civil, Mário Soares contaria com vários tipos de operações clandestinas, apoio logístico aos militares moderados e a utilização de meios aéreos e marítimos para abastecimento na zona norte. De acordo com o ex-primeiro-ministro Vasco Gonçalves, a deslocação de Mário Soares ao Norte, no dia 25, fazia parte do plano, uma vez que seria ele o líder da resistência civil, e a sua segurança e liberdade teria, assim, de ser asseguradas, se ocorresse a tomada de Lisboa pelas forças revolucionárias.

Nada disto é falado e é como se (até hoje) todos tivessem feito um pacto de silêncio sobre os verdadeiros acontecimentos daqueles dias. Podemos pesquisar e encontramos muito mais perguntas do que respostas e, até, a comunicação social da altura, teve atitudes diferentes perante os acontecimentos em causa.

Em todos os jornais, se destacou os acontecimentos destes dias, inclusivé das manifestações ocorridas. Tal como em várias outras publicações, no 25 de novembro de 1975,  no semanário "O Jornal," destaca como o país se encontra em crise, com o título: A crise da semana: Governo de braços caídos”. No interior do jornal, havia uma página dedicada aos“quatro malditos” do VI Governo Constitucional: Tomás Rosa (ministro do trabalho), Ferreira da Cunha (secretário de Estado da Comunicação Social), Almeida Santos (ministro da Comunicação Social) e Marcelo Curto (secretário de Estado do Trabalho), os quais eram assim apelidados por sobre eles recaírem "as críticas mais violentas das forças situadas mais à esquerda da conjuntura revolucionária portuguesa”.  Num outro artigo, dá ainda conta da morte de Franco, “o último ditador da Europa”, que morreu no poder, chamando de certa forma a atenção para o futuro que "resta aos espanhóis", num obituário, escrito por Javier López, que não esconde a felicidade pela perda. Este artigo, não esconde uma mensagem para o povo português, na palavra "último", para que abra os olhos e não deixe que o extremismo regresse ao país.

 

Fontes:

https://sicnoticias.pt/pais/2023-11-25-Celebrar-o-25-de-Novembro-porque-todas-as-datas-contam-0597e22f

https://ionline.sapo.pt/artigo/808624/25-de-novembro-e-o-dia-do-triunfo-da-democracia?seccao=Portugal_i

https://www.tsf.pt/portugal/politica/comemorar-abril-e-exercicio-incompleto-moedas-diz-que-25-de-novembro-ditou-vitoria-da-democracia-17398595.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_de_25_de_Novembro_de_1975

https://ensina.rtp.pt/artigo/o-25-de-novembro-de-1975/

 

 

 

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publicado às 19:58

O que dizem das palavras de Guterres

por Elsa Filipe, em 25.10.23

Antes de começar, não é este um post em defesa de quem quer que seja. Sou muito pragmática. Não defendo nenhuma guerra e muito menos quando se usa a "desculpa" esfarrapada de que uma qualquer entidade atribuiu o quê a quem quer que seja. Ainda estou numa fase de incompreensão perante tamanha barbárie que se está a passar. Sou completamente contra este conflito e acho que isto tem de acabar. Apetece dizer para pegarem numa régua e dividirem a meio aquilo tudo, metade para a direita metade para a esquerda! No meio disto tudo, ninguém tem razão. Não há nenhuma razão, nenhum motivo para matar inocentes. Nem de um lado, nem do outro!

Mas hoje resolvi também vir falar das palavras de um português. Um homem que agora está a ser posto em causa por aquilo que disse - meus caros, ele é cidadão português e nós somos livres de dizer e escrever as nossas opiniões - e não estou com isto a dizer que concordo com ele. As afirmações que fez no Conselho de Segurança da ONU não foram felizes. Esteve mal, mas quem o condena agora, não está melhor.

Antes da reunião do Conselho de Segurança, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, condenou os atos "de terror" e "sem precedentes" perpetrados pelo Hamas a 7 de outubro, salientando que "nada pode justificar o assassínio, o ataque e o rapto deliberados de civis". No entanto, durante o seu discurso, Guterres acabou por afirmar que seria "importante reconhecer" que os ataques do grupo "não aconteceram do nada", frisando que o povo palestiniano "foi sujeito a 56 anos de ocupação sufocante". Estas palavras não agradaram o embaixador Gilad Erdan, que pediu a António Guterres que se demitisse "imediatamente".

Palavras mal medidas, mal ponderadas, mas que consigo de certa forma compreender no sentido em que tantas vezes as emoções estão à "flor da pele" e nos impedem de pensar de forma mais pragmática. Imagens desoladoras, trágicas e desconcertantes tinham precedido este discurso e sem aquele filtro a que seria obrigado, Guterres deixou escapar o seu lado mais humano e menos ponderado. Por vezes, temos momentos assim - quem nunca? A sua posição porém é diferente da "nossa". A ele, não são perdoados escapes de língua, desabafos e, nem tão pouco, tentativas de justificação de algo injustificável.

