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A história do dia que mudou Portugal

por Elsa Filipe, em 25.04.22

Feriado comemorativo do 25 de Abril.

A 24 de abril de 1974, o Movimento dos Capitães - ou Movimento das Forças Armadas (MFA), grandemente composto por capitães que tinham tido participação na Guerra Colonial e apoiados por muitos outros soldados milicianos reuniram-se para pôr em andamento o controlo de vários pontos estratégicos. Os seus objetivos eram claros: acabar com a guerra colonial, libertar os presos políticos, restaurar a liberdade e a democracia em Portugal.

Mas esta revolução teve a sua origem alguns anos antes...  A primeira reunião de capitães terá sido em África, em Bissau na Guiné, e a segunda no Monte do Sobral, nas Alcáçovas, concelho de Viana do Alentejo, a 9 de novembro de 1973, após se terem encontrado no Templo romano, em Évora. A última e definitiva reunião antes da revolução, ocorreu a 24 de março de 1974.

Na noite de 24 de abril, o Major Otelo Saraiva de Carvalho, considerado o estratega do movimento que derrubou o regime de Marcello Caetano, instalou um posto de comando secreto no quartel da Pontinha, em Lisboa. Escondidos dos olhares de todos, coordenaram os movimentos das tropas e a ocupação das suas posições.

A primeira senha passou às 22 horas e 55 minutos: a música E depois do adeus”, escrita por José Calvário e cantada por Paulo de Carvalho no Festival da Canção de 1974, tocou na Emissora Nacional e marcou os preparativos das forças revolucionárias, tendo muitas partido rumo à capital, na esperança de um Portugal livre e democrático.

Às 00 horas e 20 minutos, a Rádio Renascença, passa no programa “Limite” uma transmissão gravada com a primeira estrofe de “Grândola Vila Morena”, a canção que Zeca Afonso escreveu para homenagear o cante alentejano e que tinha sido banida pelo lápis azul da censura. A música tocou logo de seguida e foi o segundo sinal. O seu significado: “tropas em movimento”. Agora não havia volta a dar. 

Soldados de Santarém, Estremoz, Figueira da Foz, Lamego, Lisboa, Mafra, Tomar, Vendas Novas, Viseu, e outros pontos do país dirigiam-se para Lisboa.

Pelas 3 horas, as tropas revoltosas, quase em sintonia, iniciavam a ocupação – sem grande resistência - de pontos fulcrais para o sucesso da revolta: o Aeroporto de Lisboa, o Rádio Clube Português, a Emissora Nacional, a RTP e a Rádio Marconi.

O regime só reagiu pelas 4 horas e 15 minutos, quando foi ordenado que as forças sedeadas em Braga avançassem sobre o Porto para recuperar o Quartel-General, no entanto, também estas forças tinham aderido ao MFA e ignoraram as ordens do regime.

Poucos minutos depois - pela voz do jornalista Joaquim Furtado, no Rádio Clube Português - surge o primeiro comunicado do MFA. A participação dos locutores - que acabaram por dar apoio aos revoltosos - foi fundamental para a revolução.

Seguiu-se o Hino Nacional, “A Portuguesa” e a marcha militar "A Life on the Ocean Wavesde Henry Russell e que viria ser o hino do MFA. As forças revolucionárias da Escola Prática de Infantaria de Mafra já estavam a controlar o aeroporto de Lisboa quando às 04 horas e 45 minutos, o MFA lê o segundo comunicado no Rádio Clube Português. 

Com o aeródromo de Tires também ocupado e com a Escola Prática de Cavalaria a ocupar o Terreiro do Paço, surge um terceiro comunicado do MFA: “(...) Informa-se a população de que, no sentido de evitar todo e qualquer incidente ainda que involuntário, deverá recolher a suas casas, mantendo absoluta calma. A todos os elementos das forças militarizadas, nomeadamente às forças da G.N.R. e P.S.P. e ainda às Forças da Direcção-Geral de Segurança e Legião Portuguesa, que abusivamente foram recrutadas, lembra-se o seu dever cívico de contribuírem para a manutenção da ordem pública, o que, na presente situação, só poderá ser alcançado se não for oposta qualquer reação às Forças Armadas. (...)"

