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Caderno Diário

Gosto de escrever e aqui partilho um pouco de mim... mas não só. Gosto de factos históricos, políticos e de escrever sobre a sociedade em geral. O mundo tem de ser visto com olhar crítico e sem tabús!

Caderno Diário

Pecará por tardia...

O Vaticano irá receber a partir de hoje e até ao próximo domingo todos os presidentes das conferências Episcopais do mundo para uma reunião inédita sobre os casos de abusos sexuais a crianças praticados pelos seus membros. Este tem sido um dos temas polémicos a abalar a igreja com muitos casos ao longo dos anos, muitos dos quais foram abafados. 

Um relatório dá a conhecer que, por exemplo, na Igreja dos Estados Unidos cerca de mil crianças foram vítimas de padres nos últimos 70 anos, e que gerações consecutivas de bispos falharam repetidamente na adoção de medidas para proteger a comunidade e punir os violadores.

Na Austrália, outro caso envolveu o cardeal George Pell, que dirigia a Secretaria da Economia do Vaticano, foi considerado culpado por um tribunal em Melbourne de abuso sexual a duas crianças.

Em Agosto, o Papa escreveu aos católicos do mundo, poucos dias antes de uma visita à Irlanda, onde mais de 14.500 pessoas se declararam vítimas de abuso sexual por parte de padres, o papa escreveu aos católicos do mundo, condenando este crime e exigindo responsabilidades.Já em 2010, também o seu antecessor, Bento XVI, escrevera uma carta a todos os católicos irlandeses, reconhecendo a responsabilidade da Igreja nos abusos cometidos no país.

Em 2018, um enviado do Papa ao Chile fez uma investigação, da qual resultou um relatório que incluia 64 testemunhos e que acabou por desencadear a renúncia em bloco dos bispos chilenos. O papa assumiu na altura o compromisso de reparação dos danos e de mudanças na Igreja, as vítimas aplaudiram e as autoridades policiais avançaram com uma investigação que ainda decorre e que já levou à identificação de mais de 200 vítimas. 

O abuso sexual contra crianças durante anos e anos chegou a ser classificado pelo secretário do papa emérito, Bento XVI, como "o 11 de setembro da Igreja Católica". Os relatos e as notícias de abusos tiveram também impacto na Igreja dos Estados Unidos. Neste caso, um relatório elaborado por um grande júri da Pensilvânia revelou que, pelo menos mil crianças, foram vítimas de 300 padres nos últimos 70 anos, e que gerações de bispos falharam repetidamente na adoção de medidas para proteger a comunidade e punir os violadores. As vítimas poderão ser ainda mais.

Na Alemanha, um relatório interno encomendado pela Conferência Episcopal alemã aponta para 3677 casos de abusos sexuais cometidos por 1670 elementos da Igreja Católica entre 1946 e 2014 e na Holanda pelo menos 20 bispos e cardeais holandeses foram associados a abusos sexuais.

O encontro sobre a “Proteção dos menores na Igreja”, que se realizará, no Vaticano focará três temas principais: responsabilidade, assunção de responsabilidades e transparência.

Fontes:

https://www.dn.pt/lusa/cimeira-no-vaticano-sobre-protecao-de-criancas-e-abusos-apresentada-na-segunda-feira-10587985.html

https://exame.com/mundo/papa-francisco-pede-perdao-as-vitimas-de-abusos-na-irlanda/

 

Os meninos-soldado da guerra de Angola

Hoje trago um tema, bastante polémico, mas do qual não nos podemos esquecer: os meninos-soldado. São crianças, raptadas, vendidas ou até recrutadas, que se juntam a grupos armados e combatem nas guerras de todo o mundo. Sobrevivem em condições desumanas, na maioria das vezes sem abrigo, alimentação adequada ou cuidados de saúde. Muitas morrem devido a ferimentos por armas de fogo, explosões ou de doenças contraídas e das quais não chegama  ser tratadas. Outras tantas são violadas, mutiladas...

Durante toda a História mundial, há inúmeros exemplos do uso de crianças em conflitos armados, seja propositadamente ou pela força das circunstâncias. É muito recente a condenação explícita e global da participação ativa de crianças em conflitos e guerras, uma vez que só em 1989 foi assinada a Convenção sobre os Direitos da Criança, onde se pode ler que: “os Estados Partes devem tomar todas as medidas possíveis na prática para garantir que nenhuma criança com menos de 15 anos participe directamente nas hostilidades”.

