50 anos da morte de Salazar
Na manhã de 27 de julho de 1970, os ardinas vendiam nas ruas jornais onde em letras garrafais se contava da morte de António de Oliveira Salazar.
Nascido em Santa Comba Dão, a 28 de abril de 1889, Salazar chefiou diversos ministérios, foi presidente do Conselho de Ministros do governo ditatorial do Estado Novo e professor catedrático de Economia Política, Ciência das Finanças e Economia Social da Universidade de Coimbra.
Em 1921, Salazar foi eleito deputado pelo "Centro Católico Português", porém, pouco depois renunciou o cargo face à anarquia republicana que dominava o Parlamento.
O sistema parlamentar que havia sido implantado em Portugal em 5 de outubro de 1910 estava em crise e no dia 28 de maio de 1926, o general Gomes da Costa liderou uma revolta militar que pôs fim ao sistema, dando início a uma Ditadura Militar.
Após o derrube do presidente Bernardino Luís Machado Guimarães, Salazar foi convidado para assumir o cargo de Ministro da Economia, que ocupou apenas durante cinco dias, por lhe serem negados plenos poderes para implantar as medidas económicas que planeava.
Salazar voltou ao ensino e publicou artigos que criticavam as contas públicas do estado, cuja crise financeira se agravou após o golpe.
Dois anos mais tarde, António Oscar de Fragoso Carmona, então presidente, confiou-lhe novamente a pasta da Economia, desta vez com total controle de todas as contas públicas.
A sua exigência foi satisfeita e Salazar impôs forte austeridade e um rigoroso controlo de contas, com aumentos enormes de impostos e criação de novos, adiamento de obras de fomento e congelamento de saláriosvoltar a exercer esse cargo entre 1928 e 1932, procedendo ao saneamento das finanças públicas portuguesas.
No dia 5 de julho de 1932, Carmona nomeou Salazar como primeiro ministro de Portugal. Em 1933, Salazar promulgou a constituição referendada por plebiscito, que instaurou um regime inspirado no fascismo italiano, de caráter “unitário e corporativo”. Presidente do Conselho de Ministros entre 1933 e 1968, a sua permanência na frente do país teve como inspiração os nacionalismos e fascismos que surgiam na Europa, de onde segue duas frentes complementares: a da propaganda e a da repressão.
Salazar fundou o que ficou conhecido por “Estado Novo”, um regime autoritário, de partido único – a “União Nacional”. Foi um período marcado pelo fim das liberdades políticas, pois a Assembleia Nacional da época era composta apenas por aliados de Salazar.
Para consolidar o novo regime, Salazar adotou o “Estatuto do Trabalho Nacional”, que reunia num mesmo organismo, submetido ao controlo do governo, as associações operárias e patronais, a criação de organizações paramilitares e da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) e a polícia política com poderes ilimitados.
O nacionalismo exacerbado e a censura aos meios de comunicação e a fundação do Secretariado Nacional de Propaganda foram outras medidas adotadas pelo regime de Salazar.
Com ideiais de inspiração fascista e apoiando-se na doutrinasocial da Igreja Católica, Salazar orientou-se para um corporativismo de Estado, com uma linha de acção económica nacionalista assente no ideal da autarcia.
Este seu ideal nacionalista económico conduziu-o a medidas de protecionismo e isolacionismo de natureza fiscal, tarifária, alfandegária, para Portugal e suas colónias. O impacto foi enorme!
Durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Salazar assumiu também o “Ministério de Assuntos Exteriores”.
Em 1937, aprovou o governo do ditador espanhol Francisco Franco, com que formou, cinco anos mais tarde, o Pacto Ibérico, pelo qual Portugal e Espanha se declararam a favor de uma política de estrita neutralidade.
Salazar conseguiu o ingresso de Portugal no Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em 1949, uma aliança político-militar constituída por democracias.
O último desafio de Salazar foi manter a todo custo as possessões portuguesas na Ásia e na África. Em 1961 assumiu a direção do “Ministério da Guerra”, mas não conseguiu deter a eclosão de violentos distúrbios nos domínios portuguesas de Guiné-Bissau, Angola e Moçambique que duraram 13 anos.
A sua morte não pôs fim ao regime. Em 1968, com 79 anos, dois anos antes de morrer, Salazar estava de férias, no forte de Santo António do Estoril, quando o improvável aconteceu. Não se saberá nunca se foi por descuido, desiquilíbrio - ou por mera debilidade da cadeira de lona. O que é certo é que bateu violentamente com a cabeça no chão de pedra. O choque provocou-lhe um hematoma cerebral, o suficiente para limitar a sua capacidade de raciocínio, mas que passou despercebido. O próprio Salazar recusou que se chamasse um médico.
A imprensa não soube do estado de saúde do chefe de governo e as autoridades mantiveram segredo sobre este facto de rara importância política. Muitos dirigentes nem terão notado que se passara algo de anormal.
O País soube pela Emissora Nacional, mas apenas a 7 de Setembro, que Salazar fora operado a um hematoma intracraniano. A causa tinha sido uma queda da cadeira, na sua residência de Verão, no forte de Santo António de Estoril. A data do tombo não foi divulgada.
Nunca mais recuperou.
Nove dias depois da operação, um acidente vascular no hemisfério cerebral direito de António Salazar interrompeu com brutalidade todo o processo da recuperação.
Não havia alternativa senão substituir o líder. A 26 de Setembro de 1968, o Presidente Américo Tomás nomeou Marcelo Caetano primeiro-ministro (na altura, chamava-se Presidente do Conselho). O contexto da transição era difícil e foi decidido manter, para o doente no hospital da Cruz Vermelha todas as honras inerentes ao cargo de chefe do governo.
Este é um dos elementos talvez mais simbólicos do apodrecimento do regime autoritário. Salazar estava mentalmente muito limitado, mas os ministros fingiam realizar Conselhos de ministros na sua presença e o ditador julgava que ainda decidia.
Em Julho de 1970, terminou a lenta agonia. O antigo chefe de Governo, sofreu um súbito agravamento do estado de saúde, por infeção. Pneumonias, infecção renal, insuficiências cardiovasculares profundas, a situação agravou-se de dia para dia, até ao colapso definitivo, no dia 27 de Julho de 1970, de manhã, quase dois anos depois da mítica queda da cadeira. O regime não iria sobreviver muito tempo a Salazar.
Fontes:
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/morte-de-antonio-de-oliveira-salazar-i-parte/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_de_Oliveira_Salazar
https://www.dn.pt/arquivo/2008/o-dia-em-que-salazar-caiu-da-cadeira-1126667.html
https://www.ebiografia.com/antonio_de_oliveira_salazar/