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Gosto de escrever e aqui partilho um pouco de mim... mas não só. Gosto de factos históricos, políticos e de escrever sobre a sociedade em geral. O mundo tem de ser visto com olhar crítico e sem tabús!
O Dia da Mulher foi oficializado pela "Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975," mas por muitos países já é comemorado desde o início do século XX. Só em "1979 foi aprovada a Convenção para a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres."
Podemos dizer que esta data está ligada à luta das classes operárias, em especial, à luta pela igualdade dos direitos das mulheres. Nesta data, assinala-se a desfesa de importantes "causas como o direito ao voto, a igualdade salarial, a maior representação em cargos de liderança, a proteção em situações de violência física e/ou psicológica ou o acesso à educação." Infelizmente, em demasiados países, estes direitos continuam ainda por cumprir.
As minhas mulheres, fizeram de mim o que sou hoje (sem desprezo aos homens, mas hoje é o dia delas). Nas minhas mulheres, admiro a força, a coragem, o trabalho e a determinação. Elas me mostraram que nunca se deve baixar a cabeça perante um desafio, que nunca me devo achar inferior a ninguém e que posso e devo lutar pelos meus direitos e defender as minhas conquistas com orgulho. Identifico-me com as minhas raízes e uma das coisas que é notável ao longo da história da vila onde nasci, é que embora fossem os homens a ir para o mar (algumas mulheres também o faziam) quem ficava a cuidar e a defender a terra eram sobretudo as mulheres! A elas cabia administrar a casa e, claro, assumiam por isso muitas vezes a posição de cabeça de casal, que antigamente em muitas outras regiões cabia apenas ao homem.
Quando a minha avó nasceu, instalava-se a ditadura em Portugal e, até 1974, não conheceu outra maneira de viver. Mas isso, nunca a calou nem fez baixar os braços. No ano em que a minha mãe nasceu, era presidente da República Américo Tomás, mas o país ainda era governado por Salazar.Durante a década de 60, o nosso país estava a ser fortemente reprimido, muitos jovens eram enviados para as ex-colónias e lá morriam ou ficavam estrupiados, condenados a viver para sempre com traumas de guerra. Muita gente é levada a emigrar. A minha mãe tinha 14 anos quando a Revolução saiu à rua e, também ela, saiu para celebrar a liberdade. Tenho a certeza que isso a marcou.
Apesar de não terem tido uma vida nada fácil, com muitas marcas psicológicas (e também físicas) estas mulheres conseguiram depois ser, para mim e para a minha irmã, as grandes referências como exemplos de vida a seguir. Como elas, não nos coibimos de dar a nossa opinião, sabendo que, se somos livres hoje, foi porque elas e outras como elas, não se calaram e não deixaram que ninguém as calasse.
Mas na nossa história temos vários exemplos importantes, sendo que apenas vou referir cinco delas, apesar de serem imensas. Muitas vezes, o que fizeram na sua época não foi tão divulgado, mas felizmente hoje em dia, embora tardiamente, já são de alguma forma valorizadas.
A primeira de quem quero falar é de Carolina Beatriz Ângelo, que foi "a primeira médica a operar no Hospital São José em Lisboa, a primeira mulher a ser considerada “chefe de família”, e sobretudo, a primeira mulher a votar em 1911!" Ela foi a primeira mulher a lutar "pela emancipação das portuguesas." Na época, a lei vigente considerava que “todos os cidadãos maiores de 21 anos, chefes de família, que soubessem ler e escrever” podiam ter um papel ativo na vida política do país. Carolina tinha 33 anos e tinha ficado viúva, com uma filha a seu cargo, o que fazia dela chefe de família. Ao ser médica, estaria implícito na sua formação que sabia não só ler e escrever, mas também tinha formação superior. Carolina foi então a tribunal, invocar "o direito de ser considerada chefe de família" e de poder votar. Conseguiu o seu propósito, embora mais tarde infelizmente, tenha sido acrescentado à Lei que apenas os “chefes de família do sexo masculino” poderiam votar.