Em consequência porém das palavras que Guterres proferiu, Israel começou logo por bloquear vistos a funcionários da ONU. Gilad Erdan anunciou que foi já recusado o visto de entrada em Israel ao subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários. As palavras que fizeram Israel reagir, talvez tenham sido uma espécie de contextualização dos ataques, em que Guterres diz que "o povo palestiniano tem estado sujeito a 56 anos de ocupação sufocante." Nas palavras do secretário-geral, que penso não venham legitimar os ataques, mas vêm em defesa da Palestina como povo e de como acabaram por ter de "aceitar" a sua situação com o Hamas, acrescentou ainda que os palestinianos viram "as suas terras serem constantemente devoradas por colonatos e assoladas pela violência, a sua economia sufocada, o seu povo deslocado e as suas casas demolidas." Acrescentou que a esperança "numa solução política para a sua situação têm vindo a desaparecer". 

Por vezes, é preciso medir as palavras e ponderar a capacidade de aceitação de quem as escuta. Nem sempre estão todos os ouvintes no momento certo para compreender o que se afirma, outras vezes o que quer ser transmitido como mensagem tem o efeito contrário à intenção pretendida. Fossem quais fossem as palavras trasnmitidas nesse dia, e nos que se seguem, serão sempre uma ofensa para Israel se defendem a Palestina e uma ofensa para a Palestina se legitimarem Israel. O entendimento neste caso são duas paredes de betão, cujo único ponto em comum é se reprimirem e afastarem mutuamente.

Aproveitando esta situação, Eli Cohen, cancelou uma reunião agendada com Guterres (não seria uma oportunidade de se confrontar e explicar o seu ponto de vista?)mas prefere Israel dizer com todas as letras que "é tempo de ensinar uma lição" à ONU, insistindo na demissão do secretário-geral da organização. 

Guterres recusa ter justificado os atos de terror do Hamas, mas os protestos de Israel encontraram eco em vários membros dos governos britânico e italiano, que já vieram a público dizer que discordam dos comentários do Secretário-Geral da ONU sobre Israel e as alegadas violações dos direitos humanos.

Acusando a ONU, desde sempre - não é de agora e nem foram as palavras do seu secretário-geral a despoletar esta opinião - de estar contra Israel, afirmou Erdan que "a partir de agora, todos os dias em que ele estiver neste edifício, a não ser que peça desculpa imediatamente, não há justificação para a existência deste edifício. Este edifício foi criado para evitar atrocidades." Será uma ameaça à própria ONU e aos seus funcionários? Matar a população, sem qualquer limite nem consciência, fazendo com os seus ataques mais mortes do que contra os seus foram cometidos, pior do que "olho por olho, dente por dente", é aceitável para um homem que representa um país? É aceitável pelos seus? Nós não concordamos com muito do que se passa pelo mundo e não saíamos por aí a lançar bombas a torto e a direito! 

Fontes:

https://cnnportugal.iol.pt/onu/nacoes-unidas/demonstra-compreensao-pela-campanha-de-homicidio-em-massa-de-criancas-mulheres-e-idosos-embaixadores-de-israel-na-onu-e-em-portugal-acusam-guterres-de-nao-estar-apto-para-liderar/20231024/65381014d34e371fc0b914e8

https://pt.euronews.com/2023/10/25/israel-abre-guerra-a-onu-pelas-criticas-de-guterres

 

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publicado às 23:37

Liberdade

por Elsa Filipe, em 25.04.23

Feriado, cá para mim é raro ter descanso. Desde muito cedo me vi envolvida em atividades que serviam para marcar este dia. Fosse em galas e apresentações de ginástica, ainda em Sesimbra, fosse nas representações pela dança, pela fanfarra ou, como agora, através do Futsal, participando em torneios comemorativos ou organizando atividades para crianças.

Hoje fui buscar alguns jogos à arrecadação, levei balões e fui preparar uma manhã de jogos e brincadeiras destinada a crianças, no campo do CDRF. Apareceram um total de 27 crianças, que puderam desfrutar de várias atividades diferentes e os pais que também se envolveram e brincaram com eles, recordando algumas brincadeiras da sua infância, como a macaca, saltar à corda, ou o jogo do arco. Claro que não pode faltar o jogo de futebol, mas isso não foi o principal.

