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Um ano negro - violência doméstica

por Elsa Filipe, em 30.12.19

Este foi um ano com vários casos de violência doméstica que resultaram na morte de, ao que se sabe, 30 pessoas: 26 mulheres, 1 criança e 7 homens. O crime de violência doméstica é muitas vezes o ponto de partida para crimes de homícídio na forma tentada e consumada. Esta é uma temática que me deixa sempre bastante preocupada. Muitas vezes acontece mesmo ao nosso lado e não nos apercebemos ou desvalorizamos aquilo que se "escuta". Nos noticiários, há diariamente alertas. Nos programas diários contam-se relatos de superação mas, infelizmente, também se relatam muitos casos de homicídio em contexto de violência doméstica.

Um dos casos mais mediáticos foi o que vitimou a pequena Lara e a sua avó, Helena, no dia 5 de fevereiro. A avó foi esfaqueada à porta de casa e a menina, levada para parte incerta pelo pai. No dia seguinte, o corpo da menina aparece dentro do porta bagagens do carro do progenitor, que ainda avisou onde tinha deixado o carro antes de se suicidar. Nesta data, já eram 10 as vítimas de violência doméstica. O caso aconteceu aqui perto, o que me fez sentir uma certa revolta, por pensar como é que "ninguém" deu conta, ninguém o travou! Não teria havido forma de evitar a morte da avó e da menina?

Mas ao longo do ano, o número de casos foi-se acumulando! Em Torres Vedras, a 7 de abril, uma menina de 14 anos, encontrou o corpo da mãe, vítima de estrangulamento deixada dentro da banheira. A vítima tinha 44 anos e o crime terá sido cometido pelo ex-namorado da vítima. A menina de apenas 14 anos, estaria fora de casa a trabalhar como babysitter. Depois do crime, o suspeito conseguiu fugir, mas acabou por ser detido mais tarde pela GNR para ser presente a um juiz. 

Na passada sexta-feira, uma mulher foi morta em Leiria pelo companheiro. O homem, de 35 anos, degolou a mulher de 34 anos com um x-ato. Na mesma casa estavam presentes os filhos da vítima, de dois e seis anos, que estão atualmente sob a responsabilidade da Comissão da Proteção de Crianças e Jovens. Fonte policial revelou à agência Lusa que a PSP tinha sido alertada para discussões entre o casal, “mas nada previa este desfecho”.

Em Cascais, um homem de 43 esfaqueou mortalmente a ex-companheira este sábado à noite, à porta do prédio da vítima. O suspeito, entretanto detido pelas autoridades, terá ficado à espera da mulher no prédio onde esta habitava com o filho e o novo namorado. Esfaqueou-a duas vezes e depois pôs-se em fuga. A mulher acabou por morrer.

Estes são apenas alguns dos casos que marcaram as notícias deste ano e que nos fazem pensar. Sendo a violência doméstica um crime público e, sabendo nós que, em alguns destes casos, já haveria medidas de afastamento, o que falta ainda fazer para diminuir este número elevado de mortes?

De que forma é que é possível manter as vítimas em segurança? É que em muitos casos, as mortes ocorrem depois dos agressores saberem que tinham sido denunciados. E quando as autoridades nem as queixas aceitam? Se uma mulher ou um homem, se desloca a uma esquadra ou a um posto para pedir ajuda, como é que ainda existem elementos da autoridade que desvalorizam estas queixas? No final de 2018, cerca de 63% dos postos e esquadras de competência territorial possuía uma Salas de Atendimento à Vítima (SAV), refere o MAI. O objetivo é que "todas as novas infraestruturas da PSP e da GNR - a construir de raiz ou a serem recuperadas" já tenham ou venham a ter uma destas salas.