Às 6 horas 30 minutos, um pelotão do Regimento de Cavalaria 7, comandado pelo Alferes Miliciano David e Silva, fiel ao Governo, chega ao Terreiro do Paço. Ao nascer do dia, o confronto está iminente, mas, após conversações, estes acabam por se colocar às ordens do MFA.Quando surge o quarto comunicado, já o MFA sabe que Marcelo Caetano, o Presidente do Conselho de Ministros, a cabeça do regime, está no Quartel do Carmo e, enquanto uma força do Regimento de Lanceiros 2, contrária ao MFA, tomava posição na Ribeira das Naus, é transmitido o quinto comunicado. A população vai assim estando a par do que se está a passar. Àquela hora, no Terreiro do Paço, Salgueiro Maia prendia o Tenente-Coronel Ferrand de Almeida.

No Tejo, a fragata "Gago Coutinho" toma posição frente ao Terreiro do Paço e tem ordens para disparar sobre as tropas de Salgueiro Maia. Neste momento, os revoltosos já não vão voltar atrás. Na fragata que poderia ter aberto fogo sobre Lisboa e atingido as forças instaladas no Terreiro do Paço, dá-se uma revolta a bordo e acaba por desviar para o Mar da Palha.

Os ministros da Defesa, da Informação e Turismo, do Exército e da Marinha, o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, o Governador Militar de Lisboa, o subsecretário de Estado do Exército e o Almirante Henrique Tenreiro que estavam cercados no Terreiro do Paço, conseguem fugir do Ministério do Exército abrindo um buraco na parede. 

Na Ribeira das Naus, o Alferes Miliciano Fernando Sottomayor não obedece às ordens do Brigadeiro Junqueira dos Reis para disparar sobre Salgueiro Maia e as suas tropas. Sottomayor recebe ordem de prisão e a ordem para disparar sobre os soldados revolucionários volta a ser dada. Ninguém a cumpriu e Junqueira dos Reis dispara dois tiros para o ar, abandonando em seguida o local.

Momentos depois, na Rua do Arsenal, o Brigadeiro Junqueira dos Reis dá ordem de fogo sobre o Tenente Alfredo Assunção - enviado por Salgueiro Maia para negociar com as forças de Junqueira dos Reis. A ordem também desobedecida e dizem que o Brigadeiro Junqueira dá três murros no Tenente Assunção.

Com o MFA a controlar as operações pelo país, a coluna militar comandada por Salgueiro Maia, cerca o Largo do Carmo e tem ordens para abrir fogo sobre o Posto de Comando e provocar a rendição de Marcelo Caetano.

Entretanto, a população distribuía comida, leite e cigarros pelos militares presentes no Largo do Carmo, mas forças da GNR – comandadas pelo Brigadeiro Junqueira dos Reis - tomavam posição na retaguarda das tropas de Salgueiro Maia, em defesa do regime.

Às 14 horas já decorriam conversações entre o General Spínola e Marcelo Caetano, para a obtenção da rendição do Presidente do Conselho, e meia hora depois surge o décimo comunicado do MFA e que dava conta da ocupação dos principais objetivos e de ter o esquadrão do RC 3, comandado pelo Capitão Ferreira, a cercar as tropas do Brigadeiro Junqueira dos Reis.

No Carmo, Salgueiro Maia, ao megafone, faz um ultimato à GNR para que se renda e ameaça rebentar com os portões do Quartel do Carmo, abrindo fogo sobre a fachada do Quartel. Entretanto Pedro Feytor-Pinto e Nuno Távora, da Secretaria de Estado da Informação e Turismo - portadores de uma mensagem do General Spínola para Marcelo Caetano - entram no Quartel e avisam Marcelo Caetano de que Salgueiro Maia está a falar a sério e que os próximos disparos não serão para o ar.

Salgueiro Maia segue-os cerca de meia hora depois para receber a rendição, mas Marcelo Caetano informa que só se renderá a um Oficial-General para que o poder não caísse na rua. Acabou por ser o General Spínola a ir receber a rendição de Marcelo Caetano.

Às 18 horas e 30 minutos, a Chaimite Bula entra no Quartel do Carmo para transportar Marcelo Caetano à Pontinha e, momentos depois, Fialho Gouveia transmite na RTP uma declaração do MFA.

