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Este ano, fui pela primeira vez para Lisboa para comemorar um dos feriados mais importantes que hoje temos. E foi um dia muito bem passado, apesar de não ter ficado para assistir ao desfile na Avenida da Liberdade, ponto alto das comemorações e que, pelo que pude constatar depois pela televisão, terá mesmo superado qualquer desfile efetuado até hoje.

Saímos de barco até ao Cais do Sodré e logo aí deu para perceber que ia muita gente a camnho de Lisboa para fazer o mesmo que nós. No banco da frente, um casal, com uma criança conversava sobre a Revolução. Ele, português, explicava à sua companheira, brasileira, como é que tinha sido a Revolução que terminara com o regime, com a ditadura e com a falta de liberdade do povo. "Que lindo! Lá não foi nada assim... morreu muita gente" responde ela a certa altura, com um misto de admiração pelo povo português e de tristeza ao relembrar o tempo de ditadura que, no Brasil, "terminou" em 1985. Voltei a vê-los mais tarde no Terreiro do Paço (ou, Praça do Comércio), assim como muitas outras famílias e grupos que tinham apanhado o mesmo barco que nós. 

No Terreiro do Paço, havia uma alegria e emotividade bastante presente nas pessoas e reparei desde logo numa coisa: um grande número de crianças, acompanhadas pelos seus pais e algumas também pelos avós! Ali estava representada a passagem de testemunho que se pretende alcançar com estas celebrações. É que em parte alguma me senti envolvida em saudosismos ou em tristeza. Desde que cheguei a Lisboa que o sentimento geral era de reconhecimento pelo valor dos nossos combatentes do Ultramar, pelas ações não só dos participantes conhecidos do MFA, mas sobretudo pelo reconhecimento daqueles que participaram nas ações que levaram à Revolução. A restauração das viaturas penso que foi um dos maiores sucessos uma vez que, ao porem estes carros na rua, dois feitos foram alcançados: restaurar memórias a uns, dar a conhecer o passado, a outros.

"No total, 14 viaturas foram restauradas desde 2018, em Paço de Arcos e Santa Margarida. O trabalho foi feito pela Associação Portuguesa de Veículos Militares Antigos, com o apoio do Exército Português."

As crianças e os jovens estavam delirantes com o facto de se poderem sentar-se nas viaturas, ou entrar dentro da conhecida chaimite Bula. A presença de muitos ex-combatentes trouxe também uma grande emotividade. Se de manhã cedo, vi na televisão o desfile destas viaturas, ainda na presença das altas-entidades, perto da hora do almoço, as mesmas viaturas deslocaram-se do Terreiro do Paço, até ao largo do Carmo, acompanhadas por um mar de gente que ia aplaudindo entusiasticamente. Nesta deslocação, muitas pessoas (além dos ex-combatentes presentes e de alguns militares que os acompanhavam) tiveram a oportunidade de fazer este percurso sentadas nas viaturas, ou empoleirdas nas mesmas.

À tarde, aproveitamos para conhecer alguns locais, como a Igreja de S. Domingos (no largo de S. Domingos, perto da Praça D. Pedro IV, vulgo Rossio), de mostrar ao meu filho a estação do Rossio, que pela sua dimensão é um pouco diferente daquelas que ele já conhecia e de lhe apontar alguns edifícios importantes naquela zona - como por exemplo, o Café Nicola (por cima do qual, terá vivido Eça de Queirós), o Teatro D. Maria II, com a sua fachada lindíssima e o emblemático elevador de Santa Justa (o qual digo desde já, desculpem, mas está demasiado caro para ser utilizado, pelo que apenas o apreciamos do exterior).

Descemos pelas escadinhas do Carmo e, confesso, fiquei super feliz por encontrar café a um preço normal de 0.75€ num local típico que se chama Ginginha do Carmo e que é uma pequena loja encaixada por baixo das escadinhas e que data de 1930! Um pouco mais tarde, subimos pela ingreme e típica calçada do Carmo, o que acabou por me estragar um pouco o resto do dia, porque a meio da subida os meus joelhos deixaram de querer colaborar.

Depois do meu filho ter voltado a  subir aos muitos veículos militares, no meio de um mar de gente que inundava o largo do Carmo, fomos visitar o Quartel do Carmo (que neste dia e, até dia 12 de maio, tem visitas gratuitas - vão que vale muito a pena). Dizer que o Quartel do Carmo, que já foi um convento e que é o quartel da GNR desde a 1ª República (1910), está muito bem preservado e tem uma exposição, não só alusiva ao 25 de Abril de 1974, mas à história da Guarda, desde o tempo da monarquia.

É engraçado pensarmos que o "Quartel do Carmo foi o último bastião da monarquia em Portugal que caiu a 5 de outubro de 1910" e que mais tarde, no dia "25 de abril de 1974 foi palco da «Revolução dos Cravos» que pôs fim ao regime autoritário de 48 anos em Portugal, dando lugar à liberdade e à democracia." Foi neste quartel que Marcello Caetano se refugiou para tentar escapar dos revoltosos e, de onde, ao fim do dia a chaimite Bula lhe serviu de transporte pelo meio da multidão, levando-o até ao quartel da Pontinha junto com alguns dos seus ministros (essa zona também teria sido interessante de visitar...). Uma placa circular dedicada aos revoltosos e, em especial, ao papel determinante de Salgueiro Maia, assinala desde 1992 nessa praça o local onde no dia 25 de abril de 1975, estava o veículo militar que disparou contra as janelas do quartel do Carmo.

O próprio largo em si é digno de uma visita, pela sua história e pela espetacularidade dos seus edifícios. Desde logo, aqui resistem as ruínas do Convento do Carmo, construído no século XIV, onde se encontra instalado o Museu Arqueológico do Carmo (que não visitamos por estar muita gente, mas que tem um valor de 5€ para residentes em Lisboa e 7€ para os não-residentes). No meio do largo, encontramos um chafariz que data de 1771 e que é abastecido pelo Aqueduto das Águas Livres. Neste largo, residiu Fernando Pessoa.

Começou a levantar-se algum vento e, como o meu joelho direito, devido ao esforço, decidiu aliar-se à minha anca e quase me vi incapaz de andar, resolvemos terminar o nosso passeio com  um geladinho, sentados nos degraus do monumento escultório que representa D. Pedro IV. Não ficamos para a marcha pela Avenida da Liberdade, com grande pena minha... nem conseguimos ir ao Quartel da Pontinha, outro local emblemáticos nestas comemorações, mas felizmente, as televisões permitiram-me já em casa, acompanhar os vários momentos importantes que aí decorreram.

Que venham mais 50, mais 100! Que a liberdade não caia, que as janelas não se encerrem e as portas de Abril não se encerrem!

Fontes:

http://arquivomuseugnr.pt/entrada.aspx?Pagina=Convento%20do%20Carmo-&IDP=0

https://sicnoticias.pt/video/2024-04-07-25-de-Abril-viaturas-historicas-foram-recuperadas-para-reconstituir-coluna-militar-4410c3e6

 

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publicado às 23:33


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