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Gosto de escrever e aqui partilho um pouco de mim... mas não só. Gosto de factos históricos, políticos e de escrever sobre a sociedade em geral. O mundo tem de ser visto com olhar crítico e sem tabús!
Quando falamos em Sesimbra temos de falar em carnaval. O carnaval nasceu muitos anos antes das primeiras escolas de samba, tendo as suas origens nos bailes e nas noites de folia em que os grupos de mascarados tentavam ser cada vez mais arrojados e marcar a diferença. As noites de carnaval eram um espaço de alguma liberdade numa época em que essa liberdade estava vedada à maior parte dos portugueses.
Foram os grupos, de rapazes e raparigas, que se reuniam para brincar ao Carnaval que depois vieram dar origem aos GRES de agora. Entre eles, não nos podemos esquecer das "Malvadas", dos "Turumbamba", dos "Papuas" e, dos grupos "MariSamba" ou dos "Cheirinhos da Fossa," entre outros. De facto, o Carnaval de Sesimbra vem de grupos como os "Caga no Rego", do "Grupo de Carnaval" e de todos os outros grupos de foliões e mascarados que se reuniam nos bailes na Praça Velha, no Refugo, no Grémio, na Sociedade Musical Sesimbrense, no Hotel Espadarte, no salão dos Bombeiros e no Ginásio.
Um dos primeiros grupos e que vem depois dar origem ao atual GRES Bota no Rego "foi fundado por um grupo de foliões" que apenas se queriam "divertir no Carnaval noturno em Sesimbra. Maria Cândida Covas, mais conhecida por "Marquinhas," juntou-se com os amigos do colégio e "pensaram em levar para as ruas de Sesimbra as ideias originais que chegavam do outro lado do Atlântico" e que viam nas "revistas brasileiras de Carnaval que havia na casa da avó." Estavamos em 1974. As primeiras fantasias começaram a tomar forma: "primeiro a de palhaço sem mascarilha, depois os malmequeres e jardineiros a cantar o Vira dos Malmequeres, da Tonicha, por fim os verdadeiros sons dos instrumentos e até um pequeno carro de rolamentos."
A pedido dos habitantes da Vila de Sesimbra, que acharam as fantasias muito bonitas, começaram a desfilar na terça-feira de Carnaval durante o dia." A fundação da Escola é a 5 de março de 1976. Nos dois primeiros anos, o nome era "Caga no Rego" mas como era um nome pouco consensual, em 1978 mudou para Bota no Rego.
Em 1977, desfilaram além do grupo "Caga no Rego", os "Cheirinhos da Fossa" e o "Ginga no Pandeiro." Nos primeiros tempos, o apoio não era muito e, claro, havia pouca experiência na elaboração dos fatos e dos carros alegóricos. E foi através dos bombeiros que conseguiram pela primeira vez levar uma "bateria" para a rua, muito diferente das que hoje vemos desfilar.
Os temas foram-se sucedendo, "Cleópatras", "Astérix e os Romanos", "Atlântida", "Os planetas e as Estrelas" e "O Futuro", foram alguns dos temas trabalhados nos primeiros anos. "Em 1988, o Bota no Rego leva para a Avenida um enredo representativo dos Quatro elementos, já mostrando uma conceção mais elaborada, fruto das tentativas e aprendizagens conseguidas ao longo da sua primeira década de vida.
1990, foi um ano complicado para todas as escolas que faziam o carnaval de Sesimbra. Um dos casos foi o da Escola Marisamba. Não foi por isso, um mero acaso, que a Escola Marisamba e o Bota no Rego, se tenham na altura reunido e decidido juntar esforços e criar uma escola única. Na época, isso levou ao crescimento e à melhoria do carnaval de Sesimbra. Em 1995 não houve desfiles, devido à morte dos pescadores do barco "Menino Deus", uma das maiores tragédias que atingiu a nossa vila. Nesse ano, não havia condições nem vontade de festejar o Carnaval.
Ao longo dos anos, o Bota no Rego foi crescendo e a evolução para novas valências não tardou, com o aparecimento do seu próprio "Grupo de Teatro, uma Academia de Música e uma Orquestra designada por Bota Big Band regida pelo seu próprio maestro." Em 2011 iniciou o projeto MegaSamba," que já é uma referência do verão sesimbrense. Em 2019, altera a sua denominação para G.R.E.S. Bota.
