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55 anos - a ponte que liga as duas margens

por Elsa Filipe, em 06.08.21

A ponte faz parte das nossas vidas e já não nos imaginamos a olhar o Tejo sem a ter ali. Depois de vários estudos e projetos a Ponte abria ao tráfego a 6 de agosto de 1966, na altura apenas com um tabuleiro, faz hoje 55 anos. Batizada primeiramente com o nome Ponte Salazar, foi cerca de seis meses depois da Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974, que ganhou o seu nome atual.

A ponte que liga as duas margens do Tejo é muitas vezes comparada com a Golden Gate, em São Francisco, devido às semelhanças entre as duas e por ter sido fabricada pela mesma empresa.

Apesar de já existirem projetos para a construção de uma ponte sobre o estuário do Tejo desde finais do século XIX, foi apenas na década de 1950 que o governo português do Estado Novo avançou com a construção de uma ponte para ligar as duas margens da área metropolitana de Lisboa

De facto, a primeira ideia sobre a construção de uma ponte que ligasse a cidade de Lisboa a Almada, situada na margem esquerda do Tejo, remonta ao ano de 1876. Naquela altura, o engenheiro Miguel Pais sugeriu que a sua construção fosse feita entre Lisboa e o Montijo.

Nos princípios da década de 1950, um dos defensores da construção da ponte sobre o Tejo em frente de Lisboa foi o deputado Pinho Brandão, que na sessão de 28 de Outubro de 1952 da Assembleia Nacional, sugeriu que aquela obra fosse adjudicada como parte das comemorações dos vinte de cinco anos do governo de Oliveira Salazar. A 4 de Dezembro, durante a discussão do Plano de Fomento Nacional, defendeu que a construção da ponte fosse incluída naquele importante programa económico. 

A comissão apresentou o seu relatório em 1957, tendo proposto duas soluções para a travessia do rio, por túnel ou por ponte.Ainda nesse ano, o Ministro das Obras Públicas, Eduardo de Arantes e Oliveira, inseriu a construção da ponte no II Plano de Fomento, e em 2 de Maio de 1958 foi formado o Gabinete da Ponte sobre o Tejo, dirigido por José do Canto Moniz. Antes de se iniciarem os trabalhos propriamente ditos, foi necessário estudar estruturas semelhantes noutros locais.O engenheiro Luís Canto Moniz, sobrinho de José Canto Moniz, foi uma das pessoas encarregues dessa missão. O concurso público internacional iniciou-se em 27 de Abril de 1959, e em 3 de Março de 1960 foram abertas as propostas, tendo quatro empresas concorrido para esta obra. 

A 25 de Fevereiro de 1961 foi assinado o contrato com a empresa United States Steel Export Company, no valor de 1 764 190 contos, estipulando a conclusão das obras até 1966. A empresa apresentou o plano definitivo para a ponte em 3 de Novembro desse ano, que foi aprovado em 9 de Maio de 1962, levando desta forma à adjudicação definitiva para a obra.

A construção começou em novembro de 1962 e prolongou-se por quatro anos. Foram pelo menos 20 os trabalhadores que perderam a vida, bem mais do que o anunciado na altura.

Com início dos trabalhos, no dia 5 de novembro de 1962, e um prazo estipulado de 51 meses, a obra compreendia a construção da ponte sobre o rio, a realização de um complexo rodoviário que incluía cerca de 15 quilómetros de autoestrada, um viaduto sobre Alcântara, com 945 metros de extensão e um túnel sob a praça da portagem na margem Sul destinado a receber a plataforma ferroviária do eixo de ligação da rede a norte com a rede a sul do rio Tejo.

Às 10h39 do dia 10 de janeiro de 1963 é lançado às águas do Tejo o primeiro "caixão" de um conjunto, que serviu para montar a ancoragem Sul, no leito do rio, que iria receber um dos pilares da ponte.
 



Estiveram envolvidos na construção, diariamente, cerca de três mil operários, tendo a empreitada durado menos do que o previsto, sendo entregue e dada como pronta no dia 27 de maio de 1966, dez meses antes da data prevista.


Com as fundações criadas e as duas torres principais construídas, foi necessário estender dois passadiços (passeio do gato, ou catwalk, em inglês), um de cada lado das torres, para facilitar a deslocação dos trabalhadores da obra e para que fosse possível começar a fiação dos cabos principais.



 
 
A Ponte sobre o Tejo, cinquenta anos depois, em pouco se diferencia do dia da inauguração.

Composta por duas torres principais de aço carbono, com uma altura de 190,5 metros acima do nível da água, a 483 metros de cada margem, as torres assentam na rocha basáltica a mais de 80 metros abaixo da superfície das águas do Tejo.

Sendo uma ponte suspensa, com um comprimento total de cerca de 2.280 metros, o tabuleiro rodo-ferroviário foi inicialmente suportado por um cabo suspenso.

Estas foram as principais estruturas as serem construídas suportando todo um vasto tabuleiro com 1.979 metros de comprimento, sendo o restante tabuleiro suportado por pequenas torres de suporte e sustentação. As torres, cada uma composta de duas pernas ou montantes principais, são contraventadas entre si por cinco peças em forma de 'X' e duas travessas horizontais, uma no topo da torre e a outra abaixo do nível da viga de rigidez.



No topo de cada torre foram colocadas e seladas duas grandes peças de aço fundido, que dão apoio aos dois cabos principais de suspensão, constituídos por fios de aço paralelos, organizados em 37 feixes com 304 fios cada um.



Todo este conjunto de fios de aço é cintado e apertado de modo a formar, em todo o percurso suspenso, um cabo com 58,6 cm de diâmetro.



A viga de rigidez e o tabuleiro são suspensos desses grandes cabos que amarram a dois maciços de betão, localizados nas margens. A grande viga de rigidez, com 21 metros de largura e 10,65 metros de altura, contínua em toda a sua extensão, é constituída por elementos soldados que foram depois fixados com parafusos de alta resistência.

O tabuleiro, uma das mais longas treliças do mundo, está assente na viga de rigidez, constituído por um conjunto de longarinas e carlingas de aço sobre as quais assentam painéis formados por uma grelha do mesmo material.



Para além da estrutura em aço, a ponte conta ainda com um grande viaduto, na vertente norte, sobre a zona de Alcântara, com um comprimento de 945 metros, constituído por um conjunto de 11 pilares gémeos, em betão armado, que se encontram ligados por uma travessa horizontal a dez metros do topo, destinada a suportar o tabuleiro ferroviário, bem como a respetiva zona de amarração dos cabos.



Na margem Sul, para além da zona de amarração, há que referir o túnel, com mais de 600 metros, construído sob a praça da portagem rodoviária, para receber a plataforma ferroviária do eixo de ligação norte-sul.
Passou a ser, na altura, a ponte com o maior vão suspenso da Europa e o quinto maior do Mundo.
Todo o empreendimento foi inaugurado a 6 de agosto de 1966, do lado de Almada, na presença das mais altas individualidades portuguesas, entre as quais o Presidente da República, Almirante Américo de Deus Rodrigues Tomás, o presidente do Governo, António de Oliveira Salazar, e o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, passando a ser chamada, oficialmente, Ponte Salazar.

 

Fontes:

https://www.rtp.pt/noticias/pais/construcao-da-ponte-25-de-abril_es938173

https://www.lisboa.net/ponte-25-abril

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ponte_25_de_Abril

Imagens retiradas do site RTP 

 

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publicado às 18:37



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