Uma notícia na RTP em 1990, já alertava para esta problemática, dizendo que "MPLA e UNITA incorporam crianças nas suas forças de combate devido ao desgaste humano provocado pela guerra civil no país". Tanto Angola como Moçambique ratificaram a Convenção sobre os Direitos da Criança em 1990, mas sabemos que as suas diretrizes não foram cumpridas.

Nesta pequena notícia, é mesmo mostrado um documento onde se intima jovens a partir dos 16 anos a se recensearem, mas em imagens da mesma época vemos que existem crianças bem mais novas de arma na mão.

Um relatório da Human-Rights, viria a dizer que estas crianças-soldado, que lutaram na guerra civil de Angola tinham sido excluídas dos programas de desmobilização, aquando do acordo que estabeleceu a paz na extensão continental de Angola em 2002.

"O contigente esquecido" foi um relatório criado na época e que dá a conhecer essa problemática. Em dados apresentados nesse ano, estimam que cerca de 11.000 crianças estiveram envolvidas nos últimos anos dos combates. Algumas crianças receberam treinamento no uso de armas e participaram diretamente dos combates, enquanto que outras atuaram como carregadores, cozinheiros, espiões e trabalhadores. A estas crianças eram dadas também drogas, como por exemplo, a Canábis. Fugir não era opção, porque quem tentava fugir era morto e, muitas vezes era pedido a uma das crianças que matasse outra que tinha tentado fugir da base. Se não o fizesse, ela mesma era morta. O medo era constante. 

O uso de crianças em conflitos armados viola a legislação de inúmeros países, entre os quais, Angola, bem como viola de forma bastante clara as leis internacionais. Sobre Angola recai a obrigação de providenciar a recuperação e reintegração de todas as crianças afetadas pelo conflito.

Além das agruras da guerra, as crianças-soldado foram privadas de oportunidades educacionais, vocacionais e de desenvolvimento, o que faz com que estas crianças necessitem particularmente de programas de reabilitação adequados com as suas experiências específicas. Sem nenhuma assistência, elas correm o risco de serem manipuladas no futuro, tornando-se mais vulneráveis a serem atraídas ao serviço militar ou ao exercício de atividades ilegais.

Ainda segundo "O contingente esquecido", os soldados da UNITA espancavam frequentemente as crianças que cometiam qualquer infração e forçavam-nas a realizar trabalhos perigosos, além de abusarem sexualmente das adolescentes ou de as ofereceram como "esposas" aos soldados.

As forças armadas do Governo também usaram rapazes na guerra, se bem que em número mais reduzido do que a UNITA. 

As crianças que atuaram na guerra devem primeiro ser identificadas e reconhecidas para garantir que as ofertas tangíveis de assistência realmente as beneficiem.

Em abril de 2002, a guerra terminou na parte continental do país, depois de décadas de combates. A infra-estrutura do próprio país estava em ruínas: escolas e clínicas de saúde tinham sido completamente destruídas e restavam poucos profissionais qualificados para prestar os serviços.

O sucesso dos projetos de reintegração das crianças-soldado dependerá de uma maior dedicação de recursos por parte do governo para prestar os serviços básicos a todos os angolanos. Quem passou por isto, tem traumas muito profundos.

Fontes:

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/mpla-e-unita-incorporam-criancas-nas-suas-forcas-de-combate/

https://www.hrw.org/pt/news/2003/04/28/226507

https://www.dw.com/pt-002/a-inf%C3%A2ncia-passada-na-guerra-crian%C3%A7as-soldado-em-mo%C3%A7ambique-e-angola/a-17799763

 

Dia Internacional contra o uso de Crianças-soldado

12 de fevereiro foi a data escolhida para alertar a comunidade internacional para esta trágica e chocante realidade que afeta  centenas de crianças que continuam a ser raptadas, abusadas e utilizadas em conflitos armados. Entende-se por criança-soldado qualquer pessoa que tenha menos de 18 anos e faça parte de qualquer tipo de força armada organizada ou não organizada. A definição refere-se também a crianças que usem ou tenham usado armas e aplica-se a crianças que possam ter desempenhado no grupo armado funções tão diversas como transportar equipamentos, cozinhar ou servir de mensageiros. Neste momento, a definiçaõ inclui também as raparigas que tenham sido recrutadas para fins sexuais ou para «casamentos» forçados.