E hoje é 25 de abril e isso lembra-me que se, acaso ainda vivesses num regime ditatorial, hoje não poderia ter estado a almoçar com os outros colaboradores e organizadores deste pequeno evento, sendo eu a única mulher. Bem pensado, nunca poderia estar a treinar uma equipa de futsal e se quisesse ser professora teria de estar casada!

Oh que bom que eu posso passear sozinha, ir a um café ou a um bar se bem me apetecer! Que bom que pude tirar a carta e escolher conduzir! 

E que bom que é ter comigo tantas mães e pais que vieram dos PALOP para Portugal e que tanto me ensinam com a sua cultura e sabedoria, os seus costumes, a sua alegria!

 

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publicado às 18:56

Cantar Abril - o poder das canções

por Elsa Filipe, em 24.04.23

Este ano não vou sair de casa para ir ver um concerto, uma vez que aqui onde moro não me agrada particularmente (nem canda Abril). Sou uma pessoa de hábitos e há aqueles dias em que a música que me faz sentido é aquela que lhe associo.

Nestes dias, faz-me sentido ouvir as grandes cantigas portuguesas, boa música, poemas escritos por Ary dos Santos ou por José Niza, com os orquestramentos próprios dos grandes Festivais de então, ou aquelas músicas que se ligaram a este momento para sempre, como "Grândola, Vila Morena", de José Afonso e direcção musical de José Mário Branco.

Esta música foi utilizada como segunda senha da revolução e é, ainda hoje, a música que mais se identifica com o que aconteceu nesta data.

“Grândola, vila morena” foi anunciada aos 25 minutos do dia 25 abril de 1974 por Leite de Vasconcelos, no programa “Limite” da Rádio Renascença, confirmando aos muitos militares que esperavam atentos, que a Revolução estava na rua e que iriam de facto avançar na mobilização de forças para tomar pontos estratégicos especialmente na capital. Uma hora e meia antes, tinha sido emitida a primeira senha, nos Emissores Associados de Lisboa, “E depois do Adeus”, um tema interpretado por Paulo de Carvalho.

Fontes:

https://ensina.rtp.pt/artigo/grandola-a-musica-da-revolucao/

https://www.timeout.pt/porto/pt/musica/cantar-abril-uma-duzia-de-cancoes-revolucionarias

 

 

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publicado às 10:06

No tempo da PIDE

por Elsa Filipe, em 23.04.23

A Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) foi criada a 22 de outubro de 1945, no auge do Estado Novo. Quando foi criada em 1945, a PIDE constituía um organismo do Ministério do Interior, estando o seu diretor subordinado diretamente ao ministro.

A função desta polícia era perseguir, prender e interrogar qualquer individuo que fosse visto como inimigo à ditadura salazarista. Estes opositores ao regime eram levados para prisões em Portugal como as dos Fortes de Caxias e de Peniche, ou a do Tarrafal, na ilha de Santiago, no arquipélago de Cabo Verde.

Nestes locais, os presos eram muitas vezes vitimas de tortura, privação de sono, isolamento, más condições alimentares, higiénicas e de saúde, o que levava muitas vezes à sua morte.

A PIDE também dirigia a censura, uma outra forma de controlo do Estado Novo sobre o povo. Um dos seus mais famosos processos ficou conhecido como o “lápis azul”, uma vez que todos os artigos de imprensa e obras de arte – literatura, teatro, cinema, artes plásticas -, eram cortados, editados ou proibidos com um lápis azul antes de serem publicados.

Depois da reorganização de 1954, a PIDE passou a estar na dupla dependência do ministro do Interior e do ministro do Ultramar. Cada um dos ministros tutelava a atividade da PIDE, respetivamente na Metrópole e no Ultramar

Com a subida ao poder de Marcelo Caetano, em 1968, a imagem deste organismo policial tinha uma reputação amarga perante o povo português, levando o recente ditador a dissolver a PIDE. Mais tarde, a 24 de Novembro de 1969, foi oficialmente criada a DGS (Direção-Geral de Segurança) que manteve as mesmas funções da antiga PIDE.

Este sistema autoritário só chegou realmente ao fim com a chegada do 25 de Abril de 1974.

Fontes:

https://ensina.rtp.pt/artigo/historia-da-pidedgs/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADcia_Internacional_e_de_Defesa_do_Estado

 

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publicado às 09:17

Porque um dia só não chega...