Um outro grupo era o de Arménio Sousa, que se inspirava nas Revistas que eram produzidas para "os palcos do Maria Vitória e do Variedades." Este grupo era bastante conhecido à época. Eram "os reis do Carnaval de Sesimbra, ou não tivesse o próprio Arménio sido o único Rei Momo da vila, que, montado num burro, pregou um divertido e sarcástico discurso." Foram o primeiro grupo da vila em que todos os membros se mascaravam de mulher, "imitando umas esbeltas e provocantes misses."
Mas havia também um grupo só de mulheres: "As Malvadas", fantasiadas de "escravas cor-de-rosa" ou de "mulheres-pássaro de fato de lamê" que ainda são recordadas "pelo enorme sucesso que tiveram." Em 1988, desfilavam na Avenida da Liberdade, de fatos negros e dourados.
Em 1978, surge o Trepa no Coqueiro, "com fantasias confecionadas gratuitamente por algumas mães de desfilantes, assim como alguns dos instrumentos de percussão construídos por elementos da escola." É no Hotel do Mar que são realizadas "as primeiras reuniões e ensaios" a pedido de "António Paixão," um dos funcionários deste Hotel, que "conta com o apoio do seu Director-Geral Óscar da Silva." No ano seguinte, o Trepa no Coqueiro apresenta-se pela primeira vez na rua. Podemos vê-los aqui, representando Sesimbra, numa apresentação na RTP, num programa apresentado por Júlio Isidro.
No início da década de 80, um outro grupo surgiu e, mesmo tendo durado apenas dois anos, marcou a história do Carnaval, "pelos trajes fora do comum, pinturas elaboradas e fatos masculinos mais ornamentados. O primeiro ano ficou assinalado pelos tons laranja a lembrar habitantes do espaço, e o segundo pelas brilhantes e esverdeadas cobras, pintadas com enorme precisão."
Para o grupo "Turumbamba," a confeção dos fatos deixou recordações bem divertidas aos seus participantes que passavam horas na sede a conviver enquanto faziam as fantasias, antes de saírem pelas ruas "a pregar partidas". Na primeira vez foram "fantasiados de romanos, com lençóis brancos e papéis metalizados. Depois seguiu-se o fato de rock and roll, Ali Babá, Branca de Neve e uma fantasia com máscaras de gesso, que fez esgotar o stock de vaselina e de gesso da farmácia."
Em 1983, participa "pela primeira vez no desfile carnavalesco em Sesimbra com 12 elementos," a Escola de Samba Saltaricos do Castelo, com o tema "O Capuchinho." Só em 1985 é que "saiu pela primeira vez com bateria, contando com cerca de 100 elementos, dos quais 30 faziam parte da bateria." É apenas onze anos depois da sua fundação, em 1994, que se "apresenta pela primeira vez" com um "samba enredo cantado," com o tema "A travessia do Atlâ”. Aqui podemos vê-los no desfile de 1996, a descer a Avenida.
Em 1985, os "Papuas" saíram com fantasias feitas de "ráfia, folhas de palmeira e eucalipto e penachos de canas," representando as "tribos africanas." Um dos 40 elementos dos Papua, João Casaca, lembra que a ideia era utilizar materiais diferentes e interagir bastante com o público. "Pediram sacas às mercearias e às lojas de pesca para conseguir a ráfia, passaram horas num aviário a arranjar penas e até mesmo a distribuição de fotografias do grupo serviu para angariar verbas."
As "Bijucas", um grupo formado apenas por raparigas, "cativou tudo e todas com as suas roupas reduzidas e a irreverência caraterística da juventude." De forma a "financiar os seus fatos," lembraram-se "de começar a vender bolos porta a porta," como conta um dos seus elementos, Ana Maria Sousa.
E ainda falta falar aqui de vários outros grupos e escolas. Ficará para amanhã! Entretanto, se quiserem, mandem-me as vossas memórias e ajudem-me a construir esta pequena e singela lembrança da nossa Vila.
Fontes:
https://escolas-de-samba55.webnode.pt/escolas-de-samba-em-sesimbra/
https://www.sesimbra.pt/pages/1405
https://pt.wikipedia.org/wiki/GRES_Bota
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