Escrever é algo que me apraz. Ante a minha vontade de criar, muitas vezes me falta tempo. Aqui passo da vontade à prática. Este é um caderno onde escrevo sobre a minha vida pessoal e temas da atualidade que me fazem refletir.
Escrever é algo que me apraz. Ante a minha vontade de criar, muitas vezes me falta tempo. Aqui passo da vontade à prática. Este é um caderno onde escrevo sobre a minha vida pessoal e temas da atualidade que me fazem refletir.
... mas desta vez, sem a espada, que acabou por ficar para estudo e preservação. Depois de sete anos aberto para estudo, a arca tumular voltou a ser fechada, depois de organizada e "arrumada". A história de D. Dinis e em especial da descoberta da sua espada, despertou muita curiosidade. Pessoalmente, é um tema que me fascina, não fosse eu uma apaixonada pela História de Portugal e pelos nossos antepassados.
O encerramento do túmulo do monarca, aconteceu no dia 28 de junho, numa operação especial de colocação da tampa da arca tumular localizada no Mosteiro de Odivelas. Os restos mortais do monarca foram colocados dentro de uma caixa em acrílico e envolvidos num tecido de linho e posicionados minuciosamente, de modo a respeitar o esqueleto humano.
Segundo as notícias, apenas um pequeno osso foi deixado de fora, na esperança de que um dia seja possível utilizá-lo para decifrar o código genético do rei, que permitirá confirmar qual a cor do cabelo e dos olhos do monarca. Os investigadores optaram por não tentar extrair o ADN dos restos mortais por se tratar de um processo muito invasivo. De forma a datar este momento de elevado significado histórico, colocou-se ainda junto à cápsula a capa do jornal «Público» deste dia.
Mas o estudo não termina com o encerramento do túmulo. A investigação sobre o monarca e o seu espólio vai continuar, estando em análise um processo de classificação como tesouro nacional. O manto real e a espada medieval - que foi descoberta em 2022 - continuam a ser alvo de um estudo forense aprofundado, pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) e pelo Laboratório José de Figueiredo. Foi feita uma reconstituição a três dimensões da coluna, que permitiu perceber, por exemplo, que D. Dinis sofria de uma doença degenerativa.
Uma das próximas etapas em laboratório será a criação de uma aproximação facial do aspeto do Rei em 1325, ano em que foi sepultado, onde será possível conhecer a fisionomia do rosto, entre outros aspetos. Poderá ainda ser feito o estudo do espólio associado ao monarca e ao infante - um dos netos de D. Dinis que também está sepultado no mosteiro - e sobre os quais serão produzidas ainda análises, datações, inventários, relatórios e artigos científicos.
Tal como noticiado no Observador, a tampa em calcário, pesando cerca de quatro toneladas, foi recolocada sobre a arca funerária usando uma estrutura construída de propósito para o encerramento. Este processo minucioso e extremamente delicado demorou cerca de 30 minutos e começou com a elevação da tampa através de um sistema de roldanas. Esta foi depois deslocada até ao túmulo e, uma vez alinhada com a arca, foi descida com cuidado.
D. Dinis, que morreu com 64 anos em Santarém em 1325, mandou fazer o seu próprio túmulo, deixou dito no testamento o edifício onde queria que o colocassem e indicou até o lugar na igreja, no seu último testamento, datado de 1322. Foi o primeiro sarcófago a ser depositado dentro de um lugar sagrado e o primeiro a ter a estátua jacente de um rei. Os dois primeiros reis estão em Santa Cruz de Coimbra e com D. Afonso II o Panteão Real passou a ser o Mosteiro de Alcobaça. D. Dinis escolheu a igreja do Mosteiro de São Dinis em Odivelas.
Quando falamos num conflito como o que afeta o Sudão, a última coisa de que nos vamos lembrar é de arte. Será? Hoje senti um pequeno aperto ao ler esta notícia do Observador, em que o dono da Downtown Gallery, afirma (em declarações prestadas à Agência Lusa), que não era da guerra que pensava que ia falar quando esta exposição começou a ser preparada com a Brotéria, em Lisboa, há mais de um ano. As obras de arte, que entretanto vieram para Portugal, acabaram por ser as poucas que escaparam ao conflito que afeta o país.
Rahiem Shadad, sudanês e um dos curadores da exposição, fala da violência nas ruas e refere que as três dezenas de obras, de nove artistas sudaneses que entretanto fugiram para o Egito, para Espanha, ou para regiões do Sudão mais afastadas das zonas de combate, são, nalguns casos, as poucas que restaram do trabalho que estes desenvolveram nos últimos anos. A destruição não poupa museus, galerias de arte, ateliers ou escolas.
Rahiem Shadad, dono de uma galeria no bairro que reunia a maior parte delas e dosateliers de artistas em Cartum, foi uma das muitas pessoas que não conseguiu ainda regressar à sua terra. Rahiem, saiu do Sudão com a família no final de março para o que, pensava serem apenas duas semanas de férias no Egito, mas a guerra começou e não puderam voltar, permanecendo até agora no Cairo.
Depois de Lisboa, estas obras que escaparam à guerra no Sudão vão estar em Berlim, em novembro, e o objetivo para já é que passem também pelo menos por Madrid e Paris.
Falando aqui de outros conflitos (poderia ir muito mais atrás à Primeira ou à Segunda Guerras Mundiais) a realidade, seja qual for a zona do mundo, é a mesma. Não é a arte a primeira a ser protegida (como é óbvio, o foco está na vida humana e nos bens essenciais), e por isso muito se tem perdido pelo mundo pela destruição deliberada ou "acidental" de museus e galerias. Logo dois dias depois do início da invasão da Ucrânia, foi divulgada a destruição do Museu Ivankiv, situado na região metropolitana de Kiev. Aqui terão sido destruídas 25 obras de uma das principais artistas ucranianas, Maria Prymachenko. As suas obras, exuberantes nas cores e formas, retratavam a história e o quotidiano do país e do folclore, em pinturas, desenhos, cerâmicas e bordados.
Entretanto, os bombardeamentos russos já destruíram, total ou parcialmente, outros locais de elevada importância cultural, como o Museu de Arte em Kharkiv, com mais de 25.000 obras de arte. Ocorreram também já bombardeamentos próximos do memorial do Holocausto Babi Yar, em Kiev, local onde, em 1941, mais de 34 mil judeus foram fuzilados pelos nazis em apenas dois dias. O que se pode fazer para preservar a história de um país representado pela sua herança cultural e pelos seus artistas?
Efetivamente, o património cultural material do mundo é uma herança comum que marca a identidade e constitui uma inspiração para toda a humanidade, tendo o poder de nos unir e de promover a paz.
Infelizmente, as guerras procuram apagar a identidade, a consciência coletiva e a memória cultural de um povo através da destruição de obras de arte. Procurando evitar que isso aconteça na Ucrânia, os funcionários do Museu Nacional Andrey Sheptytsky, o maior museu de arte deste país, localizado em Lviv, próximo da fronteira com a Polónia, embrulharam e retiraram já obras deste museu, para protegê-las.
Em 1954, depois da Segunda Guerra Mundial, foi criada na Convenção de Haia o “Escudo Azul” que procurava a proteção de bens culturais em situações de guerra. No artigo 53º da Convenção de Haia para a Proteção da Propriedade Cultural no Caso de Conflito Armado está explicito que são proibidos “quaisquer atos de hostilidade dirigidos contra monumentos históricos, obras de arte ou locais de culto que constituam património cultural ou espiritual dos povos”, sob pena de serem considerados crimes de guerra.