No mesmo dia, a PIDE/DGS, a Legião e a Mocidade Portuguesa foram extintas e os dirigentes fascistas foram destituídos. Registaram-se 6 mortos e cerca de 45 feridos.4 deles eram civis que foram alvejados junto da sede da DGS, um outro era soldado da 1.ª Companhia Disciplinar, em Penamacor, que se encontrava de férias na capital e que seria o único militar a morrer durante a revolução. O sexto foi um funcionário da PIDE.

Por estes homens e mulheres de armas, se mostrou um país farto da situação em que vivia e lutou por um Portugal melhor. Não obstante, os anos que se seguiram não foram fáceis, mas se hoje vivemos em liberdade a eles lho devemos.

 

Fontes:

https://www.tribunaalentejo.pt/artigos/25-de-abril-revolucao-passo-passo (2021)

https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$otelo-saraiva-de-carvalho

 

 

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publicado às 14:48

Reflexão de vida

por Elsa Filipe, em 17.04.22

Na passada quinta-feira foi dia de muitas lágrimas. Não me aconteceu nada, mas foi o descarregar de muitos dias de emoções contidas dos quais ainda estou a recuperar. Fui à consulta da Unidade da Dor, desta vez já na Unidade do Laranjeiro, em que uma equipa estava à minha espera.

Dois anos depois da primeira consulta, na qual me assustei com a suspeita de EM, a médica aborda-me agora dizendo que não há nada a temer e que eu tenho de me endireitar e ir em frente com a minha vida. Abanou-me psicologicamente, ralhou-me para me pôr direita, para deixar de me deixar dominar pelas dores e fazer frente à vida.

Por momentos senti-me muito mal, ao mesmo tempo culpada do sofrimento de estar com a cabeça numa possível doença mais grave e depois revoltada por estar sem trabalho fixo, por estar sempre cheia de dores e sem vontade de fazer nada! E a médica ao ver-me desabar num pranto, diz-me apenas o que eu estava a pensar: "E porque é que eu estou cheia de dores?" 

E logo me responde: "Porque tem muita coisa, nessa coluna, que temos de controlar e por isso vamos a tomar a medicação mas a fazer pela vida. Pode e deve fazer tudo!" Eu na altura, naqueles momentos, ainda a digerir tudo, nem percebi bem a intenção daqueles empurrões para a frente, mas hoje, uns dias depois sei que ela tinha toda a razão. Tal como me tinham dito há dois anos atrás na consulta, tenho de fazer pilatos clínico, hidroginástica e, também pode ser bom que eu faça fisioterapia. Agora estou a fazer um plano de exercícios indicado pela equipa médica e que me vai ajudar até conseguir entrar no pilatos, e um tratamento de seis sessões de Diatermia que me vai ajudar bastante.

Eu nunca desisti de mim e todos os dias me tento levantar para ir trabalhar, para fazer as minhas coisas, mesmo que nem sempre seja capaz de fazer tudo o que quero. Mas a verdade, é que nos últimas semanas, me tenho estado outra vez a entregar a um estado depressivo que não é nada bom. Nem para mim que tenho fibromialgia e que tenho depressão, nem para ninguém. Na prática, é muito fácil falar em lutar, mas não é nada fácil quando estas duas patologias nos começam a puxar para baixo. Felizmente, mesmo com muitas adversidades, tenho conseguido dar a volta por cima. E não me posso esquecer de referir que tenho muitas pessoas amigas, que, de certa forma e cada uma à sua maneira, me vão transmitindo valores positivos, me vão desafiando, me vão apoiando cada uma do seu jeito. Uma palavra, uma frase, um abraço no momento certo ou, às vezes, um abanão!

Obrigada por me fazer verter todas as lágrimas acumuladas. Sou grata por hoje, que é Páscoa, estar sozinha em casa, poder refletir, poder caminhar na minha marginal, observando o rio a correr e as pessoas a passear, tomar o meu café. Aqueles pequenos prazeres, tão simples e, que nos trazem tantas energia boa! Hoje não foi dia de estar com ninguém, não foi dia de dar nem de receber, foi apenas o momento certo de estar comigo mesma e de planear a minha vida, os próximos passos a dar. Não é fácil, porque ainda me falta aquele trabalho certo, aquela realizaçaõ profissional que me vai trazer estabilidade para outras coisas que preciso. Mas vou começar a semana com uma vontade renovada. 