Um outro nome importante é o de Sophia de Mello Breyner Andresen, nascida em 1919 e que se destacou tanto na escrita e poetisa, como na luta pela liberdade e pela democracia. Conhece Francisco Sousa Tavares e com ele se junta "à luta contra o regime de Salazar. Apoiou a candidatura de Humberto Delgado, em 1958, e teve em Mário Soares e em Maria Barroso, amigos para a vida." Em 1969, "foi candidata a deputada, juntamente com o marido, pela CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática), considerado o início do Partido Socialista." Depois do 25 de abril, foi uma das cinco mulheres que foram eleitas deputadas "à Assembleia Constituinte. A 2 de agosto de 1975 fez a sua primeira intervenção parlamentar e participou na Comissão para a Redação do Preâmbulo da Constituição, à qual presidiu, em 1976. Foi "a primeira mulher a receber o Prémio Camões." Sophia morreu em 2004 e, desde 2014 que o seu corpo está no Panteão Nacional.
Continuando com outra escritora, quero destacar também a ativista Natália Correia, que nasceu em 1923 e fo"i poetisa, dramaturga e jornalista." Natália Correia nunca deixou de expressar "o seu desagrado em relação ao regime do Estado Novo, tendo apoiado a candidatura de Humberto Delgado e manifestado publicamente a sua amizade com Francisco Sá Carneiro." Acaba por ser até condenada a três anos de prisão (com pena suspensa, pela publicação de uma obra considerada ofensiva para os costumes) e foi processada por ter tido a responsabilidade editorial das Novas Cartas Portuguesas (o livro das Três Marias)." Desempenhou um importante papel político "no que diz respeito à luta pelos Direitos Humanos e pelos Direitos das Mulheres." É da sua autoria "o Hino dos Açores" e foi também "cofundadora da Frente Nacional para a Defesa da Cultura."
Destaco aqui também Maria de Lourdes Pintassilgo, que nasceu em Abrantes, em 1930. "O seu percurso académico e profissional foi marcado com momentos de avanços significativos para as mulheres. Primeiro, ao ingressar na licenciatura em Engenharia Químico-Industrial, tornou-se uma de três mulheres no curso, quando muito poucas frequentavam o ensino superior. Tornou-se a primeira mulher a ingressar os quadros técnicos superiores da Companhia União Fabril (CUF). Ainda durante o Estado Novo, foi convidada por Marcelo Caetano para se candidatar a deputada à Assembleia Nacional, tendo sido a primeira mulher a exercer funções como procuradora à Câmara Corporativa nas duas últimas legislaturas deste órgão, até abril de 1974. Presidiu, ainda, ao Grupo de Trabalho para a Participação da Mulher na Vida Económica e Social e à Comissão para a Política Social relativa à Mulher (mais tarde denominada Comissão da Condição Feminina). Em 1975, tomou posse como embaixadora junto da ONU para a Educação, Ciência e Cultura." Maria de Lourdes torna-se "a primeira mulher primeira-ministra em Portugal" quando aceita o convite feito por "Ramalho Eanes para chefiar o Governo de Gestão de 1979 a 1980."
Uma outra mulher, bem conhecida e com um percurso digno de destaque foi Manuela Ferreira Leite nascida em Lisboa em 1940. Licenciou-se em economia e "foi chefe de gabinete de Cavaco Silva, em 1980, quando este desempenhava as funções de Ministro no Governo de Francisco Sá Carneiro." No início de 90, "assumiu a Secretaria de Estado do Orçamento e, entre 1993 e 1995, o Ministério da Educação, numa altura de grande contestação, tendo sido, pelo seu perfil austero, apelidada de Margaret Thatcher. Foi eleita deputada à Assembleia da República em 1995 e, em 1999, presidente da Comissão Parlamentar de Economia, Finanças e Plano. Foi também a primeira mulher líder de um Grupo Parlamentar (PSD), entre 2001 e 2002." Nesse ano, "foi nomeada Ministra de Estado e das Finanças, tendo, também aqui, sido a primeira mulher portuguesa a assumir estas funções."
Fontes:
https://eurocid.mne.gov.pt/eventos/dia-internacional-da-mulher
https://lisboasecreta.co/10-mulheres-portuguesas/
https://josefinas.com/pt/blog/12-mulheres-portuguesas-que-merecem-destaque
https://www.parlamento.pt/Parlamento/Paginas/Exposicao-As-mulheres-que-mudaram-Portugal.aspx
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