por Elsa Filipe, em 24.03.22

Porque não basta apenas um dia para afirmar uma Declaração que dá a todos os seres humanos direitos iguais, assinala-se hoje o Dia Internacional para o Direito à Verdade sobre Graves Violações dos Direitos Humanos e pela Dignidade das Vítimas. A Declaração que consagra direitos iguais no acesso à identidade, habitação, alimentação, educação e liberdade de expressão e de decisão, entre outros considerados fundamentais, têm sido ao longo dos anos esquecidos pelos Estados que a assinaram. A simbologia desta data é muito forte. Nela a ONU procura "honrar a memória de todas as vítimas de graves e sistemáticas violações de direitos humanos e prestar homenagem àqueles que perderam ou dedicaram sua vida à defesa dos direitos humanos." Para António Guterres, a “justiça e prevenção só podem começar com a descoberta e o reconhecimento dos fatos”, estando o principal foco da ONU na "transição de regimes violentos, como o apartheid, na África do Sul, e as ditaduras militares na América Latina," de forma a "esclarecer crimes cometidos no tempo de governos arbitrários e reconhecê-los em nome do Estado." Até à data, foram 30 os países abrangidos pela Comissão de Verdade, entre os quais se destacam a África do Sul, a Argentina, o Brasil, o Chile, a Guatemala, o Paraguai e o Perú.

Esta data foi estabelecida pela Assembleia Geral da ONU a 21 de dezembro de 2010 e consagra o "direito à verdade sobre graves violações dos direitos humanos e graves violações da lei dos direitos humanos como um direito inalienável e autónomo", tendo tido por base a "homenagem a Monsenhor Óscar Arnulfo Romero, que denunciou vários casos violações dos direitos humanos," em El Salvador e que por isso "foi assassinado em 24 de março de 1980." 

Romero, nasceu a 15 de agosto de 1917, em Ciudad Barrios, foi padre e arcebispo em El Salvador, conheceu "a miséria profunda que assolava seu pequeno país" especialmente devido às duras ditaduras militares, na década de 1970. "Criticava duramente tanto a inércia do governo, as interferências estrangeiras, como as injustiças praticadas pelos grupos “revolucionários”. O Arcebispo Dom Oscar Arnulfo Romero foi fiel a Igreja, e pagou com a vida o preço de ser discípulo de Cristo." Devido ao seu trabalho em prol dos mais carenciados e acabou por ser "assassinado por um franco-atirador enquanto celebrava" uma missa para doentes de cancro e enfermeiros, na capela do Hospital da Divina Providência.

"A Comissão da Verdade de El Salvador estabeleceu que os autores intelectuais do crime foram o major Roberto D’Aubuisson, um militar reformado que fora treinado na Escola das Américas, e Mario Molina, filho do ex-presidente e general Arturo Molina." Além dele, "de janeiro a março de 1980 foram assassinados 1015 salvadorenhos. Os responsáveis pertenciam às forças de segurança e às organizações conservadoras do regime militar instalado no país."

A morte de Romero determinou na altura a impossibilidade "de evitar uma guerra civil" e "El Salvador foi tomado por um conflito armado que durou doze anos e deixou 100 mil mortos." "A importância de Romero foi minimizada durante as duas décadas em que a Arena governou El Salvador. No resto do mundo, no entanto, parece que a figura de Romero" continuou a crescer.

Em El Salvador, também vários bispos e sacerdotes agiram contra aqueles que seriam os "princípios cristãos e humanos mais elementares" e "conspiraram contra Romero, levaram a conspiração até Roma" e calaram-se perante o assassinato de um dos seus arcebispos. No dia "23 de maio de 2015 aconteceu a beatificação de Dom Oscar Romero. A cerimónia de canonização foi celebrada no dia 14 de outubro de 2018 pelo Papa Francisco."

"São Romero de América, pastor e mártir nosso,
ninguém, há de calar, tua última homilia!"

(excerto das palavras de Dom Pedro Casaldáliga)

Na prática, esta data assinala o dever de cada estado de "proteger e garantir os direitos humanos, conduzir investigações eficazes" nos casos em que estes direitos estejam a ser violados e a correção dessas situações, uma vez que é necessário que os mesmos sejam trazidos para o conhecimento de todos para que possam ser adaptadas as medidas justas. No entanto, a prevenção tem de ser uma dessas primeiras medidas e a informação tem de chegar a todos, sem exceção, assim como é também importante compreendermos as "causas subjacentes" a estas violações dos direitos humanos.

 

Fontes:

http://elsaportucalense.upt.pt/dia-internacional-da-para-o-direito-a-verdade-sobre-graves-violacoes-dos-direitos-humanos-e-pela-dignidade-das-vitimas/

https://news.un.org/pt/story/2021/03/1745492

https://apublica.org/2015/02/don-romero-um-santo-progressista/

https://franciscanos.org.br/vidacrista/calendario/santo-oscar-romero/#gsc.tab=0

https://contrafcut.com.br/noticias/verdade-e-respeito-a-memoria-de-vitimas-garantem-direitos-humanos/

 

 

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publicado às 11:53

55 anos - a ponte que liga as duas margens

por Elsa Filipe, em 06.08.21

A ponte faz parte das nossas vidas e já não nos imaginamos a olhar o Tejo sem a ter ali. Depois de vários estudos e projetos a Ponte abria ao tráfego a 6 de agosto de 1966, na altura apenas com um tabuleiro, faz hoje 55 anos. Batizada primeiramente com o nome Ponte Salazar, foi cerca de seis meses depois da Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974, que ganhou o seu nome atual.