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publicado às 18:47

Eunice Munoz

por Elsa Filipe, em 15.04.22

Perdeu-se hoje uma das maiores atrizes portuguesas. Nascida na Amareleja, no distrito de Beja, em 1928, Eunice festejou em Novembro 80 anos de carreira e despediu-se dos palcos com a peça que fez com a neta Lídia "A margem do tempo". Na televisão aparece pela última vez em "Festa é Festa" na TVI.

93 anos de vida pautados por muitas peças de teatro e diversas participações em elencos de novelas, nos quais será sempre recordada. Neste momento ainda não estou preparada para falar desta grande senhora. As saudades serão sempre consoladas com a possibilidade de a voltar a ver através de uma rápida pesquisa na net. Com apenas 13 anos, em 1941, estreia-se no palco do grande Teatro Nacional D. Maria II, em "Vendaval", de Virgínia Vitorino. Partilha o palco com outros nomes sonantes como Amélia Rey Colaço, João Villaret, Palmira Bastos ou Raul de Carvalho e o seu talento brilha tanto que os grandes mestres a integram logo na companhia. Da minha parte, nunca irei esquecer pequenos episódios em que a vi atuar na televisão, na revista à portuguesa, como no "Passa por mim no Rossio" de Filipa la Féria, ou na "Dona Branca" da novela "A banqueira do povo."

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publicado às 23:50

Nuvens

por Elsa Filipe, em 09.04.22

Hoje está muito difícil. Nunca precisaram que o tempo vos acompanhasse? Sabem aqueles dias em que vos apetece fechar a página e passar ao seguinte, simplesmente porque hoje não estão para isto?

É que bem pensado, se ainda viesse uma boa trovoada daquelas com relâmpagos que metessem medo, eu ainda podia ir para dentro do carro sentir as bátegas de água no vidro e ver os raios desfazer a estrada à minha volta, as rajadas arrancar uns pinheiros, rachar ao meio os eucaliptos. É assim que hoje me sinto, explosiva.

A apetecer-me partir a loiça e não a lavar. Atirar o ferro à parede e ignorar que está partido à meses e que tenho de estar sempre a colar adesivo para aguentar mais umas pecinhas de roupa...

Porque é que as coisas têm de ser tão complicadas e porque é que o que é simples não pode ser sempre simples? O tempo podia colaborar e mandar umas nuvens mais carregadas, com chuva e trovoada que me animassem a tarde. Estou na escrita mas sei que o resto está por fazer, o trabalho não está acabado, estou atrasada com prazos. E como é que atrasei tudo, se tive dias "livres" sem trabalho? Claro, simples que ninguém entenda. Na minha testa nascem borbulhas (talvez um par deles já lá tenha tido) mas não aparece uma luz fluorescente a dizer "doente crónica". E sem esse lototipo escarrapachado, fácil que os demais não entendam o que é "fibrofog" nem depressão. Sim, porque essa está cá tem tempo e nunca foi embora, mas as doenças também temos de escolher as que podemos pagar e as que não podemos dar importância. Ora eu optei por pagar nas que me tiram as dores físicas. Sem dor, posso fingir que o resto está bem e continuar a ir trabalhar. 

E como eu me considero uma pessoa inteligente, também finjo que não me dói às vezes. Hoje dói-me os ombros (o esquerdo está pior), as articulações das mãos, o osso da perna esquerda e o tornozelo e, claro, a cabeça. Mas ontem a dor era maior nas articulações do braço e mão direitas mas também no ombro esquerdo, na anca direita e joelho esquerdo (mesmo assim não me enganei). Ora se  alguém ouvisse e prestasse devida atenção, hoje ia achar que "ah, enganaste-me bem!" Pois ia achar que ou eu era louca ou mentirosa, ou que não sei os nomes das partes do corpo. Mas para meu próprio mal, sei bem os nomes e nomezinhos de todos os ossos, músculos e coisinhas mais! 

E agora que descarreguei aqui um bocadinho de más energias na folha, vou aquecer café e tentar acabar os manuais que deviam já estar prontos! Depois logo tento acabar de fingir que arrumo a casa.

 

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publicado às 16:27

Chover no molhado

por Elsa Filipe, em 08.04.22

Esta semana não tem sido fácil, nem este mês, nem este ano.

Mudar é sempre uma decisão complicada, especilamente quando temos quem dependa de nós e nunca sei se estou à altura de atingir os meus objetivos, nem que seja o de pôr comida na mesa em todas as refeições e pagar as contas.

