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Há 50 anos Portugal vivia em ditadura, mas a coragem de um grupo de capitães e de todos os militares que os seguiram sem virar as costas, mesmo podendo fazê-lo, fez com que hoje eu e todos os cidadãos deste país, possamos viver em democracia. A liberdade foi uma conquista que se celebra com uma data, mas que foi preparada e tentada em várias ações e com muita luta e, não devemos esquecer cada um desses momentos, nem as pessoas que os fizeram. Às vezes, resumimos Abril a meia dúzia de pessoas que tiveram um papel fundamental e que por isso ficaram reconhecidas. Mas porque o golpe deu certo. Temos de relembrar também todos os ex-combatentes, temos de lembrar todas as figuras que estiveram nos bastidores e todos aqueles que deram a cara por nós, pelo nosso povo!

Logo, irei possivelmente dar um passeio até ao Seixal, onde se prepara já uma grande festa de celebração, porque temos de dar a cara, temos de estar presentes e temos de continuar a semear cravos. O nosso contributo tem de ser nas ruas e tem de ser no local e momentos próprios. Amanhã (daqui a umas horas) celebraremos meio século da Revolução. 

Somos um país que reclama. Mas somos um país que só reclama porque estes capitães se juntaram num posto de comando na Pontinha (mais especificamente num barracão de arrumações do Regimento de Engenharia n.º 1)  e daí comandaram todas as movimentações das tropas que fizeram a Revolução. Hoje peço que se fale mais disto nas escolas - não se pintem só cravos, falem com as crianças e com os nossos jovens sobre estas pessoas. Que saibam que foi Salgueiro Maia que disse:

"Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas, os estados capitalistas e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos”.

Que saibam que foi a voz de João Paulo Dinis que anunciou "aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa: «Faltam cinco minutos para as vinte e três horas. Convosco, Paulo de Carvalho com o Eurofestival 74, «E Depois do Adeus», uma canção de José Niza." E que esta foi a primeira senha para o avanço das tropas. Quantos conhecem o capitão Bicho Beatriz, o capitão Pombinho, o capitão Santos Coelho e, tantos outros, capitães, tenentes e soldados que, naquela noite, podiam ter sido presos ou morrido, mas que mesmo assim, foram em frente.

Nos livros da escola, não se fala no capitão Santos Silva, nem do Capitão Mira Monteiro, nem do capitão Patrício, e nem dos "tenentes Andrade Silva, António Pedro, Sales Grade, Ruaz e Nave," e nem do papel do Major Fontão durante as operações.

Quantos saberão que na Rua Capelo, na Rádio Renascença, Paulo Coelho, "locutor de serviço, nessa noite, no programa «Limite», sem saber dos compromissos assumidos por dois dos seus colegas, Carlos Albino e Manuel Tomás, quase faz perigar a transmissão da senha à hora exata por ter antecipado a leitura de anúncios publicitários." Foi preciso que "no final da leitura do primeiro anúncio, Manuel Tomás, também presente na cabine técnica," tenha dado "um pequeno safanão (aparentemente sem intenção) na mão do técnico de som José Videira," provocando o "arranque da bobine que" continha a senha. "Então, pela voz previamente gravada de Leite de Vasconcelos, através dos potentes emissores da Rádio Renascença, ouve-se a primeira quadra da canção Grândola, Vila Morena, de José Afonso. Já no final da transmissão, o agente da Censura, ali presente, dá sinais de que escutara algo que não previra." Ali, tudo podia ter ido por água abaixo.

E que, a preparação para a movimentação, tenha passado por sabotagem? O "oficial do MFA, Capitão Rosário Simões tinha acordado que a sua missão seria neutralizar a unidade evitando a sua ação contra o Movimento, pois a maioria dos oficiais não era aderente. Na véspera foram sabotadas as Bocas de Fogo por forma a não poderem ser utilizadas, mas com capacidade de retorno rápido caso elas viessem a ser necessárias para o Movimento."

Apesar de todas as movimentações que aconteciam pelo país, às 03h16m, a interceção de uma chamada telefónica "entre o Ministro da Defesa, Dr. Silva Cunha e o Ministro do Exército Gen. Andrade e Silva," dá a conhecer ao Posto de Comando das operações que àquela hora "o Regime não tinha conhecimento do desenrolar das ações."

