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Fenómeno de cheias, 55 anos depois

por Elsa Filipe, em 27.11.22

Sempre que se fala em cheias, na televisão, parece que são "as primeiras" a acontecer, mas a verdade está muito distante disso. Como por exemplo, em Lisboa as maiores cheias registadas, datam de 26 de Novembro de 1967 e fez ontem precisamente 55 anos que aconteceram. Esse dia foi também considerado como aquele em que ocorreu uma das maiores tragédias da capital.

Para vos falar deste dia, de que ouvi falar mas não vivenciei, precisei de fazer alguma pesquisa. De entre as várias publicações e relatos que li, resolvi escolher duas entrevistas que para mim se destacam pela forma como relatam os acontecimentos daquela fatídica noite e dos dias que se seguiram.

As inundações que atingiram a cidade, levaram tudo à sua frente desde Alenquer até ao Dafundo. Na época, dava-se que as habitações tinham condições  muito precárias e, não muito longe do que há nos nossos dias, havia uma enorme falta de ordenamento territorial. Destas cheias, o resultado foi a morte de 462 pessoas mas o número pode ter atingido os 700. Milhares de pessoas ficaram sem habitação. E continua-se com construções em zonas de leitos...

Dina Soares e Joana Bourgard, fizeram para a Rádio Renascença uma excelente reportagem onde algumas das testemunhas deste evento deram a sua visão dos acontecimentos dramáticos.

Nessa reportagem, é referida uma placa colocada pela Junta de Castanheira do Ribatejo no largo da aldeia de Quintas homenageia as cem pessoas que morreram naquela noite de 25 para 26 de Novembro, só naquela zona. Muitas apanhadas durante o sono, não tiveram tempo para fugir e os corpos de manhã foram colocados em cima de placas de zinco. Sabe-se que mais de metade da população sucumbiu debaixo da água e da lama, das cheias e das enxurradas que elevaram o caudal do Rio Grande da Pipa ao nível do primeiro andar das casas do largo.

Perante a apatia de Salazar, 5 mil alunos ajudaram as vítimas. Um movimento que marcou uma geração. Muitos dos estudantes da época, arregaçaram as mangas e foram para o terreno ajudar nas buscas e na remoção da lama que cobria as casas e, nestas muitas horas de trabalho, tomaram verdadeira consciência da miséria em que muitas famílais viviam.

Alguns fizeram de verdadeiros jornalistas e começaram a escrever no Jornal "Solidariedade Estudantil" onde relatavam a miséria que encontravam. 

Segundo António Araújo, historiador referido noa reportagem de Dina Soares e Joana Bourgard, "aquilo não eram papéis, era a realidade duríssima de corpos inchados pela água e toda a condição humana que ali se revelava. Era a revelação não só da morte, mas também da vida que levou àquela morte. Tudo aquilo era atirado à cara dos estudantes quando chegavam ao terreno.”

Nesta reportagem, que recomendo vivamente, é referido que parte das reportagens de Joaquim Letria foi cortada pela censura. O país estava sob regras muito rígidas impostas pelo regime. Além disso, muitas informações eram, pura e simplesmente, negadas. “O ‘Diário de Lisboa’ entrou em choque com o Ministério do Interior porque eles procuravam minimizar as coisas e nós tínhamos a ideia contrária. Então, o Vítor Direito, que era o chefe de redacção, mandou-nos, a mim e ao Pedro Alvim, contar mortos. Chegámos perto dos 700", conta Joaquim Letria.

Segundo a mesma reportagem, "o impacto desta catástrofe atravessou fronteiras e despertou a solidariedade internacional. Grã-Bretanha, Itália, Mónaco, França, Suíça e Espanha enviaram donativos e vacinas contra a febre tifóide."

Mais do que os relatos que encontramos explandidamente registados neste reportagem, apresentam-nos também imagens, em especial de jornais da época. Um registo que fica para a história e do qual eu aconselho a leitura.

No domingo, explodiu o paiol de Linda-a-Velha, como é relatado numa outra grande reportagem

 

Fontes:

https://especiais.rr.pt/cheias-1967/index.html

https://www.dn.pt/sociedade/cheias-de-1967-o-mar-de-lama-e-dor-que-mostrou-o-pais-8942334.html

 

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publicado às 17:50

Fibromialgia - consulta de reumatologia

por Elsa Filipe, em 26.11.22

O fim de semana chega e com ele o tempo de por em ordem as ideias e de refletir sobre os próximos passos que tenho de dar. Durante anos, batalhei por ter um diagnóstico e, mesmo sabendo que aquilo de que sofria era de uma doença que para alguns médicos nem existe, nunca baixei os braços. Na última consulta a minha médica de família lá cedeu e enviou um pedido de avaliação para o Instituto Português de Reumatologia, o qual pensavamos que demorava mais a ser atendido. Fui lá esta semana. 