Estima-se que existam cerca de 250 mil crianças soldados, recrutadas à força em conflitos armados em mais de 20 países em todo o mundo. Estes meninos e meninas perdem o direito a brincar, a sonhar, a ser crianças. Estas crianças, correm sérios riscos de rapto, mutilação ou de morte, de serem recrutadas como soldados, de exploração e abusos sexuais. Ficam ainda privadas do acesso à saúde, à escola, ou mesmo a uma casa. Em 2007, durante a Conferência Internacional de Paris sobre as Crianças-soldado, os 58 países presentes comprometeram-se a lutar pela libertação incondicional destas crianças. Entre os compromissos assumidos num documento que resultou da conferência, pede-se aos Estados que as crianças-soldado sejam vistas como vítimas antes de serem acusadas de crimes aos olhos do direito internacional. A fragilidade dos acordos de paz assinados pelas partes envolvidas nos conflitos e tantas vezes violados também contribui para o fracasso da tentativa de desmobilização das crianças-soldado. Acresce que muitas das crianças ex-soldado quando regressam a casa não têm já uma estrutura familiar à sua espera.

No Afeganistão, as crianças chegam a ser usadas como bombistas suicidas, para fabricar armas ou transportar explosivos. Crianças e jovens em condições mais vulneráveis são os alvos preferenciais de governos, regimes e grupos armados. A guerra é apresentada como ato de heroísmo, no “marketing militar”.  o recrutamento de crianças é sempre muito fácil e a sua preparação para o campo de batalha torna-se muito simples. Elas são facilmente aliciadas – quando não raptadas –, facilmente treinadas para cumprir as ordens mais atrozes, são mais obedientes, não questionam ordens, são manipuláveis e sobretudo mais controláveis. A sua imaturidade não lhes permite ter discernimento sobre os atos que cometem, não são capazes de medir as consequências das suas ações, nem valorá-las, pois os mecanismos de limitação de comportamento estão ainda em fase de desenvolvimento pelo que, nos ambientes mais hostis, tomam atitudes que não seriam tão facilmente tomadas por adultos.

No Iraque e na Síria, as crianças com 12 anos, são submetidas a treino militar, sendo posteriormente usadas como informantes ou em patrulhas, em postos de controlo ou para guardar pontos estratégicos. Em alguns casos, também são utilizadas como bombistas suicidas ou para levar a cabo execuções. Na República Democrática do Congo, cerca de duas mil crianças estão a ser utilizadas por grupos armados sobretudo nas províncias orientais do Kivu do Norte e do Sul. 

Cerca de 40% das crianças soldados são meninas. A maioria sofre violência sexual. Se conseguem fugir, podem enfrentar o preconceito da família por terem sido violadas. O Boko Haram, responsáveis pelo sequestro de 276 meninas, em janeiro de 2015 usa uma  “menina-bomba”, de apenas 10 anos, num atentado a um mercado da cidade de Maiduguri, nordeste da Nigéria.  Na Colômbia, o alistamento voluntário de meninas é um modo de empoderamento e fuga de situações de violência, mas violência e discriminação acompanham-nas durante o período junto ao grupo armado e na sua reinserção na sociedade.

No Uganda, após o golpe de estado na República Centro-Africana, em 24 de Março de 2013, tornou-se mais difícil para as crianças-soldado ugandesas – raptadas para ingressarem nos grupos rebeldes que atuam naquele país– regressarem à sua terra natal.

 

Fontes:

https://www.acegis.com/2016/02/dia-internacional-contra-a-utilizacao-de-criancas-soldado/

https://www.apagina.pt/?aba=7&cat=166&doc=12279&mid=2

https://veja.abril.com.br/mundo/aos-12-anos-fui-uma-crianca-soldado

https://www.acn.org.br/republica-centro-africana-impede-o-retorno-de-criancas-soldados-ugandesas/

https://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/27808

 

A boa e velha crítica social no Carnaval de Sesimbra

Este ano, vou aqui contar um pouco do que é uma das maiores tradições de Sesimbra. É que o nosso Carnaval não está apenas nos desfiles grandiosos, que a (quase) todos contagiam! É muito mais do que isso. Quando falamos do Carnaval de Sesimbra não podemos apenas falar nas Escolas de Samba e nos grupos de Axé que desfilam. Há todo um "mar" de gente, inserida em coletividades e grupos que preparam grandes momentos do mais tradicional Carnaval.

