Neste dia, voltemos à madrugada de 28 de fevereiro de 1969. Passaram-se 50 anos, mas ainda há quem se lembre desta madrugada. Casas destruídas, prédios que ficaram inclinados, casas desniveladas... dezenas de feridos e centenas de desalojados.
As pessoas acordaram com as paredes das casas a abanar e um barulho ensurdecedor. Muitos são os relatos das pessoas que viveram o sismo de 1969. Nesta data, o escândalo nacional que tinha sido a ida de Simone de Oliveira ao Festival da Canção, foi esquecida devido ao sismo que abalou o país naquela noite.
Em terra, a noite estava chuvosa, mas no mar o céu até se apresentava limpo. Segundo o IPMA, "tratou-se do sismo de maior magnitude sentido na Europa desde o grande terramoto de Lisboa de 1755." O pânico foi generalizado entre a população, tendo havido "cortes nas telecomunicações e no fornecimento de energia elétrica."
A vibração terá levado cerca de um minuto. O Algarve foi a zona mais afetada com uma aldeia inteira a "desaparecer do mapa." Mas poderia ter sido bem pior, não tivesse sido a distância a que se deu o epicentro.
Em Lisboa, caíram fachadas e desmoronaram varandins. Ao abalo principal de 7.9, seguiu-se uma réplica de 5.4 na Escala de Richter, tendo havido oficialmemente três vítimas diretas, resultantes de danos provocados pelo abalo. De acordo com a tese de Ana Vieira(1), as três vítimas foram as seguintes: "em Sines, na enfermaria do
hospital, um homem foi atingido por um tijolo que perfurou o tecto tendo sido, posteriormente, transferido para o Hospital de São José, onde não resistiu aos ferimentos (República 02/03/1969). Em Lagos, no lugar de São João, o colapso de uma residência provocou mais uma vítima (Diário de Notícias 01/03/1969). A última vítima mortal foi um pescador cujo corpo foi descoberto debaixo dos escombros de uma rocha que, devido ao sismo, se terá fragmentado (Diário Popular 12/03/1969)." Os registos acabam por ser díspares e, se uns apontam que o pescador terá morrido na "Praia do Vau" outros localizam a mesma morte "na Praia da Rocha."
Em relação aos restantes mortos, a sua ocorrência ter-se-á devido a síncopes e outros acidentes não diretamente relacionados com o sismo, mas que a este poderiam ter sido atribuídos. No site da RTP(2) os números que encontramos são desde logo diferentes, apontando para "treze pessoas" a perderem a vida. O mesmo nos diz o artigo hoje publicado no Diário de Notícias (3), afirmando que destas vítimas, "duas " terão ocorrido "em consequência direta do abalo e 11 indiretas, algumas acometidas de síncopes."
Quanto aos feridos, também não existe um registo exato do seu número. Na sua pesquisa, Vieira(1) indica que se registaram "cerca de 70 feridos em Lisboa e 150 na região do Algarve, sendo estas as regiões mais afectadas no país." No entanto, basta-nos pesquisar os jornais da época, principalmente os desse dia e do dia seguinte para vermos que existiu uma discrepância de números: no dia 28, o "Diário de Lisboa" apontava 60 feridos na capital,
As pessoas concentraram-se nas ruas, mesmo com o frio e a cacimba que se fazia sentir. O pânico voltou a instalar-se quando por volta das 5:28, se sentiu "uma réplica de pequena intensidade." Pequena, pequena, não terá sido, mas menor do que a primeira sim. As estruturas já danificadas podiam de facto ruir e por isso ninguém voltava para dentro. De entre as descrições dessa madrugada, cada um contou o que viu e o que sentiu. "Muitos diziam que o céu tinha tomado uma coloração rubra, a fazer lembrar uma aurora boreal, depois viram uma rápido mas intenso clarão."
Um outro relato é o do comandante da embarcação "Manuel Vicente" que navegava àquela hora muito próximo do local do epicentro do sismo. De acordo com o publicado no Diário de Notícias (3) e cuja descrição já li também em outras fontes, "o comandante Oliveira Manata estava nessa altura recolhido, a ler. Eram, 1:43 locais e percebeu que o navio se estava a comporta de forma estranha. Começou a arfar, uma expressão que na linguagem náutica significa um movimento parecido com o abrir e fechar da mão." Disse o comandante que "embora construído em ferro, o barco tem uma certa elasticidade, mas naquela altura sentiu-se o esforço dele. Logo a seguir, deixou de arfar e começou a vibrar com muita força." Contou ainda que foi possível ver"o mar, e um lado e de outro, borbulhar como a água de uma panela a ferver. Logo que parou a vibração, vieram duas vagas grandes; o navio subiu uma, desceu a outra e passou-a também. Depois tudo serenou." Estas vagas chegariam a terra, mas sem grandes danos a registar.
Quando a luz do dia permitiu avaliar melhor os estragos, viram-se então diversos "carros soterrados por paredes que caíram." Em Lisboa, "os hospitais de São José (onde uma parte teve de ser evacuada) e o Curry Cabral também ficaram danificados." Em Castro Marim, no Algarve, o Hospital de Castro Marim, "ficou praticamente destruído. Na povoação de Casseia, várias casas vieram abaixo e a igreja, reconstruída após o terramoto de 1775, sofreu danos consideráveis." Bastante afetadas ficaram ainda as aldeias de Bensafrim, próximo de Lagos, (esta a "ficar praticamente destruída", com "cerca de 50 habitações" a serem "deitadas ao chão pelo terramoto") e de Fonte Louzeiros, perto de Alcantarilha, (onde não houve uma casa que ficasse de pé). Muitos foram os desalojados como se pode perceber.
É curioso que agora as pessoas falem sobre este sismo, mas temos de nos lembrar que naquela altura não havia a comunicação social como a temos hoje. "A realidade pretendia-se pacífica e harmoniosa." Os jornais e as rádios estavam limitados pela censura e as notícias iam chegando através dos seus correspondentes, que eram enviados aos locais e falavam com as populações.
Fontes:
(1) file:///C:/Users/pcmultimedia/Videos/Downloads/Ana%20Vieira_81693_TESE%20(1).pdf
(2) https://ensina.rtp.pt/artigo/memorias-do-sismo-de-1969/
(3) https://www.dn.pt/arquivo/diario-de-noticias/sismo-1969-o-mar-borbulhou-e-o-pais-saiu-a-rua-em-pijama-10630935.html
https://youtu.be/veyeux83c_E
https://youtu.be/xU3cSCuZiTY
https://www.noticiasaominuto.com/pais/1207995/meio-seculo-se-passou-do-grande-sismo-de-69-lembra-se-como-foi
https://youtu.be/Z7wMywUkeJc?t=27