A médica rapidamente confirmou o diagnóstico de fibromialgia e disse que para ela era óbvio, encontrou facilmente os pontos de dor, os gatilhos. Estranhou o porquê de ter andado tanto tempo para me diagnosticarem algo que há muito se suspeitava o que era. Voltou a referir que tenho de fazer hidroginástica ou pilates clínico, mas isso para mim não é fácil - pelo menos não neste momento EM QUE ESTOU CHEIA de trabalho! Andar a pé é o máximo que agora tenho conseguido fazer e que mais se assemelha com desporto. 

Em relação aos meus pulsos ela é a favor que eu seja operada e que isso me vai beneficiar bastante, mas sinceramente eu não fiquei convencida. 

Agora terei nova consulta em maio e até lá tenho de manter a medicação (ela voltou a receitar-me duloxetina) e fazer exames. 

Não muda nada, mas para mim muda muita coisa. Pelo menos sei que estou a ser seguida no sítio certo por uma pessoa experiente. Uma pessoa frontal mas que não me fez sentir diminuída.

Mas no fundo, aquilo que me tem irritado sempre é que ainda agora estou em casa, cheia de dores. A medicação que agora aumentou deixa-me cheia de sono e ainda não vejo melhoras (sei que irá demorar a me habituar) e que esperam de mim que enfrente tudo como se não fosse nada de mais. O pior não são as dores, mesmo assim, o pior é o cansaço, a falta de força e de ânimo.

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publicado às 15:40

Incêndio em fábrica na China

por Elsa Filipe, em 22.11.22

38 mortos (até agora) terá sido o resultado de um incêndio que destruiu as instalações de uma empresa que lida com produtos químicos, esta segunda-feira, na cidade de Anyang, província de Henan, no centro da China. As causas, ainda não confirmadas, podem dever-se ao manuseio inadequado de equipamento por um funcionário. 

A fábrica - Kaixinda Trading - opera no setor de máquinas, materiais de construção, produtos químicos não perigosos, roupas e equipamentos de combate a incêndios.

Fontes: 

https://www.rfi.fr/br/mundo/20221122-autoridades-acusam-erro-de-funcion%C3%A1rios-por-inc%C3%AAndio-que-matou-quase-40-em-f%C3%A1brica-na-china

https://www.dn.pt/internacional/incendio-em-fabrica-na-china-causado-pelo-manuseio-inadequado-de-equipamento-38-mortos-15375213.html

 

 

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publicado às 12:54

Dia mundial da televisão

por Elsa Filipe, em 21.11.22

A televisão veio revolucionar os meios de comunicação social, mas veio também alterar as rotinas de muitas famílias.

Hoje celebra-se o Dia Mundial da Televisão.

Foi a 15 de dezembro de 1955 que a RTP — Radiotelevisão Portuguesa foi constituída, por influência do ministro da presidência, Marcelo Caetano, que conseguiu exercer influência junto de António de Oliveira Salazar, o então chefe de estado português. Assim, às 21h30 de 4 de setembro de 1956, começaram as primeiras emissões experimentais do canal público. 

A partir de 7 de março do ano seguinte, iniciaram-se as emissões regulares que, nessa altura, só podiam ser captadas na região de Lisboa. Como quase ninguém tinha um aparelho de televisão em casa, as pessoas procuravam alguns locais para assistirem às emissões.

A televisão portuguesa tinha regras mais rígidas do que as outras televisões, porque nessa altura, Portugal estava ainda "sob o pulso forte da ditadura imposta pelo Estado Novo e a televisão, tal como todos os outros meios de comunicação social existentes nessa altura em Portugal, estava sob o controlo da censura. A 25 de abril de 1974, a revolução e a consequente queda da ditadura portuguesa, fez com que o país se libertasse da censura.

A emissão regular a cores em Portugal, só acontece em março de 1980, com o Festival RTP da Canção.

