Escrever é algo que me apraz. Ante a minha vontade de criar, muitas vezes me falta tempo. Aqui passo da vontade à prática. Este é um caderno onde escrevo sobre a minha vida pessoal e temas da atualidade que me fazem refletir.
Escrever é algo que me apraz. Ante a minha vontade de criar, muitas vezes me falta tempo. Aqui passo da vontade à prática. Este é um caderno onde escrevo sobre a minha vida pessoal e temas da atualidade que me fazem refletir.
Na passada quinta-feira foi dia de muitas lágrimas. Não me aconteceu nada, mas foi o descarregar de muitos dias de emoções contidas dos quais ainda estou a recuperar. Fui à consulta da Unidade da Dor, desta vez já na Unidade do Laranjeiro, em que uma equipa estava à minha espera.
Dois anos depois da primeira consulta, na qual me assustei com a suspeita de EM, a médica aborda-me agora dizendo que não há nada a temer e que eu tenho de me endireitar e ir em frente com a minha vida. Abanou-me psicologicamente, ralhou-me para me pôr direita, para deixar de me deixar dominar pelas dores e fazer frente à vida.
Por momentos senti-me muito mal, ao mesmo tempo culpada do sofrimento de estar com a cabeça numa possível doença mais grave e depois revoltada por estar sem trabalho fixo, por estar sempre cheia de dores e sem vontade de fazer nada! E a médica ao ver-me desabar num pranto, diz-me apenas o que eu estava a pensar: "E porque é que eu estou cheia de dores?"
E logo me responde: "Porque tem muita coisa, nessa coluna, que temos de controlar e por isso vamos a tomar a medicação mas a fazer pela vida. Pode e deve fazer tudo!" Eu na altura, naqueles momentos, ainda a digerir tudo, nem percebi bem a intenção daqueles empurrões para a frente, mas hoje, uns dias depois sei que ela tinha toda a razão. Tal como me tinham dito há dois anos atrás na consulta, tenho de fazer pilatos clínico, hidroginástica e, também pode ser bom que eu faça fisioterapia. Agora estou a fazer um plano de exercícios indicado pela equipa médica e que me vai ajudar até conseguir entrar no pilatos, e um tratamento de seis sessões de Diatermia que me vai ajudar bastante.
Eu nunca desisti de mim e todos os dias me tento levantar para ir trabalhar, para fazer as minhas coisas, mesmo que nem sempre seja capaz de fazer tudo o que quero. Mas a verdade, é que nos últimas semanas, me tenho estado outra vez a entregar a um estado depressivo que não é nada bom. Nem para mim que tenho fibromialgia e que tenho depressão, nem para ninguém. Na prática, é muito fácil falar em lutar, mas não é nada fácil quando estas duas patologias nos começam a puxar para baixo. Felizmente, mesmo com muitas adversidades, tenho conseguido dar a volta por cima. E não me posso esquecer de referir que tenho muitas pessoas amigas, que, de certa forma e cada uma à sua maneira, me vão transmitindo valores positivos, me vão desafiando, me vão apoiando cada uma do seu jeito. Uma palavra, uma frase, um abraço no momento certo ou, às vezes, um abanão!
Obrigada por me fazer verter todas as lágrimas acumuladas. Sou grata por hoje, que é Páscoa, estar sozinha em casa, poder refletir, poder caminhar na minha marginal, observando o rio a correr e as pessoas a passear, tomar o meu café. Aqueles pequenos prazeres, tão simples e, que nos trazem tantas energia boa! Hoje não foi dia de estar com ninguém, não foi dia de dar nem de receber, foi apenas o momento certo de estar comigo mesma e de planear a minha vida, os próximos passos a dar. Não é fácil, porque ainda me falta aquele trabalho certo, aquela realizaçaõ profissional que me vai trazer estabilidade para outras coisas que preciso. Mas vou começar a semana com uma vontade renovada.
Perdeu-se hoje uma das maiores atrizes portuguesas. Nascida na Amareleja, no distrito de Beja, em 1928, Eunice festejou em Novembro 80 anos de carreira e despediu-se dos palcos com a peça que fez com a neta Lídia "A margem do tempo". Na televisão aparece pela última vez em "Festa é Festa" na TVI.
93 anos de vida pautados por muitas peças de teatro e diversas participações em elencos de novelas, nos quais será sempre recordada. Neste momento ainda não estou preparada para falar desta grande senhora. As saudades serão sempre consoladas com a possibilidade de a voltar a ver através de uma rápida pesquisa na net. Com apenas 13 anos, em 1941, estreia-se no palco do grande Teatro Nacional D. Maria II, em "Vendaval", de Virgínia Vitorino. Partilha o palco com outros nomes sonantes como Amélia Rey Colaço, João Villaret, Palmira Bastos ou Raul de Carvalho e o seu talento brilha tanto que os grandes mestres a integram logo na companhia. Da minha parte, nunca irei esquecer pequenos episódios em que a vi atuar na televisão, na revista à portuguesa, como no "Passa por mim no Rossio" de Filipa la Féria, ou na "Dona Branca" da novela "A banqueira do povo."
Hoje está muito difícil. Nunca precisaram que o tempo vos acompanhasse? Sabem aqueles dias em que vos apetece fechar a página e passar ao seguinte, simplesmente porque hoje não estão para isto?