A coluna que entrou nessa madrugada em Lisboa e que era comandada pelo capitão Salgueiro Maia, "era composta por um Esquadrão de Reconhecimento a 10 Viaturas Blindadas e um Esquadrão de Reconhecimento a 160 homens com 12 viaturas de transporte, 2 Ambulâncias e 1 Jeep." Depois de ocupados vários pontos fundamentais, entre eles o aeroporto de Lisboa, foi dada ordem para que os elementos que tinham ocupado o Rádio Clube Português transmitissem o 1.º Comunicado. "Foi com emoção que em todo o País centenas de militares ouviram pela voz de Joaquim Furtado o primeiro de vários comunicados que haviam sido redigidos pelo Maj. Vitor Alves. Estava previsto que os comunicados seriam lidos pelo Maj. Costa Neves, no entanto, Joaquim Furtado, locutor de serviço ao RCP, ao saber das intenções do Movimento de imediato se prontificou para o fazer. No comunicado pede-se para que a população se mantenha calma e apela-se à classe médica para ocorrer aos hospitais."

Ao longo do dia, a emissão do RCP prossegue com a leitura de outros comunicados que iam colocando a população a par do que se passava, mas também com a transmissão de "canções de luta, algumas delas há muito proibidas ouviram-se: José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Jorge Letria, Luís Cília, José Mário Branco."

Às 7h30m, uma "coluna da GNR que estacionara no Campo das Cebolas avança para o Terreiro do Paço. O Cap. Salgueiro Maia dirige-se ao Comandante da coluna dizendo-lhe que deve sair da zona pois não tem potencial para o enfrentar. O Comandante da Coluna obedece e retira."

Muitos foram também os episódios em que representantes das forças do Regime, acabaram por se mudar para o lado dos revoltosos. E eu penso que isso fez toda a diferença, para que o número de vítimas, tivesse sido tão baixo. 

A fragata N.R.P. Alm. Gago Coutinho, "integrava uma força NATO (StaNavForlant) que navegava rumo à barra Sul do Porto de Lisboa, com destino a Nápoles, quando recebe ordem do Vice-Chefe do Estado Maior da Armada, Almirante Jaime Lopes, para abandonar a formatura e colocar-se frente ao Terreiro do Paço à ordem do Estado Maior da Armada." 

Pelas 7h50m, o Almirante Jaime Lopes, "dá ordem ao Comandante do navio para abrir fogo sobre os tanques do Exército posicionados no Terreiro do Paço. O Comandante da unidade não cumpre a ordem, alegando que estava muita gente no Terreiro do Paço e , também, que vários cacilheiros se encontravam nas proximidades."

Por volta das 8h30, o "Ministro do Exército" apercebe-se da ocupação do Terreiro do Paço e vendo a sua situação muito complicada, "ordena a abertura, à picareta, de uma parede de tijolo que dava para o Ministério da Marinha. Aí conjuntamente com o Ministro da Marinha e outras entidades fogem, dirigindo-se para o parque de estacionamento da Marinha entrando para uma carrinha que os irá conduzir ao RL2." Mais ou menos à mesma hora, a fragata Gago Coutinho, "recebe uma comunicação do Posto Comando da Marinha efetuada através da Esquadrilha de Submarinos e do Centro de Comunicações da Armada, onde se encontrava o Cap. Ten. Almada Contreiras, dando indicação para o navio sair a barra." Caldeira dos Santos, 1º Tenente, informa que "a situação a bordo está controlada e que a guarnição estava com o Movimento."

Às 14h00m, o Secretário de Estado da Informação e Turismo, Dr. Pedro Pinto, já se "apercebera da inevitabilidade da queda do regime. Resolve assumir a mediação entre o Governo e o General Spínola. O Dr. Nuno Távora, Chefe de Gabinete do Dr. Pedro Pinto desloca-se a casa do General António de Spinola entregando-lhe uma carta do Secretário de Estado." Duas horas depois, o "Dr. Nuno Távora e o Dr. Feytor Pinto são recebidos pelo Prof. Marcelo Caetano" que é informado "da disponibilidade do Gen. Spínola para aceitar a sua rendição e assumir o poder." Pouco tempo depois, Marcelo Caetano reune com o capitão Salgueiro Maia e é ao aperceber-se da inevitabilidade da situação, que decide render-se desabafando: “assim o poder não cai na rua." Às 16h45m, o general Spínola fica "mandatado pelo PC para receber a rendição de Marcelo Caetano. Spínola é também informado que os dirigentes do regime serão conduzidos ao Funchal por um DC 6 da Força Aérea."