Desde o seu início, a televisão trouxe-nos uma certa magia e algum deslumbramento. Em casa, gosto de rever alguns programas mais antigos, mas não sou saudosista. Relembro aqueles grandes comunicadores que fizeram parte da minha infância e relembro aquela televisão enorme com imagem a preto e branco que havia em casa da minha avó e que tinhamos de estar sempre a sintonizar. Lembro-me da música de abertura da emissão pela manhã, pois era a essa hora que estava a beber o leite para ir para a escola.

A televisão é para mim ainda hoje uma companhia. 

 

Fontes:

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/1a-emissao-experimental-da-rtp/

https://magg.sapo.pt/televisao/artigos/dia-mundial-da-televisao-como-foi-a-primeira-emissao-dos-canais-generalistas-portugueses

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publicado às 13:54

O Mundial do Qatar

por Elsa Filipe, em 20.11.22

Portugal foi apurado para o Mundial que este ano se realiza no Qatar. este Campeonato está a ser muito falado e pelas piores razões. Perguntamo-nos como é que o Qatar foi escolhido mas esquecemo-nos de uma palavra - dinheiro. Sim. Aquele bem que mexe e conquista tudo e que gira de bolso em bolso, tanto ou mais como a bola irá girar no relvado. Estou feliz pela minha seleção estar a disputar mais este campeonato e vou torcer para que consiga pelo menos chegar à final! Mas não me posso esquecer que este Mundial está ensombrado e que pouco passa cá para fora sobre os meandros das construções das infraestruturas, das condições dos trabalhadores e sobretudo da forma como se vive num país em que ser mulher é ser um ser inferior e ser homossexual é punível com a morte.

Resolvi pesquisar. Eu não sabia nada sobre este país e ainda sei muito, muito pouco. O que sei, infelizmente, vem manhado pelas notícias que assolam a televisão nacional e internacional e as redes sociais e aquilo que leio, vejo e oiço, não me pode deixar indiferente. 

O Qatar é um país árabe, um Emirado localizado na zona do Golfo Pérsico, entre o Bahrein e a Arábia Saudita.É independente deste 1971 (petencendo antes à Grã-Bretanha). A sua riqueza provém do petróleo e do gás natural. A Amnistia Internacional tem vindo a trazer à luz diversas situações em que não são respeitados os Direitos Humanos. Nesta pesquisa fiquei a saber que a maioria da população é constituída por emigrantes (em 2020, apenas 12% da população do país tinha realmente lá nascido) e isso já coloca aqui uma questão: o que leva as pessoas a sair do seu país e a emigrar para um Emirado considerado absolutista? O facto de ser um dos países mais ricos e mais desenvolvidos onde as oportunidades abundam?

No que diz respeito à religião, a maioria da população do Qatar é Sunita, sendo uma grande parte Salafista. A população cristã é composta quase inteiramente por estrangeiros. Alguns muçulmanos acabam també por se converter ao cristianismo, mas são ainda uma minoria.

E aqui vem o cerne da questão, quanto à política, não há legislatura independente, e os partidos políticos são proibidos. As eleições parlamentares, que foram prometidas para 2005, acabaram adiadas indefinidamente. É o Emir que possui a palavra final em todas as questões, mesmo depois de votadas e discutidas em Conselho de Ministros. Nenhuma eleição legislativa tem sido realizada desde 1970. Mas em que se baseiam as leis? Na Charia.

A Charia é então a principal fonte da legislação do país de acordo com a Constituição do Qatar. Na prática, o sistema legal é uma mistura do direito civil e do direito islâmico. A lei charia é aplicada em casos relativos ao direito de família, herança e vários atos criminosos (como adultério, roubo e assassinato). Em alguns casos, os tribunais de família com base na charia consideram que o testemunho de uma mulher vale metade do testemunho de um homem, ou nem sequer o aceitam. A poligamia islâmica é permitida no país para os homens e nunca para as mulheres. A flagelação é usada no país como um castigo para o consumo de álcool ou para relações sexuais ilícitas. Diz no artigo 88 do código penal do Qatar que a punição para o adultério é punido com cem chicotadas (ou seja, os homens podem mas as mulheres são chicoteadas se o fizerem). Apenas muçulmanos considerados clinicamente aptos são susceptíveis a tais sentenças. Não se sabe se todas as sentenças proclamadas chegaram a ser implementadas aos condenados, mas muitos desses condenados eram estrangeiros a residir no país. E quem protege ou defende estas pessoas?

Não nos podemos nunca esquecer dos direitos humanos mas este não é (infelizmente) o único país onde os mesmos não são respeitados - aqui haveria tanto a dizer, não haveria? Devemos estar indignados, não devemos mostrar conivência com certas atrocidades nem esconder a cabeça debaixo da terra a fingir que está tudo bem.