A ponte que liga as duas margens do Tejo é muitas vezes comparada com a Golden Gate, em São Francisco, devido às semelhanças entre as duas e por ter sido fabricada pela mesma empresa.

Apesar de já existirem projetos para a construção de uma ponte sobre o estuário do Tejo desde finais do século XIX, foi apenas na década de 1950 que o governo português do Estado Novo avançou com a construção de uma ponte para ligar as duas margens da área metropolitana de Lisboa

De facto, a primeira ideia sobre a construção de uma ponte que ligasse a cidade de Lisboa a Almada, situada na margem esquerda do Tejo, remonta ao ano de 1876. Naquela altura, o engenheiro Miguel Pais sugeriu que a sua construção fosse feita entre Lisboa e o Montijo.

Nos princípios da década de 1950, um dos defensores da construção da ponte sobre o Tejo em frente de Lisboa foi o deputado Pinho Brandão, que na sessão de 28 de Outubro de 1952 da Assembleia Nacional, sugeriu que aquela obra fosse adjudicada como parte das comemorações dos vinte de cinco anos do governo de Oliveira Salazar. A 4 de Dezembro, durante a discussão do Plano de Fomento Nacional, defendeu que a construção da ponte fosse incluída naquele importante programa económico. 

A comissão apresentou o seu relatório em 1957, tendo proposto duas soluções para a travessia do rio, por túnel ou por ponte.Ainda nesse ano, o Ministro das Obras Públicas, Eduardo de Arantes e Oliveira, inseriu a construção da ponte no II Plano de Fomento, e em 2 de Maio de 1958 foi formado o Gabinete da Ponte sobre o Tejo, dirigido por José do Canto Moniz. Antes de se iniciarem os trabalhos propriamente ditos, foi necessário estudar estruturas semelhantes noutros locais.O engenheiro Luís Canto Moniz, sobrinho de José Canto Moniz, foi uma das pessoas encarregues dessa missão. O concurso público internacional iniciou-se em 27 de Abril de 1959, e em 3 de Março de 1960 foram abertas as propostas, tendo quatro empresas concorrido para esta obra. 

A 25 de Fevereiro de 1961 foi assinado o contrato com a empresa United States Steel Export Company, no valor de 1 764 190 contos, estipulando a conclusão das obras até 1966. A empresa apresentou o plano definitivo para a ponte em 3 de Novembro desse ano, que foi aprovado em 9 de Maio de 1962, levando desta forma à adjudicação definitiva para a obra.

A construção começou em novembro de 1962 e prolongou-se por quatro anos. Foram pelo menos 20 os trabalhadores que perderam a vida, bem mais do que o anunciado na altura.

Com início dos trabalhos, no dia 5 de novembro de 1962, e um prazo estipulado de 51 meses, a obra compreendia a construção da ponte sobre o rio, a realização de um complexo rodoviário que incluía cerca de 15 quilómetros de autoestrada, um viaduto sobre Alcântara, com 945 metros de extensão e um túnel sob a praça da portagem na margem Sul destinado a receber a plataforma ferroviária do eixo de ligação da rede a norte com a rede a sul do rio Tejo.

Às 10h39 do dia 10 de janeiro de 1963 é lançado às águas do Tejo o primeiro "caixão" de um conjunto, que serviu para montar a ancoragem Sul, no leito do rio, que iria receber um dos pilares da ponte.
 



Estiveram envolvidos na construção, diariamente, cerca de três mil operários, tendo a empreitada durado menos do que o previsto, sendo entregue e dada como pronta no dia 27 de maio de 1966, dez meses antes da data prevista.


Com as fundações criadas e as duas torres principais construídas, foi necessário estender dois passadiços (passeio do gato, ou catwalk, em inglês), um de cada lado das torres, para facilitar a deslocação dos trabalhadores da obra e para que fosse possível começar a fiação dos cabos principais.



 
 
A Ponte sobre o Tejo, cinquenta anos depois, em pouco se diferencia do dia da inauguração.

Composta por duas torres principais de aço carbono, com uma altura de 190,5 metros acima do nível da água, a 483 metros de cada margem, as torres assentam na rocha basáltica a mais de 80 metros abaixo da superfície das águas do Tejo.

Sendo uma ponte suspensa, com um comprimento total de cerca de 2.280 metros, o tabuleiro rodo-ferroviário foi inicialmente suportado por um cabo suspenso.