Sesimbra é um dos poucos locais do país que ainda mantém viva a tradição das Cegadas e das Cavalhadas, um costume da nossa zona rural, com mais de cem anos. Podemos ver aqui um ensaio do grupo de Cegantes de Alfarim.

Podemos aqui ver também uma das atuações do grupo, no Zambujal. As cegadas, "com mais de cem anos" são a voz do povo, que a brincar com as palavras fazem uma crítica social, à boa maneira popular, com malícia mas sem maldade. São uma espécie de teatro popular satírico originário das zonas mais rurais do concelho. "Em verso, e acompanhados à guitarra, o grupo" apresenta, "ao estilo das antigas canções de escárnio e maldizer, alguns dos acontecimentos mais marcantes da sociedade portuguesa." Podem criticar o país, ou o senhor do talho da aldeia, um presidente de um clube, o presidente da república ou o chefe dos correios. Todos podem ser visados e é nas entrelinhas dos textos que escrevem e que depois nos põem a rir, que vão deixando a sua marca e a sua alfinetada!

Já nas Cavalhadas, "um costume típico das zonas rurais e no concelho de Sesimbra" e que "têm acompanhado várias gerações", as habilidades são outras. Demonstrando a sua perícia, um grupo de homens, a cavalo, de bicicleta ou de mota, vão recriando hábitos medievais.

Na noite de quarta-feira, há também tradição de se fazer o Enterro do Bacalhau. O Um "cortejo, que encerra os festejos carnavalescos no concelho" e que "conta a história de um defunto que teve uma vida muito preenchida e animada. A acompanhar o "Bacalhau" (o morto) pelas ruas da vila, vai a "viúva", as recém conhecidas "amantes", o "padre", e os "amigos" que o vão chorando! É uma galhofada.

Fontes:

https://www.coolture.pt/event/carnaval-de-sesimbra-2018-programa-geral/

https://www.sesimbra.pt/noticia-72/enterro-do-bacalhau-marca-fim-dos-festejos-de-carnaval-em-sesimbra

 

Tragédia nas camadas jovens do Flamengo

Um incêndio que cause vítimas mortais é já por si uma tragédia, mas acho que ninguém fica indiferente, quando as vítimas são todas jovens elementos da mesma equipa de futebol. A tragédia aconteceu no Brasil, "no Centro de Treinamento do Flamengo no início da manhã desta sexta-feira". As dez vítimas "tinham entre 14 e 16 anos." De acordo com declarações prestadas por um porta-voz do Flamengo, "há três jovens internados, dois deles em situação estável e conscientes; o terceiro está em estado grave" uma vez que ficou com "cerca de 40% do corpo queimado."

"O fogo destruiu parte dos alojamentos do Ninho do Urubu," assim chamado pela ave que é a mascote do clube e que se localiza "em Vargem Grande, Zona Oeste do Rio." De acordo com informações dadas pelo jornal "Globoesporte, o incêndio terá começado no quarto de Felipe Cardoso, médio da equipa Sub-17 que chegou esta semana ao Flamengo vindo do Santos," e terá tido provavelmente origem num curto-circuito numa instalação de ar condicionado.

A estrutura principal "conta com cinco campos de futebol, alojamentos, ginásio e um parque aquático," mas esta seria uma construção ilegal, constituída por seis contentores entreligados entre si e para a qual já estaria prevista a demolição. De facto, a estrutura onde os jovens tinham ficado alojados, também "não tinha certificado de aprovação do Corpo de Bombeiros, que atesta a existência e o funcionamento dos dispositivos contra incêndio previstos pela legislação vigente" no Brasil. O Munícipio local "informou que lavrou 30 autos de infração contra o Centro de Treinamento do Flamengo," uma vez que estaria a funcionar "sem o alvará de aprovação dos Bombeiros."

 

(imagem: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/02/08/incendio-deixa-mortos-e-feridos-no-centro-de-treinamento-do-flamengo.ghtml)

Fontes:

https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/02/08/incendio-deixa-mortos-e-feridos-no-centro-de-treinamento-do-flamengo.ghtml

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47169580

https://observador.pt/2019/02/08/incendio-no-centro-de-treinos-do-flamengo-faz-pelo-menos-10-mortos/

 

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