Eu própria já vi vários casos de violência doméstica, em que o mais extremo foi o de uma jovem mãe assassinada com dezenas de facadas e com um filho pequenino na mesma casa. Não foi este ano, mas por muitos anos que viva nunca vou esquecer aquela imagem. Nunca mais me esquecerei do cenário, nem penso que algum me sairá da cabeça a sensação de perceber que aquela mulher deu luta por toda a casa e que havia salpicos de sangue no chão, nas paredes, no sofá, no teto... e muito, muito, nas mãos e roupinha da criança que estava a tentar "acordar" a mãe.

Muitos outros casos não resultaram em morte, mas em agressões muito graves e com danos físicos e psicológicos graves. E quando as vítimas ganham a coragem para se queixar, são muitas vezes "detidas" com palavras que desvalorizam o que estão a passar e em alguns casos com incentivos à reconcilização do casal. Isto transmite à vítima que ela não é importante o suficiente para que se importem com ela, fortalecendo o poder que o agressor investe sobre a vítima.

Fontes:

https://tvi.iol.pt/noticias/sociedade/mortos/os-crimes-de-violencia-domestica-que-marcaram-2019

https://sol.sapo.pt/artigo/652831/viol-ncia-domestica-mortes-voltam-a-subir

https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/violencia-domestica-mais-mulheres-mortas-em-2019-do-que-em-2018

https://www.esquerda.net/artigo/violencia-domestica-matou-30-mulheres-em-portugal-so-em-2019/65152

https://www.dn.pt/pais/dois-meses-e-11-dias-23-pessoas-mortas-14-por-violencia-domestica-10667254.html

 

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publicado às 19:33

Depressão Elsa

por Elsa Filipe, em 20.12.19

A depressão batizada com o meu nome atingiu Portugal com bastante força nesta quinta-feira, trazendo consigo muita chuva e ventos fortes. As consequências foram a queda de árvores, o corte de estradas, o cancelamento de voos e de ligações marítimas. Podiam ter dado o meu nome a um dia de sol, mas não, escolheram dá-lo a temporal. 

Desta vez, o mau tempo provocou já a morte de pelo menos duas pessoas. Estão neste momento nove distritos - Viseu, Guarda, Castelo Branco, Aveiro, Coimbra, Braga, Porto, Vila Real e Viana do Castelo - em alerta vermelho.

Também foram várias as infraestruturas, como o museu MAAT, em Lisboa, ou a Casa da Arquitetura, em Matosinhos, que sofreram danos e por isso certamente irão ficar encerradas nos próximos dias para que se possa proceder à sua reparação.

As autoridades falam em cerca de 3000 ocorrências registadas e alertaram também para o risco de cinco rios poderem ultrapassar o seu limite de caudal e levarem a novas cheias.

Devido ao agravamento das condições atmosféricas também o fornecimento de energia elétrica,  foi afetado em algumas regiões, sobretudo pelos ventos fortes.

O natal deverá ser chuvoso, uma vez que se prevê (pelo meonos pelo que avisam nos noticiários) que depois de passar a depressão Elsa irá chegar a Fabien, que é outra tempestade idêntica mas da qual não se prevêm tantos estragos. Mesmo assim, atenção porque a chuva persistente deverá manter-se. Devemos por isso estar atentos aos noticiários e, caso não seja necessário, até evitar sair.

Fontes:

https://www.cmjornal.pt/sociedade/detalhe/depressao-elsa-faz-dois-mortos-e-deixa-rasto-de-destruicao-em-portugal

https://pt.euronews.com/2019/12/19/depressao-elsa-faz-dois-mortos-e-provoca-caos-em-portugal

 

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publicado às 15:40

Na noite de 2 para 3 de dezembro de 1984, a cidade de Bhopal, fica coberta por um manto venenoso que sufoca e mata milhares de pessoas. Um acidente "nas instalações da empresa norte-americana Union Carbide, em Bhopal, capital do estado de Madhya Pradesh", fez cerca de "oito mil mortos," (embora o Governo de Nova Deli só admita três mil "vítimas mortais diretas"). Existem também algumas referências que colocam os números acima das "10 mil mortes por doenças resultantes da inalação do gás."