Estas foram as principais estruturas as serem construídas suportando todo um vasto tabuleiro com 1.979 metros de comprimento, sendo o restante tabuleiro suportado por pequenas torres de suporte e sustentação. As torres, cada uma composta de duas pernas ou montantes principais, são contraventadas entre si por cinco peças em forma de 'X' e duas travessas horizontais, uma no topo da torre e a outra abaixo do nível da viga de rigidez.



No topo de cada torre foram colocadas e seladas duas grandes peças de aço fundido, que dão apoio aos dois cabos principais de suspensão, constituídos por fios de aço paralelos, organizados em 37 feixes com 304 fios cada um.



Todo este conjunto de fios de aço é cintado e apertado de modo a formar, em todo o percurso suspenso, um cabo com 58,6 cm de diâmetro.



A viga de rigidez e o tabuleiro são suspensos desses grandes cabos que amarram a dois maciços de betão, localizados nas margens. A grande viga de rigidez, com 21 metros de largura e 10,65 metros de altura, contínua em toda a sua extensão, é constituída por elementos soldados que foram depois fixados com parafusos de alta resistência.

O tabuleiro, uma das mais longas treliças do mundo, está assente na viga de rigidez, constituído por um conjunto de longarinas e carlingas de aço sobre as quais assentam painéis formados por uma grelha do mesmo material.



Para além da estrutura em aço, a ponte conta ainda com um grande viaduto, na vertente norte, sobre a zona de Alcântara, com um comprimento de 945 metros, constituído por um conjunto de 11 pilares gémeos, em betão armado, que se encontram ligados por uma travessa horizontal a dez metros do topo, destinada a suportar o tabuleiro ferroviário, bem como a respetiva zona de amarração dos cabos.



Na margem Sul, para além da zona de amarração, há que referir o túnel, com mais de 600 metros, construído sob a praça da portagem rodoviária, para receber a plataforma ferroviária do eixo de ligação norte-sul.
Passou a ser, na altura, a ponte com o maior vão suspenso da Europa e o quinto maior do Mundo.
Todo o empreendimento foi inaugurado a 6 de agosto de 1966, do lado de Almada, na presença das mais altas individualidades portuguesas, entre as quais o Presidente da República, Almirante Américo de Deus Rodrigues Tomás, o presidente do Governo, António de Oliveira Salazar, e o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, passando a ser chamada, oficialmente, Ponte Salazar.

 

Fontes:

https://www.rtp.pt/noticias/pais/construcao-da-ponte-25-de-abril_es938173

https://www.lisboa.net/ponte-25-abril

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ponte_25_de_Abril

Imagens retiradas do site RTP 

 

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publicado às 18:37

Liberdade para cantar

por Elsa Filipe, em 25.04.21

Celebra-se hoje mais um dia da Liberdade. Mas ainda se lembram quando havia censura? Quando os livros, as notícias, os poetas eram censurados? Hoje venho escrever um pouco sobre os grandes poetas e sobre grandes intérpretes que tiveram a coragem de subir ao palco, com letras construídas metodicamente com a mestria de enganar a PIDE-DGS e passar pelos censores sem que as mensagens fossem reparadas.

A verdade é que poetas e autores, compositores e intérpretes, não ficaram indiferentes ao regime totalitário que existia em Portugal até ao dia 25 de Abril de 1974 e, através da sua arte, contribuíram para denunciar os abusos da ditadura e muitas conseguiram furar as malhas da censura impondo-se na música portuguesa.

Foi na verdade no Festival da Canção que apareceram grandes dos nomes que hoje conhecemos. Ali, se fez saber da vontade de gritar pela liberdade a plenos pulmões! Assim, não será de estranhar que a canção que se associa ao 25 de Abril de 1974 é aquela que nasceu (pensavam os censores da altura) "apenas" como um lindo poema de amor. Embora não tivesse sido a primeira escolha, o facto de ter sido aceite no Festival e de passar despercebida, fez com que fosse a escolhida como a primeira senha do movimento dos capitães. A canção "E Depois do Adeus" com letra de José Niza e música de José Calvário, foi brilhantemente interpretada no Festival da Canção e no Festival da Eurovisão pela voz de Paulo de Carvalho. 

Outra canção que eu adoro e que nunca me canço de ouvir, pela voz grandiosa de Simone de Oliveira, é "A desfolhada", escrita por Ary dos Santos, em 1969 e com música de Nuno Nazareth Fernandes. Esta canção vem recheada de várias metáforas. Cantou Simone com a sua grandeza, Quem faz um filho, fá-lo por gosto, numa época em que era pecado a mulher ter prazer no ato sexual, dando uma autêntica pedrada no charco na hipocrisia e falsa moral vigente.