Estaremos a ser hipócritas? Se "sempre" foi assim, porque não nos indignamos antes? lapidação também é uma punição legal neste Emirado como em outros. As relações homossexuais também são punidas com a pena de morte. Ficamos por aqui?

Talvez haja aqui um lado positivo - já se fala em todo o lado das condições precárias de vida e de trabalho, nas leis do país e de futebol. Vai falar-se muito de futebol, de quem joga mais minutos, de quem chega à final. Pelo meio, iremos continuar a falar de Direitos Humanos! O que vai mudar? Talvez nada, talvez muito pouco nestas próximas semanas de "mostrar ao mundo quem somos". Se aceitam e respeitam a Charia, as mudanças de mentalidades serão sempre difíceis de conseguir. Atingir níveis mínimos de condições de vida pode ser possível, mas o que se passa por detrás dos panos e que não nos está a ser mostrado?

Sem prejuízo do dito anteriormente, existe gente muito séria e boa a viver neste país, existe gente que foi para lá trabalhar e que gosta de lá estar e que tem observado mudanças de mentalidades a acontecer. Mas não será a regra, será sim a exceção.

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publicado às 19:25

45 anos depois do 1º acidente da TAP

por Elsa Filipe, em 19.11.22

Faz hoje 40 anos que ocorreu o primeiro grande acidente da TAP.

A 19 de novembro de 1977, pouco antes das 22:00, no meio de chuva intensa um Boeing 727-200 da TAP, com o nome de "Sacadura Cabral", que vinha de Bruxelas, via Lisboa, com 164 pessoas a bordo fez a sua terceira tentativa de aterragem na pista 24 do, na época, denominado Aeroporto de Santa Catarina, na localidade de Santa Cruz. Se não conseguisse, o comandante sabia que o voo seria desviado para Las Palmas (Canárias). Essa última oportunidade revelou-se trágica para o voo TP425.

"O avião tentou aterrar três vezes. A terceira foi fatal", escreveu o JN, na edição do dia seguinte ao acidente.

De acordo com os relatos, o Boeing aterrou muito para além do normal na curta pista do aeroporto. O avião, entrou em aquaplanagem, devido à muita água da chuva que cobria a pista e, de forma desgovernada, acabou por sair pela parte superior da pista, partindo-se depois em duas partes. Uma dessas partes da aeronave ficou em cima de uma ponte e a outra resvalou e caiu sobre a praia, mais de 130 metros abaixo, sendo consumida pelas chamas.

Os meios de socorro existentes na ilha, foram poucos para fazer face à tragédia, mas do meio das chamas que consumiam a aeronave, os socorristas conseguiram retirar com vida 33 pessoas, tendo o saldo final sido de 131 mortos. Também o nevoeiro, além da chuva, e a fraca ligação telefónica de então que bloqueava as comunicações, dificultaram os trabalhos de recuperação dos corpos e dos restos destruídos da própria fuselagem do avião. 

António Ramalho Eanes, presidente da República à época, enviou um telegrama com as condolências e foi criada uma comissão de inquérito que rapidamente se deslocou à ilha para tentar perceber as causas do acidente. O então primeiro-ministro, Mário Soares, escreveu também uma nota de pesar apenas algumas horas após o trágico acidente. 

Depois deste acidente, começou-se a falar-se na necessidade que se sentia no aumento da pista. No entanto, isto só ocorreu em setembro do ano 2000, quando se deu a inauguração da nova pista. Esta, contava com 2781 metros, o que veio a permitir a aterragem de aeronaves de grande porte na ilha da Madeira. Esta obra de ampliação foi premiada tanto nacional como internacionalmente, pela sua grandiosidade e importância.

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publicado às 22:50

Mentes criminosas

por Elsa Filipe, em 14.11.22

O que passa na cabeça de uma pessoa para assassinar outra?

O que passa na cabeça de uma mãe para matar um filho, de forma brutal e com o uso de uma faca? 

Esta mãe, tem vinte e poucos anos e estava a viver em Portugal com o seu bebé de ano e meio, enquanto o pai da criança estaria em França. Após matar o filho de ambos, telefonou ao pai a dizer o que tinha feito.  Um momento de psicose? Se o foi, ela depois soube o que tinha feito e contou ao pai o que tinha acabado de fazer.