É que bem pensado, se ainda viesse uma boa trovoada daquelas com relâmpagos que metessem medo, eu ainda podia ir para dentro do carro sentir as bátegas de água no vidro e ver os raios desfazer a estrada à minha volta, as rajadas arrancar uns pinheiros, rachar ao meio os eucaliptos. É assim que hoje me sinto, explosiva.
A apetecer-me partir a loiça e não a lavar. Atirar o ferro à parede e ignorar que está partido à meses e que tenho de estar sempre a colar adesivo para aguentar mais umas pecinhas de roupa...
Porque é que as coisas têm de ser tão complicadas e porque é que o que é simples não pode ser sempre simples? O tempo podia colaborar e mandar umas nuvens mais carregadas, com chuva e trovoada que me animassem a tarde. Estou na escrita mas sei que o resto está por fazer, o trabalho não está acabado, estou atrasada com prazos. E como é que atrasei tudo, se tive dias "livres" sem trabalho? Claro, simples que ninguém entenda. Na minha testa nascem borbulhas (talvez um par deles já lá tenha tido) mas não aparece uma luz fluorescente a dizer "doente crónica". E sem esse lototipo escarrapachado, fácil que os demais não entendam o que é "fibrofog" nem depressão. Sim, porque essa está cá tem tempo e nunca foi embora, mas as doenças também temos de escolher as que podemos pagar e as que não podemos dar importância. Ora eu optei por pagar nas que me tiram as dores físicas. Sem dor, posso fingir que o resto está bem e continuar a ir trabalhar.
E como eu me considero uma pessoa inteligente, também finjo que não me dói às vezes. Hoje dói-me os ombros (o esquerdo está pior), as articulações das mãos, o osso da perna esquerda e o tornozelo e, claro, a cabeça. Mas ontem a dor era maior nas articulações do braço e mão direitas mas também no ombro esquerdo, na anca direita e joelho esquerdo (mesmo assim não me enganei). Ora se alguém ouvisse e prestasse devida atenção, hoje ia achar que "ah, enganaste-me bem!" Pois ia achar que ou eu era louca ou mentirosa, ou que não sei os nomes das partes do corpo. Mas para meu próprio mal, sei bem os nomes e nomezinhos de todos os ossos, músculos e coisinhas mais!
E agora que descarreguei aqui um bocadinho de más energias na folha, vou aquecer café e tentar acabar os manuais que deviam já estar prontos! Depois logo tento acabar de fingir que arrumo a casa.
Esta semana não tem sido fácil, nem este mês, nem este ano.
Mudar é sempre uma decisão complicada, especilamente quando temos quem dependa de nós e nunca sei se estou à altura de atingir os meus objetivos, nem que seja o de pôr comida na mesa em todas as refeições e pagar as contas.
O pior é quando sentimos que de alguma forma temos de tomar decisões difíceis, fazer as escolhas que uns meses (anos?) antes não teríamos de fazer. Aí nessas alturas eu penso, "pior era se o meu país estivesse em guerra e eu de malas às costas a fugir daqui" mas porra! Eu não mereço isto, não estudei para isto (sim, já me arrependi bem de não ter seguido secretariado, mas pronto é o que acontece quando ouvimos os outros e temos vergonha de dizer que afinal já não queremos ser professoras como queríamos aos seis anos de idade).
A nossa vida devia dar para espreitar mais à frente, nem que fosse só um episódio do futuro. Assim escusavamos de andar a fazer figura de ursos em caminhos que não levam a lado nenhum.
Esta semana, alguém me perguntou "mas tirou o curso, trabalhou e depois esteve tantos anos noutra área?" Porque numa dada altura da minha vida, eu era "muito nova" e tinha "pouca experiência". Hello! Eu tive de ir trabalhar noutra profissão, numa que eu sabia fazer, que tinha experiência e onde aprendi muito e ganhei ainda mais competências, mas não porque fosse o meu sonho, foi só para pôr dinheiro em casa e comida na mesa.
Felizmente, numa determinada altura da minha vida tive pessoas que me ajudaram a superar, me arranjaram trabalho e me deram uma oportunidade de ir em frente. Ao Zé e à Fátima nunca serei suficientemente grata. Mas infelizmente, à minha volta houve também gente a pisar-me. Essas pisadelas, empurrões, estão gravadas no meu corpo fisicamente como se não tivessem sido só palavras e atos nas minhas costas (ou mesmo à minha frente, sem vergonha que eu visse, a olharem-me nos olhos enquanto me prejudicavam e ficavam por cima).
A dor é física como é psicológica. Às vezes, dói tanto que tenho me marcar os dentes no pulso ou no braço para retirar o foco da dor "oca" noutras partes do corpo. Oca porque é como se estivesse com uma zona vazia, fria, uma dor fantasma num membro que ainda lá está, que dói como se estivesse partido, queimado mas que eu olho e não tem lá nada!
Apetece bater até marcar, negro, para depois mostrar e dizerem "ah, não te dói aí?" Talvez entendessem a dor sem sentido, fantasmagórica que me acorda de noite e me massacra. Qundo não vem dor, vem a comichão ou as cãibras, ou a dor, a comichão e as cãibras. E só quero que a noite acabe e de manhã o dia amanheça como se eu tivesse dormido bem, mas nada disto acontece.
Estou sem tomar medicação. Várias semanas já, a levar-me à loucura.