Em 1971, cantou no Festival da Canção Fernando Tordo a canção "Cavalo à Solta", onde só a ideia de liberdade já arreliava a PIDE. O poema, também era do mestre Ary dos Santos.

Em 1973, volta a dupla Fernando Tordo e Ary ao Festival com a canção "A Tourada", que foi uma genial critica ao antigo regime através de metáforas tauromáquicas. Depois da vitória desta canção no Festival, o então governo, ainda ponderou não enviar a canção à Eurovisão, mas o escândalo internacional, numa Europa esmagadoramente democrática, seria bem mais prejudicial e a canção lá foi até ao Luxemburgo. A mensagem estava lá e é incrível pensar como é que a censura não compreendeu que na letra deste poema não se falava afinal do espetáculos de touros e toureiros, mas sim do antigo regime, numa crítica extremamente inteligente e com um retrato fiel da sociedade de então:
"toureamos ombro a ombro as feras | ninguém nos leva ao engano | toureamos mano a mano | só nos podem causar dano esperas."

Neste mesmo ano regressa Simone de Oliveira com a canção "Apenas o meu povo", que lhe valeu o Prémio de Interpretação. Um poema de inconformismo e de uma certa revolta contra quem pretendia tirar a esperança ao povo que governava com mão de ferro

Ainda no Teatro Maria Matos no dia 26 de Fevereiro de 1973, com letra da autoria de Ary dos Santos é apresentada a concurso a canção  "É por isso que eu vivo", interpretada por Paco Bandeira. Conseguiu o segundo lugar, com um poema que dizia que: "Eu sou a palavra lavrada e aberta, eu sou a raiz, eu sou a garganta de um homem que fala e sabe o que diz, eu sou o silêncio das trevas que penso, das coisas que digo, sou filho do tempo, sou fúria do vento, sou força do trigo." E voltava a estar lá o tal clamor, a crítica à censura e ao obscurantismo, a revolta contra a falta de liberdade e a opressão.

São tantas as letras que aqui poderia colocar, mas vou apenas falar de mais uma, já no ano de 1974. O grupo Green Windows cantou nesse ano, a canção de José Cid, "No dia em que o rei fez anos", conseguindo um brilhante  2º lugar. A letra conta como é que no dia em que um rei faz anos, esse mesmo rei é deposto e como todos (o povo) saem à rua para celebrar a liberdade:
"Vieram tribos ciganas, saltimbancos sem eira nem beira, evitaram a estrada real, e passaram de noite a fronteira, e veio a gente da gleba, mais a gente que vivia do mar, para enfeitar a cidade, e abrir-lhe as portas de par em par para libertar a cidade leia-se o país…
…lá vai rei morto rei posto, levado em ombros p’la grei, e a festa continuou, já que ninguém tinha nada a perder, só ficou um trovador, p’ra contar o que acabava de ver."

A canção faz parte das comemorações do 25 de Abril. Lembremos sempre estes valentes que lutaram não com armas mas com a sua voz e com a sua capacidade de poetizar o dia a dia de um povo oprimido.

 

Fontes:

https://festivaiscancao.wordpress.com/2021/04/24/as-cancoes-do-festival-que-gritaram-liberdade-antes-do-25-de-abril-de-1974/

https://festivaiscancao.wordpress.com/2019/04/25/25-de-abril-sempre-cancoes-que-furaram-as-malhas-da-censura-simone-de-oliveira/

https://festivaiscancao.wordpress.com/2019/04/25/25-de-abril-sempre-cancoes-que-furaram-as-malhas-da-censura-fernando-tordo/

 

 

 

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publicado às 23:05

Num ano complicado, em que os media foram essenciais para nos dar a conhecer o estado do mundo, foram muitos os crimes cometidos contra os jornalistas.

50 jornalistas foram mortos em 2020 no exercício da sua profissão, sobretudo em países considerados em paz e durante manifestações, um número estável em comparação com os 53 casos registados em 2019, mas preocupante, pois 34 jornalistas foram mortos em países que oficialmente não estavam em guerra. Registaram-se 8 casos no México, 4 na Índia, 4 no Paquistão, 3 nas Filipinas e 3 nas Honduras. A proporção de jornalistas mortos em países em guerra como na Síria e Iémen, ou assolados por conflitos de baixa ou média intensidade, como no caso do Afeganistão ou do Iraque é de 32%. A grande maioria foram deliberadamente alvejados e assassinados, em condições particularmente bárbaras e sórdidas, com destaque para o México e a Índia, onde jornalistas foram decapitados, esquartejados ou mortos à facada. Os jornalistas de investigação são particularmente visados, devido ao seu trabalho na investigação de casos de corrupção e desvio de fundos públicos, inquéritos sobre a máfia e o crime organizado ou por investigação sobre temas ligados a questões de meio-ambiente.

