Há reportagens que são marcantes pela forma como conseguem fazer transparecer o que se passa lá fora e ainda hoje, volvidos 25 anos da primeira edição da Revista Visão, "A agonia de Angola", nos dá um murro no estômago. A reportagem é da responsabilidade de dois grandes jornalistas: J. Plácido Júnior e Inácio Ludgero, que foram os enviados especiais ao Huambo e que testemunharam na primeira pessoa o drama dos milhares de pessoas que fugiam da guerra civil.
Nessa imensa coluna de gente, seguem os refugiados que fogem do Huambo, depois da "vitória do movimento de Jonas Savimbi, em 6 de Março" desse ano e que "totalizava sete a oito mil pessoas, um terço das quais eram militares governamentais." Cerca de trinta portugueses deviam estar nesta marcha, mas os jornalistas não os encontram. A coluna encontra-se fragmentada pelas constantes perseguições e "ataques movidos pela UNITA".
Na reportagem, que vale a pena ler na íntegra, contam a história de uma mulher que, sozinha conseguiu trazer com ela sete crianças que foi "apanhando" pelo caminho, entre o Huambo e Caimbambo, Benguela. A fome e a morte ensombram aquele local, enquanto ali perto se ergueu um mercado onde estão a vender produtos roubados dos camiões de ajuda humanitária a preços excessivamente altos. É a miséria humana no meio da guerra. Crianças que se foram perdendo ou que foram ficando abandonadas à sua sorte. Depois acabam por explicar como Bernardete, uma portuguesa, se reencontra com um dos filhos depois de se terem perdido uns dos outros durante a caminhada. O menino tinha fugido ao ver um amontoado de corpos. Bernardete perdeu um bebé de 8 meses, morto pela fome, e ainda não sabia do paradeiro do seu marido e de outro filho aquando da reportagem. A dúvida sobre o paradeiro dos restantes portugueses mantém-se, embora muitos possam ter sido assassinados.
A Guerra Civil Angolana foi um conflito armado interno, que começou em 1975 e continuou, com interlúdios, até 2002. A guerra começou imediatamente depois de Angola se ter tornado independente de Portugal em novembro de 1975. O conflito foi uma luta de poder entre dois ex-movimentos de guerrilha anticolonial, o comunista Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) que era principalmente um movimento urbano em Luanda e arredores e a anticomunista União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) que era uma ramificação do FNLA, era um grupo de base rural.
A UNITA foi fundada em 1966 por Jonas Savimbi, que até então era um líder proeminente da FNLA. Durante a guerra anticolonial, a UNITA recebeu algum apoio da República Popular da China. Com o início da guerra civil, os Estados Unidos decidiram apoiar a UNITA e aumentaram consideravelmente sua ajuda à UNITA nas décadas que se seguiram. No entanto, no último período, o principal aliado da UNITA foi o regime de apartheid da África do Sul.
O MPLA também teve apoio externo. Durante a luta anticolonial entre 1962 e 1974, o MPLA foi apoiado por vários países africanos, bem como pela União Soviética. Posteriormente, Cuba tornou-se o seu aliado mais forte, "enviando significativos contingentes de combate e pessoal de apoio a Angola." Esse apoio, junto com o apoio da Alemanha Oriental, foi mantido durante a Guerra Civil. A extinta Jugoslávia comunista também forneceu apoio militar e financeiro ao MPLA.
Fontes:
https://visao.pt/iniciativas/2018-03-21-reportagens-com-historia-1993-a-coluna-do-terror/#&gid=0&pid=1
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/guerra-civil-no-huambo/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Civil_Angolana