Às 19h30m, o Capitão Salgueiro Maia teme que, "perante um Largo do Carmo a transbordar de população entusiasmada" se possa desenrolar uma onda de violência durante a operação de retirada "dos membros do regime do Quartel do Carmo." É numa chaimite, de nome Bula, que são retirados "Marcelo Caetano, Rui Patrício, César Moreira Baptista e outros membros do Governo."

O que mostrou a força desta revolução também foi o apoio do povo! Ainda antes do poder passar para o lado dos revoltosos, já as pessoas que entretanto se juntavam nas ruas, festejavam a queda do Regime. A felicidade estava estampada nos mesmos rostos onde antes havia medo. Às 20h30, o povo de Lisboa que desde manhã seguia as movimentações militares, "começava a engrossar pelas ruas da Baixa, à medida que as Forças do Movimento iam conquistando objetivos. A população começou a dirigir-se maciçamente para a sede da PIDE/DGS na Rua António Maria Cardoso." Infelizmente, às 21h00m, os agentes da "PIDE, vendo a sua sede cercada de população, abrem fogo indiscriminado tendo efetuado 4 mortes e 45 feridos que serão socorridos pela Cruz Vermelha e encaminhados para o Hospital S. José e Hospital Militar." São estas as quatro vítimas que se lamentam deste dia e que o ensombram, mesmo não tendo sido por culpa dos militares revoltosos, mas sim de um grupo de agentes da PIDE.

No fim, nem tudo correu como desejado. Por volta das 23h45m, a Junta de Salvação Nacional "reune-se" e é aprovada "a Proclamação da Junta" que designa como "Presidente da República, o General António de Spínola. Esta designação foi contrária ao anteriormente acordado com o MFA que escolhera o General Costa Gomes."

Apesar de tudo, é proclamada a primeira lei da primeira República pós-regime.

"Lei n.º 1/74: destitui das suas funções o Presidente da República e o Governo, dissolve a Assembleia Nacional e o Conselho de Estado e determina que todos os poderes atribuídos aqueles aos referidos órgãos passem a ser exercidas pela JSN."

O decreto-lei nº 169, vem também dar início ao processo de descolonização e ao fim da guerra colonial.

"DL n.º 169/74: exonera os Governadores Gerais dos Estados de Angola e Moçambique e determina que as suas funções passem a ser desempenhadas interinamente pelos Secretários Gerais desse Estados."

À 01h30m, já no dia 26 de abril, é lida já "perante as câmaras da RTP, a Proclamação da Junta de Salvação Nacional" por António de Spínola.

Às 07h00m, o "Almirante Américo Tomás, sob escolta de uma força do Movimento, comandada pelo Ten. Cor. Almeida Bruno segue para o aeroporto de Lisboa. À mesma hora o Ten.Cor. Lopes Pires acompanha o Prof. Marcelo Caetano e os ex-Ministros Silva Cunha e Moreira Baptista ao aeroporto onde todos embarcam" num avião da "Força Aérea rumo ao Funchal onde ficam com residência vigiada."

Só no dia 26, pelas 9h30m, os homens do RC3 "desarmam os agentes da PIDE/DGS e passam revista às instalações."

E tantas pessoas se poderiam ouvir sobre o que aconteceu nestes dias! Que outros pontos de vista interessante teríamos concerteza sobre a Revolução que, teve o seu ponto alto no dia 25 mas não se esgotou no Terreiro do Paço, nem no largo do Carmo. Amanhã, muitos irão descer a Av. da Liberdade. Absorvam tudo o que puderem, porque são 50 anos de liberdade!

Fontes:

https://ensina.rtp.pt/artigo/a-revolucao-de-25-de-abril-de-1974/

https://www.castilholegalcorp.com/pt/publicacoes/capitaes-de-abril-a-memoria-de-um-futuro-incerto/194/

https://a25abril.pt/base-de-dados-historicos/o-dia-d/

 

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