O pior é quando sentimos que de alguma forma temos de tomar decisões difíceis, fazer as escolhas que uns meses (anos?) antes não teríamos de fazer. Aí nessas alturas eu penso, "pior era se o meu país estivesse em guerra e eu de malas às costas a fugir daqui" mas porra! Eu não mereço isto, não estudei para isto (sim, já me arrependi bem de não ter seguido secretariado, mas pronto é o que acontece quando ouvimos os outros e temos vergonha de dizer que afinal já não queremos ser professoras como queríamos aos seis anos de idade).

A nossa vida devia dar para espreitar mais à frente, nem que fosse só um episódio do futuro. Assim escusavamos de andar a fazer figura de ursos em caminhos que não levam a lado nenhum. 

Esta semana, alguém me perguntou "mas tirou o curso, trabalhou e depois esteve tantos anos noutra área?" Porque numa dada altura da minha vida, eu era "muito nova" e tinha "pouca experiência". Hello! Eu tive de ir trabalhar noutra profissão, numa que eu sabia fazer, que tinha experiência e onde aprendi muito e ganhei ainda mais competências, mas não porque fosse o meu sonho, foi só para pôr dinheiro em casa e comida na mesa.

Felizmente, numa determinada altura da minha vida tive pessoas que me ajudaram a superar, me arranjaram trabalho e me deram uma oportunidade de ir em frente. Ao Zé e à Fátima nunca serei suficientemente grata. Mas infelizmente, à minha volta houve também gente a pisar-me. Essas pisadelas, empurrões, estão gravadas no meu corpo fisicamente como se não tivessem sido só palavras e atos nas minhas costas (ou mesmo à minha frente, sem vergonha que eu visse, a olharem-me nos olhos enquanto me prejudicavam e ficavam por cima).

A dor é física como é psicológica. Às vezes, dói tanto que tenho me marcar os dentes no pulso ou no braço para retirar o foco da dor "oca" noutras partes do corpo. Oca porque é como se estivesse com uma zona vazia, fria, uma dor fantasma num membro que ainda lá está, que dói como se estivesse partido, queimado mas que eu olho e não tem lá nada!

Apetece bater até marcar, negro, para depois mostrar e dizerem "ah, não te dói aí?" Talvez entendessem a dor sem sentido, fantasmagórica que me acorda de noite e me massacra. Qundo não vem dor, vem a comichão ou as cãibras, ou a dor, a comichão e as cãibras. E só quero que a noite acabe e de manhã o dia amanheça como se eu tivesse dormido bem, mas nada disto acontece.

Estou sem tomar medicação. Várias semanas já, a levar-me à loucura.

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publicado às 22:00

A NATO

por Elsa Filipe, em 04.04.22

Não é raro o dia em que esta sigla não nos entre "casa dentro", mas quais são os seus objetivos, de uma forma geral? O que significa e o que faz esta organização?

Criada a 4 de abril de 1948, NATO (em português, OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte) é formada hoje em dia por 30 países, e tem como principais objetivos a promoção de valores democráticos e a promoção entre os seus membros, a consulta e cooperação em matérias relacionadas com a defesa e segurança com vista a resolver problemas, desenvolver confiança e, a longo prazo, evitar conflitos. O último país a aderir à NATO foi a Macedónia do Norte, em 2020.

 A sede da NATO localiza-se na região belga de Bruxelas (Bélgica).

A nível militar, esta organização afirma estar empenhada na resolução pacífica de litígios, mas caso os esforços diplomáticos falhem, a NATO conta com poder militar para realizar operações de gestão de crises. Estas são realizadas no âmbito da cláusula de defesa coletiva do tratado de fundação da NATO - Artigo 5º do Tratado de Washington ou no âmbito do mandato das Nações Unidas, individualmente ou em cooperação com outros países e organizações internacionais.

A NATO pauta-se pelo princípio de que um ataque contra um ou mais dos seus membros é considerado um ataque contra todos. Este é o princípio de defesa coletiva consagrado no Artigo 5º do Tratado de Washington.

Até hoje, o Artigo 5º foi invocado apenas uma vez - em resposta aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.

Cada país membro tem uma delegação permanente na sede política da NATO em Bruxelas. Cada delegação é liderada por um "embaixador" que representa o seu governo no processo de consulta e tomada de decisão da Aliança.

