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Gosto de escrever e aqui partilho um pouco de mim... mas não só. Gosto de factos históricos, políticos e de escrever sobre a sociedade em geral. O mundo tem de ser visto com olhar crítico e sem tabús!
Faz hoje precisamente 90 anos que o Regime tremeu. Infelizmente, as ações promovidas pelos sindicatos não tiveram o resultado pretendido, mas não podemos deixar de lembrar como é que o dia 18 de Janeiro se tornou "um marco na história da resistência ao fascismo em Portugal."
Salazar e a maioria dos seus ministros, passou a noite no "quartel do exército que funcionava onde hoje está a Universidade Nova de Lisboa, em Campolide." Nas imediações das fábricas e dos bairros dos operários, viam-se elementos a cavalo prontos com metralhadoras, enquanto pelos cafés, teatros e outros recintos de diversão, a PIDE acompanhava a PSP e a GNR, encetando esforços para o seu encerramento. O Exército e a Marinha tiveram também de ser postos em ação, com ações de vigilância e prevenção. Mas a que se devia tamanha agitação?
É que seguindo aquilo que Hitler tinha feito na Alemanha, pouco tempo antes, Salazar preparava-se para dissolver de forma forçada aqueles que ainda eram os sindicatos livres, transformando assim "a ditadura militar num regime de tipo fascista. Estes, tencionava substituir por “sindicatos nacionais”, os quais seriam controlados pelo governo, tal como o "modelo fascista italiano que tinha sido estabelecido por Mussolini, em 1927", com a implementação da “Carta del Lavoro." Esta tentativa de "greve geral" pode ser considerada como "o primeiro grande desafio colocado a Salazar após a entrada em vigor da Constituição de 1933 e das leis laborais do novo regime, que dissolveram os sindicatos e proibiam expressamente as greves."
No dia 18 de janeiro de 1934, "as diversas organizações sindicais" que tinham formado um "Comité de Unidade", planearam "uma revolta geral que deveria paralisar o país nesse dia." No entanto, não houve a adesão que se esperava e os resultados acabaram por ficar aquém do esperado. Um dos locais onde se verificou maior adesão a esta que deveria ter sido uma greve geral a nível nacional, foi na Marinha Grande, onde "centenas de operários e trabalhadores," particularmente da indústria vidreira e coordenados por "um núcleo da CIS, a Confederação Inter Sindical, cortaram as estradas de acesso à vila, as linhas telefónicas e o caminho-de-ferro." Inicialmente, não se depararam com grande resistência e avançaram para o centro, ocupando "os correios, a Câmara Municipal e o posto da GNR." Conseguiram resistir apesar da rápida chegada dos militares que estavam em Leiria e que rapidamente ali acorreram.
Após alguma troca de tiros, por volta do meio-dia, já tudo tinha terminado, "com a prisão dos últimos grupos que tinham fugido para os pinhais das redondezas." Fala-se em cerca de 131 detidos, dos quais "45 revoltosos foram processados e condenados ao desterro pelo Tribunal Militar Especial, com penas entre três e 14 anos de prisão e ao pagamento de pesadas multas." Pode-se dizer que estes grupos de "revoltosos da Marinha Grande sofreram uma punição particularmente pesada." Dois anos depois foram levados para a recém-inaugurada "prisão do Tarrafal, na ilha de Santiago, em Cabo Verde," onde "alguns acabariam por morrer devido às condições terríveis do campo."
A adesão esperada "das zonas operárias da margem sul e a insurreição dos meios urbanos contra o regime," acabou por não acontecer. "Deflagraram várias bombas em Lisboa, em Coimbra e no Barreiro e várias fábricas paralisaram, mas sem impacto significativo," uma vez que as "forças do regime entraram imediatamente em ação e os focos grevistas" acabaram afinal por ser "rapidamente dominados."
Esta data "teve um profundo impacto nos círculos da oposição ao regime de Salazar, agravando as divisões e a desconfiança entre anarco-sindicalistas e comunistas e afetando gravemente as organizações operárias em Portugal."
Fontes:
https://vozoperario.pt/jornal/2024/01/09/90-anos-da-greve-de-18-de-janeiro-uma-revolta-antifascista/
https://ensina.rtp.pt/artigo/revolta-da-marinha-grande/
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