Registaram-se ainda 367 jornalistas detidos desde janeiro. Há a destacar um aumento de 35% do número de mulheres jornalistas detidas arbitrariamente, bem como o aumento das violações de liberdade de imprensa, devido às leis de excepção ou medidas de emergência adoptadas devido à pandemia da Covid-19.

Em 2020, registaram-se porém sete repórteres foram mortos enquanto cobriam protestos, dos quais 4 no Iraque, 2 na Nigéria e 1 na Colômbia. Dos vários casos podemos destacar o do jornalista Julio Valdivia Rodríguez, no México, que trabalhava para o diário El Mundo, que foi encontrado decapitado no estado de Veracruz e do seu colega Víctor Fernando Álvarez Chávez, redactor-chefe do site de notícias local Punto x Punto Noticias, que foi esquartejado em Acapulco.

Na Índia, o repórter Rakesh Singh “Nirbhik”, do diário Rashtriya Swaroop, foi queimado vivo, depois de ser borrifado com uma solução alcoólica altamente inflamável, enquanto Isravel Moses, correspondente de uma estação de televisão do estado de Tamil Nadu (sul), foi esfaqueado e não resistiu aos ferimentos.

No Iraque, três jornalistas foram baleados na cabeça por homens armados não identificados, no decorrer da cobertura de protestos. Um outro jornalista morreu no Curdistão enquanto tentava escapar dos confrontos que opunham polícias e manifestantes. Casos semelhantes ocorreram na Nigéria e na Colômbia.

Quando nos queixamos dos nossos direitos e da liberdade de expressão que, por vezes, sentimos não ter, recordemos o que se passou este ano, com a prisão e a morte de vários joranalistas. Um dos casos mais recentes é o de Zam.

No dia 12 de dezembro, depois de um julgamento que não teve nada de justo, o jornalista Rouhollah Zam, foi condenado à morte por enforcamento. E não estamos na Idade Média, estamos em pleno século XXI. Zam, que dirigia um canal na plataforma de mensagens criptografadas Telegram, chamado Amadnews, foi considerado culpado de desempenhar um papel ativo no protesto do inverno de 2017-2018. Em outubro de 2019, foi acusado por Teerão de ter desempenhado o papel de agente em nome da França, embora o Irão não tenha especificado o local ou a data dos factos da acusação.

E assim vai a justiça pelo mundo fora...

 

Fontes:

https://www.rfi.fr/pt/mundo/20201229-rsf-50-jornalistas-mortos-em-2020-sobretudo-em-pa%C3%ADses-n%C3%A3o-em-guerra

https://expresso.pt/internacional/2020-12-08-Irao.-Confirmada-sentenca-de-morte-do-jornalista-Rouhollah-Zam-acusado-de-ser-agente-em-nome-de-Franca

 

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publicado às 19:16

1º de Maio

por Elsa Filipe, em 01.05.20

Num normal 1º de MAIO, enchem-se as ruas de Lisboa com manifestantes. Hoje não é um dia normal porque estamos em Pandemia.

Num dia em que não estivessemos proibidos de sair do nosso concelho, estaria a Alameda cheia de gente! Hoje não estamos autorizados a circular livremente entre concelhos... como é que toda esta gente saiu de casa e veio até Lisboa?

Na Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa, a manifestação foi feita tentando manter o distanciamento social, mas nas imagens passadas nas estações televisivas, poucos são os que estão de máscara (bem colocada). Num dia normal, sem pandemia, concordava com as manifestações e com os festejos do Dia do Trabalhador - concordo perfeitamente com muitas das ideias e reinvindicações que hoje saíram à rua - só não concordo que tenham "mesmo saído". Podiam ter feito de outra forma, porque desta forma, colocando-se acima das recomendações da DGS, para ficarmos em casa, acho que se mostraram irresponsáveis. Muitas daquelas pessoas, até se calhar não foram informadas dos riscos, ou não ponderaram bem, mas alguém as deixou passar nos pontos de controlo das deslocações que se fazem em várias estradas. Não pode haver agora um concerto ali no mesmo parque, na mesma Alameda? Mas isto pode haver.

Outras talvez tenham pensado apenas que não fazia mal.

Eu acho que é uma questão também de respeito pelo outro e, acho que como eu, outras pessoas que não podem sair de casa para ir trabalhar e visitar as famílias se sentiram injustiçadas ao ver estas imagens.

https://rr.sapo.pt/video/actualidade/2020/05/01/cgtp-assinala-1-de-maio-na-rua-contra-o-aproveitamento-do-virus-para-a-exploracao-de-trabalhadores/238592/

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publicado às 12:47


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