Teve consciência de que não estava bem psicologicamente e parece que até tinha pedido ajuda, segundo dizem, mas para este bebé a ajuda nunca chegou. Quem poderia imaginar? Quem poderia arriscar institucionalizar este pequenino se tudo parecia estar bem? O problema é que nem sempre as mães estão bem, nem sempre têm condições para cuidar de uma criança, tantas vezes como neste caso sem apoio familiar.

Mais um anjinho a quem a vida foi roubada. 

 

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publicado às 12:55

Halloween ou Pão por Deus

por Elsa Filipe, em 01.11.22

São tradições diferentes e uns festejam uma, outros pedem pela outra. Eu confesso que prefiro o Halloween. E porquê?

Pessolamente porque na minha casa, não se fazia o Pão por Deus e ouvi várias vezes a minha acvó dizer "dá com a direita que nem a esquerda saiba" referindo-se às pessoas que davam neste dia, para que os outros vissem, mas nos restantes não ajudavam ninguém. Por outro lado, se apareciam lá alguns vizinhos a pedir doces, dava-se algumas boachas ou pão, ou até arroz, feijão, comida que sabíamos que aquelas crianças levariam para a família mas raramente se davam chocolates ou chupas. Mas não se dava só naqueles dias. Trocavam-se produtos de mercearia por ovinhos caseiros, ou por frangos para a canjinha "das meninas". Era comum esta ajuda entre vizinhos e não porque se pedia por algo.

No meu tempo de criança não se festejava o Halloween, mas faziam-se lanchinhos na escola com sumpos, tortas dancake e batatas ruffles. Lembro-me de no 5º ano, quando comecei a ter InglÊs, a professora ter proporcionado à turma um pouquinho desta tradição e aí sim ter festejado com um lanche e irmos mascarados! Como sempre adorei o carnaval, era mais uma oportunidade de voltar a usar as máscaras. Cortavamos as calças que já nos ficavam curtas para um estilo mais "punk" e usavamos o lápis dos olhos das mães para desenhar verrugas no queixo! 

Estas festividades são ambas festas de origem cultural muito remotas. Umas mais ligadas à tradição religiosa, outras à pagã.

Eu como não creio em religiões nem me identifico com nenhuma em particular, prefiro a pagã em que o folclore popular festeja a vida e a morte, como o fim de um ciclo e o início de outro (não tendo tanto a ver com a "morte como nós a entendemos, mas trata-se de o fim do ciclo do verão e das cultura, para o iniciar um novo ciclo, um novo ano, novas culturas). E é uma tradição bem mais antiga, pois tem mais de 3000 anos, vindo já do tempo dos Celtas. Celtas esses que eram politeístas, ou seja acreditavam em vários deuses relacionados com a natureza, festejavam o Samhaim que comemorava o novo ano Celta cujo 1º dia equivalia ao nosso 1º de novembro.

Eles acreditavam que nesse dia os mortos se levantavam e se apoderavam do corpo dos vivos e usavam fantasias com artefatos sombrios para afastar esses espíritos.

A própria igreja foi ao longo dos anos adaptando as tradições pagãs, dando uma nova vida às mesmas. No sentido de afastar quem se opunha aos dogmas da igreja, na idade média começou-se a condenar a morrer na fogueira as bruxas - hoje muitos cientistas, seriam chamados bruxos e muitos médicos queimados por saberem como usar medicamentos para curar as doenças - mas na época a ciência estava a aparecer e estava rodeada de obscuridade. Tudo o que era estranho ou se opunha à "criação de  Deus" era mal entendida e calada através do uso das fogueiras. Condenando estas festividades pagãs, a igreja declarou o "Dia das Bruxas" e instituiu o medo. 

Não conseguindo lutar contra todas as manifestações culturais e tal como fez com outras festividades, começa a festejar o Dia de Finados, que é o mesmo que mortos e mais tarde a igreja acaba por trocar o dia de Todos os santos, de 13 de Maio para 1 de Novembro, começando a tradição de se pedir esmola para os pobres através do "Pão por Deus". No fundo, este ritual, é festejar o dia dos mortos, mas com outro nome pois se numas culturas se oferecem banquetes aos mortos, noutras se põem velas e flores. A ideia é a mesma, a intenção de agradar a quem já morreu.

De notar que mais recentemente, o 13 de Maio ganhou um novo significado, mas poucos sabem que antes de se celebrar as aparições de Nossa Senhora, se festejava o dia de Todos os Santos. 

 

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publicado às 09:35


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