O que se passou em Bhopal, tem de ser lembrado e falado, para que não voltem a ficar impunes os maiores culpados só porque os mais pobres não tiveram dinheiro nem poder. Infelizmente, o que se passou em Bhopal pode estar a acontecer ainda noutras partes do mundo e quantas "bombas-relógio" estarão por aí à espera de matar!

Um acidente na fábrica de pesticidas que se localizava em "Bhopal, Índia, fez com que fossem libertados gases altamente tóxicos, entre os quais cianeto." Os trabalhadores da fábrica, habituados a leituras erradas, primeiramente pensaram que se tratava apenas de uma pequena fuga, tentaram depois controlar a fuga com os meios ao seu dispor. Infelizmente, os sistemas de segurança não funcionaram ou não existiam e o pior acabou por acontecer. Nem sequer as magueiras de água, que eram demasiado curtas para alcançar a altura da chaminé por onde saía o gás, poderam conter os gases que saiam pela fábrica e o "vento que soprava nesse 3 de dezembro de 1984 espalhou os gases sobre toda a cidade e arredores."

Muitas das pessoas já dormiam, mas com as janelas abertas e habitações precárias e mal vedadas, rapidamente começaram a sentir os olhos a arder e dificuldades em respirar. A falta de ar fez com que grande parte da população viesse para a rua e, apercebendo-se do ambiente tóxico, começaram a fugir. Esta fuga, apenas serviu para agravar os sintomas, uma vez que acabaram por se "afogar" mais rapidamente nas suas próprias secreções.

"A substância tóxica em causa era o isocianato de metila, tendo ficado a pairar sobre a cidade e seus arredores, onde se concentra em bairros de lata a população mais pobre, mais de 40 toneladas daquele produto. O isocianato de metila causa uma morte dolorosa a quem o aspirar, atacando as vias respiratórias até à asfixia; reage também violentamente com a humidade da vista, causando cegueira."

"Todos os anos continuam a nascer bebés com malformações e o número de doenças crónicas é mais elevado que no resto do país."

"O derrame de gases tóxicos provenientes de uma fábrica de pesticidas, é considerado por muitos como o pior desastre industrial ocorrido até hoje. Mais de meio milhão de pessoas foi atingido pelos gases." Muitos ainda hoje sofrem os seus efeitos. A fábrica foi encerrada, mas continua lá. Pior do que lembrar a todos o que se passou naquela noite e nos dias que se seguiram, continua a largar nas terras circundantes os restos de veneno que ainda circulam nos canos e depósitos ferrugentos, contaminando lençóis de água e terrenos agrícolas. Apesar das "autoridades locais" afirmarem que "o consumo" de água é seguro, "a BBC recolheu uma amostra para análises" e o resultado revelou que "o líquido recolhido continha mil vezes o valor máximo recomendado pela Organização Mundial da Saúde de tetraclorido de carbono, substância que ataca o fígado e pode originar cancro."

"Associações ambientalistas e de direitos humanos afirmam que existem milhares de toneladas de lixo tóxico nos solos da fábrica abandonada." Mas as pessoas continuam a viver ali e a conviver diariamente com a fábrica, recordando diariamente os efeitos daquela noite. 

Cinco anos depois desta tragédia, "a Union Carbide, propriedade da Dow Chemicals" aceitou indemnizar várias das vítimas e famílias afetadas em "Nova Deli", mas o valor foi demasiado insignificante perante a perda de vidas. "Nunca se realizou qualquer julgamento dos responsáveis da fábrica."

Fontes:

https://pt.euronews.com/2014/12/02/acidente-de-bhopal-foi-ha-30-anos

https://www.publico.pt/2014/12/02/fotogaleria/bhopal-342287

https://www.dn.pt/globo/asia/bhopal-lembra-pior-acidente-industrial-da-historia--1438297.html/

 

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publicado às 11:34


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