Escrever é algo que me apraz. Ante a minha vontade de criar, muitas vezes me falta tempo. Aqui passo da vontade à prática. Este é um caderno onde escrevo sobre a minha vida pessoal e temas da atualidade que me fazem refletir.
Escrever é algo que me apraz. Ante a minha vontade de criar, muitas vezes me falta tempo. Aqui passo da vontade à prática. Este é um caderno onde escrevo sobre a minha vida pessoal e temas da atualidade que me fazem refletir.
Tem sido difícil passar com distinção por este maldito vírus, cumprindo tudo o que nos é imposto mais pela vontade de ajudar e ser parte da solução, do que por medidas e regras que na prática nem todos cumprem.
Esta semana, a turma do meu filho foi colocada em isolamento porque houve um caso positivo. Sou sincera quando afirmo que há muito aguardava que isto acontecesse e que se tivessem passado tantos meses até ao primeiro caso positivo. Aconteceu e ninguém teve culpa, nenhum de nós estava livre (ou está) de contrair e transmitir o vírus.
Estamos na reta final para acabar o ano letivo. Quando falta tão pouco, parece que a sensação é de uma injustiça ainda maior. O sentimento é de apoio, de compreensão e de ajuda na tentativa de manter todas as crianças bem, naquilo que nos for possível, para que ainda possam regressar daqui a uns dias e se depedirem uns dos outros antes das férias de verão.
No próprio dia, assim que soube, fui comprar dois daqueles testes rápidos da farmácia e hoje o resultado do teste "oficial" confirmou que ele está negativo, e isso traz-nos esperança.
Principalmente, psicologicamente, está-me a afetar como mãe, pondo-me no lugar da mãe da criança que testou positivo. Se estou aflita com o meu e ele está otimo, como estará aquela família?
Eu estou a passar por isto com receio. Receio porque tenho de faltar a um trabalho que ainda há tão pouco tempo consegui, aflita de cada vez que penso que passados uns dias a comida vai começar a acabar e terei de sair de casa ou pedir a alguém que o faça por mim (posso, mas não me sinto confortável em o fazer, é um sentimento estranho, algo que me aprisiona e que não sei explicar).
Lembro-me do "Fininho" do concurso 1,2,3. Mas a sua carreira foi muito grande e rica! Tanto que fez pela nossa cultura e tão grande a sua luta. Trabalhou com a grande Laura Alves, com Vasco Santana, Raúl Solnado e tantos outros grandes figuras do teatro.
Achava-o engraçado. Nos meus tempos de criança, passava de certo mais tempo a brincar nas escadas da minha avó ou na praia, do que a ver televisão, mas ao jantar havia sempre uma televisão acesa, fosse nas notícias, fosse num concurso que passasse. Podia escrever muito sobre ele, mas será melhor ver a entrevista da própria boca, na Tarde é sua.
Lembro-me do "Homem mais belo do mundo", da revista "Lisboa, Tejo e Tudo", de César de Oliveira, Raul Solnado e Fialho Gouveia, em que ele participou, no Teatro ABC, em 1986, que não vi no original, mas vi várias vezes em repetições que iam sendo transmitidas na RTP. A minha avó, fã de teatro de revista, tinha cassetes que ia gravando com transmissões televisivas de revista e que eu ia vendo sempre que ela me deixava.
O ator nascido a 11 de Junho de 1943, faleceu aos 77 anos, em Santarém.
O percurso de Carlos Miguel no teatro teve início em 1959, no Conservatório Nacional, em simultâneo com os seus primeiros trabalhos em palco, no Teatro da Trindade, num espetáculo de mímica, que também viria a estudar em Paris.
Na década de 1960, fez parte da Companhia Lírica e da Companhia de Teatro Popular, mas foi na Empresa Teatral José Miguel, que se manteve ativa durante cerca de 20 anos, que se estreou na revista. Foi em 1966, na produção "Mini saias", de Paulo da Fonseca, César de Oliveira e Rogério Bracinha.
O sucesso e a facilidade com que se adaptou ao modelo ditaram o seu futuro nas quatro décadas seguintes, durante as quais entrou em cerca de 200 peças, na maioria de revista, muitas delas 'produções-chave' da história do "teatro musical à portuguesa", como "O prato do dia", "Pimenta na língua", "Ora bolas p'ró Pagode" e "Cala-te boca!...", um desafio à censura dos últimos anos da ditadura.
Participou em teatro de revista como "Lisboa acordou", "Ó pá, pega na vassoura!", "Ó patêgo, olha o balão", "Vamos a votos", "Quem tem Ecu tem medo" e, mais tarde, o grande sucesso da sua carreira e talvez um dos últimos dos tempos em plenitude do Parque Mayer, "Lisboa, Tejo e tudo", uma produção da Empresa Carlos Santos.
O ator também entrou em comédias, como "Os porquinhos da Índia", "A cama dos comuns", "Que medo, senhor Alfredo!" e "Três na (mesma) cama.
O seu nome era presença regular nas produções de teatro comercial, de empresários como Giuseppe Bastos e Vasco Morgado, interpretando sobretudo autores portugueses.
Sucederam-se então, nos anos de 1980/1990, novos trabalhos em televisão, sempre em comédia - ou a fazer valer o seu jeito de comédia - em séries como "Eu Show Nico" e "Nico D'Obra", de Nicolau Breyner, "Trapos e Companhia", "Os Andrades", "Polícias", "Reformado e Mal Pago" e "Médico de Família".
Um cancro nas cordas vocais, em 1998, afastou-o da profissão e de Lisboa, onde nascera, para se fixar na aldeia do Granho, em Salvaterra de Magos.
Como disse Carlos Miguel, a importância estava na cultura: "É a alma das coisas, sem cultura não há futuro".