O Conselho do Atlântico Norte (CAN) é o principal organismo de decisão política da NATO. Cada país membro tem um assento no CAN.
O Conselho reúne-se, pelo menos, uma vez por semana ou sempre que seja necessário, a diferentes níveis. É presidido pelo Secretário-Geral, que ajuda os membros a chegarem a acordo sobre matérias fundamentais. Ele é também responsável por orientar o processo de consulta e de tomada de decisões na Aliança e por garantir a implementação das decisões. O Secretário-Geral é igualmente o principal porta-voz da NATO, e lidera o Secretariado Internacional da Organização, que presta aconselhamento, orientação e apoio administrativo às delegações nacionais na sede da NATO. 

O atual secretário-geral é o ex-primeiro-ministro norueguês Jens Stoltenberg, que assumiu o cargo a 1 de outubro de 2014. A liderança de Stoltenberg como secretário-geral foi prorrogada para outro mandato de quatro anos, o que significa que ele liderará a OTAN até 30 de setembro de 2022.

Temos de perceber a conjuntura que se vivia na época em que foi criada. Tinha terminado a 2ª Guerra Mundial em 1945. Em 1948, inicia-se a Guerra Israelo-Árabe, quando o Egito, a Síria, a Jordânia, o Líbano e o Iraque, apoiados pela Arábia Saudita e pelo Iémene, invadem o território do antigo Mandato Britânico da Palestina.

Por outro lado,  enquanto a Organização das Nações Unidas (ONU) era estabelecida para estimular a cooperação global e evitar futuros conflitos, a União Soviética e os Estados Unidos emergiam como superpotências rivais, preparando o terreno para uma Guerra Fria que se estenderia pelos próximos quarenta e seis anos (1945-1991). 

A NATO era inicialmente pouco mais que uma associação política, até ao despoletar da Guerra da Coreia. A Guerra Fria levou a uma rivalidade com os países do Pacto de Varsóvia (assinado em 1955 pela União Soviética e sete outras repúblicas socialistas do Bloco Oriental da Europa Central e Oriental).  As dúvidas sobre a força da relação entre os países europeus e os Estados Unidos eram constantes, junto com questões sobre a credibilidade das defesas da NATO contra uma potencial invasão da União Soviética, o que levou ao desenvolvimento da dissuasão nuclear francesa independente e a retirada da França da estrutura militar da organização em 1966 por 30 anos.

Depois  da queda do muro de Berlim, em 1989, a organização foi levada a intervir na dissolução da Jugoslávia e conduziu as suas primeiras intervenções militares na Bósnia em 1992-1995 e, posteriormente, na Jugoslávia em 1999. Politicamente, a organização procurou melhorar as relações com países do antigo Pacto de Varsóvia, muitos dos quais acabaram por se juntar à aliança em 1999 e 2004.

Assim, percebendo um pouco da confusão geo-política que se vivia, em 1948, surge o Tratado de Bruxelas. Este foi um tratado de defesa mútua criado contra a ameaça soviética no início da Guerra Fria, assinado em 17 de março de 1948 por Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo, França e Reino Unido e é a este tratado que devemos o posterior aparecimento da NATO. Devido à ameaça soviética e ao Bloqueio de Berlim em 1948, procedeu-se à criação de uma organização de defesa multinacional, a Organização de Defesa da União Ocidental, em setembro de 1948. Mas com membros com pouco poder militar e ainda não recuperados da grande guerra, os líderes europeus reuniram-se com oficiais de defesa, militares e diplomáticos norte-americanos no Pentágono para projetar uma estrutura nova e sem precedentes para uma associação. As negociações resultaram no Tratado do Atlântico Norte. Incluiu os cinco países do Tratado de Bruxelas, bem como os Estados Unidos, Canadá, Portugal, Itália, Noruega, Dinamarca e Islândia.

 

 

Fontes:

https://www.nato.int/nato-welcome/index_pt.html#members

https://pt.wikipedia.org/wiki/Secret%C3%A1rio-geral_da_Organiza%C3%A7%C3%A3o_do_Tratado_do_Atl%C3%A2ntico_Norte

https://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_Mundial

https://pt.wikipedia.org/wiki/Pacto_de_Vars%C3%B3via

https://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_do_Tratado_do_Atl%C3%A2ntico_Norte

 

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publicado às 11:54


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